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4. Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo

4.2. Europa

4.2.3. Alemanha – Biotopverbund

A Alemanha localiza-se na Europa Central e é o país europeu que mais fronteiras tem com outros países, para além de ser limitado pelo Mar do Norte e pelo Mar Báltico. Possui uma área de 357.021 km2 e uma linha costeira com 2.389 km de extensão. É atravessada por alguns dos maiores rios da Europa como o Reno e o Danúbio e o seu relevo divide-se entre planícies no Norte e montanhas no centro e Sul, e o ponto mais alto fica aos 2.962 m de altitude em Zugspitze. Possui uma fauna e flora diversificada (Hintereder, 2008).

De acordo com Leibenath (2008), membro do Leibniz Institute of Ecological and Regional Development a delimitação e implementação de uma Estrutura Ecológica na Alemanha deve ser feita através do Ordenamento do Território.

A Alemanha é uma República Federal constituída por dezasseis estados, os Länder. As actuais leis federais existentes são a Lei Federal de Ordenamento do Território de 2008 (Raumordnungsgesetz) e a Lei Federal de Conservação da Natureza de 2009 (Bundesnaturschutzgesetz) (Leibenath, 2008)(ANEXOS II.B e II.C). Cada Land tem a sua própria legislação de Ordenamento do Território e de Conservação da Natureza, mas as definições, os objectivos e os princípios estabelecidos nas leis têm de ter como base a respectiva legislação federal (Leibenath, 2008). Assim, existem diferenças significativas entre os Länder, relativamente às estruturas administrativas, aos instrumentos de planeamento e procedimentos e entre a interacção entre o Ordenamento do Território e o planeamento da Paisagem.

A Lei Federal de Ordenamento do Território encoraja as agências de Ordenamento do Território a cooperarem com os agentes públicos e privados para a implementação dos planos de ordenamento e elaboração de conceitos de desenvolvimento territorial e para a promoção de uma rede cooperativa entre cidades (Leibenath, 2008).

Algumas das ideias que vêm definidas na Lei Federal de Ordenamento do Território e que contribuem para a abordagem da Estrutura Ecológica são as seguintes (Leibenath, 2008, p. 13).

 “Desenvolvimento territorial sustentável que equilibre os requerimentos socio-económicos com as funções ecológicas do território;

 Protecção e salvaguarda dos recursos naturais;

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 35 O Concepts and Strategies for Spatial Development in Germany adoptado em 2006 pelo Stading Conference of Ministers, responsáveis pelo Ordenamento do Território, constitui outro documento político a nível federal importante para o tema da Estrutura Ecológica (BMVBS, 2006).

O documento está dividido em três temas centrais: 1. conceitos e estratégias, 2. assegurar serviços de interesse público e 3. conservação de recursos e concepção de paisagens culturais (ANEXO II.D). O último ponto pretende fortalecer o Ordenamento do Território para que seja estabelecido um equilíbrio entre os diferentes requisitos de uso do solo, entre as perspectivas de desenvolvimento e os interesses de protecção numa região (BMVBS, 2006).

Uma das estratégias definida neste diploma é a de protecção de espaços abertos para que os ecossistemas mantenham a sua capacidade de funcionarem apropriadamente e para que seja assegurado o uso sustentável dos recursos naturais. Refere ainda que para proteger estes espaços abertos é necessário “criar uma rede que transcenda as fronteiras regionais e que tenha um impacto ecológico significativo (BMVBS, 2006, p. 24). É assim indicada a necessidade de uma Estrutura Ecológica para a protecção dos recursos naturais.

De acordo com o Federal Ministry for the Environment, Nature Conservation and Nuclear Safety (BMU), a Estrutura Ecológica vem definida no artigo 3 da Lei Federal da Conservação da Natureza de 2002, que foi alterada em 2009 (entrou em vigor em Março de 2010). O capítulo quatro da nova lei relativo à protecção de certas partes da Natureza e da Paisagem, descreve a Estrutura Ecológica da Alemanha (Quadro 1), o

Biotopverbund (Fig. 12), que literalmente significa “ligação de biótopos” (BMU, 2002, 2010).

