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5 ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DA CADEIA DE POLPA DO AÇAÍ

II. Percepções dos agentes do elo de processamento

5.3 ALGUMAS PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS E ESTRATÉGICAS

Após a análise dos fatores de competitividade, observou-se que existem pontos críticos que podem ser objetos de proposições que melhorem a competitividade da cadeia de polpa do açaí no nordeste paraense. Com base nas entrevistas com os agentes e das análises dos direcionadores de competitividade, seguem algumas sugestões de políticas públicas e estratégias privadas, em ordem de prioridades:

1. Infraestrutura de transporte. O aumento de competitividade da cadeia de polpa do açaí depende muito de decisões e investimentos dos governos locais, isto é, das prefeituras dos principais municípios, na de melhoria da infra-estrutura dos principais portos e pólos comerciais.

2. Demanda institucional. As prefeituras podem utilizar recursos destinados à merenda escolar para aquisição de produtos do açaí.

3. Cooperativismo. Outra ação seria na capacitação desses produtores para o cooperativismo ou associativismo, a exemplo do que existe em algumas comunidades como em Cametá, Igarapé-Miri, Tomé-Açu e Barcarena. Com essas medidas, a cadeia ganharia competitividade, com melhor governança e menores custos, seja na produção seja na comercialização. O fortalecimento de organizações de produtores pode permitir o avanço em direção à comercialização conjunta do fruto, permitindo ganhos de escala, menores custos e melhores preços, inclusive o rastreamento do fruto. Isto é, o impacto seria muito positivo para a competitividade da cadeia em termos de estrutura de governança e coordenação, bem como no ambiente institucional.

4. Regularização fundiária. Os governos, federal e estadual, poderiam acelerar suas políticas de regularização de titulação de terras nas principais áreas produtoras de açaí, de várzea e de terra firme. É importante atentar para a proteção das populações já estabelecidas, evitando um processo de especulação no mercado de terras que induza a migração e/ou o desaparecimento dos açaizais. A segurança jurídica permitiria maior acesso ao crédito e maior disposição para realização de investimentos de longo prazo

na atividade. Os conflitos em torno da posse de terras seriam reduzidos, favorecendo positivamente a competitividade da cadeia.

5. Assistência técnica. A assistência técnica, seja da esfera pública ou particular, deve ser expandida, priorizando-se a difusão de técnicas de manejo sustentáveis, tais que aumentem a produtividade e estabeleçam condições para se obter certificação de qualidade e o próprio rastreamento do produto. Tratam-se de medidas importantes para ampliar a participação dos produtos da cadeia tanto no mercado nacional quanto no mercado externo.

6. Fiscalização. É extremamente recomendável que a vigilância sanitária (federal, estadual ou municipal) intensifique as ações para que produtores adotem melhores práticas de coleta e manuseio do fruto, bem como intensifiquem as fiscalizações nas atividades de processamento. Tais ações podem coibir as fraudes na produção da polpa e eliminar a produção clandestina. Para tanto, se faz necessário investimentos na infra- estrutura dos órgãos responsáveis pela vigilância sanitária.

7. Sazonalidade. Estimular a produção do açaí, em várzea e em terra firme, seria uma importante estratégia para reduzir a sazonalidade da oferta do fruto no Pará. Com isso, poderia ser evitada a perda da parcela de mercado para outras regiões. Além disso, permitiria reduzir os custos da ociosidade na entressafra.

8. Crédito. Para fortalecer a produção nas duas áreas, o crédito é sem dúvida um dos principais instrumentos de políticas, principalmente para a produção em terra firme, cujos custos de produção são mais elevados. As instituições de crédito e as assistências técnicas poderiam se articular com os governos e organizações locais no sentido de criar melhores condições de acesso ao crédito. Dentre as medidas estariam o próprio avanço na regularização dos títulos de propriedade, mas também auxílio aos produtores na obtenção de outros documentos, nos projetos e na construção de formas alternativas de colateral para concessão de crédito.

9. Assimetria de informações. Notou-se que há opiniões divergentes entre os agentes, em grande medida determinadas por assimetria de informação. A realização de encontros e/ou reuniões entre líderes da cadeia, tais que representassem seus distintos elos e grupos de interesse seria um grande passo para reduzir a assimetria de informações e discutir novos modelos de parcerias. Tais eventos poderiam ensejar na criação de grupos de trabalho permanentes para tratar dos fatores críticos da competitividade da cadeia. Com essa estratégia os agentes poderiam iniciar uma nova configuração da governança da cadeia que poderia ter um grande impacto positivo na competitividade.

10. Difusão de boas práticas. Os batedores artesanais de açaí são importantes agentes na cadeia. A associação dos vendedores artesanal de açaí de Belém poderia intensificar suas ações, visando difundir a adoção das boas práticas de higiene, bem como avançar na identificação de soluções sustentáveis para o uso e/ou descarte do resíduo proveniente do processo de despolpamento, especialmente o caroço.

11. Pesquisa e desenvolvimento. Por fim, os centros de pesquisas como EMBRAPA, universidades e outros tipos de organizações, por meio de suas estruturas, poderiam intensificar pesquisas na referida cadeia e apoiar dentro das suas competências os outros agentes da cadeia. As próprias empresas de processamento poderiam realizar P&D para solucionar gargalos tecnológicos utilizando recursos próprios, utilizando os benefícios da lei de incentivos à inovação e recursos públicos destinados a essa finalidade (tal como os recursos sob gestão da FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos).