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CAPÍTULO 2 – ALCA E RECOLONIZAÇÃO;

2.1 ALCA, mundialização capitalista e recolonização imperialista nas Américas

O projeto de Área de Livre Comércio das Américas71 – a ALCA – configura-se como proposta de zona hemisférica de “livre comércio” entre os países das Américas, formulada pelos Estados Unidos da América, abrangendo trinta e quatro Estados que constituem o território continental – do sul da Argentina ao norte do Canadá –, excetuando-se Cuba, exigência dos

EUA. O projeto da ALCA tem origem em proposta lançada em 1990 pelo então presidente norte-

americano George Bush, à época conhecida como Iniciativa para as Américas (“Enterprise for

the Americas Iniciative” ou EAI), cujo objetivo central tratava-se de estabelecer uma zona

hemisférica de livre comércio que abrangesse os territórios do extremo Alasca aos limites da Terra do Fogo. O início da intervenção do então presidente estadunidense Bush, em 27 de junho de 199072, não poderia ser mais sintomático do ponto de vista de seu discurso ideológico; associando liberdade, democracia e mercado de forma indissolúvel; remetendo-se simultaneamente à restauração capitalista do Leste Europeu e às transições à democracia na

América Latina e, ainda, comparando-as – reafirmando a necessidade de voltar a atenção dos

EUA às relações “intra-hemisféricas”, priorizando-as – e, por fim, destacando a importância dos

71 Em função da pesquisa empírica sobre temática relacionada à gênese, formação e desenvolvimento da ALCA –

bem como através das conferências ministradas por Reyno e Daza (2004, vide Bibliografia Temática) – pudemos realizar um determinado “mapeamento” sobre investigações individuais e coletivas realizadas no último período, entre diversas organizações e institutos. Dentre estas, interessam-nos as que desenvolvem observações orientadas e sistemáticas, periodicamente, com ampla documentação empírica e, se possível, com fundamentação teórico-crítica. Destacamos o acompanhamento realizado através do Programa de Política Internacional do Laboratório de Políticas Públicas de Buenos Aires, por GENTILI, Rafael “Análisis de coyuntura sobre ALCA y Mercosul” (2003-2004); a pesquisa do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), por BATISTA JR., Paulo Nogueira “A Alca e o Brasil” (2003); ainda, publicações diversas realizadas nos marcos da CAMPANHA NACIONAL CONTRA A ALCA (CNCA) e da ALIANÇA SOCIAL CONTINENTAL (ASC); estudos relacionados a editoras, projetos e institutos como ED. EXPRESSÃO POPULAR / ED. LOYOLA, FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, ED. ANITA GARIBALDI, INSTITUTO SAEDES SAPIENTIAE, INSTITUTO LATINO- AMERICANO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS (ILAESE), OBSERVATÓRIO SOCIAL DA AMÉRICA LATINA (OSAL-CLACSO); entre outras fontes e matrizes documentais, nacionais e internacionais, que constituem rico e farto material de consulta (confira também a seção Documentos, Materiais e Fontes Primárias para relatórios produzidos por organismos multilaterais, instituições políticas e órgãos oficiais e, para informações atualizadas, recomendamos verificar os endereços da rede mundial de computadores citados na seção Sítios Eletrônicos).

72 “Para expandir o comércio proponho que iniciemos o processo de criação de uma zona hemisférica de livre

comércio, para incrementar os investimentos proponho que adotemos medidas para criar um novo fluxo de capital para a região, e para promover o alívio da carga da dívida proponho um novo enfoque da dívida da região com importantes benefícios para nosso entorno. [...] A maior lição econômica do século é que o protecionismo afoga o progresso e que os mercados livres engendram a prosperidade. [...] Nós esperamos com esperança o dia em que as Américas não só sejam o primeiro hemisfério completamente livre e democrático senão também quando todos sejam sócios iguais numa zona de livre comércio que se extenda desde o Porto de Anchorage até a Terra do Fogo” (Bush, 1990).

mecanismos institucionais de representação política na América Latina e dos “novos líderes” que emergiram “apoiados na força do mandato popular”, enquanto expressões inequívocas das “positivas mudanças” ocorridas durante a segunda metade da década de 1980. A derradeira menção à oposição entre Karl Marx e Adam Smith – por intermédio de citação do títere ex- presidente colombiano, Virgílio Barco – é, como se pode observar, visivelmente decisiva.

