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4. Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo

4.4. América do Sul

Na América do Sul o termo Estrutura Ecológica é relativamente recente e, como tal, não existe um conhecimento aprofundado sobre o assunto. No entanto, existem diversos projectos em desenvolvimento que têm como função a conservação da Natureza e da biodiversidade.

Diversos conceitos são utilizados para descrever essas iniciativas, mas o mais comum é o de corredor. Dentro deste existem diversas terminologias diferentes, como por exemplo, corredor biológico, corredor ecológico, corredor da biodiversidade, corredor de conservação ou corredor biogeográfico (Bennett e Mulongoy, 2006).

Apesar da diversidade de definições, Bennett e Mulongoy (2006, p. 56) afirmam existir quadro objectivos comuns, que são: “integrar as áreas protegidas numa gestão mais ampla, promover a ligação funcional entre áreas protegidas, focar na conservação da biodiversidade e usar o planeamento do uso do solo como instrumento para atingir estes objectivos”.

De acordo com Cracco e Guerrero (2004, p. 74), membros da IUCN da América do Sul, os “elementos comuns identificados a todos os corredores e que podem servir para a construção de um conceito unificador são: conectividade, gestão integrada, ordenamento territorial, participação e articulação dos interesses dos diferentes actores públicos e privados no âmbito do corredor, alianças e áreas protegidas”. Apresentam portanto características semelhantes às da Estrutura Ecológica.

O Corredor Biológico Mesoamericano foi um dos primeiros corredores a ser desenvolvido. Foi criado em 1997 e implementado a partir de 2002 pelos governos de do México, da Guatemala, de Belize, das Honduras, de El Salvador, da Nicarágua, da Costa Rica e do Norte do Panamá. O objectivo deste corredor é de garantir a ligação entre as áreas protegidas e as áreas de elevada biodiversidade, de modo a evitar a fragmentação dos habitat naturais e prevenir para possíveis danos irreversíveis (Conabio, 2009).

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 46 O Corredor Biológico Mesoamericano foi desenvolvido de forma a fornecer bens e serviços ambientais à sociedade mesoamericana. Promoveram um diálogo social para desenvolver uma relação equilibrada entre o uso sustentável dos recursos naturais e a conservação da biodiversidade (Conabio, 2009).

De acordo com Bennett e Mulongoy (2006), o primeiro corredor a ser implementado na América do Sul a uma larga escala foi o Corredor de Conservación Vilcabamba-Amboró. De acordo com a Conservación Internacional Perú (2007) este constitui uma estratégia de conservação para uma parte da região dos Andes Tropicais que abrange 30 milhões de hectares, que vão desde a Cordilheira de Vilcabamba no Peru até ao Parque Nacional Amboró na Bolívia.

O Corredor de Conservación Vilcabamba-Amboró é constituído por dezanove áreas protegidas ligadas e pretende alcançar os seguintes objectivos: “conservar a biodiversidade, promover a conectividade entre ecossistemas e áreas protegidas, integrar a gestão das áreas protegidas nas politicas socio-económicos, promover a integração binacional nas regiões transfronteiriças, promover actividades económicas que beneficiam as populações locais e fortalecer a capacidade local para a gestão sustentável dos corredores” (Conservación Internacional Perú, 2007, p. 1)

A IUCN da América do Sul fez um levantamento de todos os corredores existentes na área e identificou um total de 82 iniciativas, das quais pelo menos três são projectos transfronteiriços. Os países que possuem um maior número de programas são o Brasil e a Colômbia, com catorze e dezassete programas, respectivamente (Cracco e Guerrero, 2004). Segundo Bennett e Mulongoy (2006), em todos os países da América Latina está a ser desenvolvido pelo menos um projecto de delimitação e implementação de um corredor.

Existem diversas ONG’s que estão a desenvolver iniciativas, em que o objectivo principal é o da conservação da biodiversidade, tais como a Ecoaméricas ou a WWF.

De seguida apresenta-se o exemplo de um corredor existente no Brasil, o Corredor Central da Mata Atlântica.

4.4.1. Brasil – Corredor Central da Mata Atlântica

A Mata Atlântica é uma das maiores florestas da América do Sul e distribui-se ao longo do litoral brasileiro e de algumas zonas da Argentina e do Paraguai. Está entre as cinco regiões do planeta de maior prioridade para a conservação da biodiversidade, é um dos Hotspots, ou seja, uma das áreas mais ricas e mais

ameaçadas do mundo (Mores, 2004).

