• Nenhum resultado encontrado

4 A CADEIA PRODUTIVA DA POLPA DO AÇAÍ

4.6 AMBIENTE INSTITUCIONAL

4.6.4 Instituições de pesquisas

O fruto açaí passou a ser estudado mais intensivamente e de forma científica pelas mais variadas instituições de pesquisa, desde o início de sua valorização pelo mercado nacional e aumento de produção, na década de 90. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA Amazônia Oriental e a Universidade Federal do Pará - UFPA têm pesquisado desde a semente do açaí até as propriedades alimentares do fruto e os benefícios para o consumidor final. O foco principal tem sido o elo de produção, com o intuito de não apenas melhorar a produção do fruto como também de melhorar a qualidade de vida nas comunidades produtoras.

A Embrapa destaca-se nas pesquisas sobre manejo dos açaizais, tendo difundido inovações que aumentam a produção. O projeto chamado de Cultivar BRS Pará é um dos principais da Embrapa, lançado em novembro de 2004 e caracterizado pelo melhoramento das sementes do açaí. Segundo Oliveira e Farias Neto (2004) esse tipo de semente foi obtido por três ciclos de seleção fenotípica praticados na coleta, na coleção de germoplasma e em um campo isolado. Na coleta, a seleção foi efetuada em matrizes de 16 locais dos Estados do Pará, Amapá e Maranhão, e envolveu diversas plantas, das quais foram selecionadas 134, por apresentarem características desejáveis para a produção de frutos.

A pesquisa acima propiciou uma coleção de trabalhos em área de terra firme, em Belém, PA, constituída por 849 plantas. Nessa área, foram selecionadas 25 touceiras com base na produção de frutos. Seus frutos foram colhidos para a instalação de dois campos de produção de sementes: um no município de Santa Izabel e outro em Belém. Ambos em condições de terra firme. Nesses locais, transformados em área de produção de sementes básicas, foram eliminadas as plantas com desenvolvimento vegetativo inferior e aquelas sem perfilhamento. As principais características do Cultivar BRS são: bom perfilhamento, precocidade de produção, boa produção de frutos, frutos de coloração violácea e bom rendimento da parte comestível (15% a 25%). Após o plantio normal de uma palmeira, a

média inicial de produção de frutos é de 3 a 4 anos, com produção de 2,5 a 3,5 toneladas por hectare. Com sementes selecionadas pela Embrapa, a produção inicial passou a ocorrer entre 2,5 a 3 anos, com rendimento de 3 toneladas por hectare.

Outra iniciativa de pesquisa foi a da UFPA, com o Projeto Açaí, criado em 1999 e instalado em Igarapé-Miri, município de 60 mil habitantes a 75 quilômetros de Belém (PA). A União Européia destinou 2 milhões de euros para o projeto. Ele foi desenvolvido pelo Núcleo de Ação para o Desenvolvimento Sustentável do programa Poema – Pobreza e meio Ambiente na Amazônia, uma organização da sociedade civil que viabiliza as ações sociais e meios ambientais. Inicialmente o projeto reuniu 17 famílias ribeirinhas que viviam basicamente da extração do açaí, madeira e cultivo da mandioca. Tratava-se de exploração extrativista e desordenada, que conduzia a palmeira para a extinção devido à derrubada aleatória para a venda do palmito. O projeto previa melhorar a produção e iniciar o processamento do fruto açaí pela comunidade local. Foi então criada a Cooperativa Agro- industrial dos Moradores e Produtores Rurais de Igarapé-Miri – COOPFRUT, obtendo-se crédito para instalação de uma fábrica no valor de R$271 mil. Os recursos foram financiados pelo Fundo Constitucional do Norte (FCN) e acabou beneficiando 260 famílias e 17 comunidades que produzem o açaí (Agência Brasil, 2003).

No elo de processamento do fruto, a Universidade Federal do Pará - UFPA e a Universidade Estadual do Pará – UEPA capacitam mão-de-obra para as unidades de processamento da região, colocando no mercado de trabalho profissionais das seguintes áreas: engenheiros de produção, engenheiros ambientais, tecnólogos em alimentos e bioquímica.

4.6.5 Tributação

No elo de produção, a venda do fruto in natura é isenta de impostos, tanto na esfera federal, quanto estadual e municipal. As cooperativas são isentas na esfera federal (PIS, COFINS, IRPJ e CSLL) e aproveitam das regras estaduais e municipais de isenção sobre o fruto.

No elo de processamento do fruto, ocorre o início dos pagamentos normais dos tributos, onde na esfera federal tem-se: PIS, COFINS, IPI, IRPJ E CSLL.

Já no âmbito estadual, em 4.04.1995 através do Convênio ICMS 08/95, o Estado do Pará aderiu o Convênio ICMS 66/94 de 30/07/1994 do CONFAZ que autoriza os Estados do

Acre, Amazonas e Rondônia a conceder isenção do ICMS nas operações com polpa de cupuaçu e açaí.

Vale destacar que, no caso do Pará, e destes dois produtos, a isenção tratada no artigo 22º do Anexo II do RICMS/PA, era válida tanto para operações internas como também para

operações interestaduais.

No entanto, no Estado do Pará, com o Decreto nº 1.391, de 11 de setembro de 2015, restringe-se a isenção da polpa de açaí e de cupuaçu apenas nas operações internas, passando as mesmas a serem tributadas normalmente nas operações interestaduais. Com isso onerou- se o elo de processamento do fruto, uma vez que surge uma obrigação tributária de 12% de ICMS quando a venda da polpa é feita para fora do estado. Todavia, uma cota parte do referido imposto é repassado aos municípios de origem, permitindo que esses recursos possam ser empregados em melhorias na cadeia produtiva do açaí, como em construções de pontes e pavimentação de estradas, assim como em assistência técnica ou social.

Já no cenário da exportação, o Estado do Pará segue a Lei Complementar Nº 87/1996 que isenta o pagamento de ICMS sobre as exportações de produtos primários e semi- elaborados ou serviços (Art. 3º II). Trata-se de um incentivo para os exportadores.

4.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

As descrições desenvolvidas nesse capítulo permitiram compreender vários aspectos do funcionamento da cadeia da polpa de açaí, onde os elos de produção e o de processamento foram os mais explorados, face o foco de pesquisa definido na metodologia de trabalho.

Vale ressaltar, as principais características identificadas da cadeia, como por exemplo, a alta perecibilidade do fruto e a precária infraestrutura de acesso as áreas de produção; a questão de propriedade da terra e localização; a tradicional atividade do peconheiro; a assimetria de poder de mercado entre associações, cooperativas, agroindústrias processadoras e produtores; a variada modalidade de transações; a ociosidade da indústria no período da entressafra; o armazenamento e o transporte e os problemas fitossanitários com a doença de chagas.

Dessa forma, de acordo com a metodologia proposta, os principais fatores de competitividade serão melhores identificados e analisados, no próximo capítulo.