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CArlOS AUGUStO dIóGeneS

de Fortaleza foram transferidos para Campinas e ali nós não éramos nada. As condições da alimentação eram péssimas. Por isso, houve uma greve de fome: ninguém almoçou, apenas pegou uma laranja e saiu do refeitório. O corpo de cadetes foi convocado para uma reunião com o subcomandante. Lembro bem de quando ele entrou no auditório e disse: “Isso aqui é coisa de comunista”. E eu disse: “Poxa, então comunista é coisa boa”.

A opção pela engenharia

No final de 1962, resolvi sair da carreira militar e fazer Engenharia no Ceará. Entrei em um cursinho da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), montado por Celso Furtado, que dava bolsas a alunos com rendimento familiar baixo e certo nível de conhecimento – era uma forma de incentivo à formação de engenheiros e agrônomos no Nordeste. Entrei para o cursinho e ganhei bolsa de estudos até o quinto ano de Engenharia.

O cursinho funcionava num prédio da Faculdade de Engenharia da Universidade Fe-deral do Ceará, atrás do restaurante universitário. As movimentações estudantis em 1963 ocorriam ali. Durante várias manifestações, aquela área terminava sendo toda cercada.

O cursinho tinha professores progressistas, um deles, Miguel Cunha, de Química, era do partidão, apelido dado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1966 ele foi um dos reorganizadores do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). E também o professor Milton, de Física, que foi cassado. Então, passei a despertar para a política. Evidentemente, meu foco era passar no vestibular. Passei muito bem, acho que em terceiro lugar. A maior nota em matemática foi a minha. Entrei para a Faculdade de Engenharia na UFC e logo nos primei-ros dias aconteceu uma assembleia de resistência ao golpe.

Os movimentos no pós-1964

O Diretório Acadêmico (DA) Walter Bezerra de Sá, da Engenharia, era dirigido por pes-soas do nosso relacionamento. Mas, em 1964, vivíamos uma fase de declínio do movimen-to e de cermovimen-to recuo. A União Estadual dos Estudantes (UEE), por exemplo, que mal chegou a ser reestruturada no Ceará, morreu no ano do golpe.

Em 1966, foi feita a eleição do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e eleita uma pri-meira diretoria por consenso, tendo como presidente Homero Castelo Branco, da Escola de Economia, área de influência do partidão. A União Nacional dos Estudantes (UNE) tinha um papel muito importante e quando chegava um de seus diretores, todo mundo queria conversar com ele para ter mais informações.

Em 1965 houve a reorganização do PCdoB do Ceará. Um companheiro nosso, José Augusto, era engenheiro da Petrobras na Bahia, foi ao Rio Grande do Sul, fez contato com a direção do partido. A partir daí foram ao Ceará Dynéas Aguiar e Carlos Danielli, e foi es-truturada uma direção com antigos dirigentes do PCB. Ozéas Duarte passou, então, a ter um papel de destaque.

Praticamente não houve resistência ao golpe; nem os trabalhadores foram preparados para isso. Todo mundo confiava no esquema militar de João Goulart. A postura dos

diri-gentes do PCB – que havia afirmado não existir possibilidade de golpe – levou muitos a buscarem outras alternativas políticas. Em 1962 tinha havido a reorganização do PCdoB, embora sem a participação de ninguém do Ceará. E em 1965 dissidentes do PCB formaram um núcleo do PCdoB no estado.

Fortalecimento do PCdoB via movimento estudantil

No partidão, depois de 1964, houve uma debandada geral. Saíram militantes para o PCdoB, para a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), para a Ação Libertadora Na-cional (ALN), para o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) etc. Eu valorizo o papel de Ozéas nesse processo porque ele deu consistência maior ao partido. Esteve em reuniões nacionais, teve contato com os principais dirigentes e, como ele era estudante de Direito e conhecia as lideranças estudantis, começou a montar o comitê universitário.

Francis Vale, que também fazia Direito, me colocou no PCdoB em 1966. Havia ainda João de Paula, que fazia Medicina, e Sérgio Miranda, que também vinha do PCB e havia en-trado depois, em 1967.

Ozéas formou uma boa equipe no movimento estudantil. Um dirigente antigo do parti-dão, Assis Aderaldo, também foi para o PCdoB. Lideranças dos mais diversos cursos foram sendo recrutadas: Machado na Agronomia; Cosme na Veterinária; e eu na Engenharia.

