• Nenhum resultado encontrado

Foram vários os autores que se propuseram a estudar e explorar a AIO. Segundo Estivalete (2007), a partir da década de 1990, a temática passou a ser mais utilizada nos estudos organizacionais, com discussões conceituais acerca do que realmente significa AIO e o surgimento de várias denominações. Dentre elas, aprendizagem interativa (LANE; LUBATKIN, 1998), aprendizagem recíproca (LUBATKIN; FLORIN; LANE, 2001)

aprendizagem interfirmas (MOHR; SENGUPTA, 2002), aprendizagem coletiva (LARSSON et al., 1998) e aprendizagem em rede (KNIGHT, 2002).

No final da década de 2000, pesquisadores como Inkpen e Tsang (2007), Nooteboon (2008), Estivalete (2007), Estivalete, Pedrozo e Begnis (2008), entre outros, apontaram a necessidade de aprofundamento dos estudos referentes à AIO. Antonello e Godoy (2011) salientaram a necessidade do aprofundamento da aprendizagem em nível interorganizacional, principalmente em razão de haver predominância dos estudos que consideram os níveis individual e organizacional, com pouca consideração ao papel dos níveis grupal, interorganizacional e societal.

Para diversos autores, a AIO é entendida como parte do continuum de AO. Isso foi proposto por Crossan et al. (1995) e outros autores, como Knight (2002), Bapuji e Crossan (2004), Holmqvist (2004), Knight e Pye (2005) e Crossan et al. (2011). Assim, nessa linha de pensamento, AIO é entendida como um processo dinâmico que ocorre nas relações interoganizationais de cooperação (MOZZATO; BITENCOURT, 2013)

Para Knight (2002), a aprendizagem em rede é baseada na ampliação da noção de AO. Uma vez que o construto aprendizagem não se restringe ao nível do indivíduo, pode ser proveitosamente aplicado a outros níveis do sistema. Ao relacionar o processo de aprendizagem ao sujeito que está aprendendo, a autora considerou a rede interorganizacional como o quarto nível de aprendiz, após o indivíduo, o grupo de indivíduos e a organização. Sugeriu, ainda, que a AIO, compreendida como aquela em que um par ou grupo de organizações colaboram proativamente, permite abordagens distintas. Conforme Figura 2, adiante.

Figura 2 - Níveis de sistemas de “aprendizes”

Fonte: Elaborado com base em Knight (2002 p.436)

Uma delas, a mais usual nos estudos relativos à AIO, é aquela na qual cada empresa se apropria da aprendizagem como uma organização individual (LARSSON et al., 1998), ou seja, cada organização aprende com a outra, a partir dessa interação. Outro conceito que a autora apresentou é de aprendizagem em rede, ou seja, a aprendizagem que se dá por meio de um grupo de organizações, aprendendo como grupo.

Assim, partindo também da compreensão de que a AIO é aquela que ocorre no contexto de grupos de organizações que cooperam proativamente (WEGNER; PADULA, 2011), o foco deste trabalho é na visão teórica da construção social; isso porque a ênfase é no contexto social, no qual a aprendizagem está sendo construída e fundamentada em situações concretas, com a participação e a interação das pessoas envolvidas (ANTONELLO; GODOY, 2011). Na busca pela legitimação da inclusão do quarto nível de aprendizagem, o interorganizacional, alguns autores têm procurado desenvolver modelos que permitam a análise da AIO. Dentre esses, destaca-se o framework, apresentado por Mozzato e Grzybovski (2011), que incluiu a AIO como parte de um continuum da AO (Figura 3, adiante), identificado em Crossan, Lane e White (1999).

