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conseguiu. Partimos então para a disputa político-ideológica com ela. Fizemos a Semana Social e levamos inúmeras pessoas de esquerda para falar com os estudantes. Houve um rico processo de discussão e reflexão, que reuniu uma quantidade imensa de alunos no ginásio onde se realizavam as atividades. Tal iniciativa elevou muito o nível político dos jovens daquela universidade.

A JUC já estava bem organizada nas universidades brasileiras e, no Congresso da UNE em Belo Horizonte, em 1960, Herbert José de Sousa, o Betinho, foi candidato a presidente. Mas, naquele momento, a JUC ainda não havia tido crescimento suficiente para que o elegêssemos, pois o partidão (PCB) tinha hegemonia no movimento estudantil universitário. Isso foi alterado no congresso seguinte, em 1961. Naquele momento o PCB se dividiu e uma parte me apoiou. Isso garantiu minha eleição para a presidência da UNE.

Pela primeira vez um membro da JUC assumia tal posto.

Atuação na presidência da Une

Até então, a atuação da UNE era pouco voltada para os problemas gerais dos estudan-tes. E nós colocamos o nosso eixo de atuação na luta pela reforma universitária. Realiza-ra-se o primeiro Seminário Nacional sobre a Reforma Universitária, na gestão anterior, e fizemos o segundo na Universidade Federal do Paraná. Ali estabelecemos os nossos objetivos: luta pela democratização e modernização da universidade, tendo como centro a representação dos estudantes nos órgãos colegiados das universidades. Defendíamos, também, o fim da cátedra vitalícia. A luta pela reforma universitária combinava-se com a luta anti-imperialista.

Duas outras iniciativas também foram de grande importância no processo de mobi-lização dos estudantes na luta pela reforma universitária: o Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE e a UNE Volante.

Visita ao presidente Jânio Quadros

Após a eleição, juntamente com a presidenta do DCE da Universidade do Brasil, tive uma audiência com o presidente Jânio Quadros para comunicá-lo sobre a eleição da nova diretoria da UNE. Na visita ocorreu um fato inusitado: os ministros militares da Guerra, Aeronáutica e Marinha estavam na antessala da presidência também aguardando para falar com o presidente. No entanto, fui chamado em primeiro lugar – uma indicação de que a crise estava em curso.

Quando entramos, o presidente estava sentado diante de um telex. Não falou nada, então, ficamos sem saber o que fazer. E ele se virou para mim e disse: “Senhor presidente, queira se assentar”. Olhei para o lado para ver se tinha algum presidente, mas era comi-go mesmo. Respondi: “Presidente, sou o novo presidente da UNE e trouxe para o senhor a comunicação da posse da nova diretoria”. Ele reagiu à forma como me dirigi a ele:

“Presidente, nos Estados Unidos, na França, em todos os países do mundo, trata-se um presidente da República por excelência”. Naquela época, eu era jovem, meio petulante e

não liguei, mas comecei a tratá-lo de excelência. Dali a pouco estava falando novamente

“senhor presidente”. Lá pelas tantas, entreguei o ofício comunicando a posse, e Jânio o pegou e disparou: “Senhor presidente, vocês necessitam de um chefe de cerimonial.

Imagine mandar um ofício mimeografado para o presidente da República”. Pedimos des-culpas, porque, realmente, aquilo tinha sido um absurdo.

Em seguida, a situação se alterou. Depois desse teatro todo, ele atendeu a todas as nossas reivindicações: sede para a UNE em Brasília e recursos para o CPC. E determinou que o ministro da Educação nos recebesse de imediato para dar andamento ao que tinha sido prometido por ele. Saí de Brasília muito satisfeito e voltei para Goiânia, onde morava a minha família.

Lembro-me como se fosse hoje: fui com meu pai comprar um terno porque naquela época presidente de UNE usava terno e gravata, e eu não tinha um. No dia da minha posse, tive de pedir um emprestado de um amigo. Estava na loja quando uma rádio deu a notícia da renúncia do presidente.