Criamos então o Comitê Universitário do partido. Ozéas teve também o tino político de compreender que o PCdoB tinha que se preparar para ganhar o DCE e conquistar a direção do movimento estudantil.

Em 1966, Francis me chamou para uma reunião do PCdoB, a primeira em que estive.

Naquele momento eu já sabia da existência do partido, o pessoal passava documentos para mim. A pessoa que tinha ficado encarregada de me recrutar um ano antes foi o irmão de Glênio Sá, Gilberto Fernandes.

Em 20 de agosto de 1966, colocaram-me como um recém-recrutado numa reunião no interior, em um sítio com a participação de dirigentes estaduais e de vários universitários.

Lá foi tomada a decisão de formar o Comitê Universitário, de estruturar o partido em todas as faculdades e disputar o DCE.

Comitê Universitário

Entrei para o Comitê Universitário como secretário de Organização. O secretário polí-tico era João de Paula e o de Agitação e Propaganda, outro ex-militante do PCB que tinha participado das Ligas Camponesas quando adolescente, Pedro Albuquerque, filho de comu-nista que, depois, foi para o Araguaia. Entrei no meio dessas pessoas já experientes, qua-dros políticos. João de Paula era um quadro político de grande talento, muita habilidade, muito raciocínio político, e Pedro Albuquerque também.

Construímos bases nas faculdades. No curso de Engenharia tínhamos uma com 12 pessoas, recrutadas por mim. Havia bases grandes também na Medicina, na Agronomia, no Direito, nos institutos e em vários cursos.

O partido no Ceará praticamente tinha como centro o movimento estudantil. Mas conseguiu algumas pontas no trabalho operário, e no interior, região do Cariri, e passou a fazer um trabalho ligado à questão camponesa. Vários religiosos ligados a dom Fragoso tinham contato direto com o PCdoB e passamos a ter um trabalho importante com as pastorais na região de Crateús. José Duarte chegou – se não estou enganado, no início de 1968 – e passou a ser o representante do Comitê Central no Ceará.

Em 1967, por volta do mês de setembro, conseguimos formar uma chapa única para o DCE em torno do PCdoB. João de Paula na presidência e, como vice, Ruth Cavalcanti, da Ação Popular (AP). Em 1967, participei do Congresso da UNE em Valinhos (SP), como delegado.

Congresso da Une em Valinhos

Nesse congresso a representação do PCdoB era muito pequena: cerca de dez dele-gados. Em Valinhos tive um primeiro encontro com Diógenes Arruda Câmara. Foi um contato feito andando pelas ruas; conversávamos e ele ia procurando orientar o nosso trabalho no meio estudantil. Havia alguns companheiros da Bahia, do Ceará, alguém de São Paulo e do Rio, lembro bem do presidente da União Paulista dos Estudantes Secun-daristas (Upes), Guilherme Ribas, um menino alto que foi para a Guerrilha do Araguaia e ali morreu.

Tentamos entender a divergência entre a AP e o pessoal da dissidência estudantil do PCB. Nós nos reuníamos debaixo de umas mangueiras e éramos procurados por todo mun-do. Havia uma tendência maior de fecharmos com a AP, mas ficamos numa posição em princípio contra as duas correntes. Optamos pela abstenção – nós e, se não estou enganado, companheiros do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Luiz Travassos foi eleito presidente da UNE por uma diferença muito pequena, uns quatro votos. No retorno participei de uma prestação de contas, novamente com Arruda, e evidentemente a nossa atitude foi repreendida. Afinal, como é que fazíamos uma burrice daquela?

Poderíamos ter entrado para a diretoria da UNE num momento de ascenso do mo-vimento estudantil. O partido ainda era pequeno e procurava ocupar espaços. Para se articular nos estados não havia nada melhor do que ter um diretor da UNE. Ou seja, não podíamos ter optado pela abstenção. Isso demonstra bem nossas fragilidades na época.

Crescimento do movimento estudantil

À medida que o movimento estudantil entrava em ascensão, o embate ficava mais claro: no Ceará o PCdoB era a força principal. O pessoal do PCB fechava conosco, e tam-bém aglutinava pessoas importantes, como Fausto Nilo, Augusto Pontes e outros inte-lectuais, que se uniram em torno do Grupo de Arte, o Gruta. Formamos assim um bloco maior, que se transformou em força hegemônica a partir de 1967.