Nos doze meses passados, todos nós – desde o homem na Casa Branca até o homem da rua – ficaram fascinados pelas tremendas mudanças, positivas mudanças, que tiveram lugar no mundo. A liberdade teve grandes êxitos, não só no Leste Europeu como também aqui na América. Vimos um ressurgimento das regras democráticas, um fluxo de democracia nunca antes visto na história deste hemisfério. Com uma exceção – Cuba – a transição à democracia está chegando a sua consumação, e todos podemos sentir a emoção de não estar longe o dia em que Cuba juntar-se-á às democracias do mundo, fazendo com que a América [o continente] seja totalmente livre. A transformação política que está limpando a América Latina e o Caribe tem um paralelo na esfera econômica. Através da região, as nações estão distanciando-se das políticas econômicas estatistas que sufocavam o crescimento, e estão agora buscando o poder do livre- mercado para ajudar seu hemisfério a realizar seu potencial para o progresso. Novos líderes emergiram apoiados pela força do mandato popular, líderes que entendem que o futuro da América Latina consiste em governos livres e mercados livres. Nas palavras de um valente líder colombiano, o presidente Virgílio Barco, “a longa luta entre Karl Marx e Adam Smith está, finalmente, chegando a seu término” com o “reconhecimento [...] que economias abertas e com acesso aos mercados podem dirigir o progresso social”. (BUSH, 1990)

Às diretrizes político-militares – de coação extra-econômica – desenvolvidas ativamente, a longo termo, na região – desde intervenções militares diretas até o apoio material e ideológico a iniciativas internas de anticomunismo, no quadro geral da ex-Guerra Fria – soma-se um maior grau de definição do aspecto propriamente econômico da subordinação da América Latina73 com vistas a superar os esparsos vínculos bilaterais e definições reativas, caso-a-caso, abordando o subcontinente agora enquanto “totalidade”. Em 1994, a partir da I Cúpula das

Américas, o sucessor presidencial Bill Clinton trata de concretizá-lo em Miami, diante de trinta e

quatro líderes das Américas do Sul, Central e do Norte presentes à ocasião74, coetaneamente ao

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Convém lembrar, como contraponto, a tese leniniana segundo a qual a política nada mais é do que “economia concentrada”. Ressalvadas as devidas mediações – sem as quais a afirmação pode parecer peremptória, arbitrária e carente de sentido – trata-se de revelar o substrato material de fenômenos ideológicos, tais como o anticomunismo.

74 Na Cúpula de Miami, em 1994, os representantes de Estado dos trinta e quatro países presentes – Argentina,

Uruguai, Paraguai, Brasil, Suriname, Guiana, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, Belize, St. Kitts, São Vicente, Trinidad-Tobago, Antiguas, Bahamas, Barbados, Dominica, Granada, Haiti, Jamaica, República Dominicana, Sta. Lúcia, México, Estados Unidos e Canadá (Estay e Daza, 2004) – “decidiram” iniciar a instituição da ALCA de imediato, eliminando progressivamente as barreiras ao capital industrial, financeiro e comercial entre os países do hemisfério ocidental, excetuando-se Cuba – exigência dos EUA –, visando a conclusão das negociações interamericanas até o limite de 2005. A exceção mencionada e a manutenção do embargo comercial à Cuba explicam-se pela pressão da burguesia

gusana – influente e poderosa no interior do bloco constituído no poder dos EUA – que, outrora expropriada, tem

