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Pont a de areia pont o final Da Bahia-Minas est rada nat ural Que ligava Minas ao port o ao mar Caminho de ferro mandaram arrancar Velho maquinist a com seu boné Lembra do povo alegre que vinha cort ejar Maria fumaça não cant a m ais Para moças flores janelas e quint ais Na praça vazia um grito um oi Casas esquecidas viúvas nos port ais

s comunidades de Alfredo Graça e Engenheiro Schnoor localizam-se às margens do Rio Gravat á. Abrigaram est ações de t rem da ant iga est rada de ferro Bahia- Minas106, e “ as viúvas nos port ais” , cant adas por M ilt on Nasciment o, est ão present es. São viúvas de um novo processo, viúvas da migração.

O “ rast ro do trem” est á presente nas comunidades:

A vida era muito alegre, o trem passava t rês vezes por semana e carregava duas classes de gente: a dos mais e dos menos. (Donana – parteira da comunidade)

A comunidade cont a com cerca de 160 famílias. Quando o ônibus “ do Zé M aria” ou do “ Rio Doce” – as duas empresas que t êm ônibus diários, excet o aos domingos - fazem uma pequena parada na rua principal, para mot orist a e “ t rocador” t omarem um café oferecido pelo bar da parada, é possível avist ar t oda a ext ensão da rua principal, sua abert ura em “ y” , com a Igreja ao fundo uma praça na frent e.

Ao longo da rua principal, com aproximadament e 300 met ros de ext ensão, cont amos um armazém e t rês bares, que além de bebidas vendem alguns produt os de mercearia. Os moradores da comunidade referem-se “ à rua” para indicar que moram no cent ro da vila, que cont a com t rês ruas. O rio est á ao fundo de uma delas, paralela à principal.

Há casas t ambém do out ro lado do rio, que na est ação da seca pode ser at ravessado pelo cascalho, com água abaixo do joelho, ou pode ser at ravessado pela

106A linha Bahia - Minas foi desativada no bojo do processo que riscou do t erritório brasileiro as estradas de

ferro na década de 1960.

A

pont e pênsil. Do out ro lado, encont ram-se o assent ament o “ Para Terra” , o campo de fut ebol e as t endas de farinha.

Como em Schnoor e em muit as out ras comunidades do Vale, os moradores de condição, posseiros e sit iant es do Graça perderam o direit o à t erra nas décadas de 1960 e 1970.

Seu Jorge e Dona Maria, que t êm 70 anos, cont aram que seus pais eram agregados, na década de 1920. Habit avam no mesmo lugar em que o casal se encont ra hoje: do out ro lado do rio na comunidade do Graça. Quando as t erras foram vendidas para um homem de Governador Valadares, os moradores de condição foram consult ados se queriam sair da fazenda. Muit os aceit aram casa e quint al na “ rua” . Seu Jorge e Dona Maria não quiseram sair, não exigiram nada e cont inuaram na t erra. Hoje Seu Jorge t rabalha nas t erras do assent amento plant ando milho e mandioca. É dono de uma t enda de farinha no Graça que cont rat a por dia muit as mulheres na época de farinhar. Seu Jorge já é aposentado, t rabalhou muitos anos no cort e de cana.

7.1 Assentamento Para a Terra

Uma das caract eríst icas mais marcant es do Graça, que o dist ingue do Schnoor, é a presença de um assent amento rural chamado “ Para Terra” , apoiado pela EM ATER. Diferent ement e de t odo o exposto at é o moment o, há um t errit ório no qual a família consegue, unida, lut ar por sua reprodução.

Dez famílias do Graça se junt aram para plant ar um mandiocal e mont aram uma associação. Tent aram acessar o PRONAF mas não havia ainda uma linha para a região. Devido ao poder de organização do grupo, quando houve uma verba dest inada a Araçuaí

para um assent ament o com agricult ura irrigada eles foram lembrados pela EMATER, órgão que assessora as comunidades e faz o repasse da verba do MDA. O grupo começou com 55 f amílias e 25 famílias foram escolhidas para dar cont inuidade ao assent ament o.

Bernardo e Leca gost am de cult ivar a t erra e foram os primeiros a conceber e integrar o projeto do assent ament o. Eles relat aram brevement e a origem do assent ament o, sua t rajet ória e seus desvãos.

Em 10/12/2000 foi efet uada a compra da t erra por int ermédio do programa Banco da Terra. Em 2001, 750 ha de terra foram divididos ent re 21 famílias (quat ro famílias saíram ant es da divisão) e dest es 750 ha, apenas 12 ha recebem a irrigação. O rest ant e, com exceção da reserva nat ural e dos caminhos, foi dividido entre as famílias. Cada família recebeu cerca de 32 hect ares. Nesse lot e de 32 hect ares se plant a uma vez por ano. Em 2002, chegou o primeiro recurso do PRONAF B.

Segundo os assent ados, a fazenda107 que deu lugar ao assent ament o foi comprada e os assent ados devem para o Banco do Nordest e a t erra, cerca de 120 mil reais, mais 164 mil reais a fundo perdido. O assent ament o originou-se segundo os preceit os da reforma agrária de mercado.

