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dYnéAS FernAndeS AGUIAr

progressista em certo sentido, pois faziam críticas ao imperialismo. O seu objetivo principal era o desenvolvimento do capitalismo autônomo no país. E isso tudo influenciava o Partido Comunista.

Em 1956, ocorre o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética.

Inicialmente, parecia estar reduzido ao combate ao culto à personalidade de Stálin, mas, na verdade, o que se pretendia ali era liquidar com as posições marxistas revolucionárias no interior do movimento comunista internacional. O mote passava a ser o caminho pacífico para o socialismo e a coexistência pacífica com o imperialismo. A questão da revolução deixava de existir.

A crítica dos soviéticos ao chamado stalinismo teve reflexo no Brasil. Em 1957, sob intensas críticas de dirigentes e militantes comunistas, Luiz Carlos Prestes fez uma manobra e jogou toda a responsabilidade pelos erros políticos cometidos e os métodos mandonistas nas costas de Diógenes Arruda, secretário de Organização desde 1943, e dos outros camaradas da direção. Com base nisso, ainda em 1957, uma reunião do Comitê Central afastou Maurício Grabois, João Amazonas e Arruda da Comissão Executiva do partido.

A nova política reformista, influenciada pelo 20º Congresso e pela conjuntura nacional, materializou-se na Declaração de Março, de 1958. Este documento enfrentou resistências internas. Afinal, como uma resolução aprovada no Comitê Central (CC) poderia ir contra a decisão de um congresso realizado pouco antes, em 1954?

5º Congresso

A direção do partido decidiu convocar o 5º Congresso em 1960. Nos debates que o antecederam, se expressaram todas essas ideias em conflito de forma mais articulada.

Acredito que aquele tenha sido um dos momentos mais ricos de discussão interna no partido. No seu processo de preparação, o Comitê Central, comandado por Prestes, interveio diretamente numa série de conferências regionais. Eles não queriam discutir as teses e sim a escolha dos delegados para formar uma maioria – e conseguiram. O congresso acabou aprovando as teses reformistas.

Lembro-me que ele foi realizado em meio à euforia diante de uma possível vitória eleitoral do marechal nacionalista Teixeira Lott para a presidência da República. Mas ele foi derrotado por Jânio Quadros, que era apoiado pela União Democrática Nacional (UDN).

Na política externa, o novo presidente assumiu uma posição avançada, especialmente em relação a Cuba, que estava ameaçada pelo imperialismo norte-americano. Mas na política interna Jânio era conservador e entreguista.

Conferências locais

Comigo ocorreu um fato interessante na conferência de São Paulo. Eu estava fazendo minha intervenção – na qual criticava diretamente Prestes e a direção do partido pela dissolução da União da Juventude Comunista (UJC) – e, de repente, Prestes chegou.

Então, suspenderam a sessão para recebê-lo. Nesse interregno, Giocondo Dias sentou-se ao meu lado e falou: “Ouvi dizer que você estava criticando o Velho sobre o problema da UJC. Não faça isso, diga que fui eu o responsável por isso”. Achei um absurdo aquela proposta. Não me intimidei e continuei minha intervenção criticando Prestes e a tentativa de acabar com a UJC.

Naquele período de luta interna, a cidade de São Paulo foi um dos centros da resistência, principalmente os comitês distritais da Mooca, dirigido por Ângelo Arroyo, e o do Tatuapé, dirigido por Pedro Pomar e José Duarte. No comitê municipal, o dirigente principal era Armando Mazzo, que era membro do Comitê Central e havia aprovado a Declaração de Março de 1958, mas não aderido totalmente às posições reformistas e liquidacionistas.

Na conferência municipal, da qual participei como delegado, os dirigentes do partido fizeram-lhe um ataque violentíssimo e o destituíram da direção municipal. A atitude do comitê estadual foi a de liquidar com a direção municipal de São Paulo.

Na plenária final consegui ser eleito delegado para a conferência estadual. Nesta, o Comitê Central jogou tudo o que tinha e enviou Prestes, Carlos Marighella, Mário Alves e Jacob Gorender. Prestes fez uma intervenção pesada contra aqueles que criticavam as teses do CC e buscou não permitir que estes se elegessem delegados. Pomar e Arroyo, dois dos maiores críticos, ainda eram membros do Comitê Central; ou seja, eram delegados natos ao Congresso. Mas os demais que os acompanhavam foram excluídos totalmente da lista de nomes, ninguém foi eleito. Os delegados de São Paulo foram afinados com as posições do Prestes. O período da preparação do 5º Congresso já prenunciava o que vinha pela frente.