Figura 3 - A AIO como um processo dinâmico por meio da cooperação

Fonte: Elaborado com base em Mozzato e Grzybovski (2011)

Assim, sua proposta foi a inclusão do quarto nível para o referido quadro, que se refere à análise da AIO, apresentando um quinto processo, designado cooperação (Quadro 2, adiante):

Quadro 2 - Aprendizagem: cinco processos através de quatro níveis

Nível Processos Entradas/ Resultados

Experiências

Indivíduo Intuir Imagens

Metáforas Linguagem Interpretar Mapa cognitivo

Grupo Conversação/ diálogo

Entendimentos compartilhados Integrar Ajustamentos mútuos

Sistemas interativos Rotinas

Organização Institucionalizar Sistemas de diagnósticos

Regras e Procedimentos

Capacidade Absortiva Interação Interorganizacional Relações Interorganizacionais Confiança

Cultura/ contexto Cooperação Fonte: Elaborado com base em Mozzato e Grzybovski (2011)

Outro trabalho que mencionou apontamentos relevantes ao modelo 4I’s de Crossan, Lane e White (1999) e trouxe contribuições significativas é o de Jones e Macpherson (2003) (Figura 4, adiante). Para os autores, Crossan e seus colegas apontaram que aprendizagem envolve institucionalização, e a descreveram como processos de incorporação de novos conhecimentos e habilidades para sistemas, estruturas e procedimentos da organização. Porém, em sua visão, tais estruturas e procedimentos não existem na maioria das pequenas empresas. Segundo os autores, para que novos conhecimentos possam ser incorporados na memória dessas empresas, é necessária uma organização externa para agir como um substituto para essas estruturas internas.

Figura 4 – Modelo 5I da AO

Fonte: Elaborado com base em Jones e Macpherson (2003, p.15)

Aprender com outras organizações pode ocorrer de modo formal, por meio de alianças estratégicas, da participação de empreendimentos conjuntos, ou de modo informal, via comunidades de prática. Jones e Macpherson (2003) sugeriram o termo entrelaçamento para esse quinto processo (Figura 5, adiante), por entender que se trata de um engajamento ativo entre a empresa e sua rede de conhecimento.

Assim, para esses autores, essa reconceituação ilustra um processo de aprendizagem que pode beneficiar ambas as partes. Outro aspecto destacado pelos autores é que as dimensões do

poder e política, tanto internas quanto externas, foram ignoradas no desenvolvimento do quadro de Crossan, Lane e White (1999).

Quadro 3 - AO e renovação

Nível Processos Entradas/ Resultados

Experiências

Indivíduo Intuir Imagens

Metáforas Linguagem Interpretar Mapa cognitivo

Grupo Conversação/ diálogo

Entendimentos compartilhados Integrar Ajustamentos mútuos

Sistemas interativos Rotinas

Organização Institucionalizando Sistemas de diagnósticos

Regras e Procedimentos

Requisitos cliente Sugestões fornecedor Interorganizacional Intertwining Serviço pós-venda

Ambiente regulador Fonte: Jones e Macpherson (2003) com base em Crossan, Lane e White (1999)

Ainda segundo Jones e Macpheson (2003), Crossan e seus colegas indicaram que o processo de institucionalização é o que define a AO. No entanto, para aqueles autores, a aprendizagem em grandes organizações pode, em grande parte, independer da ação de atores individuais, e sim das suas funções. Se um empregado-chave deixa a organização, tais estruturas asseguram que o conhecimento original e a aprendizagem sejam retidos. Desse modo, é fundamental reconhecer que há restrições quanto à capacidade de as organizações absorverem novos conhecimentos (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999).

Como Cohen e Levinthal (1990) originalmente argumentaram que identificar a capacidade de absorção significa examinar estruturas de comunicação entre a organização e seu ambiente e entre suas subunidades. Para Jones e Macpherson (2003), existem diferenças substanciais entre a capacidade de absorção de grandes e bem estabelecidas organizações e de tais atividades nas pequenas e médias empresas (PME).

Conforme Crossan, Lane e White (1999), novas organizações carecem de estruturas estabelecidas e rotinas, o que significa que a aprendizagem está concentrada nos indivíduos e grupos. No entanto, para Jones e Machpherson (2003), essa situação não existe apenas em novas organizações, mas também na maioria das micro (até nove trabalhadores) e pequenas empresas.

