• Nenhum resultado encontrado

De origem rural, começou sua militância política no interior da igreja católica, participando das lutas camponesas. Membro da Ação Popular, mais tarde in-gressou no PCdoB. Foi preso e torturado. Já em liberdade, tornou-se uma referência nas lutas sociais, especialmente no movimento contra a carestia. Elegeu-se deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em 1978. Fez um mandato em defesa dos operários e dos movimentos de moradia. Em 1987, encerrou seu segundo mandato e tentou retornar ao trabalho na Caloi, onde foi impedido de voltar às suas atividades. Conseguiu trabalho na Eletropaulo, onde se aposentou.

raízes camponesas

Minha origem é camponesa. Meu pai era um agricultor, proprietário de um pequeno pedaço de terra em Santa Fé do Sul, interior de São Paulo. Trabalhei na lavoura até os 23 anos e naqueles tempos não havia outro lugar para as pessoas se encontrarem senão a igreja. E foi lá que iniciei minha atuação social. Eu tive o privilégio de ter tido contato com padres bastante avançados.

Em 1963, um padre alemão me convenceu de que devia estudar fora e seguir a carreira religiosa. Assim, arrumou-me uma vaga no seminário arquidiocesano de Ribeirão Preto, loca-lizado em Brodowski. Foi lá que tive o primeiro contato com o movimento político mais orga-nizado, no caso, pela reforma agrária. E como eu vivia esse drama, facilmente abracei a causa.

AUrélIO PereS

A primeira ação da qual participei foi uma operação “arranca capim”, em Rubineia.

Era uma fazenda de mata virgem, às margens do rio Paraná. Havia cerca de 100 famí-lias sem-terra. Elas foram chamadas e lhes foi feita uma proposta: que desmatassem a fazenda e plantassem por dois anos. Nesse período, eles não seriam remunerados pelo trabalho, mas também não teriam que pagar nada. O pagamento seria a renda obtida pelo que eles colhessem nos dois anos. E o pessoal entrou com muita vontade porque a terra era muito boa.

Eles desmataram, plantaram no primeiro ano e perderam tudo por causa de proble-mas climáticos. Plantaram no segundo ano e novamente sofreram com o mau tempo, não conseguindo colher nada. Ficaram com uma mão na frente e outra atrás. Eles tentaram renegociar o acordo por mais um tempo e o fazendeiro se negou, de maneira que teriam que desocupar a terra no final do ano. Criou-se um clima tenso.

Nesse período, já haviam surgido alguns elementos da Ação Popular (AP) para aju-dar. Chegou, por exemplo, Luís Carlos Guedes, de Campinas. Numa das assembleias que fizemos, aprovamos uma resolução que defendia arrancar o capim todo, já que o trato era plantar por dois anos e, no último, entregar a terra com o capim plantado. E todo o capim já estava plantado. Não tínhamos como pagar uma assistência jurídica, por isso recorre-mos ao advogado Mário Carvalho de Jesus, que era ligado à igreja em Perus.

Ele iniciou o processo e disse logo de início que dificilmente ganharíamos a causa, mas que ficaríamos na terra por algum tempo, enquanto corresse o processo, e podería-mos plantar o que quiséssepodería-mos. E realmente nós ficapodería-mos de 1963 até 1969. O movimento Arranca Capim foi em 1965 ou 1966.

Logo depois, fizemos uma proposta para o fazendeiro de comprar suas terras. Mas não tínhamos dinheiro. Montamos uma cooperativa e, por meio da influência de Mário Carvalho, conseguimos a promessa de um financiamento do governo federal.

Tudo foi caminhando bem até que a Companhia Energética do Estado de São Paulo (Cesp) deu um parecer contrário porque as terras iam ser inundadas pela represa de Ilha Solteira. Na verdade, nem 10% das terras seriam inundadas, mas o governo federal se valeu do parecer da Cesp para voltar atrás e não conceder o financiamento prometido.

Mudança para São Paulo

No dia do golpe, eu estava no seminário. Para mim, não foi muita surpresa. Embora ainda não tivesse uma militância mais intensa, eu achava que ia acontecer algo porque não acreditava que os militares fossem aceitar a continuidade de Jango. E nunca acreditei naquela história do esquema militar do presidente.