Com recursos advindos do Projet o de Com pra Diret a Local, idealizado pelo Minist ério do Desenvolvimento Social e Combat e à Fome (M DS), os assent ados vendem sua produção agrícola para a prefeit ura que a dist ribui às escolas para ser incorporada à merenda.

107Lembremos que as grandes fazendas que se ocupam da pecuária (ou não se ocupam de nada, existem

apenas como reserva de valor) foram forjadas há décadas mas encontraram, a partir da década de 1960, uma série de dispositivos legais promulgados pelo Est ado brasileiro que contribuíram para sua consolidação.

Os 12 hect ares de t erra irrigada do assentament o são muit o produt ivos. No ent ant o, para que eles possam irrigar a t erra ut ilizando os recursos do PRONAF B108, t iveram que alt erar radicalment e o rit mo de t rabalho. A Companhia Energét ica de Minas (CEM IG) dá um descont o de 75% na cont a de energia de quem ut iliza bombas para puxar a água do rio, se elas forem ligadas das 18:00 às 6:00 horas109.

As famílias, para acessar esse descont o, se revezam para t omar cont a da bomba e mudar o pont o de dispersão da água. Trabalham port ant o no período da noit e: levam água, café, comida, cobert as, para resist ir a noit e passada ao relent o (há poucas casas no assent amento pois ele dist a cerca de 15 minut os da vila). A família que se ocupa em vigiar a bomba muda sua posição a cada meia hora, a fim de irrigar os 12 hect ares que são divididos pelas famílias do assent ament o, localizados em um t abuleiro à beira rio. No dia seguint e, por não t erem dormido, não conseguem t rabalhar bem na t erra.

A t erra é paga uma vez por ano. São R$ 8.000,00 divididos pelas 20 famílias, cerca de R$400,00 por família/ano at é 2019. O PRONAF B é pago duas vezes por ano (R$ 120,00), e deverá ser pago at é 2010. Quase todas as famílias conseguem pagar as dívidas e cont as (Pronaf, t erra, luz, água) com os produt os cult ivados na t erra irrigada. São soment e 0,6 hect ares irrigados por família. Segundo Rogério,

Aqui em baixo [ no tabuleiro irrigado] produz muit o, a mandioca (de maio a out ubro) já acabou. Falt a produção, o que a gent e produz vende t udo. Dá pra viver sossegado, sem t rabalhar pra ninguém. Se t ivesse mais meio

108 “ Criado em 1999 no âmbito do Pronaf para combater a pobreza rural, o Microcrédito Rural (também

conhecido como Grupo B do Pronaf) é estratégico para os agricultores familiares pobres, pois valoriza o potencial produtivo desse público e permite estrut urar e diversificar a unidade produtiva. Pode financiar

atividades agrícolas e não agrícolas geradoras de renda.

São atendidas famílias agricultoras, pescadoras, extrativistas, ribeirinhas, quilombolas e indígenas que desenvolvam atividades produtivas no meio rural. Elas devem ter renda bruta anual familiar de até R$ 5 mil, sendo que até 70% da renda podem ser provenientes de outras atividades além daquelas desenvolvidas no

estabeleciment o rural.” Fonte:

<http://comunidades.mda.gov.br/portal/saf/programas/pronaf/2258903>. Acesso em: 02/04/2010

109 A conta, que fica perto de R$350,00, é dividida pelos 15 que estão produzindo e resulta em R$25,00 para

hect ar e para cada família daria para levar para a feira quiabo, cenoura e ver dura e t irar R$150,00 por semana.”

Os assent ados esperam que o Projet o Caminho das Águas (CPCD)110 chegue a t odos os lotes do assent amento. Há também assessorias prest adas por agricult ores de permacult ura que vão para o assent ament o e ensinam preservação ambient al, plant io em curvas de nível e capt ação de água das chuvas com a const rução das “ barraginhas” , poços const ruídos na t erra para evit ar a erosão na época das chuvas.

Um dos lot es visit ados no assent ament o foi o de Celso. As t erras não irrigadas foram sort eadas ent re as famílias, o desenho dos lot es foi feit o em reuniões pois a fert ilidade da t erra muda muit o conforme se dist ancia do rio. Celso t eve sort e no sort eio e sua t erra não-irrigada t ambém é fért il. Em dois anos, Celso produziu, pagou as cont as e recebeu a primeira cist erna da comunidade com capacidade para 16.000 lit ros de água.

Para const ruir sua casa no assent ament o, Celso migrou para o cort e de cana em São Paulo por dois anos. Segundo Dedé, esposa de Celso, ele ia para o cort e no início do assent ament o e na volt a, com o dinheiro ganho, invest ia em bezerros. No seu lot e, chamado sít io, formou past o e criou vacas que foram vendidas para int eirar o dinheiro da const rução da casa. A parcela do lote transformada em past o também era alugada para out ros cort adores que se ut ilizavam, e cont inuam se ut ilizando, dessa mesma est rat égia como investiment o camponês.

Seu lot e é um dos mais promissores e bonit os e já recebe assessoria do CPCD. Uma frase sua conduziu nosso olhar durant e os trabalhos de campo no assent ament o: “ Tem

110 Terceiro projeto assumido pela ONG CPCD. Nesse projeto as monitoras ensinam produção agroecológica,