como objetivo estratégico reaver a propriedade privada dos meios fundamentais de produção social em Cuba e se locupletar como agentes diretos da restauração capitalista. À casta dirigente de Cuba, constituída em burocracia

lançamento do NAFTA75. O processo segue embasado no EAI76 ao subscrever a premissa de que, na América Latina, “a reforma do livre-mercado é a chave para sustentar o crescimento e a estabilidade política” (Bush, 1990). Aprofundando-se a revisão da política econômica levada a cabo pelo Plano Brady em relação à dívida externa do subcontinente e, ainda, no sentido mesmo da recém Rodada Uruguai sobre abertura comercial, a iniciativa, exposta sistematicamente por Bush, previa três pilares fundamentais: o comércio, os investimentos e a dívida. Diz o secretário- adjunto de Estado dos EUA para assuntos inter-hemisféricos, Jeffrey Davidow, ao prestar declaração – em 19 de março de 1997 – diante de um subgrupo integrante da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara: “não podemos permitir-nos ficarmos sentados à margem enquanto outros países se adiantam em aproveitar o crescente mercado da América Latina e de outras regiões do mundo”. Tratava-se de uma advertência no sentido do recrudescimento da disputa interimperialista por mercados, recursos e territórios que constituíram – em diferentes e sucessivas configurações históricas – o que seria seu respectivo “quintal” no hemisfério.

A ALCA não é um projeto de integração, mas de anexação e subordinação ao capital financeiro transnacional. Sem nenhuma compensação para os países mais fracos (...) economias tão diferenciadas como a dos EUA e América Latina em níveis tão

castrista, resta a negociata preferencial com o imperialismo europeu, o capital canadense e os investidores asiáticos – que detém domínio sobre vários ramos da economia cubana – sob um regime bonapartista de partido único e a existência praticamente institucionalizada de um câmbio duplo de conversibilidade peso-dólar (para não-cubanos). O que não impede, em momento algum, o discurso antiimperialista do chefe-de-Estado e dirigente do PCCu Fidel Castro que, inclusive, sedia anualmente em Cuba os Encontros Hemisféricos de Luta contra a ALCA, galvanizando política, ideológica e organizativamente a hegemonia sobre a luta anti-ALCA ao redor de seus horizontes e perspectivas. O curso imposto pela direção castrista à revolução cubana, com a teoria estaliniana de “socialismo em

um só país” que regeu a política de todos os Estados do Leste Europeu, assim como os Acordos de Esquipulas ou

Contadora – com a política de “não fazer da Nicarágua uma nova Cuba, nem de El Salvador uma nova Nicarágua” –, facilitou mais ainda o bloqueio capitalista-imperialista. Essa política condenou a revolução cubana ao isolamento e sua direção, em nome de um suposto pragmatismo, respondeu impulsionando medidas abertamente

restauracionistas do capital. Desta forma, aprofundam-se as iniqüidades, esvaem-se as conquistas da revolução e

são introduzidas em Cuba as mesmas mazelas sociais do sistema capitalista, sob o mesmo processo de recolonização que sacode todo o subcontinente À frente analisaremos os desdobramentos políticos e ideológicos desta tendência que hegemoniza a configuração do movimento anti-ALCA na América Latina.

75 Que, à época, levou ao levantamento armado do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), formado por

indígenas chiapanecos e referenciado centralmente através de seu principal porta-voz e figura pública, conhecido pelo codinome de Sub-Comandante Marcos, referência obrigatória da juventude antiglobalização. O prefixo, explica o próprio, adequa-se à consigna político-organizativa, neozapatista, de “mandar-obedecendo”. O princípio neozapatista de “mudar o mundo sem tomar o poder”, e suas implicações, serão analisados à frente.