Não tive grandes problemas em 1964 porque minha militância era quase nula. A ver-dadeira fisionomia da ditadura só começou a ficar clara para mim em 1968.

Depois de concluir o clássico, nós fomos transferidos para a região do Ipiranga, em São Paulo, que chamávamos de seminário central. Foi um choque muito duro porque Brodowski, de onde eu vinha, tinha um grau de abertura acima da média. E, de fato, entramos numa enrascada, pois aquele seminário central era muito atrasado, muito retrógrado.

Tivemos de usar nossa capacidade de organização para tentar arrebentar aquela camisa de força. Dois anos depois, conseguimos realizar um movimento interno que foi responsável por uma revolução no seminário central do Ipiranga. Na época, o cardeal de São Paulo era dom Agnelo Rossi, um homem muito reacionário, contrário até mesmo ao Concílio Vaticano II. E acabei sendo “premiado” porque o cardeal pediu a minha cabeça. A turma que tinha vindo comigo de Ribeirão Preto também foi aconselhada a deixar o seminário.

Eu estudava pela Diocese de Jales. O bispo era um holandês bastante avançado para a época e não aceitou a decisão do cardeal de São Paulo. Ele disse que eu podia continuar os estudos de outra forma. Assim, passei a morar com um padre no Jabaquara e ele transferiu minha matrícula para o Instituto de Filosofia e Teologia que foi criado pelos dominicanos e camilianos. Foi um período muito interessante porque também comecei a me interessar pelo movimento estudantil.

da vida religiosa à classe operária

Nós íamos às manifestações, mas não estávamos orgânicos, organizados em nenhum grupo político. Foi nesse período que conheci José Dirceu e o Luiz Travassos. Participamos de algumas ações estudantis em São Paulo antes da queda do Congresso da UNE em Ibiúna.

Por volta do final de 1968, fui chegando à conclusão de que não conseguiria levar adian-te a vida religiosa. Abandonei os estudos e me inadian-tegrei à classe operária. A primeira fábrica em que trabalhei foi a Wapsa Autopeças. Logo que entrei, percebi que não dava para ficar ali como prensista, que era uma função menos qualificada. Foi ficando claro para mim que eu teria de me diferenciar dos demais operários para poder fazer o trabalho político. E isso passa-va pela profissionalização, porque então as pessoas não me olhariam mais como um simples prensista, mas como um ferramenteiro, profissão que era tida como pertencente à elite da classe operária. Resolvi estudar no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

A primeira coisa que fiz logo que entrei na fábrica foi procurar o movimento da oposição sindical porque naqueles anos, começo da década de 1970, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, tendo Joaquinzão à frente, era o símbolo do peleguismo.

Politizando o Clube de Mães

Enquanto eu era operário e militava no movimento sindical, minha esposa, Conceição, fazia parte do Clube de Mães, que surgiu em nossa casa e era apoiado pela igreja católica. Ela não tinha emprego fora, seu trabalho era essas atividades no bairro.

O movimento foi crescendo e num determinado momento, Conceição, Irma Passoni e eu nos perguntamos para onde iria o Clube de Mães. Continuaria dando curso de como educar criança, como ajudar o marido? Essas questões já eram tratadas e não resolviam os proble-mas das mulheres e dos trabalhadores. Descobrimos que era preciso politizar a sua ação. A primeira ideia que surgiu neste sentido foi bem singela: escrever uma carta ao presidente da República pedindo o aumento do salário e o congelamento dos preços. Era o começo do mo-vimento do custo de vida, por volta de 1972.

O objetivo era que essa carta chegasse a Brasília e fosse lida na Câmara dos Deputa-dos. E a única referência que tínhamos era o deputado federal Freitas Nobre. Ele aceitou e a leu no “pinga-fogo” do plenário. Isso não teve repercussão nenhuma para a maior parte da população brasileira, mas alertou os órgãos de repressão sobre o nosso movimento. Em 1973, quando fui orador pela oposição sindical, na manifestação de 1º de Maio ocorrida no Sindicato dos Metalúrgicos, aproveitei para ler a carta. Então começou a perseguição policial contra mim.