Atuando no Sindicato da Construção Civil

No final da conferência estadual, Giocondo Dias chegou perto de mim novamente e disse: “Você tem experiência no movimento sindical e nós dirigimos o Sindicato da Construção Civil de Brasília. Este é o único sindicato da cidade e tem muita força, mas os companheiros não têm experiência alguma. Então nós tínhamos pensado que você podia ir para lá e ajudar os nossos sindicalistas”. Fiquei pensando, e na hora não respondi nada.

Mas passado um tempo aceitei a proposta. Viajei para Brasília em outubro de 1960, logo depois da eleição de Jânio.

Fui trabalhar no Sindicato da Construção Civil e também participava da fração sindical. Entrosei-me no comitê estadual e fiquei responsável pela organização das bases operárias do partido. Criamos uma série de bases ligadas à construção civil, organizamos as primeiras passeatas operárias realizadas em Brasília na luta pelo salário mínimo e conseguimos uma grande vitória. Através do sindicato e do partido, começamos a constituir também as primeiras entidades de moradores. Conseguimos ainda organizar o partido nos movimentos secundarista e universitário.

reorganizando o Partido Comunista do Brasil

Em agosto de 1961, o jornal Novos Rumos publicou os Estatutos e o Programa do Partido Comunista Brasileiro com a finalidade de registrá-lo na Justiça Eleitoral. Muitos consideravam aquilo como a liquidação do tradicional Partido Comunista do Brasil. O congresso não havia autorizado isso. Então surgiu a ideia de escrever uma carta ao Comitê Central, que foi assinada por 100 camaradas.

Era um texto respeitoso dizendo que a direção estava errada e que era preciso revogar a decisão de registrar outro partido ou então convocar um novo congresso para que ele decidisse sobre as mudanças propostas. No final de agosto, então, veio a renúncia do presidente Jânio. O vice era Jango, eleito pela chapa derrotada de Lott. Então se abriu uma grave crise política e institucional. Os ministros militares, com o apoio da direita, tentaram impedir a posse de João Goulart, violando a Constituição.

Havia se constituído um poderoso movimento pela legalidade no Rio Grande do Sul, comandado pelo governador Leonel Brizola. O governador de Goiás, Mauro Borges, também resistiu aos golpistas. Nós, camaradas de Brasília, junto com os de Goiás, procuramos organizar a resistência ao golpe. A crise foi superada com um grande acordo através do qual a posse de Jango se daria, mas sob o sistema parlamentarista que lhe reduzia os poderes.

tensão interna

Naqueles dias turbulentos, ficou momentaneamente suspensa a discussão dentro do partido. Ela foi retomada, ainda com mais força, depois da posse de Jango. A direção começou a punir e expulsar os camaradas que haviam organizado a Carta dos Cem e que vinham se manifestando de maneira mais persistente contra as atitudes consideradas liquidacionistas. Estes camaradas – ao lado de outros tantos – não tiveram alternativa senão a de se reagruparem e convocar uma conferência extraordinária para reorganizar o velho partido da classe operária, o Partido Comunista do Brasil. A conferência ocorreu em fevereiro de 1962.

Em 1961, enquanto tudo isso acontecia, fui secretário de Agitação e Propaganda do partido em Brasília. Quando chegou o jornal Novos Rumos com os documentos do Partido Comunista Brasileiro, falei aos camaradas que não iria distribuí-lo. Marco Antônio Coelho, que era deputado federal e membro do Comitê Central, disse que tinha de distribuir e pronto. Houve toda uma discussão entre nós, mas continuei na direção do partido.

Eu sempre viajava a São Paulo para ver a família e aproveitava para manter contato com Pedro Pomar e Ângelo Arroyo. Eles me colocavam a par de como estavam as discussões, e assim eu ia acompanhando o debate. Contudo não havia nenhuma articulação entre nós.