76 “Em menos de dois anos a partir de agora, nosso hemisfério celebrará o qüinquagésimo aniversário de um sucesso

épico, o descobrimento da América por Colombo. Nosso novo mundo. Nós indicamos nossa origem, nossa história compartida, no tempo da viagem de Colombo e a valente busca para o avanço do homem. Hoje os vínculos de nossa herança comum são mais poderosos pelo amor à liberdade e pelo compromisso comum com a democracia. Nosso objetivo – o objetivo nesta nova era das Américas – é assegurar este sonho compartilhado e todos seus frutos para toda a população das Américas: do Norte, Central e do Sul. O vasto plano que agora delineei, é uma positiva prova de que os EUA são sinceros no que diz respeito a forjar uma nova relação com nossos vizinhos da América Latina e do Caribe. Nós estamos prontos para jogar um papel construtivo neste tempo crítico, para fazer o nosso, o primeiro hemisfério completamente livre em toda a história” (Bush, 1990, grifos nossos). A ocupação européia que levou à vasta destruição ambiental, ao genocídio das populações originárias e que se valeu de mão-obra escrava (indígena e negra) – no processo sanguinário que equivaleu à acumulação primitiva de capital – é aqui reivindicada como marco inicial de uma “valente busca para o avanço do homem”.

“assimétricos”. (...) A ALCA é um tratado de desregulamentação e flexibilização comercial e financeira entre a maior potência econômica, financeira, cultural, midiática, científica, tecnológica e militar, os EUA, e seus vizinhos, para enfrentar a concorrência européia e asiática, visando: 1) consolidar sua hegemonia político-militar, trasladando os mecanismos de controle atingidos durante a guerra fria para uma suposta “guerra contra o narco- terrorismo”; 2) controlar as crises e explosões econômico-sociais do continente e evitar migrações “descontroladas” de hispano-americanos para os EUA; 3) garantir o acesso preferencial dos investidores norte-americanos aos recursos estratégicos do hemisfério, especialmente na região andino-amazônica (petróleo, gás, minerais e madeiras), e também aos recursos básicos (biodiversidade genética, água, oxigênio) transformados em mercadoria; 4) monopolizar os mega-projetos estratégicos de integração do continente, como a grande rede intermodal de transporte, o sistema de telecomunicações por satélite e cabo e a produção de energia. (COGGIOLA, 2004)

A partir de 1998, quando da II Cúpula das Américas realizada em Santiago do Chile, retoma-se o tema com maior intensidade – após uma série de turbulências em termos da Guerra do Golfo, crises mundiais e processo NAFTA que assolaram (diretamente ou não) o front interno norte-americano – e se forma a estrutura, os mecanismos e a dinâmica das negociações. Criam-se então nove Grupos de Trabalho (GTs), contando com presidência rotativa de dezoito meses – serviços; investimentos; contratos públicos governamentais; acesso a mercados;

agricultura; direitos de propriedade intelectual; subsídios, antidumping e direitos de compensação; política de concorrência e resolução de conflitos –, além de um Comitê de

Negociações Comerciais (CNC), composto pelos respectivos vice-ministros dos países envolvidos. Neste ínterim foi criada uma comissão tripartite entre BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), CEPAL-ONU (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe das Nações Unidas) e OEA (Organização dos Estados Americanos) para subsidiar analiticamente e assessorar tecnicamente os processos de negociação77. Nos anos de 1999, 2000 e 2001 ocorrem diversas reuniões de comitês ministeriais, GTs e comissões especiais, predominantemente em Miami – para onde se deslocaram centenas de negociadores – mas é a partir de 2002 e 2003 que

77 “Além desta estrutura de negociação, noutro nível, há que se ter em conta ao menos dois elementos adicionais:

• Como parte dos trabalhos dos distintos Grupos e Comitês, foi-se criando um conjunto de inventários e de bases de dados sobre uma variedade de temas: assistência técnica; estatísticas, normas e barreiras de comércio e de taxas; medidas não-alfandegárias; procedimentos aduaneiros; educação em matéria de comércio; legislação e procedimentos de compra governamental; regimes nacionais e tratados bilaterais de investimento estrangeiro; leis e tratados referentes a políticas de concorrência; disposições sobre comércio de serviços; mecanismos de solução de controvérsias nos tratados vigentes do hemisfério; práticas nacionais referentes a medidas antidumping e direitos compensatórios etc.