A segunda força era a AP, que tinha como uma das principais lideranças Mariano de Freitas, da Medicina; Helena Serra Azul; Francisco Monteiro, conhecido como Chico

Pas-seata. Existia também o pessoal trotskista do grupo intitulado 4ª Internacional, ligado a Arlindo Soares, na Faculdade de Direito.

Em 1967 ainda conseguimos manter a unidade de todas as correntes. Já em 1968, não. Com a radicalização do movimento estudantil, vem a disputa. José Genoíno era ca-louro e entrou para o partido; tinha um tom mais ofensivo do que João de Paula, que era mais articulador. Diante dessa radicalidade que o movimento foi assumindo, Genoíno foi o nosso candidato numa disputa acirrada.

Geralmente havia manifestações estudantis e era comum as polêmicas girarem em torno do roteiro das passeatas. Primeiro pedíamos permissão à polícia e comunicávamos que usaríamos determinadas ruas. Então, no meio da manifestação, geralmente a AP e os trotskistas tentavam mudar o roteiro. Coisas mínimas, mas que refletiam as divergências existentes. E a nossa postura no DCE – que era controlada de perto por um quadro polí-tico da qualidade de Ozéas – era a de descer no meio da estudantada, nas salas de aula, e discutir com eles. Tínhamos essa preocupação de ganhar os estudantes.

repúdio aos militares

No início de 1968, o reitor da Universidade Federal do Ceará, José Leite, convidou para ministrar a aula inaugural o comandante da 10ª Região Militar, general Dilermando Mon-teiro. Eu já era presidente do Centro Acadêmico (CA) de Engenharia, membro do conselho do DCE e, com João de Paula, representante estudantil no Conselho Universitário, toma-mos a decisão, no PCdoB e depois no DCE, de que devíatoma-mos entrar na aula inaugural e ali manifestar o nosso repúdio.

Juntamos um grupo de talvez umas 50 pessoas, formado por dirigentes do DCE e dos CAs e mais alguns estudantes. Fizemos uns cartazes onde se lia “Abaixo a ditadura militar”,

“Respeito à universidade”. E entramos naquela aula inaugural, cheia de militares e policiais federais, com os cartazes escondidos. João de Paula, então, subiu no palco e fez o protesto de uma forma até respeitosa. Ele era muito cuidadoso nisso; queria deixar claro que não era nada pessoal contra o general, mas um protesto dos estudantes por aquela aula inaugural es-tar sendo realizada por um milies-tar, o que refletia o momento de total falta de liberdade vivido no país. Quando terminou, começaram a gritar “Comunistas! Vietcongues!”. E nós saímos.

No dia seguinte, um sábado, tinha uma reunião do Conselho Universitário, e lá fomos João de Paula e eu para a forca. A reunião atrasou porque o vice-reitor, um fascista, e ou-tros foram acompanhar o general ao aeroporto e pedir-lhe desculpas. Então o reitor abriu a reunião colocando que a pauta passava a ser aquele ato de subversão e punição dos co-munistas baderneiros. João de Paula e eu enfrentamos a reunião tentando colocar nossa posição, mas o bombardeio foi enorme. O reitor pôs em votação a suspensão do DCE por seis meses. Foram contra só os nossos dois votos e mais dois, um do representante da Faculdade de Direito, Martins Rodrigues, e outro de um diretor do curso de Farmácia.

Quatro votos a 26.

A segunda-feira chegou com a notícia de que o DCE havia sido suspenso. Foi im-pressionante, um fenômeno. No curso de engenharia, fazíamos assembleias talvez com

30% dos estudantes, e dessa vez havia 90% deles. Foi um movimento de massa intenso, com manifestações e passeatas. Logo em seguida aconteceu a morte de Edson Luís. A resolução virou letra morta: o DCE continuou com todas as prerrogativas, funcionando no prédio da universidade, com representantes no Restaurante Universitário, apenas sem participação no Conselho Universitário.

Esse fato político enraizou mais o movimento estudantil, que entrou em ascensão.

Talvez tenha sido o único DCE dirigido pelo PCdoB no Brasil, um DCE de massa, com li-deranças respeitadas. Nessa época, o partido tinha se sobressaído também na Bahia, onde era muito ofensivo.