A protecção da Mata Atlântica no Brasil é feita através da implementação de um corredor de biodiversidade (ou corredor ecológico) que corresponde a uma grande área de extrema importância biológica, constituída por uma rede de unidades de conservação que estão intercaladas com áreas de outros usos. Estes corredores são geridos de forma a garantir a sobrevivência de todas as espécies, a manutenção de processos ecológicos e evolutivos e o desenvolvimento de uma economia sustentável (Ayres et al., 2005 in Ministério do Meio Ambiente et al., 2006).

Este termo passou a ser utilizado no Brasil através do Projecto Parques e Reservas do Programa Piloto para a Protecção das Florestas Tropicais Brasileiras, desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente em

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 47 1991. Em 1997 foi desenvolvido o Projecto Corredores Ecológicos que tem como objectivo a protecção das florestas da Amazónia e da Mata Atlântica em larga escala e com o envolvimento de vários sectores da sociedade, de ONG’s e do governo (Mores, 2004; Ministério do Meio Ambiente et al., 2006).

O Projecto Corredores Ecológicos tem por base um modelo de gestão participativo, que valoriza a interacção entre a sociedade civil, os governos estaduais e municipais, as instituições do governo federal e os responsáveis pelas acções de conservação da biodiversidade e pelo uso dos recursos naturais (Ministério do Meio Ambiente et al., 2006).

O Corredor Central da Mata Atlântica (CCMA) ocupa uma área de 8,6 milhões de hectares e tem uma extensão de 1.200 km, que vão desde o estado da Baia ao de Espírito Santo. Apresenta uma elevada riqueza biológica e abriga muitas espécies ameaçadas de extinção Tem como objectivo principal a redução dos impactos negativos sobre os ecossistemas, a conservação da biodiversidade e a promoção da interligação entre unidades de conservação, por meio da aplicação de conceitos de planeamento e gestão biorregional (Ministério do Meio Ambiente et al., 2006).

O CCMA é formado por mais de 95% de terras privadas, estando o restante espaço ocupado por unidades de conservação federais, estaduais e municipais, bem como terras indígenas (Fig.17). Os limites do corredor vão sendo aperfeiçoados para se poder adaptar ás alterações do uso do solo (Mores, 2004; Ministério do Meio Ambiente et al., 2006).

Estruturas Ecológicas – Casos de Estudo 48 De acordo com a figura 17 observa-se que as áreas que incluem o CCMA encontram-se dispersas e não têm ligação. Considera-se que o estabelecimento de corredores constituídos por áreas protegidas isoladas não é suficiente para a preservação da biodiversidade. Seria necessário fazer a ligação entre essas áreas. As principais actividades económicas que ocorrem no CCMA são o cultivo de cacau, de eucalipto e de café, a pecuária e a exploração do turismo. Contudo, estão a ser procuradas outras actividades compatíveis com a implementação do corredor (Ministério do Meio Ambiente et al., 2006).

Segundo Mores (2004), coordenador técnico do CCMA – Espírito Santo o documento que orienta o projecto é o Plano de Gestão do CCMA. Referem-se alguns objectivos deste plano:

 Estabelecer uma proposta de trabalho à escala biorregional para a conservação de toda a área do CCMA, com destaque de pontos críticos ou com alto potencial para a conservação da biodiversidade;

 Propor meios para obter a ligação entre as unidades de conservação e os fragmentos florestais remanescentes;

 Apresentar estratégias para o desenvolvimento económico e social através de um uso sustentável dos recursos naturais;

 Desenvolver um SIG que permita a gestão e actualização do CCMA;  Definir as áreas prioritárias para o desenvolvimento do corredor;

 Planear acções para a implementação executiva do CCMA tendo em conta a sua base territorial, a estrutura político-constitucional e o conjunto de agentes sujeitos à implementação do corredor. O projecto do CCMA foi executado em duas fases. Na primeira, que terminou em 2005, foi estabelecida a estrutura institucional, elaborado o plano de gestão, melhorados os procedimentos de fiscalização e monitorização, desenvolvidas acções em unidades de conservação. Na segunda fase, está a ser dada prioridade às acções de apoio à criação e consolidação das unidades de conservação, ao planeamento e à implementação efectiva do corredor (Ministério do Meio Ambiente et al., 2006).

Os agentes envolvidos neste processo têm muitas dúvidas quanto à viabilidade deste projecto. No entanto, o governo está optimista em relação à sua capacidade de implementação e de cumprimento dos compromissos ambientais.

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