Para esse autor, trabalhos como os de Rothwell e Vossen (1989, 1998 apud JONES; MACPHERSON, 2003) trouxeram contribuições importantes à literatura, identificando que tais pequenas empresas possuem altos níveis de informalidade e são dominadas pelo empresário (gerente-proprietário), a quem confiam diretamente autoridade. Além disso, são menos capazes de atrair funcionários de alta qualidade e menos propensas a se envolver em ações de formação do que as empresas maiores.

Dessa maneira, a capacidade organizacional de absorver novos conhecimentos é menos evidente em empresas pequenas, geridas pelo proprietário. Como apontaram Jones e Machpherson (2003), os vínculos com outras organizações, incluindo clientes e fornecedores, ajudam a institucionalizar a aprendizagem nas PME, fornecendo estruturas ausentes.

Em um ensaio teórico posterior, Mozzato e Bittencourt (2013) propuseram um construto para uma melhor compreensão da AIO, no qual delinearam seis elementos que a constituem, conforme o quadro abaixo:

Quadro 4 – Construto para melhor compreensão do processo da AIO CATEGORIAS

ANALÍTICAS

SUBCATEGORIAS ANALÍTICAS

DEFINIÇÕES BASE TEÓRICA

Confiança estabelecida entre agentes CONCEITO: Consiste no compromisso mútuo estabelecido entre os diferentes agentes, refletindo a convicção de que há transparência nos relacionamentos e que a “verdade” será prezada, assegurando, por consequência, que as obrigações do relacionamento serão cumpridas.

Atitudes Confiáveis

Incide em atitudes positivas por parte dos agentes, não ocorrendo a exploração de vulnerabilidades, o que

gera confiança. Larsson et al. (1998) Child (1999) Tsang (1999) Inkpen (1998) Inkpen (2000) Locke (2001) Lubatkin, Florin e Lane (2001) Muthusamy e White (2005) Bachmann e Zaheer (2008) Lui (2009) Hibbert et al. (2010) Bergh; Thorgren; Wincent (2011)

Atitudes oportunistas

Consiste em atitudes negativas por parte dos agentes, os quais se aproveitam de situações apenas em benefício próprio, o que gera desconfiança

Cooperação entre agentes CONCEITO: Consiste em ações colaborativas nas relações interorganizacionais, havendo compromisso recíproco. Contudo, não se nega a coexistência da competição. Atitudes Colaborativas

Incide em auxílio entre os agentes, existindo comprometimento recíproco. Richardson (1972) Jorde e Teece (1989) Jarillo (1993) Brandenburger e Nalebuff (1996) Human e Provan (1997) Inkpen e Beamish (1997) Powel (1998); Larsson et al (1998) Ebers e Jarillo (1998) Amato Neto (2000) Lubatkin, Florin e Lane (2001) Hardy, Phillips e Lawrence (2003) Cassiolato e lastres (2003) Morris, Koçak e Ozer (2007) Zaccarelli et al. (2008) Balestrin e Verschoore Atitudes Competitivas Diz respeito à competição entre os agentes, afetando o comprometimento mútuo.

(2008) Zaheer et al. (2010)

Interações sociais

CONCEITO: Consiste nas relações sociais estabelecidas entre os diferentes agentes que mantém relacionamentos interorganizacionais. Comunicação e mecanismos de informação Diz respeito à existência de mecanismos que oportunizam o acesso às informações e facilitam a comunicação, promovendo um clima de abertura que promove a conectividade.

Larsson et al. (1998) Lubatkin, Florin e Lane (2001) Child (2001); Knight (2002) Balestrin e Verchoore (2008) MacDonald e Crossan (2010) Wegner (2011) Mecanismos de controle Consiste na existência de controles explícitos e implícitos nos relacionamentos interorganizacionais.