Os ministros militares declararam que não aceitariam a posse do vice-presidente constitucional João Goulart, e ameaçaram prendê-lo caso chegasse a Brasília. Voltei para o Rio de Janeiro, onde a movimentação golpista já estava em curso.

resistência no rio Grande do Sul

Por segurança, nós nem entramos na sede da UNE. Betinho, que me assessorava, e eu viajamos para o Rio Grande do Sul, pois o governador Leonel Brizola comandava a resistência ao golpe. Ali decretamos uma greve universitária em apoio à posse de Goulart.

Após o contato com o governador gaúcho, passei a falar na Rede da Legalidade, trans-mitida pela rádio Guaíba, cujas aparelhagens funcionavam nos porões do Palácio Pira-tini. Temia-se que um ataque aéreo pudesse destruir os transmissores da rádio e cortar o contato com o resto do país. Ali falava o governador, se dirigindo ao conjunto do povo brasileiro, e o presidente da UNE, aos estudantes.

Porto Alegre vivia um clima de guerra civil. Havia canhões antiaéreos protegendo o Palácio Piratini e o povo nas ruas marchando. Num lugar chamado Mata Borrão, que era o centro das articulações da sociedade civil contra o golpe, João Amazonas, como principal dirigente do Partido Comunista do Brasil no estado, ajudava a organizar o movimento de resistência. Depois de relutar, o general Machado Lopes, comandante do III Exército, ter-minou apoiando a iniciativa de Brizola. Essas foram algumas das razões pelas quais a luta em defesa da legalidade teve êxito.

Surgiu, então, como alternativa, a implantação do parlamentarismo. Tancredo Neves foi ao Uruguai negociar com Jango a aceitação desta proposta e ele terminou aceitando.

Esta era uma característica de Jango: muito conciliador.

Lembro-me bem da reação de Brizola e do povo gaúcho. Estava no Palácio Piratini quando Jango chegou, e Brizola protestou energicamente porque queria ir às últimas consequências na resistência ao golpe. Em frente à sede do governo estadual havia umas cinco mil pessoas e o presidente Goulart foi até o balcão para cumprimentá-las. Muitos

bateram palmas, mas também outros vaiaram porque já tinham recebido a notícia de que ele havia aceitado o parlamentarismo. Quando terminou a crise da legalidade e fui me despedir de Brizola, fui agraciado com um revólver 38. Ele me disse que era para marcar aquele momento da política brasileira.

Após a posse, Goulart esteve na sede da UNE com vários ministros de seu gabinete parla-mentarista, inclusive o primeiro-ministro Tancredo Neves, para agradecer pelo apoio recebi-do. Aliás, esta foi a primeira vez que um presidente da República esteve na sede da entidade.

A Une Volante

Nós organizamos seminários sobre a reforma universitária, mas havia a necessidade de ir aos estados discutir com as bases estudantis as resoluções aprovadas. Em função da relação amistosa estabelecida durante a crise da legalidade, Brizola conseguiu que a Varig nos transportasse por todo o Brasil. Isso nos permitiu fazer a UNE Volante. A UNE Volante cumpriu três objetivos. Primeiro: mobilizar os estudantes em torno da questão da reforma universitária e da luta contra o imperialismo; segundo: fazer as apresentações do CPC e organizar seus núcleos; e terceiro: organizar a AP.

A UNE Volante realizava assembleias, reuniões com as lideranças estudantis e fazia contatos com as lideranças locais. Unificava o movimento estudantil em torno da reforma universitária e das reformas de base. O CPC foi uma iniciativa extremamente importante que marcou a cultura brasileira. Ele estava organizado por departamento: o de música, que contava com o trabalho de Carlinhos Lira; o de teatro, com Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, entre outros; o de cinema, com os melhores diretores, entre os quais, Cacá Diegues – inclusive, a UNE produziu o filme Cinco vezes Favela.

Durante a UNE Volante, o CPC apresentava a peça Auto dos 99%, que denunciava o caráter elitista da universidade; e A Revolução na América Latina, de Augusto Boal. Procu-rávamos não apenas apresentar espetáculos, mas também criar núcleos no CPC. E isso ajudava a conquistar os estudantes para o debate da questão universitária e, ao mesmo tempo, consolidava e unificava o movimento estudantil.

Conflito com a cúpula da igreja católica

No período anterior ao golpe, houve um esforço de engajamento da JUC numa práti-ca polítipráti-ca de esquerda, e tal postura foi criando conflitos com a alta hierarquia da igreja.