Política do PCdoB para o movimento estudantil

No início do ano letivo de 1968, foi montado um ativo estudantil nacional em São Paulo, em que fui como representante do Comitê Universitário no Ceará. Amazonas, Po-mar e Arruda também estavam lá. Lembro-me de voltar ao Ceará, todo empolgado, e falar a Ozéas sobre um velhinho baixinho que me chamara a atenção, e ele disse: “Aquele é o Amazonas”. E eu: “Rapaz, é mesmo?”. E ele continuou: “O outro, o altão, é o Pomar, um grande intelectual”.

Em seguida, o partido lançou resolução do Comitê Central intitulada Ampliar e ra-dicalizar, que trabalhava a relação dialética entre ter, ao mesmo tempo, uma postura abrangente, de diálogo, e também de radicalização política. O documento específico do movimento estudantil e o Ampliar e radicalizar eram usados nos recrutamentos. Depois do AI-5, surgiu o documento sobre a guerra popular, que também passou a ser usado com este fim.

Podemos dizer que o PCdoB passou a ter uma política nacional para o movimento estudantil a partir daí, tendo como base o Ceará, principalmente, e a Bahia. Logo veio o episódio da eleição da UEE de São Paulo, que quase levou à cisão da entidade entre a AP e a dissidência estudantil do PCB, e então lançamos o Movimento de Unidade e Ação, o MUA. João de Paula passou a se destacar como uma importante liderança nacional. A partir daí o PCdoB segurou com firmeza a bandeira da unidade do movimento estudantil.

Evidentemente, tivemos depois do Ato Institucional número 5 (AI-5) e na década de 1970 o descenso do movimento estudantil e a dispersão das lideranças. Saí do Ceará no final de 1968 e fui para a Bahia. O partido no Ceará passou por um período de desarticu-lação em função da repressão, mas se rearticulou em 1975 com o deslocamento de Gilse e Abel para o estado. Voltei para o Ceará somente em 1980 com a Anistia. Então, lideranças como Benedito Bezerril e eu, que tínhamos surgido nos anos 1960, reforçamos a rees-truturação do partido no estado. O fato de o PCdoB ter conquistado posição de destaque naquela época teve influência no futuro do partido no Ceará. Se fôssemos um partido apagado naquele momento, com certeza o desdobramento teria sido outro, desfavorável.

Em 1968, o PCBR enviou um quadro ao Ceará – Assis, de Pernambuco – para formar o partido. Depois de seis meses, ele foi chamado pela direção nacional e perguntaram como é que estava o PCBR cearense. Ele disse: “Rapaz, do mesmo jeito: só tem a mim”.

“Mas como é que pode?”, questionaram. E ele disse: “Não tem jeito, o PCdoB ocupou to-dos os espaços lá. É a força hegemônica, não tem como entrar. Então, estou me encostan-do no PCencostan-doB, onde o pessoal é meu amigo, para ver se mais à frente abre-se uma brecha”.

Ozéas duarte

Realmente, nós tínhamos essa capacidade de aglutinar. E é preciso registrar os fatos como se deram: friso, mais uma vez, o papel de Ozéas, como grande reorganizador do partido no Ceará nos anos 1960.

Sobre a linha aprovada na 6ª Conferência que pregava a união dos patriotas, lembro que especialmente Pedro Albuquerque e Assis Aderaldo voltaram com dúvidas do con-gresso da UNE em Valinhos e houve um grande debate no Comitê Universitário, no qual Ozéas teve um papel muito esclarecedor. Fomos formados, portanto, desde o início, en-frentando esse problema da luta ideológica. Ozéas era a pessoa do secretariado do Comitê Estadual que acompanhava o movimento estudantil, que nos conduzia politicamente, tendo sido um ponto de unidade e de orientação essencial para nós.

luta armada

Quando a Ação Libertadora Nacional (ALN) começou a tentar se estruturar no Ceará, alguns diziam: “Queremos preparar a luta armada, então, vamos para a ALN, que nos dá mais liberdade. O PCdoB é um partido burocrático como o PCB”. Foi nesta época que a direção nacional lançou um documento, mostrando a necessidade de se construir bases concretas no interior, Guerra Popular: o caminho da luta armada no Brasil. Lembro que quan-do Genoíno entrou para o partiquan-do, andava com esse quan-documento debaixo quan-do braço. Havia no movimento estudantil, realmente, um embate ideológico, teórico sobre essa questão.

