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Certo dia, um primo, que era do Partido Comunista, me disse: “Tem uma reunião hoje, vamos lá discutir algumas coisas”. Resolvi ir nessa, depois na seguinte, e continuei indo. Ninguém me perguntou se eu estava entrando no partido, mas, na prática, já estava nele. Isso ocorreu no primeiro trimestre de 1960. Meu dia a dia, a partir de 1961, era na União Espírito-Santense dos Estudantes (Uese), da qual era secretário de assuntos nacio-nais, depois secretário-geral e vice-presidente.

5º Congresso do PCB

Cheguei a participar da Conferência Municipal de Vila Velha, preparatória do 5º Con-gresso do PCB (Partido Comunista do Brasil) em 1960. Tinha apenas 16 anos e não acom-panhei as polêmicas publicadas na Tribuna de Debates do jornal Novos Rumos. Só soube das graves divergências internas um ano depois, em agosto de 1961, através do camarada Carlos Nicolau Danielli. Tomei conhecimento de que haviam sido publicados um novo Estatuto e novo Programa em suplemento do jornal Novos Rumos, do PCB. Eu perguntei a ele: “Esta foi uma resolução do congresso?”. Danielli me respondeu que o congresso não havia autorizado nada disso. Tinha sido uma decisão do Comitê Central.

Depois do 5º Congresso, Danielli foi destacado para trabalhar no Espírito Santo – ou melhor, degredado. Eu o conheci na metade de 1961, antes da criação do PC Brasileiro (PCB). Ele organizou um curso de língua russa para a juventude do partido e eu ingres-sei. Sempre teve uma atitude muito correta. Nunca se aproveitou da sua situação para fazer trabalho paralelo junto à juventude do partido. Depois da sua expulsão do PCB, em dezembro de 1961, ele me disse: “Eu estou indo embora”. Só então me historiou breve-mente as divergências que levaram à sua expulsão. No final, me disse ainda: “Você deve estudar um pouco. Vou te dar o Duas Táticas e Que Fazer?, de Lênin. Estude isso e, mais à frente, continuamos conversando”.

estruturação do PCdoB

Depois da Conferência que reorganizou o PC do Brasil (PCdoB), em 18 de fevereiro de 1962, Danielli voltou a Vitória e nos informou sobre o ocorrido. Carregava com ele certo número de exemplares de A Classe Operária. Um primo dele, de prenome Nelson, também levava o jornal para a cidade. Mas, num primeiro momento, eu era o único militante do partido na capital que distribuía a Classe, coisa de uns 20 jornais. Como era ativista do Sindi-cato dos Comerciários acabei entrando na diretoria em 1963. Então, estruturamos o PCdoB entre os secundaristas, universitários, comerciários, bancários, funcionários públicos. Mas, o número de militantes ainda era reduzido, dez ou doze camaradas em toda a cidade.

Nós passamos a atuar em bloco. Um camarada nosso era presidente do Diretório Aca-dêmico (DA) da engenharia, eu diretor na Uese, e Adauto Santos Pedrinha, ativista do Sindicato dos Bancários. Quando passamos a atuar de forma organizada e independente do PCB, este resolveu tomar medidas administrativas contra nós. Para isso convocou uma reunião conosco. Resolvemos comparecer e declaramos: “vocês são vocês, nós somos nós”.

Já éramos 11 secundaristas. Foram então propostas medidas disciplinares: advertên-cias, suspensões e uma expulsão. Fui premiado com a expulsão, coisa que me orgulhou muito. É claro, não reconhecemos as medidas, porque dizíamos que não havíamos en-trado naquele partido, o PC Brasileiro. Eu, particularmente, entrei para o PC do Brasil em 1960.

Aquele foi um período muito rico, de muita discussão. Todo mundo avançava muito rápido. Achávamos que o reformismo vinha tomando conta do PCB desde a discussão sobre a proposta de resolução sobre o 20º Congresso do PCUS em 1956 e da Declaração de Março de 1958. Criticávamos a direção do PC Brasileiro por estar a reboque de Jango.

Tínhamos que reconstruir o partido, o PCdoB, considerando nossas diferenças em relação ao PC Brasileiro. Já tínhamos noção de que um golpe seria inevitável. Mas não havia nada que pudéssemos fazer, porque quem detinha o poder de organização era ainda o PC Brasileiro, que era de um tamanho descomunal perto da nossa meia dúzia de gatos pingados.