Num determinado momento, dom Hélder, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, me chamou e informou que o Vaticano determinara que a igreja do Rio me afastasse da JUC por eu ter sido responsável pela filiação da UNE à União Internacional de Estudantes (UIE), uma entidade comunista. Era considerado absurdo o fato de um líder da ação católica ser conivente e apoiar uma decisão como essa. Eu disse a ele: “dom Hélder, o senhor é meu amigo e amigo da UNE e, por isto, não posso aceitar esta comunicação vinda do senhor.

Quero recebê-la do próprio cardeal, dom Jaime de Barros Câmara”.

Ele então marcou a audiência à qual compareci com outras 15 ou 20 pessoas do

mo-vimento estudantil. O cardeal me comunicou a posição da igreja e tentou se justificar, afirmando que não daria divulgação ao fato. Afirmei que aquilo era secundário e que considerava que estava-se cometendo um grave erro, pois com isso iria afastar grandes contingentes de jovens da igreja. O resultado dessa história é que fui expulso de JUC. E, então, chegamos à conclusão de que não dava mais para permanecer numa organização que tinha relação de dependência com a igreja e decidimos construir uma que fosse au-tônoma, a Ação Popular.

Quando realizamos a UNE Volante, começamos a estruturar a AP nacionalmente.

Durante a caravana eu, como presidente da UNE, me voltava para os debates e mobili-zação dos estudantes universitários. Betinho, que nos acompanhava, aproveitava para reunir os descontentes da JUC nos estados e outras pessoas, visando à organização da AP. Visitamos quase todas as capitais do Brasil. Naquela época, a imprensa escrita tinha hegemonia na comunicação, e O Globo estampou na primeira página: “A UNE está fazen-do um processo de comunização fazen-do Brasil”.

Isso acabou tendo uma enorme repercussão. A juventude, na sua rebeldia, queria ver o que era aquilo. Quanto mais íamos subindo o Brasil, chegando ao Nordeste, mais aumentava a mobilização. Em Salvador realizamos uma apresentação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), para mais de cinco mil estudantes. Em Maceió tivemos uma recepção à altura de autoridades de grande destaque.

Ao final, saímos com um movimento estudantil unificado e forte. Logo depois da UNE Volante, num conselho realizado no Maranhão, deflagramos a greve pelo 1/3 de representação estudantil nos órgãos universitários. E durante o Carnaval de 1963 realiza-mos o congresso de fundação da AP.

Congresso de fundação da Ação Popular

A pauta central desse congresso era aprovar o documento-base que formularia as diretrizes políticas e ideológicas da Ação Popular, cujo fundamento ideológico expressava uma concepção progressista e defendia o socialismo e a revolução brasileira – porém, as concepções ainda estavam um pouco misturadas. Ali conviviam o cristianismo, o exis-tencialismo e o marxismo. Naquele momento, também foi eleita a sua primeira direção, com Betinho à frente.

A base principal da AP era composta por estudantes, sobretudo os universitários.

Contudo, ela já tinha alguma ligação com os camponeses através do Movimento de Edu-cação de Base (MEB), que realizava um processo de eduEdu-cação por rádio. A AP tinha um trabalho junto ao movimento camponês em Pernambuco, Maranhão e Alagoas, e tinha presença no movimento operário em São Paulo, no ABC.

“Já matou seu comunista hoje?”

Naquele período havia pichações nas paredes do Rio de Janeiro com os dizeres: “Já matou seu comunista hoje?”. Isso demonstrava o nível a que havia chegado o conflito

político-ideológico no país. Numa madrugada, a sede da UNE foi metralhada quando os dirigentes dormiam. Levantamos e fizemos uma reunião de diretoria e, em seguida, convocamos uma entrevista coletiva e fizemos uma nota acusando o governador Carlos Lacerda como responsável. Na parede externa da UNE picharam “Fora os lacaios de Mos-cou”, com a assinatura do Movimento Anticomunista (MAC). Em resposta, realizamos uma grande manifestação na Cinelândia que reuniu por volta de 10 mil pessoas.