Em 1962, por volta do mês de março, eu trabalhava na prefeitura de Brasília, quando recebi a visita de Lincoln Cordeiro Oest. Ele me comunicou que tinha ocorrido a conferência. Eu não tinha recebido correspondência sobre aquele evento – que ele disse ter sido enviada –, por isso não compareci. Lincoln me levou os documentos que foram

aprovados. Li o material e disse que estava de acordo. Foi quando ele me comunicou que eu havia sido eleito membro suplente do Comitê Central.

Um dia, recebi uma cópia do livro A Guerra de Guerrilhas, de Che Guevara. Levei para o pessoal do partido no Rio de Janeiro e a Editora Futuro publicou no final de 1961. Os camaradas já estavam sendo expulsos do PCB, mas ainda não haviam reorganizado o PC do Brasil. O problema é que a publicação foi proibida e apreendida pelo ministro da Justiça de Jango. Contudo, a editora já havia me mandado um pacote de livros e comecei a vendê-los. Convocaram-me novamente para uma reunião com a presença de Marco Antônio Coelho. Disseram que eu estava tendo uma atitude antipartido. Segundo eles, a venda de livro proibido podia criar um problema sério. Reafirmei minha posição e, finalmente, eles me afastaram do partido. Pensei: “bom, agora vou tratar de organizar o PC do Brasil em Brasília”.

Eu acreditava que seria muito difícil, mas não foi. Todas aquelas bases operárias que formamos passaram para o PCdoB. Conseguimos arregimentar o pessoal do hospital distrital de Brasília, de Sobradinho, de Taguatinga, os secundaristas e os universitários.

Fui procurando todo mundo e explicando o que estava acontecendo.

Distribuí o Manifesto-Programa do partido, aprovado na Conferência de fevereiro de 1962, e nos organizamos rapidamente. Nessa época, Amazonas começou a visitar-nos e fazer reuniões com professores, jornalistas e parlamentares. A partir de Brasília pegamos contatos com Goiás. Amazonas fez uma palestra naquele estado e com isso conseguiu trazer os companheiros de Tarzan de Castro e outros que eram, ou haviam sido, das Ligas Camponesas.

A rebelião dos sargentos de Brasília

Logo em seguida veio a revolta dos sargentos em Brasília, que estavam organizados nacionalmente. Na eleição de 1962 foram eleitos alguns deles, mas a Justiça Eleitoral os impediu de tomar posse. Então, criou-se um movimento no sentido de dar posse a esses sargentos e as coisas foram se radicalizando.

O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal. Então, as lideranças decidiram que, caso fosse mantida a cassação, elas iriam organizar uma demonstração de força em escala nacional. Em Brasília, os sargentos entraram em contato conosco. Disseram que o único partido que eles aceitavam era o PCdoB. O líder era o sargento Antônio Prestes de Paula, da Aeronáutica. Nós nos reunimos com militares da Aeronáutica, do Exército e com os fuzileiros navais.

A reunião do Supremo, que manteve a cassação, ocorrida em setembro de 1963, terminou às 17 horas e às 18 horas fomos aos quartéis. Começamos a organizar o que seria o levante de sargentos em Brasília, o único que ocorreu no país. Em outros lugares houve apenas protestos desarmados.

As coisas correram relativamente bem nos quartéis da Aeronáutica e com os fuzileiros.

Quando fomos sublevar o quartel do Exército, o pessoal de lá recuou. Eles vieram com a história de que não podia ter mortes. Disseram que no dia seguinte iriam fazer uma

reunião e tirar um manifesto, porque teria vindo esta orientação de São Paulo. Como já era de madrugada, voltamos para a base. Falei para os camaradas: “Terminou. O protesto está feito, não dá para ir mais longe que isso”. Aproveitamos aquele momento para expropriar algumas armas, que depois foram parar no Araguaia. Os sargentos não chegaram a ficar presos, mas responderam processo. Eu também fiquei respondendo a um Inquérito Policial Militar (IPM).

tiroteio às margens do rio Maranhão

Havia em Taguatinga alguns pequenos proprietários rurais ligados a Francisco Julião e ao padre Alípio, líderes das Ligas Camponesas. Essas pessoas tinham participado das ações durante o levante dos sargentos. Quando fomos ocupar a central telefônica, eles foram conosco.