Quadro 1 – Artigo 20 e 21 da Lei Federal da Conservação da Natureza de 2009 referentes à Estrutura Ecológica. Adaptado de: BMU, 2010.

Artigo 20 – Princípios gerais

1. A Estrutura Ecológica deve cobrir pelo menos 10% da área de cada Land.

2. Elementos da Natureza e da Paisagem que podem ser protegidos: áreas de conservação de acordo com a lei, parque nacional ou monumento natural nacional de acordo com a lei, reserva de biosfera, área de protecção da Natureza segundo a lei, parque natural, monumento natural, elemento da Paisagem protegido.

3. Os elementos da Natureza e da Paisagem referidos no ponto 2. podem fazer parte da Estrutura Ecológica na medida que sejam adequados para esse fim.

Artigo 21 - Biotopverbund

1. A Estrutura Ecológica é projectada para permitir a conservação permanente das populações de fauna e de flora, incluindo os seus habitat e comunidades e para a preservação, restauro e desenvolvimento das relações de interacção do funcionamento ecológico. Também tem o objectivo de melhorar a coerência da Rede Natura 2000.

2. Deve haver cooperação e coordenação transfronteiriça entre os Länder

3. A Estrutura Ecológica é composta por áreas nucleares, áreas de ligação e elementos de ligação. As componentes da Estrutura Ecológica devem incluir: parques nacionais e monumentos naturais nacionais, áreas de conservação da natureza, sítios da Rede Natura 2000 e reservas de biosfera ou partes dessas áreas, biótopos legalmente protegidos e outras áreas e elementos, incluindo áreas e elementos do National Natural Heritage, do Green Belt e partes das áreas de protecção da Paisagem e parques naturais, se eles forem adequados para a realização dos fins previstos no ponto 1.

4. As áreas nucleares, as áreas de ligação e os elementos de ligação devem estar legalmente protegidos, designando-se como partes protegidas da Natureza e da Paisagem (na acepção do artigo 20) e através de leis de planeamento, de acordos contratuais a longo prazo ou através de outras medidas adequadas para garantir a existência permanente da Estrutura Ecológica.

5. As águas de superfície, incluindo as suas zonas periféricas, zonas de orla costeira e prados ribeirinhos devem ser conservados como lugares de bem-estar e biótopos naturais para espécies de fauna e flora. Estão a ser desenvolvidos de forma a assegurarem a sua função permanente de servir e para ligarem grandes áreas.

6. A nível regional, e especialmente na Paisagem moldada pela agricultura, os elementos lineares são necessários para a ligação dos biótopos, como sebes e corredores fragmentados de biótopos, e por isso devem ser conservados ou criados.

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 36 Fig. 12 – Estrutura Ecológica da Alemanha. Fonte: http://www.bfn.de/0311_biotopverbund.html.

Finck (2009, p. 8), membro da Federal Agency for Nature Conservation (BfN) afirma que o sistema recomendado para a escolha das componentes da Estrutura Ecológica é a seguinte: “tamanho da área, qualidade ecológica, posicionamento e envolvente, grau de isolamento e ocorrência de espécies alvo”. De acordo com Leibenath (2008) existem planos de Estruturas Ecológicas formais, que contribuem directamente para o processo de planeamento e planos de Estruturas Ecológicas informais (Fig. 13).

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 37 Fig. 13 - Organização dos dois tipos de planeamento de Estruturas Ecológicas. Fonte: Leibenath, 2008

O planeamento formal elabora planos que vão ser incluídos nos planos de Ordenamento do Território, enquanto os planos informais são apenas de carácter informativo.