Naquela época, o movimento estudantil tinha um papel fundamental na luta social do Brasil – e isso porque não havia centrais sindicais. O Comando Geral dos Trabalhado-res (CGT) não era central, mas um comando, uma articulação de cúpula do movimento sindical. E a organização sindical dos trabalhadores rurais era incipiente. As Ligas Cam-ponesas tinham importância, mas sua organização se limitava a alguns estados. Por isso, os estudantes se destacavam na mobilização da sociedade, através da UNE. Com tudo isso, a AP, que dirigia aquele movimento, adquiriu muita força e influência.

A partir da Campanha pela Legalidade em 1961, a UNE e eu passamos a ter uma excelente relação com Brizola. Juntos, fizemos uma proposta de realização de um convê-nio que foi colocado em prática – entre a Supra e o Ministério do Trabalho, dirigido por Almino Afonso, para desenvolver a sindicalização rural. Além desse relacionamento com Brizola, mantínhamos contatos também com Francisco Julião e Miguel Arraes, então governador de Pernambuco. Mas, de fato, a relação maior era com Brizola.

AP e o golpe militar

No final da minha gestão à frente da UNE, fui para a Superintendência Política de Reforma Agrária (Supra), em Brasília, onde trabalhava também o padre Lage. Juntos, fizemos uma proposta de realização de um convênio entre a Supra e o Ministério do Tra-balho, dirigido por Almino Afonso, para desenvolver a sindicalização rural – que foi colo-cado em prática. O crescimento da organização dos sindicatos rurais terminou originando a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

Quando veio o golpe militar, eu estava em Belo Horizonte e fui para Brasília. Havia sido convocada uma reunião do Congresso Nacional. Lembro-me que lá estávamos Beti-nho e eu numa galeria lotada. Abrindo a sessão, seu presidente, o senador Auro Moura Andrade, declarou taxativamente: “O presidente da República deixou a capital federal, portanto, deixou o cargo de presidente. Por isso, declaro vaga a presidência da Repúbli-ca”. Na verdade, Jango havia deixado Brasília e ido a Porto Alegre, onde acreditava haver melhores condições para uma resistência. Assim, não tinha que pedir a autorização do parlamento. Aquilo era, na verdade, uma tentativa de “legalizar” o golpe de Estado.

No momento que ele falou, protestei nas galerias gritando “Golpista! Golpista!”. E alguns deputados progressistas – como Almino Afonso, Plínio de Arruda Sampaio e Rogê Ferreira – impediram que eu fosse preso. Quando estava saindo de Brasília, vi os tanques entrando na cidade numa quantidade tal que fazia os prédios tremerem. Fui para Goiás e fiquei um mês na fazenda de um tio. Depois, Betinho e eu seguimos para o Uruguai, onde restabelecemos os contatos com Brizola.

A AP no pós-golpe

Chegamos ao Uruguai em meados de 1964 e ficamos até julho de 1965. Mantínhamos contato com Brizola e ele, por sua vez, fazia aquelas reuniões com o pessoal da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, tentando articular um movimento armado contra a dita-dura militar.

A AP havia ficado desorganizada após o golpe e isso fez com que decidíssemos retor-nar ao país. Voltei com minha esposa, Maria Auxiliadora, Dodora, que tinha tido bebê no Uruguai. Brizola nos repassou cinco mil dólares, os quais Betinho e eu resolvemos inves-tir na reorganização da AP, o que causou alguns problemas com o nosso aliado.

Por falar em dinheiro, num determinado momento depois do golpe, a direção da AP decidiu enviar uma turma para Cuba para fazer treinamento militar. Para isto, recebemos 16 mil dólares. Quase no mesmo período, a AP foi convidada para ir à China estabelecer relações com o Partido Comunista da China (PCCh). Após o debate realizado na organi-zação, optamos pelo caminho chinês da guerra popular prolongada e passamos a criticar o foquismo. Por isso, mandamos uma pessoa a Cuba para devolver o dinheiro. Foi um negócio inacreditável. O representante cubano disse que nunca ninguém tinha devolvido dinheiro em função de diferenças de opinião – isso mostrava a seriedade com que tratá-vamos essa questão de dinheiro.