Primeiras investidas

No início de 1974, houve a primeira investida da ditadura sobre nós. Foram presos Waldemar Rossi, Antônio Flores e Vital Nolasco. Eu também poderia ter sido pego, mas escapei. Naquele período, eu trabalhava na Rolamentos Schaeffler, e como fui avisado das prisões a tempo, abandonei o emprego. Logo em seguida os agentes foram até a fábrica me buscar.

Fiquei uns sete meses escondido numa paróquia perto de São Miguel Paulista. A igreja tinha muita gente boa, muitos padres engajados e muita informação. Então, eu ficava sabendo quem tinha sido preso. Concluímos que seria melhor eu reassumir minhas atividades do que cair na clandestinidade.

Então voltei e fui mostrando a cara aos pouquinhos. Arrumei emprego, mas não podia voltar ao sindicato. Comecei a realizar o trabalho político nos bairros e a participar com mais intensidade do movimento contra a carestia, que acabou desembocando num grande abaixo-assinado e num ato na Praça da Sé, seguindo depois para Brasília.

Sequestro, prisão e tortura

Não demorou muito para a repressão me pegar. Aconteceu no dia 13 de setembro de 1974, aniversário da Conceição. Estávamos mais ou menos esperando por aquilo. A re-pressão tinha passado na casa do nosso vizinho um dia antes e ele disse que eu morava ao lado. Nós tínhamos visita quando fui sequestrado. Foi um sequestro porque eles foram me buscar às 23h e à paisana. Jogaram-me dentro de um carro e durante um tempo fiquei sem capuz.

Fui acompanhando o caminho que faziam: Avenida Santo Amaro, Largo Treze, Ave-nida Vereador José Diniz, AveAve-nida Ibirapuera, passaram em frente ao antigo Departa-mento Estadual de Trânsito (Detran) e até ali fui olhando tudo. Depois, puseram-me um capuz e logo vi que não rodaram muito. Percebi que era a Rua Tutoia, onde ficava a Operação Bandeirantes (Oban). Logo que cheguei, entrei direto na tortura. A primeira coisa que eles fizeram foi me dar um empurrão e me jogar na parede. “Vamos ver se ele é forte mesmo”, diziam. E a tortura se deu durante toda a madrugada até a manhã do dia seguinte. Lá pelas 7h, eles trocaram a equipe de torturadores. Eles queriam saber quem era quem. Vieram com uma lista enorme e me perguntaram quem eu conhecia, a qual organização eu pertencia etc.

Interrogatório sobre a igreja

Então, aconteceu um fato que não sei explicar. Até essa altura, eu estava sendo tortura-do sem capuz. Não tinha o menor problema para eles que eu visse o rosto tortura-dos torturatortura-dores.

Na lista que eles me apresentaram estavam Antônio Alves, o Bauru, Vladimir Herzog, Ma-noel Fiel Filho, entre outros. O único que eu não conhecia era Herzog. Neguei tudo.

Puseram-me o capuz e passaram a questionar quem, na igreja, comandava a reação que houve quando da minha prisão. No dia seguinte à minha captura, logo cedo, o padre Raimundo havia ido até a Oban saber sobre a minha situação. E aí a pancadaria vinha para saber quem era o cabeça daquela articulação da igreja.

A minha tortura se estendeu até certa altura e aí, de repente, parou. Pelas informa-ções que pude colher depois, foi o período em que o cardeal dom Paulo Evaristo Arns estava seguindo para Roma e que um representante estava assumindo seu posto. Quem passou a responder pela diocese foi Ulhôa Cintra. Ele imediatamente entrou em contato com o comandante do II Exército de São Paulo que, por sua vez, pediu explicações para a Rua Tutoia. Foi quando a tortura física parou. Depois, continuou aquele processo de interrogatórios e as sistemáticas ameaças relacionadas à integridade da minha família.

A pancadaria, os choques, o pau-de-arara foram um processo bastante violento.

Pude entender depois por que eu estava sendo torturado sem capuz: a intenção deles era me matar.

Depois da intervenção do comandante do II Exército, houve alguma articulação na cúpula da Justiça Militar de São Paulo e um dos juízes pediu minha presença no Fórum, que ficava na Rua Brigadeiro Luis Antônio. Foi um episódio interessante porque houve um enfrentamento entre as instâncias da repressão: o juiz pediu a minha presença e o Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) se recusou.