Contraposição ao PCB

Tivemos atuação num organismo chamado Frente de Mobilização Popular, que foi uma proposta de Brizola. Ali o PC Brasileiro também atuava no sentido de atenuar os pendores revolucionários dos brizolistas. O nosso partido teve atuação marcante, inclu-sive numa campanha pela encampação da subsidiária de uma empresa estrangeira, a canadense Bond & Share, denominada Companhia Central Brasileira de Força Elétrica, que atuava nos serviços de distribuição de energia elétrica e de transportes urbanos, de bondes elétricos. Fizemos piquetes na frente dos guichês com a palavra de ordem “Não pague sua conta de luz e, se cortarem, nós religamos”. Realmente tínhamos uma equipe para fazer isso. Às vésperas do golpe militar havíamos crescido um pouco, com direto-res nos sindicatos dos bancários e comerciários e nas entidades estudantis. Mas nossa atuação de massa ainda era reduzida. Éramos, então, cerca de 30 militantes.

Divulgávamos o jornal A Classe Operária e uma série de opúsculos, editados pela Editorial Futuro, como os livretos do Terceiro Grande Debate do Movimento Comunista, com artigos elaborados pelo Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), polemizando com os soviéticos. Divulgamos também o Guerra de Guerrilhas, de Che Guevara. Era uma forma de nos contrapormos ao PCB quanto aos caminhos da revo-lução brasileira.

Além disso, atuávamos nas frentes de massa e na Frente de Mobilização Popular, que organizou um grande comício pelas reformas de base com Jango, na cidade de Vi-tória, logo no início de 1964. Até um camarada nosso falou em nome de estudantes se-cundaristas. O partido esteve presente no comício pedindo a decretação da encampação da subsidiária da Bond & Share, a já mencionada Companhia Central Brasileira de Força Elétrica. Contudo, tínhamos a convicção de que a política de conciliação de Jango iria levar – como acabou levando – ao golpe militar.

desdobramentos do golpe

Sabíamos que o partido precisava se resguardar. O que não foi muito difícil, porque nós éramos bastante diminutos. Na primeira semana após o golpe, um dos nossos ca-maradas foi preso: Roberto Cortes, presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Do PC Brasileiro foram presos cerca de 100 militantes, e até o presidente do Sindicato dos Comerciários, do qual eu participava, foi preso.

Em Vitória não existia Organização de Combate Marxista-Leninista, Política Operária (Polop), nem Ligas Camponesas. A Polop esteve lá uma vez, através da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), no congresso da Uese de 1961, mas não prosperou organicamente. O Partido Operário Revolucionário Trotskista (Port) tinha um único mili-tante, Délio Neves – que nem atuava na Frente de Mobilização Popular: aquilo era muito reformismo para ele. Ali atuavam somente o bloco brizolista, o PC Brasileiro e nós. Em-bora pequenos, marcamos posição. O conselho da Frente era formado por entidades como o Comando dos Trabalhadores Intelectuais (CTI), o Conselho Sindical dos Trabalhadores do Espírito Santo (Consintra-ES), a União Estadual dos Estudantes (UEE), entidade de representação dos universitários, e a Uese, entidade dos secundaristas. O PCdoB se fazia presente, no conselho da Frente de Mobilização Popular, através da entidade secundaris-ta.

Quando eclodiu o golpe militar, as entidades secundaristas e universitárias acharam por bem que os estudantes se reunissem na sede da UEE. Os trabalhadores se concen-traram na sede do Sindicato dos Arrumadores de Carga, uma categoria da orla marítima.

Houve greve nos transportes, na orla marítima e entre os bancários, e uma passeata de comerciários. Lembro também da passeata com cerca de 200 estudantes, saindo da sede da UEE e indo até o Palácio Anchieta, para cobrar do governador Francisco Lacerda de Aguiar que se posicionasse ao lado da legalidade. O governador recebeu uma comissão de cinco estudantes e nos disse: “Eu estou com a legalidade, estou com a ordem” – só não especificou com que legalidade nem com que ordem. No dia seguinte, ele já tinha aderido ao golpe. Inclusive os presos na primeira semana de abril ficaram em estruturas do próprio estado: na Chefatura de Polícia e no Quartel do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar.