Voltando ao Brasil, realizamos uma reunião para reorganizar a Ação Popular. Cons-tituímos o chamado Comando Nacional e definimos uma nova diretriz política para a organização. Do ponto de vista ideológico, não mudou muito: foi mantida aquela concep-ção cristã sobre o engajamento político. Mas, do ponto de vista político, houve uma clara ruptura com o reformismo e uma adesão à via revolucionária. Assumi a direção principal da AP e passamos a organizar a luta política contra a ditadura, e formamos uma comissão militar, tendo como dirigente Haroldo Lima. Ele viajava pelo Brasil procurando identificar áreas onde pudéssemos desenvolver a luta armada, e continuamos dirigindo o movimen-to estudantil. Os presidentes da UNE, depois do golpe – Luís Guedes, Luiz Travassos e Jean Marc –, eram todos da AP.

Influência chinesa

A radicalização da luta política foi nos colocando a necessidade de uma fundamen-tação teórica mais sólida. A Revolução Cultural chinesa estava no auge. Os chineses afir-mavam que vivíamos uma nova etapa do marxismo: o marxismo-leninismo-maoísmo. E esta nova fase exigia a formação de um partido comunista de tipo inteiramente novo. Em função disso, os chineses convidaram a direção da AP para fazer uma visita a seu país, e fui escalado para essa missão. Participei das festividades do aniversário da República chinesa. Mao Tsé-tung, Lin Biao e Zhou Enlai estavam lá.

Participei de discussões sobre o pensamento de Mao Tsé-tung, guerra popular prolon-gada, o partido de tipo inteiramente novo e a linha de massas. Esses debates resultaram num texto que elaborei e que ficou conhecido por Documento Amarelo, por causa da cor de

sua capa. Assim, o contato inicial do conjunto da AP com o marxismo deu-se pela verten-te do pensamento de Mao Tsé-tung.

Na viagem, ficou acertado que encaminharíamos militantes para fazer um curso polí-tico-militar na China. Jair Ferreira de Sá, de codinome Dorival, foi fazer o curso e voltou imbuído da concepção maoísta, sobretudo da ideia de partido inteiramente novo. Termi-nou assumindo a direção principal da organização no meu lugar.

Integração na produção

Nesse período, fruto dessa influência chinesa, desenvolveu-se o processo de integra-ção na produintegra-ção, cuja diretriz principal era ampliar a ligaintegra-ção com as massas. A guerra popular prolongada, difundida pelo PC da China, implicava a incorporação de amplas massas no processo revolucionário.

Vários dirigentes e militantes da AP foram deslocados para áreas, sobretudo do movi-mento camponês: Haroldo Lima, para a região do cacau, no sul da Bahia; e Betinho, para uma fábrica no ABC paulista. Eu estava fragilizado politicamente, e Dorival vinha com a corda toda, com uma grande liderança. Então, decidi seguir para o interior de Alagoas. O fato é que isso fortaleceu minha posição e resultou no reconhecimento de minha dispo-sição de luta.

Fui para Pariconha, distrito de Água Branca, no alto sertão de Alagoas. Ali atuava Gil-berto Teixeira (Juarez), que era de Goiás. Ele foi para lá como contador da cooperativa do sindicato local e eu como parente dele. Na verdade, iríamos dirigir a escola de treinamen-to político-militar de camponeses, que se localizava num pequeno sítio que compramos.

Ao lado disso, tínhamos o trabalho no sindicato e na cooperativa, e nossas esposas davam cursos de alfabetização.

Primeira prisão

Em 1968, o governador de Alagoas foi à região de Pariconha, e um de nossos compa-nheiros fez-lhe alguns questionamentos, o que chamou a atenção das autoridades. Era sinal da existência de subversivos por ali. Logo depois veio o AI-5 e o governo mandou a repressão prender os suspeitos. Como nem Juarez nem eu estávamos lá, prenderam al-guns camponeses e as nossas mulheres. Quando chegava de viagem e estava me dirigin-do para Pariconha, o padre da região, que não nos apoiava, disse: “Olha, não é bom você ir para lá porque eles prenderam suas mulheres. Se chegar lá, eles vão prendê-lo também”.

Respondi que não tinha recursos para sair dali e ele me deu algum dinheiro. Informou

Respondi que não tinha recursos para sair dali e ele me deu algum dinheiro. Informou