“liberdade condicional”

Um tempo depois, eles chegaram à conclusão de que iam me colocar em liberdade. E o fizeram, mas com uma condição: que eu saísse para descobrir quem estava articulando todo aquele movimento dentro da igreja e desse o nome para eles. A primeira coisa que fiz quando saí em outubro de 1974 foi entrar em contato com Luiz Eduardo Greenhalgh.

Ele me orientou a me reapresentar no DOI-CODI no dia seguinte, em sua companhia.

Quando chegamos, o delegado disse: “Você não tem jeito mesmo. Manda ele lá para o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Eles que se virem com ele”. Então, oficializaram minha prisão. Quem me recebeu foi o delegado Singilo. Lá, o único prisio-neiro político era eu. Fiquei duas semanas preso. Eles tinham informação, sobretudo a respeito do que eu fazia no sindicato e do meu trabalho no bairro. Eles já sabiam que eu era do PCdoB.

Eu havia entrado para a Ação Popular (AP) por volta de 1970. Tive todo um período – mais ou menos entre 1968 quando deixei o seminário e 1971 – de atuação exclusiva na

região sul ao lado de Vital Nolasco, Ana Maria Martins e todo esse pessoal que era da AP. A partir de então ocorreu o processo de incorporação ao PCdoB. Do nosso grupo, nem todos entraram. E não foi um processo massivo: as pessoas foram aderindo aos poucos.

Fiquei em liberdade condicional em 1975. Um ano depois, o processo foi julgado na Justiça Militar em São Paulo e fui absolvido. Mas a promotoria recorreu ao Supremo Tri-bunal Federal (STF) e o meu processo ficou pendente de julgamento em Brasília até 1978.

Processo de apresentação da candidatura

Depois de deixar a prisão, fiquei isolado do partido por muito tempo. Isso se intensifi-cou após a Queda da Lapa. Portanto, tive de me orientar pela minha própria cabeça. Tanto que o primeiro contato mais sério foi feito quando já era deputado. Concorri pelo Movi-mento Democrático Brasileiro (MDB) e no período da campanha fiquei sob a direção da chamada Estrutura 1 do PCdoB.

Desde a incorporação da AP, por medida de segurança, o partido foi dividido em duas estruturas estanques. Na Estrutura 1 ficaram os antigos militantes e na 2 os que ingressavam da AP. No entanto, eu não aceitava a divisão que eles propunham. José Genoíno, o pessoal da Freguesia do Ó, Conrado, Fernando Alvarenga – que eram da Estrutura 1 – defendiam aquela tese de que era preciso se fingir de morto. Essa diretiva entrou em choque com a Estrutura 2, e talvez com alguns elementos da direção nacional do PCdoB porque o primeiro contato que tive foi com Dynéas Aguiar e ele não defendia a ideia que deveríamos nos fingir de mortos.

Muito menos Diógenes Arruda.

O processo eleitoral começou em 1978, quando já havia acontecido a primeira grande reunião da Praça da Sé e a invasão da catedral pela tropa de choque da Polícia Militar pau-lista. Eu era um dos coordenadores do movimento contra a carestia quando isso ocorreu.

A decisão de que eu participasse como candidato nas eleições de 1978, não posso negar, foi influenciada pela Estrutura 1. Nessa altura, o movimento contra a carestia começava a discutir se lançaria candidatos. Logo de cara apareceu a candidatura de Irma Passoni. Só que o pessoal não aceitou que ela encabeçasse a chapa. Foi quando a Estrutura 1 apresentou meu nome. Eu estava inelegível por causa do processo que ainda corria em Brasília, mas se con-cluiu que isso não importava porque o objetivo era marcar posição e não me eleger.

Mas, surgiu outro problema: eu não era filiado ao MDB e o prazo de filiação já havia se esgotado. O pessoal da Estrutura 1 resolveu entrar em contato com Orestes Quércia. E a re-comendação era de que eu preenchesse a ficha de filiação sem colocar a data. Naturalmen-te, Quércia datou a ficha retroativamente e registrou a candidatura dentro do prazo legal.