Depois de acabado o movimento, alguns deles se armaram e resolveram preparar uma guerrilha no interior de Goiás. Saíram de Taguatinga por volta de setembro e se deslocaram para uma região chamada Vão dos Angicos. Nós soubemos disso porque foi uma coisa meio ostensiva. Em vez de saírem aos poucos, em segredo, saíram todos juntos e fazendo alarido. Todo mundo na cidade ficou sabendo o que eles tinham ido fazer. O dirigente principal do grupo era Horaci Ferreira Dias.

O Departamento de Estrada de Rodagem (DER) estava abrindo um caminho que faria a ligação com o norte de Goiás, e o engenheiro chefe encontrou um jovem que vinha com um revólver na cintura. O garoto falou que estava com o grupo de Horaci, mas não aguentou e estava voltando para casa. Em seguida ele foi preso e entregou tudo que tinha acontecido e onde estava o grupo.

Quando o engenheiro, que era meu amigo, me relatou isso, imediatamente fui procurar padre Alípio. Ele me disse que aquilo era bobagem e não devia me preocupar. Contudo, passados uns dias, soubemos que a polícia tinha atacado a região onde eles estavam. Horaci e a maioria tinham sido presos. No finalzinho de outubro fui procurado por um camponês chamado Mato Grosso, que narrou o ataque da polícia e as prisões. Contou ainda que seis deles tinham escapado e se refugiaram numa determinada região. Eles desejavam estabelecer contato com o partido, não queriam mais voltar para Brasília e sim ingressar na preparação da luta armada.

Entrei em contato com a direção nacional e ela pediu que eu fosse para a região conversar com aquele pessoal. Depois deveria passar o contato deles para Arroyo. Fui com Darlon de Castro, irmão de Tarzan, e Mato Grosso. Fomos com o jipe de uma companheira, Dilmar Stoduto, até Mato Seco – uma região de pequenos proprietários com os quais trabalhávamos havia anos. Com eles não falávamos de preparação militar ou guerrilha, embora isso estivesse em nossas cabeças, pois era uma região muito boa do ponto de vista estratégico.

Pegamos três cavalos e fomos até a barranca do rio Maranhão, nascente do rio Tocantins. Em seguida tomamos um barco a remo e subimos o rio até onde eles estavam.

Haviam construído uma casinha numa elevação à beira da margem do rio, mas estavam

nos aguardando numa gruta. Chegamos e começamos a conversar. Então falei para irmos dormir e, no dia seguinte, decidiríamos o que fazer. Era quase meia-noite. Lá pelas tantas da madrugada, fomos atacados. Houve tiroteio e um do nosso grupo, que estava de sentinela, tomou um tiro de raspão na cabeça. Um dos que estavam do outro lado também recebeu um tiro. Aí eles se retiraram, mas antes quebraram nosso barco.

Então formamos três grupos. Cada um tentaria escapar por um caminho diferente.

Combinamos de nos encontrar em Mato Seco. Ainda era noite, estava muito escuro, quando falseei o pé e rolei ribanceira abaixo. Nessa queda quebrei os ossos da articulação da mão esquerda. O camarada que tinha sido ferido a tiro e eu voltamos pelo mesmo caminho que havíamos feito. Chegamos a Mato Seco uns dois ou três dias depois.

Ficamos ali cerca de três dias e fui de jipe até Sobradinho, à casa de um camarada nosso. Depois mudei para a casa de um engenheiro, que trabalhava comigo na assessoria do planejamento da prefeitura de Brasília e era membro da ala esquerda do Partido Democrático Cristão (PDC). Pedi contato com o partido para saber como eu deveria proceder. Carlos Danielli disse que eu deveria voltar ao trabalho na prefeitura, mesmo pesando contra mim vários processos. Respondi que poderia ser preso e ele respondeu: “Se for preso, vamos lutar pela sua liberdade”. Daí, voltei ao trabalho. Foi um espanto para os funcionários, pois a imprensa local havia publicado que eu tinha sido baleado e morto no conflito. Fiquei trabalhando e respondendo a um IPM.

Um dia fui chamado para depor e um sargento amigo me alertou: “Dynéas, o major está disposto a te prender hoje. Ele descobriu um cidadão que mora na beira do rio Maranhão e diz que te viu no conflito. O cara está aqui para reconhecê-lo. Se ele te reconhecer, você será preso na hora”. Meu advogado me orientou que o processo de reconhecimento não poderia ocorrer daquele jeito: só eu e o denunciante. Como tinha um pessoal trabalhando no local, o major juntou uns seis deles e colocou todo mundo enfileirado, para o cidadão identificar. Daí eu é que não aceitei, porque tinha quebrado minha mão e seria só o oficial dizer para o homem que o suspeito estava com a mão enfaixada e, pronto, eu estaria frito.