A repressão no Espírito Santo foi um pouco mais suave que em outros lugares. Não houve caso de torturas e de mortes naquele primeiro momento e ninguém ficou preso por mais de uma semana. Havia cerca de 100 presos. Refiro-me aqui aos primeiros momentos do golpe, depois as coisas mudariam de figura.

Crescimento do PCdoB

O golpe e a pouca resistência havida provocaram tristeza e desânimo em muitas pesso-as. Alguns, que ainda tinham perspectiva de luta no Espírito Santo, entraram para o nosso partido – cerca de 20 militantes. Mesmo pessoas que não eram do PC Brasileiro disseram

“esse pessoal do PCdoB é que estava certo”. Lembro-me de alguns deles, como Antônio Caldas Brito, então secundarista, Gildo Ribeiro e Paulo Pedreira da Silva, acadêmico de en-genharia, além de um punhado de pessoas que se juntou ao partido naquele período.

Minha tarefa não se alterou e consistia em construir o partido. Existiam pessoas extremamente irritadas, tristes com o golpe, mas dispostas a prosseguir por outros cami-nhos. Por isso, o partido cresceu muito nesse período. Cresceu e se expandiu para além da capital e de Vila Velha. O partido tinha desde 1963 influência entre os posseiros de Cotaxé, que tinham tradição de luta, embora não recusassem ajuda do PC Brasileiro. E nós fomos construir o partido lá.

A retomada do contato do Comitê Central com o partido no Espírito Santo se deu através de Paulo Ribeiro Martins, que não era dirigente nacional, mas sim um quadro intermediário à disposição do Comitê Central. Depois dele foi para Vitória o camarada Danielli, membro da Executiva do partido.

Viagem à China

Certo dia, Carlos Danielli me disse: “Seu nome foi incluído numa lista de camaradas para ir conhecer a construção do socialismo e fazer um curso no exterior. E então? Enca-ra?”. Perguntei: “Em Cuba?”. Ele respondeu: “Não, na China”. Aceitei na hora. Isso ocor-reu entre fevereiro e março de 1965 e, em maio, já estava com o passaporte. Ainda houve tempo para que enviassem outro camarada ao Espírito Santo para tirar o passaporte: Ari Olguin da Silva – que era gaúcho, mas atuava no Rio de Janeiro, na frente cultural. Tira-mos os documentos com os nomes legais.

Viajamos num voo Rio-Zurique. Na Suíça ficamos 17 dias aguardando o visto da em-baixada chinesa. O chefe do nosso grupo era Ari, antigo militante do partido, que fazia os contatos com a embaixada chinesa. Recebemos o visto e saímos para Xangai no dia 12 de junho, num avião de uma linha aérea paquistanesa, que fez um pinga-pinga. Passamos uma noite em Karachi e de lá voamos até Daca, no então Paquistão Oriental. Gerson Al-ves Parreira, Ari Olguin da Silva e eu fomos recebidos pelo Partido Comunista da China em Pequim no dia 13 de junho, sendo que outros companheiros já lá estavam – num total de 10 militantes do partido. O curso foi dividido em duas partes. A primeira, estritamente política, realizou-se em Pequim, durante três meses.

A delegação tinha uma direção integrada por Manuel José Nurchis, José Huberto Bronca, chefe da delegação e encarregado do contato com o PCCh, e Ari Olguin da Silva.

Lembro ainda de Miguel Pereira dos Santos, Amaro Luís de Carvalho, Tarzan de Castro, Elio Cabral de Souza, Gerson Alves Parreira e Paulo de Assunção Gomes. A relação pes-soal era muito boa, mas a relação política não. Por que quatro camaradas (Tarzan, Elio, Amaro e Gerson) eram oriundos das Ligas Camponesas e atuavam em bloco nas discus-sões, isso ficou muito nítido na China. Depois observei essa mesma divisão no plenário da 6ª Conferência de 1966, com a atuação de Diniz Cabral. Os camaradas Bronca, Nurchis e Miguel morreram no Araguaia. Não existe notícia de Paulo Assunção, e a família não fala a respeito. Era um operário gaúcho, um sujeito valente, mas que teria morrido em

Brasília sob tortura. Mas isso não está confirmado. Suponho que Paulo tenha ficado com o partido, porque era muito ligado a José Huberto Bronca. Eles reconstruíram o partido no Rio Grande do Sul.