Essa questão foi resolvida e Irma Passoni concordou em se lançar para deputada estadual enquanto eu concorreria a uma vaga de deputado federal.

O deputado mais barato do Brasil

Na hora de fazer campanha, não tínhamos dinheiro algum. Eu me locomovia de ônibus com uma sacolinha na mão cheia de folhetos. O único recurso que tínhamos para fazer

pro-paganda era o silk-screen, mas não tínhamos papel. Então, pegávamos folha de jornal velho e usávamos essa técnica para fazer os cartazes da campanha.

O registro foi impugnado, mas nós continuamos a campanha assim mesmo. Enquan-to isso, Luiz Eduardo ia tentando reverter a decisão de Brasília. Ele arrumou outro advo-gado, muito conceituado, Sigmaringa Seixas, e juntos conseguiram colocar meu processo na ordem do dia. Houve o julgamento e fui absolvido faltando apenas três dias para terminar o prazo. A candidatura vingou e me elegi com 48 mil votos. Quando entrei no Congresso, em 1979, estava escrito num dos painéis colocados nos corredores da Câmara dos Deputados: “Aurélio Peres, o deputado mais barato”.

Um mandato aberto ao povo

O mandato parlamentar foi uma das tarefas mais difíceis que enfrentei na minha vida. Eu era um camponês que tinha virado operário. E de repente me vi colocado numa bancada federal. E não tinha uma assessoria, como existe hoje.

Alguma coisa eu tinha de fazer, afinal eu era o único representante da classe operária no Congresso Nacional. Participamos ativamente da campanha pela anistia. Naquele momento surgiu o senador Teotônio Vilela. Ele assumiu a direção do movimento e o impulsionou. Eu ainda estava no meu primeiro mandato, sem experiência, mas consegui acompanhá-lo nas caravanas pela anistia. Visitamos presídios em Fortaleza, Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre etc. Fui um companheiro inseparável de Teotônio e, apesar das minhas limitações, sempre levei o nome do partido ao longo da campanha.

O pouco recurso de que o mandato dispunha coloquei à disposição do partido. Uma das vagas que eu tinha como deputado federal serviu para Aldo Arantes viabilizar sua candidatura em Goiás. A outra ajudou Aldo Rebelo a estruturar sua candidatura a verea-dor em São Paulo. Não estou me queixando, mas apenas descrevendo como foi meu man-dato. Quem me assessorava, por livre e espontânea vontade, era Antônio Carlos Queiroz, do jornal Movimento em Brasília. O resto era da minha cabeça.

Resolvi que deveria colocar meu mandato e a sua estrutura a serviço dos movimentos sociais. O meu gabinete recebia o pessoal que vinha não só de São Paulo, mas do país in-teiro. O meu apartamento funcional foi a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) durante o processo de sua reconstrução em 1979. Os estudantes se aglutinavam todos lá.

Dormiam pelos corredores do apartamento. Eu me orgulho disso.

O meu apartamento virou também uma espécie de alojamento dos aposentados e do pessoal do movimento do custo de vida. Era tão procurado que a Secretaria-Geral da Câ-mara chamou a minha atenção sobre isso. Depois, meu mandato foi colocado a serviço do trabalho de organização de base. Eu percorri essa cidade de São Paulo fazendo reuniões por todos os lados. Ajudei o movimento operário, dando cobertura em portas de fábrica durantes as greves. Enfrentei a repressão, impedindo que a polícia usasse de violência contra os operários. Na greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, me coloquei na linha de frente contra a tropa de choque.

O prenúncio do fim... da ditadura

Em 1979 ocorreu a greve dos metalúrgicos de São Paulo. Nela foi assassinado o líder operário Santo Dias. Era meu amigo. Foi uma grande perda. Tudo aconteceu na fábrica de lâmpadas Sylvania, na Avenida Sabará. Depois de ter sido baleado pela polícia, ele foi levado para o pronto-socorro de Santo Amaro. Quando consegui chegar e entrar, já estava morto.

Acredito que sua morte foi um dos prenúncios de que a ditadura estava chegando ao fim.

Acredito que sua morte foi um dos prenúncios de que a ditadura estava chegando ao fim.