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Acredita-se não ser possível estabelecer relações lineares e determi- nistas entre os possíveis elementos apresentados na narrativa do jovem e o cometimento de infrações. Ou seja, diante da complexidade do fenôme- no e das múltiplas possibilidades de organização subjetiva dos indivíduos, seria leviano apontar uma causa exclusiva capaz de motivar a prática in- fracional.

Além disso, cabe pontuar, também, que diante da perspectiva his- tórico-cultural, a prática do ato infracional não pode ser concebida como estando circunscrita no campo dos determinantes biológicos. Não se trata, portanto, de apelar ao inatismo e à consequente patologização da ação delituosa. Ao contrário, as reflexões sobre a entrada e permanência no universo de transgressão sociolegal devem ser referenciadas no campo das relações sócio-históricas e culturais nas quais os sujeitos se constituem de forma dialética, ativa.

Não há, portanto, a concepção de que o sujeito que infraciona é pas- sivo e determinado por fatores inatos no desenvolvimento de suas práti- cas. Ele se constrói nas relações sociais. Logo, suas motivações derivam da dinâmica dialógica e relacional capaz de engendrar elementos constituin- tes dos sentidos produzidos por cada sujeito. Para González Rey (2004) a categoria do sentido subjetivo se associa a um conjunto de experiências tanto objetivas quanto subjetivas e que se integram na constituição dos sentidos. Entretanto, o autor adverte que estes sentidos não podem ser tomados como um reflexo direto de tais experiências.

Pode-se perceber que na construção subjetiva sobre os motivos que poderiam tê-lo encaminhado ao universo infracional, o jovem vai tecendo hipóteses e elaborando teorias sobre como deveria se comportar ou quais

decisões foram necessárias ser tomadas diante dos desafios impostos pela vida.

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Violência intencional entre