Como eu disse, alguns companheiros chegaram antes de mim e outros dois depois.

Quando estes chegaram – em 15 ou 16 de junho –, iniciou-se o curso. Foram três meses em Pequim e dois meses e meio em Nanquim.

estudos intensivos

No curso, o material de estudo era todo baseado nos escritos de Mao Tsé-tung, e não era dado nenhum texto de Marx, Engels, Lênin ou de Stalin. Naquele período, entre 1965 e 1966, Lin Piao estava no auge de seu prestígio, quem não estava bem na luta interna era Liu Chao-chi. Por isso mesmo, Mao indicou Lin Piao para seu sucessor. Começavam a se ensaiar os primeiros passos da chamada Grande Revolução Cultural Proletária, mas ainda não havia a Guarda Vermelha.

Em Nanquim foi realizada a parte político-militar do curso. Havia estudos específicos dos textos militares de Mao: Sobre a guerra prolongada, Problemas da Guerra e da Estratégia, Pro-blemas Estratégicos da Guerra de Guerrilhas Antijaponesa, textos sobre a construção do Exército Popular de Libertação etc. Estudos intermináveis das campanhas realizadas pelo exército popular, das suas batalhas, com aqueles mapas enormes. Pouca coisa havia de prática de campo. Não houve, por exemplo, nenhum treinamento específico para guerra na selva. Po-diam nos ter passado, pelo menos, a experiência do Vietnã. Na China, a guerra de libertação não contou com esse componente de guerra na selva. Os estudiosos chineses não davam muita importância para isso. Estudávamos mais a questão da concepção militar, era basi-camente um curso em sala de aula. Claro, tivemos aula de engenharia militar e de como fabricar explosivos.

Algo muito importante para nós foi um banquete realizado no dia 1º de outubro de 1965, no plenário da Assembleia Popular Nacional. Fomos levados de avião de Nanquim para participar do desfile do 16º Aniversário da Proclamação da República Popular da Chi-na, realizado em Pequim. À noite, houve um grande banquete. Em dado momento, todo mundo ficou de pé, um frenesi, um burburinho. Era Mao Tsé-tung indo de mesa em mesa para cumprimentar cada uma das cerca de 250 pessoas, em sua maior parte representantes do corpo diplomático. E nós lá, os dez brasileiros, considerados como amigos estrangeiros.

E todos nós cumprimentamos o presidente Mao, mão na mão, olho no olho. Esse eu acre-dito que tenha sido um dos fatos mais marcantes da visita à China. Depois fizemos um giro de 30 dias pelo país, conhecemos cerca de dez cidades, permanecendo dois ou três dias em cada uma delas.

de volta ao Brasil

Na volta, no dia 31 de dezembro, embarquei com Miguel Pereira dos Santos. Os ou-tros retornaram alguns dias depois. A viagem foi tranquila até a Suíça. Fizemos escala

em Daca, onde carimbaram nossos passaportes. Voltamos e entramos por São Paulo.

Alguém na alfândega brasileira podia perguntar o que estávamos fazendo em Daca, perdidos lá pelo Paquistão. Mas, não houve problema nenhum. Miguel, apesar de per-nambucano, estava radicado em São Paulo e era bancário. Ele tinha um contato com o camarada Pedro Pomar, que nos encontrou e nos levou para um aparelho. Ali estava o camarada Amazonas. Fizemos prestação de contas para ele, Pomar e Danielli, que che-gou posteriormente. Depois tivemos uma conversa reservada com Amazonas para ver o que cada um ia fazer dali por diante, qual seriam as tarefas.

Danielli havia falado que eu deveria retornar para o Espírito Santo e voltar ao mesmo trabalho que tinha. Amazonas, discordando, disse: “Você passou quase um ano fazendo curso de formação política e militar e agora vai voltar e se ligar à pro-dução? Você deve cuidar da construção do partido”. E, então, voltei para o Espírito Santo em janeiro de 1966 e me integrei à direção. O Comitê Regional era composto por Guilherme Tavares, Carlito Ozório e Antônio Caldas Brito. Havia também Gildo Ribeiro, que se ligou ao partido em 1964. Quando fui à China, em 1965, ele já estava no PCdoB.

