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Proposta de Delimitação da Estrutura Ecológica de Cinfães

5. Caso de Estudo – Concelho de Cinfães

5.5. Proposta de Delimitação da Estrutura Ecológica de Cinfães

A proposta de delimitação da Estrutura Ecológica do Concelho de Cinfães (Fig. 32) (Carta 13, ANEXO III.B) realizada reúne todos os recursos e sistemas naturais que são indispensáveis ao correcto funcionamento ecológico do território (Magalhães et al., 2007) e que resultaram da análise e interpretação ecológica da Paisagem, ou seja, tem por base a Estrutura Ecológica Fundamental (EEF).

Fig. 32 – Proposta da Estrutura Ecológica para o Concelho de Cinfães.

Como já se referiu a metodologia utilizada é a Sistema-Paisagem, à qual está subjacente o conceito de Morfologia, que significa a forma que resulta das estruturas, mas sem se resumir a estas.

Por esse motivo, a primeira componente considerada foi a Morfologia do Terreno que, segundo Magalhães

et al. (2007, p. 131), constitui a “forma global do terreno, caracterizada pelas principais estruturas físicas

que constituem um importante indicador do comportamento dos processos ecológicos “. Esta constituiu uma ferramenta incontornável do funcionamento ecológico da Paisagem. Para qualquer intervenção na Paisagem, a sua interpretação é indispensável em temos de sustentabilidade ecológica, devido ao facto do relevo ser um parâmetro diferenciador de zonas ecológicas, dando origem, cada uma delas, a diferentes aptidões ecológicas relativamente à localização das actividades humanas.

De seguida apresenta-se a descrição das componentes que integram a EEF, de acordo com estes dois grandes sistemas da Paisagem, que resultam da Morfologia do Terreno e que são constituídos pelos seguintes elementos:

Casos de Estudo – Concelho de Cinfães 72  Sistema húmido – linhas de água e zonas contíguas às linhas de água;

 Solos de elevado valor ecológico, áreas declivosas, áreas de máxima infiltração.

Descreve-se também os habitat da Directiva 92/43/CEE que se encontram associados aos sistemas físicos referidos e a estrutura edificada (espaço edificado e rede viária existente).

5.5.1. Sistema Húmido

Como já se referiu, o sistema húmido (Carta 14, ANEXO III.B) é constituído pelas linhas de água e pelas zonas contíguas a estas e caracteriza-se por um microclima continental, com grandes amplitudes térmicas diurnas, elevados teores de humidade no ar e no solo. Nas zonas urbano-industriais, o ar frio que circula à noite é carregado de poeiras e gases tóxicos que existem na atmosfera (Magalhães et al., 2005).

A área ocupada pelo sistema húmido na EEF de Cinfães é reduzida e resume-se quase ao traçado das linhas de água principais e secundárias, devido aos vales serem bastante encaixados e profundos com vertentes bastante acentuadas, que não proporciona a existência dos mesmos.

As zonas contíguas às linhas de água com maior representatividade encontram-se nas áreas de declive menos acentuado, ou seja, nos afluentes da Ribeira de Sampaio (centro do concelho) e a nos afluentes do Rio Cabrum, na freguesia da Gralheira. Estas áreas correspondem a solos com aptidão elevada para a agricultura.

Os sistemas húmidos são áreas sem aptidão para a edificação, por isso devem ter um regime non

aedificandi, devido às péssimas condições geotécnicas, ao baixo nível de conforto bioclimático e ao facto

de as construções levarem à impermeabilização do solo e, consequentemente, à ocorrência de cheias. Contudo, quando os apoios à agricultura forem absolutamente indispensáveis pode ser aberta uma excepção (Magalhães et al., 2005).

Os usos mais apropriados para as zonas contíguas às linhas de água são usos mistos agrícolas, silvícolas e de recreio. Relativamente às linhas de água a vegetação da galeria ripícola deve ser mantida e/ou recuperada (Magalhães et al., 2005).