• Desde já há algum tempo, está em processo de discussão e elaboração um projeto sobre a estrutura geral que terá a ALCA quando se inicie sua aplicação. Segundo os documentos iniciais elaborados a respeito pelo Comitê Técnico de Assuntos Institucionais, dita estrutura incluiría uma ‘Instância Política’ encarregada da direção política do processo, una ‘Instância Executiva’ encarregada de supervisionar o desenvolvimento geral do processo, uma ‘Instância Técnica’ integrada pelos Comitês Técnicos encarregados da supervisão da implementação dos distintos capítulos do Acordo ALCA e uma Secretaria Administrativa como órgão de apoio administrativo, operativo e logístico.

Como resultado do processo de negociação, foram-se formulando sucessivos esboços da ALCA, nos quais se plasmam os acordos e diferenças surgidos do trabalho dos distintos grupos” (Estay e Daza, 2004). Posteriormente, ainda no interior desta estrutura negociadora, incluiu-se temas gerais, ambientais e trabalhistas.

se acirram as negociações. Com uma população de oitocentas milhões de pessoas, um Produto

Interno Bruto (PIB) equivalente a onze trilhões de dólares além de uma das maiores reservas de

biodiversidade e recursos naturais do planeta, a ALCA seria a maior zona de livre comércio do

mundo, com desdobramentos – muito além do “livre-comércio” propriamente dito – que

atingiriam, sob diversas mediações e em angulações várias, praticamente todos os aspectos da

produção e reprodução da vida quotidiana deste amplíssimo contingente populacional. Mais

além da redução das barreiras comerciais, alfandegárias ou não, objetiva-se através deste projeto a liberalização absoluta de leis, normas e regulamentações nacionais – evidenciando na prática a soberania popular e os textos constitucionais dos Estados, ao Sul do Rio Grande, enquanto letras mortas –, “de modo a abrir novos nichos de mercado em áreas até então predominantemente estatais, como educação, cultura, previdência, saúde e meio ambiente” (Leher, 2003a).

• A presidência rotatória do processo: a cargo do Canadá – maio de 1998 a outubro de 1999 –, da Argentina – novembro de 1999 a abril de 2001 – e do Equador – maio de 2001 a outubro de 2002 –, e que desde novembro de 2002 até os dias correntes – é compartilhada – co-presidência – entre EUA e Brasil.

• O “Comitê de Negociações Comerciais” (CNC), formado pelos vice-ministros responsáveis das áreas de comércio dos distintos países e cuja reunião mais recente iniciou- se em Puebla, em fevereiro de 2004, devendo suspender-se por falta de acordos.

• O “Comitê Tripartite”, integrado por BID, OEA e CEPAL-ONU, que está encarregado de brindar apoio técnico-analítico e logístico ao projeto ALCA. (ESTAY e DAZA, 2004)

Grupos de Negociação e Comitês Especiais da ALCA

Atual Presidência e Vice-Presidência Reuniões celebradas

e data da última reunião GRUPOS DE

NEGOCIAÇÃO

Acesso a Mercados* Colômbia e

R. Dominicana 29 / Set. 2003 Investimento* Panamá e Nicarágua 25 / Ago. 2003 Serviços** CARICOM (Caribe) e Equador 26 / Set. 2003 Compras Governamentais** C. Rica e Paraguai 25 / Set. 2003 Solução de Controvérsias*** Canadá e Chile 24 / Set. 2003 Agricultura**** Uruguai e México 27 / Set. 2003 Direitos de Propriedade