6ª Conferência do PCdoB

Por volta de maio organizamos a conferência estadual para escolher o delegado à 6ª Conferência, para a qual fui indicado. O documento-base para discussão era União dos brasileiros para livrar o país da crise, da ditadura e da ameaça neocolonialista. Ele foi apresen-tado apenas durante a conferência, mas aquela já era a concepção do partido de 1964.

Para nós, aquilo não era nenhuma novidade, nenhuma guinada, como alguns falavam.

Na Conferência houve apenas uma voz discordante: Diniz Cabral. Aqui e ali alguém apresentou uma emenda, coisa de menor importância. A 6ª Conferência realizou-se em São Paulo, mas o lugar exato, não faço a mínima ideia. Todos tinham um ponto e eram pegos por um carro do aparelho. Entrávamos e ficávamos no fundo do veículo, com os olhos sempre fechados.

Eu me lembro da presença de Pomar, Grabois, Amazonas, Danielli, José Duarte e Lincoln Oest. Num determinado momento, Danielli me falou: “Aquele ali é o Arroyo”.

Havia uma moça que era delegada de Brasília, a companheira de Élio Cabral. Lembro de Diniz Cabral, Bronca, Ozéas Duarte, do Ceará, e de dois delegados dos marítimos: Luiz Guilhardini e um taifeiro conhecido como Copa.

Assisti a uma intervenção jocosa de Grabois contra a posição de Diniz Cabral.

Para este, o documento era muito amplo e não tinha nada de revolucionário. Era pre-ciso organizar a luta armada imediata. Só Diniz apresentou esse tipo de opinião. Gra-bois liquidou com ele, de maneira muito sarcástica. Pomar fez uma intervenção muito séria, com muita profundidade. Fundamentaram o documento com a necessidade de unir todas as forças democráticas e patrióticas contra a ameaça neocolonialista e a ditadura militar.

Ala Vermelha

No ano seguinte teve um problema sério no Espírito Santo: o PCdoB quase todo se bandeou para a chamada Ala Vermelha. O camarada Gildo Ribeiro afirma que só ficaram três militantes, e o camarada Danielli até me pediu para redigir uma carta para dizer que eu não era integrante da Ala, pois ela estava usando o meu nome.

Naquele mesmo período, em 1968, eu havia retornado ao Rio de Janeiro, para subs-tituir César Telles, que tinha ido montar a imprensa do partido em São Paulo. Acabei ficando alguns dias, coisa de um mês, no mesmo apartamento em que Dynéas Aguiar morava.

Saí do Espírito Santo nos primeiros dias de setembro de 1966, quando Tarzan de Castro foi preso em Goiás. Danielli me orientou a me mudar de estado. A repressão ba-teu na casa de meus pais, levaram meu pai para a Polícia Federal e lhe ordenaram que se apresentasse lá toda semana. Ele foi até o dia em que se zangou e disse: “Não vou mais. Chega!” Pegou os oito filhos e foi para São Paulo. Mas isso já no final de 1968.

entre os marítimos

Fui para o Rio, ainda em 1966, e lá Danielli me apresentou a Luiz Guilhardini, cujo nome de guerra era Gustavo. Eu o havia conhecido no plenário da 6ª Conferência.

Então fui designado para compor a direção do Comitê Regional Marítimo. Guilhardini não era mais dirigente marítimo e sim nacional, conduzido ao Comitê Central pela 6ª Conferência. Ele atuava no Birô Leste, cuidando do partido desde o Rio de Janeiro até o Ceará.

Na conferência de incorporação dos marítimos eu estava lá e compus o secreta-riado, por designação do Comitê Central. José Maria Cavalcante, dirigente principal daquele organismo, já comprou de saída uma briga comigo, porque ele não admitia que quem não fosse marítimo pudesse ser da direção.

A Conferência dos Marítimos ocorreu no estado do Rio, provavelmente na região de Caxias, na Baixada Fluminense, próximo ao mar. Havia cerca de 15 delegados. Apenas três foram contrários à incorporação ao PCdoB. José Maria pediu, então, que eles se

A Conferência dos Marítimos ocorreu no estado do Rio, provavelmente na região de Caxias, na Baixada Fluminense, próximo ao mar. Havia cerca de 15 delegados. Apenas três foram contrários à incorporação ao PCdoB. José Maria pediu, então, que eles se