Powell (1998) Huxham e Beech (2008) Proximidade social CONCEITO: Diz respeito a maior identidade entre os diferentes agentes, facilitando o estabelecimento de laços sociais mais fortes, dessa forma, conduzindo a maior proximidade social.

Poder nas relações

Diz respeito à assimetria ou simetria de poder entre os diferentes agentes, interferindo nos relacionamentos. Larsson et al. (1998) Muthusamy e white (2005) Huxham e Beech (2008) Hibbert et al. (2010) Identidade entre agentes Consiste na

similaridade social, que compreende valores comuns, percepções compartilhadas e fatores contextuais similares. Pressupõe a compatibilidade cultural entre os agentes, reforçando a identificação e a conectividade.

Amato Neto (2000) Knight e Pye (2005) Inkpen e Tsang (2007) Morris, Koçak e Ozer (2007) Zaccarelli et al. (2008)

Laços sociais

Diz respeito às relações sociais estabelecidas entre os diferentes agentes em razão de laços de amizade e parentesco. Também incide a identificação e gosto pela tarefa e/ou setor de trabalho e tempo de atuação no mesmo, culminando em entendimento mútuo e compromisso recíproco. Greve (2005) Nooteboon (2008) Antonello (2011)

Referências iniciais para a proximidade social: Morgan (2004); Greve (2005); Antonacopoulou (2006); Antonacopoulou e Chiva (2007); Morris, Koçak e Ozer (2007); Hibbert at al (2010).

Interdependência

CONCEITO: Diz respeito àvinculação entre os diferentes agentes, podendo ser tanto referente aos objetivos, como aos recursos ou

complementaridade na realização das tarefas

Objetivos compartilhados

Diz respeito aos objetivos comuns entre os diferentes agentes, evidenciando interesses convergentes.

Larsson et al. (1998) Lane e Lubatkin (1998) Lubatkin, Florin e Lane (2001) Muthusamy e White (2005) Balestrin e Verschoore (2008) Recursos comuns Esta relacionado à interdependência de recursos entre os agentes e refere-se à partilha ou utilização conjugada de recursos (matéria prima, equipamentos, tecnologias), havendo receptividade e trocas em razão das necessidades para a realização de dado negócio. Human e Provan (1997) Gurisatti (1999) Lubatkin, Florin e Lane (2001) Muthusamy e White (2005) Complementaridade de tarefas Consiste na interdependência entre os agentes no que tange a realização de tarefas conjuntas (práticas de negócios, exportações), havendo receptividade e trocas no sentido de complementar as tarefas.

Human e Provan (1997) Lane e Lubatkin (1998) Lubatkin, Florin e Lane (2001) Muthusamy e White (2005)

Referências iniciais para a interdependência: Lubtkin, Florin e Lane (2001); Cassiolato e Lastres (2003); Muthusamy e White (2005). Suscetibilidade para o aprendizado CONCEITO: Está relacionada à possibilidade de aprendizado por parte dos diferentes agentes, ficando na dependência tanto da predisposição como da capacidade para aprender Receptividade para aprender Consiste na vontade e no reconhecimento da necessidade de aprender, denotando predisposição para tanto.

Larsson et al. (1998) Child (2001) Greve (2005) Inkpen e Tsang (2007) Capacidade absortiva Relaciona-se a capacidade de aprendizagem, ocorrendo a assimilação e utilização de conhecimentos externos novos. Consiste em ir além da obtenção de informações, devendo ocorrer a capacidade de entendê-las e transformá-las em conhecimento organizacional.

Cohen e Levinthal (1990) Lane e Lubatkin (1998) Larsson et al. (1998) Lane, Salk e Lyles (2001) Muthusamy e White (2005) Nooteboon (2008)

Referências iniciais para suscetibilidade para o aprendizado: Human e Provan (1997); Larsson et al. (1998); Muthusamy e White (2005); Inkpen e Tsang (2007); Lui (2009).

4 A APRENDIZAGEM INTERORGANIZACIONAL NAS ALIANÇAS ESTRATÉGICAS

Documentos relacionados