5.5.2. Solos de Elevado Valor Ecológico

No Concelho de Cinfães os Solos de Elevado Valor Ecológico (Carta 15, ANEXO III.B) são constituídos por Antrossolos Áricos Terrácicos Úmbricos e Dístricos. Estes localizam-se sobretudo nas áreas circundantes às povoações e nas zonas de encosta, perto dos rios e ribeiras. São solos modificados por acções antrópicas mas que apresentam uma elevada aptidão agrícola.

A integração destes solos na EEF é importante por estes serem escassos em Portugal e por terem uma elevada capacidade de produção de biomassa, que é praticamente impossível de repor ou de construir artificialmente, o que lhes confere um valor quase insubstituível.

Os Solos de Elevado Valor Ecológico não apresentam boas condições para a implementação de edificação devido à sua grande capacidade de retenção de água, proporcionada pelos elevados teores e tipos de minerais argilosos (Magalhães et al., 2005).

Casos de Estudo – Concelho de Cinfães 73 Quando estes solos se encontram em vertentes apresentam grande aptidão para a produção cerealífera em socalco ou com sebes de compartimentação, para além de culturas arbóreas consociadas com arvenses (olivais e pomares) (Magalhães et al., 2005).

De acordo com Magalhães et al. (2005) os Solos de Elevado Valor Ecológico devem ser classificados na RAN e como tal não devem estar sujeitos a edificabilidade.

5.5.3. Áreas Declivosas

A partir da análise da Carta de Declives chegou-se às Áreas Declivosas (Carta 16, ANEXO III.B), que abrangem as zonas onde o declive é superior a 25%. Estas são incluídas na EEF, pelo facto de constituírem situações de grande susceptibilidade à erosão, proporcionado por um maior escoamento superficial e a à falta de vegetação que segura o solo. Consequentemente são áreas instáveis e portanto devem ser protegidas.

A edificação nestas áreas exige um custo elevado de implementação porque é necessária uma modelação do terreno para a criação de terraceamento e a construção de muros de suporte.

Como já se referiu, Cinfães apresenta declives bastante acentuados e vertentes bastante instáveis, pelo que é um concelho bastante propício a situações de erosão e. As áreas declivosas que integram a EEF são bastante extensas e encontram-se por todo o concelho.

5.5.4. Áreas de Máxima Infiltração

As Áreas de Máxima Infiltração (Carta 17, ANEXO III.B) devem ser incluídas na Estrutura Ecológica porque a sua protecção é essencial para a continuidade dos fluxos de água, a recarga de aquíferos e para a diminuição dos riscos de erosão e de cheias.

Para identificar as Áreas de Máxima Infiltração determinou-se a permeabilidade potencial no concelho de Cinfães, considerando-se quatro factores físicos: formações geológicas, solo, declive e morfologia do terreno. Utilizou-se o modelo desenvolvido por Pena (2008) para a determinação da permeabilidade potencial em que são consideradas duas situações morfológicas:

 Nas situações de zonas contíguas às linhas de água e nos cabeços largos, onde os declives não têm influência na permeabilidade, a permeabilidade potencial corresponde à permeabilidade da geologia e do solo, com igual ponderação (a permeabilidade da geologia e a permeabilidade do solo foram descritas anteriormente);

 Nas situações de vertente, permeabilidade é influenciada pelos declives. A permeabilidade potencial corresponde a 80% da permeabilidade da geologia e do solo e 20% da aptidão à infiltração pelos declives (quanto maior o declive menor a aptidão à infiltração).

De acordo com Pena (2008), as áreas de máxima infiltração correspondem à permeabilidade potencial alta. Devido ao facto de no concelho não existir valores de permeabilidade potencial alta, considerou-se como áreas de máxima infiltração a permeabilidade potencial moderada a alta.

Pela análise da carta conclui-se que as áreas de máxima infiltração no concelho são dispersas e em pequena quantidade. Tal deve-se, em especial, ao concelho ser caracterizado sobretudo por declives

Casos de Estudo – Concelho de Cinfães 74 superiores a 16%, que não favorecem a infiltração de água, mas sim a uma escorrência superficial, tendo por isso baixa aptidão à infiltração.