O agente principal da Estrutura Ecológica é o BMU. Contudo, a BfN tem um papel mais activo e visível no desenvolvimento de Estruturas Ecológicas. Estas duas figuras desempenham essencialmente a função de mediação e coordenação entre os Länder e entre a Alemanha e outros países (Leibenath, 2008).

Existe também um grupo, constituído pela BfN e por agências de conservação da Natureza dos Länder, que tem como objectivo coordenar a coerência entre as Estruturas Ecológicas estaduais para ser possível criar uma EEN uniforme (Leibenath, 2008).

Segundo Finck (2009) existe uma série de constrangimentos para a implementação da Estrutura Ecológica na Alemanha:

 Devido à estrutura federal da Alemanha e à divisão em Länder, algumas regiões não têm planos de Estruturas Ecológicas;

 Não existe um prazo para a finalização dos planos, pelo que é difícil prever a quando estará implementada a EEN;

 Não existe nenhum orçamento para a implementação da Estrutura Ecológica.

4.2.3.1. Saxónia – Estrutura Ecológica do Land

Leibenath (2008) apresenta um caso de estudo para o estado de Saxónia, que é um dos Länder da Alemanha. Localiza-se na parte sul da Alemanha oriental e tem uma população de 4.200.200 habitantes e uma área de 18.415 km2 (RPV-OEO, 2008 in Leibenath, 2008).

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 38 A Estrutura Ecológica da Saxónia deve ser integrada no plano de desenvolvimento do estado e no plano regional de forma detalha. As áreas exactas da Estrutura Ecológica têm de ser delimitadas e descritas de forma pormenorizada a nível regional e comunitário (Leibenath, 2008).

A Agência Saxónica do Ambiente e da Geologia (Sächsisches Landesamt für Umwelt und Geologie) preparou em 2007 um guia técnico para a delimitação e implementação da Estrutura Ecológica na Saxónia. É também responsável pela elaboração de conceitos sobre a conservação de habitat e da Paisagem e pela elaboração e implementação de programas relevantes, directivas e regulamentos para o

Land (Leibenath, 2008).

Para a delimitação da Estrutura Ecológica na Saxónia foram utilizadas as seguintes informações básicas, de acordo com o guia técnico (Steffens et al., 2007 in Leibenath, 2008, p. 25):

 “Classificação da Paisagem saxónica e análises e descrições correspondentes;  Vegetação natural potencial;

 Unidades de vegetação actuais;  Atlas do solo para a Saxónia;  Mapa de solos selectivos;

 Imagens aéreas de habitat e cobertura do solo;  Documentação de áreas protegidas;

 Programas de áreas protegidas;

 Documentação de Áreas Protegidas Especiais (Directiva Europeia Aves) e Sítios de Interesse Comunitário (Directiva Europeia Habitat);

 Análises de áreas protegidas na floresta e em espaços abertos;  Documentação técnica de fetos e de plantas com flores;  Documentação técnica de ninhos de aves;

 Documentação técnica de anfíbios;

 Documentação técnica de espécies de peixes;

 Documentação técnica de mamíferos e insectos seleccionados;

 Lista de espécies de plantas, animais, habitats e unidades de vegetação em risco de extinção”. A Estrutura Ecológica da Saxónia é constituída pelas áreas referidas na Lei Federal da Conservação da Natureza e estão indicadas na seguinte figura (Fig. 14).

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 39 Fig. 14 – Áreas possíveis para a delimitação de uma Estrutura Ecológica na Saxónia. Fonte: SMI 2003 in Leibenath, 2008. [cores fortes – áreas nucleares (principalmente para protecção); cores pálidas – áreas de ligação (principalmente para desenvolvimento].

De acordo com Leibenath (2008) o conceito de Estrutura Ecológica utilizado não se baseia apenas em características estruturais das respectivas áreas (tamanho, localização, uso do solo actual), mas também em conclusões gerais sobre biologia populacional, situação e causas específicas das espécies ameaçadas na Saxónia. Esta Estrutura Ecológica já influenciou regimes agro-ambientais e outros programas de financiamento.

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