Então obrigaram todos a ficar de braços para trás, em fila. A testemunha chegou e ficou olhando todo mundo. Ele não enxergava direito e tinha que olhar bem perto de nossos rostos. Então, virou para o major e falou: “o homem não está aqui”. O oficial ficou zangado feito o diabo, e continuei em liberdade, mas respondendo ao processo.

O golpe militar e a viagem à China

A direção do partido preparava a primeira delegação que faria um curso político e militar na China e me incluiu nela. Quando chegou o mês de março de 1964, viajei ao Rio de Janeiro com o objetivo de participar de uma reunião do Comitê Central e aproveitei para tirar a documentação necessária à viagem que faria. Logo após o término dessa reunião, foi desencadeado o golpe militar.

No dia 31 de março as tropas de Minas Gerais começaram a se deslocar para derrubar Jango e receberam apoio de outras guarnições militares. O pessoal de Goulart dizia que o seu esquema militar resistiria a qualquer golpe, mas nós nunca confiamos nesse esquema.

A resposta do Brigadeiro Teixeira para Marighella, que queria que este oficial bombardeasse as tropas golpistas de Mourão Filho, foi: “Só recebo ordens do meu comandante e meu comandante é o presidente da República”. E Goulart, por sua vez, dizia não querer derramar sangue do povo brasileiro.

Naquele momento, acompanhei Carlos Danielli e Lincoln Oest até Niterói, porque havia uma informação de que alguns sindicatos estavam preparando uma resistência armada ao golpe. No Rio de Janeiro não tinha tido praticamente movimento algum neste sentido. Procuramos ver se aquela notícia era real. Num dos sindicatos, o presidente, muito constrangido, afirmou que ele tinha armas no porão, mas que ninguém estava disposto a pegá-las e enfrentar o golpe, nem mesmo ele. As coisas acabaram por aí.

Embarquei para a China no dia 2 de abril. Daniel Calado e eu tínhamos ficado por último, os outros companheiros já tinham viajado antes do golpe. Então houve um episódio meio folclórico. Quando íamos pegar o ônibus para o aeroporto nos encontramos com a marcha organizada pelo governador Carlos Lacerda, que comemorava a vitória do golpe. Tivemos que acompanhá-la até certo trecho para conseguirmos chegar ao nosso destino. Ainda bem que ninguém nos viu ali. Pegamos o avião normalmente, não tivemos problema nenhum. Mais tarde ficamos sabendo que aquele avião havia sido o último que levantara voo, depois fecharam o aeroporto. E só voltei para o Brasil no final de outubro ou início de novembro de 1964.

O curso na China

Éramos nove camaradas nessa primeira turma. Nela estavam Osvaldão, Paulo Mendes, Diniz Cabral, Paulo Ribeiro, Gomes, Senhorzinho, Daniel Calado e Barbosa. Desses, três foram para o Araguaia.

O nosso curso teve duas etapas. Na primeira, estudamos a teoria e a história da Revolução Chinesa, baseada no pensamento de Mao Tsé-tung, e depois fomos a Nanquim, onde tivemos a parte militar.

O curso terminou no mês de setembro. Diniz, Paulinho e eu recebemos a orientação de retardarmos um pouco nossa volta ao Brasil porque estávamos com um monte de processos. Os outros voltaram, pois estavam legais. Nós assistimos ao desfile do 1º de outubro, 15 anos da Revolução Chinesa, participamos de algumas recepções onde estavam os principais dirigentes do partido da China, como Chu En-lai e Mao Tsé-tung. E tivemos uma conversa reservada com Deng Xiaoping.

6ª Conferência do PCdoB

Quando voltei da China, entrei em contato com a direção do partido. Fiquei ligado diretamente a Pomar, que me enviou para o interior de Goiás, região de Crixás – uma área

Quando voltei da China, entrei em contato com a direção do partido. Fiquei ligado diretamente a Pomar, que me enviou para o interior de Goiás, região de Crixás – uma área