Praticamente todo mundo defendia a luta armada, exceto o PCB em descenso total.

Esse debate foi especialmente grande em 1968, ano de radicalização que teve como símbolo maior a morte de Edson Luís, quando aconteceu ainda a Passeata dos Cem Mil, no Rio, e uma passeata de 20 mil em Fortaleza. Vale ressaltar que naquele momento, For-taleza deveria ter, quando muito, entre 400 e 500 mil pessoas. A universidade tinha cerca de oito mil estudantes. Ou seja, uma passeata de 20 mil era bastante significativa. Ali estavam presentes estudantes universitários, secundaristas, donas de casa etc. O movi-mento estudantil foi um polo de aglutinação contra a ditadura militar; os parlamentares do MDB participavam e a igreja também.

Havia muita repressão por parte da ditadura, com radicalização do nosso lado. Nós, do DCE, montamos um grupo de segurança, que ia às passeatas com bombas de co-quetéis Molotov. Quando tinha um confronto com a polícia, começávamos a jogá-las;

por isso a nossa política era ampliar e radicalizar. E quando havia choques, repressão, reação nossa, no outro dia estávamos em sala de aula, em contato direto com os es-tudantes. Era um rico debate com muita polêmica, gente contra, gente a favor e nós procurando esclarecer.

Uma questão muito simples que demonstra qual era o nosso espírito: no Restaurante Universitário nós, os principais dirigentes estudantis do PCdoB, não nos sentávamos na mesma mesa. Se o fizéssemos e Ozéas visse, ele vinha e falava: “Desfaçam a mesa. Quem é estudante da Engenharia senta com as pessoas da Engenharia”. Naquele momento era necessário batermos papo, nos relacionarmos e acredito que procedimentos como esses contribuíram para isso e para ampliar a nossa influência e a participação dos estudantes.

estudantes organizados

Creio que no final de 1968 tínhamos cerca de 80 estudantes organizados em cinco ou seis bases que funcionavam nos cursos. Toda semana, elas se reuniam, discutiam os docu-mentos e davam a sua contribuição. Na Engenharia, eram uns 12 estudantes, e os represen-tantes de turma também eram do partido.

Possivelmente em abril, fui chamado para uma reunião que montou um núcleo na-cional do partido que prepararia nossa participação no Congresso da UNE em Ibiúna. Ha-via pessoas da Bahia, do Rio, de São Paulo e eu, do Ceará; mas não éramos as principais lideranças de massas do partido. Participei de umas três ou quatro reuniões desse núcleo, fiquei responsável por acompanhar a nossa ação no Nordeste e por isso viajei para o Piauí e Maranhão tentando tirar alguns delegados. No segundo semestre de 1968 fui integrado ao secretariado do Comitê Estadual e foi decidido que não iria para Ibiúna. Segundo o plano, terminando a faculdade, eu ficaria no partido do Ceará ou pelo Nordeste. Então, quem re-presentou a Engenharia foi o companheiro que ficou na presidência do Diretório Acadêmi-co, Marcos Sampaio. Lembro que fiquei meio chateado, querendo ir, e quando o Congresso de Ibiúna caiu, eu disse: “Poxa, eu tinha que estar era lá, no meio da turma”.

Ainda assim, joguei um papel importante na realização da passeata dos 20 mil no Ceará. Puxamos o ato imediatamente, eu e lideranças intermediárias, porque as principais estavam em Ibiúna. Houve muitos confrontos, muita bomba Molotov, pessoas presas. Foi uma demonstração de que havia uma série de lideranças intermediárias ali, com condições de assumir o comando. Fortaleza foi a única capital que teve manifestação exigindo a sol-tura dos presos, o que não ocorreu nem no Rio, nem em São Paulo.

Nós já entramos no Congresso de Ibiúna em articulação com a AP. O partido partici-paria da chapa de Jean Marc pela primeira vez como PCdoB, com quatro quadros: João de Paula, do Ceará; Miguel, da Bahia; Ronald Rocha, do Rio; e Helenira Resende, de São Paulo.

Depois da queda de Ibiúna, a decisão que o pessoal tomou na prisão foi fazer congressos

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