Intelectual** R. Dominicana e Venezuela 22 / Ago. 2003 Subsídios, Antidumping e

Direitos Compensatórios* Argentina e México 22 / Ago. 2003 Política de Concorrência** Peru e CARICOM 22 / Ago. 2003

COMITÊS ESPECIAIS

Assuntos Institucionais México e EUA-Brasil 14 / Ago. 2003 Economias Menores+ CARICOM e Nicarágua 24 / Jan. 2004

Comercio Eletrônico Canadá e Peru 14 / Jul. 2002 Participação da Sociedade

Civil Chile e Peru 24 / Jan. 2004 * Criado como grupo de trabalho na 1ª reunião ministerial (Denver, junho de 1995). ** Criado como grupo de trabalho na 2ª reunião ministerial (Cartagena, março de 1996). *** Criado como grupo de trabalho na 3ª reunião ministerial (Belo Horizonte, março de 1996). **** Criado como grupo de negociação na 4ª reunião ministerial (San José, março de 1998) + Criado como grupo de trabalho na 1ª reunião ministerial e transformado em “Grupo Consultivo” na 4ª reunião ministerial.

* Desde novembro de 2002, suas atividades estão temporariamente suspendidas.

Fonte: ESTAY e DAZA (2004).

Os interesses e necessidades do imperialismo norte-americano são identificados – sem disfarces e de forma absoluta – com o dever-ser dos Estados e sociedades de todo o continente, enfim, com os “critérios de elegibilidade”, prescritivos, aplicados aos países- candidatos78 à ALCA. Note-se a enunciação do secretário-adjunto de Estado mencionado sobre os critérios estabelecidos para a zona hemisférica: “(i) promover o comércio livre e a integração econômica [...] e ajudar às empresas norte-americanas, (ii) fortalecer a democracia e o império da lei para assegurar que os valores e princípios que guiaram a nossa nação prosperem através do hemisfério”. Trata-se de um acordo que, ao fim e ao cabo, prima essencialmente por assegurar a supraterritorialidade ao grande capital, no relativo à exportação-importação de capitais, tecnologias e mercadorias para o Brasil, o grande e incofessado objeto de desejo dos promotores da ALCA (Coggiola, 2004).

A ALCA apresenta-se no bojo duma reconfiguração sistêmica que visa sanear a

crise estrutural-capitalista que se arrasta desde os anos 70 do século passado, intensificada pela

concorrência interimperialista européia-asiática sofrida pelos EUA, no sentido de – no lastro de iniciativas como a liberalização comercial determinada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), zonas livre-cambistas como o North-American Free Trade Agreement (NAFTA), contra-reformas neoliberais (como a previdenciária, a tributária e a trabalhista) e a dilatação das

condições materiais de reprodução ampliada do capital monopolista previstas no Acordo Multilateral de Investimentos (AMI), tais como a subjugação da legislação trabalhista e sócio-

ambiental à lógica do mercado – recompor a taxa de exploração de mais-valia através de um domínio articulado pelo mundo do capital, em benefício da elevação dos padrões de acumulação, concentração e expansão imperialista nas Américas. A gênese, formação e desenvolvimento do projeto de Área de Livre Comércio das Américas inserem-se num marco de contra-ofensiva imperialista da supremacia capitalista norte-americana que envolve múltiplas determinações econômicas, políticas e militares circunscritas a coordenadas histórico-estruturais, relacionadas ideologicamente ao período pós-guerra fria e materialmente vinculadas à crise de acumulação e

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Os chamados critérios de elegibilidade aparecem desta forma enumerados em informe da CEPAL-ONU ainda de 1996 – em base a um anexo do memorando do governo norte-americano intitulado Política Comercial para a

América Latina depois do NAFTA –, no qual se indica o que cada país da América Latina deve cumprir: (i) Prover

acesso “justo e eqüitativo” de seu mercado às exportações dos Estados Unidos ou ter realizado avanços