As maiores áreas de máxima infiltração existentes concentram-se sobretudo a Sul do concelho, especialmente na zona a Sudoeste e a Este do Rio Bestança.

5.5.5. Habitat da Directiva 92/43/CEE

A Directiva n.º 92/43/CEE constitui um instrumento legal de protecção e conservação de hatitat naturais da flora selvagem e por isso considerou-se importante a sua integração na Estrutura Ecológica. A Carta de

Habitat (Carta 18, ANEXO III.B), fornecida pela CMC, engloba os seguintes habitat (Quadro 5):

Quadro 5 – Habitat da Directiva n.º 92/43/CEE do Concelho de Cinfães.

Código Descrição

HABITAT DE ÁGUA DOCE

3250 Cursos de água mediterrânicos permanentes com Glaucium flavum CHARNECAS E MATOS DAS ZONAS TEMPERADAS 4030 Charnecas secas europeias

MATOS ESCLERÓFILOS 5230 Matagais arborescentes de Laurus nobilis 5330 Matos termomediterrânicos pré-desérticos

FORMAÇOES HERBÁCEAS NATURAIS E SEMINATURAIS

6430 Comunidades de ervas altas hidrófilas das orlas basais e dos pisos montado alpino

HABITAT ROCHOSOS E GRUTAS

8220 Vertentes rochosas siliciosas com vegetação casmofítica FLORESTAS

91E0 Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion incanae,

Salicion albae)

91F0 Florestas mistas de Quercus robur, Ulmus laevis e Ulmus minor, Fraxinus excelsior ou

Fraxinus angustifolia ao longo das margens de grandes rios (Ulmenion minoris)

9230 Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica 9260 Florestas de Castanea sativa

92A0 Florestas-galerias de Salix alba e Populus alba 9330 Florestas de Quercus suber

Estes habitat localizam-se sobretudo na zona sudoeste do concelho e o habitat charnecas secas europeias é o que apresenta maior representatividade (Carta 19, ANEXO III.B).

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5.5.6. Estrutura Edificada

A estrutura edificada é “constituída pelo conjunto das áreas edificadas e pelas redes viárias dos vários tipos que interligam as primeiras” (Magalhães et al., 2007, p. 229).

Como se pode observar pela Carta da Estrutura Edificada de Cinfães (Carta 20, ANEXO III.B) este concelho não apresenta uma área edificada muito densa, o que se deve principalmente ao seu carácter rural e pouco urbanizado. O território é recortado por minifúndios, em que cada um possui o seu campo e em que as casas se encontram viradas para o rio Douro (Fig. 32) (CMC, 2010).

Fig. 33 – Tecido Edificado, Cinfães.

O tecido edificado deste território expressa os recursos desta Paisagem, pois as áreas edificadas encontram-se sobretudo entre os rios e ribeiras, onde os solos apresentam maior aptidão agrícola. Situam- se predominantemente na zona Norte e Oeste do Concelho nas freguesias de Cinfães, São Cristóvão, Espadanedo, Souselo, Travanca e Nespereira.

Relativamente à rede viária, esta é composta por estradas nacionais e por estradas municipais que se estabeleceram na meia vertente e é ao longo destas que se encontram a maioria das edificações.

Da sobreposição da Estrutura Edificada com a Estrutura Ecológica Fundamental (Carta X, ANEXO x) é possível identificar-se eventuais conflitos que possam existir entre as duas, já que a edificação deve ser evitada ou condicionada em alguns sistemas naturais.

Verifica-se que as edificações existentes não se sobrepõem ao sistema húmido, contudo encontram-se em áreas de solos de elevado valor ecológico de vertente, que se deve à tendência de edificar na parcela pertencente a cada um, ao contrário da maneira tradicional de viver nas aldeias, em aglomerados concentrados. Do mesmo modo, a edificação localiza-se também nas áreas de máxima infiltração, uma vez que estas se encontram geralmente associadas aos solos de elevado valor ecológico.

Não se verificam grandes problemas relacionados com a estrutura edificada, no entanto, não deixa de ser necessário controlar a sua expansão para que esta não comprometa os sistemas naturais que compõem a EEF.

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