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4 A CADEIA PRODUTIVA DA POLPA DO AÇAÍ

4.6 AMBIENTE INSTITUCIONAL

4.6.3 Aspectos das transações

Nos açaizais, uma das transações mais freqüentes ocorre entre o proprietário do açaizal, o caboclo que realiza o manejo do açaizal, e o peconheiro (escalador da palmeira). O proprietário da produção pode ser: o proprietário legal da terra que têm título definitivo; um arrendatário; um parceiro (parceria com quem possuí área de açaizal), um ocupante de área sem qualquer posse legal, mas exerce a atividade extrativista de açaí; e um extrativista que entra no meio da mata e explora a atividade sem autorização alguma e em diversas áreas de forma aleatória. De acordo com IBGE, esse último se enquadra na nomenclatura de sem terra, isto é, explora a atividade sem autorização em áreas alheias ou em terras da união.

A atividade da extração do açaí é exercida pelo peconheiro ou coletador de açaí. Trata- se de uma tarefa remunerada que pode ser paga em função da produção ou por contrato de meia. Na modalidade por produção, o proprietário do açaizal paga por rasa cheia ou 15 quilos do fruto uma determinada quantia. No contrato de meia, o proprietário do açaizal concede permissão para o peconheiro coletar o açaí e, no final, as rasas são divididas meio a meio. Outras possibilidades são o arrendamento da propriedade e a meação. No arrendamento rural é estipulado um valor fixo a ser pago ao proprietário da área de produção. Na meação, o proprietário cede o açaizal para o cultivo, onde o meeiro se responsabiliza pelas despesas e no final da coleta, a produção é dividida meio a meio (CORRÊA, 2010).

A Figura 12 apresenta os fluxos da produção de açaí. Nessa figura, os produtores e/ou extrativistas foram agrupados em três grupos:

a) produtores e/ou extrativistas individuais sem vínculo com associações ou cooperativas, que levam os frutos para serem comercializados nos mais diversos municípios nas feiras de açaí;

b) produtores e/ou extrativistas com vínculo com associações e cooperativas, que comercializam sua produção total ou parcial por meio dessas organizações;

c) produtores e/ou extrativistas que vendem diretamente para as empresas de processamento, com ou sem contrato formal.

Partindo desses três grupos, foram identificados sete destinos da produção, conforme Figura 16:

Destino 1 (D1) – de todos os Produtores, parte da produção é destinada ao próprio consumo do produtor e parentes;

Destino 2 (D2) – de produtores associados/cooperados, uma parte da produção destina-se às associações ou para cooperativas locais que realizam o despolpamento do fruto (D2a); outra parte destina-se a intermediários (D2b);

Destino 3 (D3) – de produtores associados/cooperados, uma parte da produção destina-se às associações ou para cooperativas locais que vendem o produto para a indústria de processamento de polpa;

Destino 4 (D4) – de produtores com vínculo da indústria, a produção é vendida diretamente para a indústria, sem a presença dos intermediários;

Destino 5 (D5) – de produtores sem vínculo com a indústria, a produção é vendida diretamente para a indústria, sem a presença do intermediário;

Destino 6 (D6) – de produtores sem vínculo, a produção é vendida para atravessadores ou intermediários, conhecidos localmente como marreteiros, com o propósito de revenderem o fruto nos pólos comerciais ou nas feiras de açaí ou para a indústria de processamento localizada em áreas mais distantes da área de produção;

Destino 7 (D7) – Produtores sem vínculo, a produção é vendida diretamente nos pólos comerciais ou em feiras de municípios vizinhos para o abastecimento local.

Figura 16 – Fluxo dos destinos da produção de açaí

Fonte: Elaborado a partir de Canto (2001); Nogueira et al (2005); Corrêa (2010); Relatório IDESP (2012); Batista (2013) e visitas de campo.

Após a produção ser vendida pelo produtor, tem-se as transações que são realizadas pelos intermediários, inclusive nos entrepostos comerciais do açaí. Os intermediários revendem o produto nos pólos comerciais ou para a indústria de processamento (ver na Figura 16, Venda 1 – V1), obtendo comissões que variam de 10 a 30% do preço do açaí. Nos pólos comerciais, o fruto pode ser comprado pelas indústrias processadoras e pelos batedores artesanais de açaí ou amassadeiras (Compra 1 – C1 e Compra 2 – C2). Em grande medida, essas transações ocorrem de maneira informal, sem contratos escritos, onde a reputação de compradores e vendedores é primordial.

Nos estudos de Canto (2001) e Corrêa (2010) ficou evidenciado que mesmo os produtores que fazem parte de alguma associação ou cooperativa, em momentos de maior necessidade financeira, acabam vendendo parte de sua produção para terceiros com o fim de obter preço melhor de mercado.

O preço da polpa do açaí eleva-se na entressafra, assim como a maioria dos produtos agropecuários. Existe a hipótese de que essa elevação tem se tornado maior em razão da crescente demanda por parte da indústria processadora de polpa, que precisa cumprir os contratos com os clientes. Estudos futuros poderão investigar essa questão.

É importante ressaltar que existem indústrias localizadas em outros estados que compram a produção de açaí do Pará. Como exemplo tem-se as empresas Petruz Fruit e a Amazon Polpas. A Petruz tem a matriz no Pará e possuí fábrica em Santana no Amapá, onde remete parte de sua produção oriunda do Pará. A empresa SAMBAZON, apesar de ter sua unidade de processamento instalada em Santana no Amapá, compra a maior parte de sua produção na região nordeste paraense. Os municípios de Afuá e Chaves, localizados no nordeste paraense, são os principais fornecedores do fruto açaí para o estado do Amapá.

Os municípios que estão localizados na região nordeste paraense são de difícil acesso e boa parte dos produtores não são detentores de meios de transportes. Tal situação coloca-os sob pressão na hora de realizar a venda, principalmente para os poucos intermediários locais. Os produtores que estão localizados mais próximos dos centros urbanos e de portos, bem como da capital do Estado Pará, realizam a venda direta da produção em feiras, com maior poder de barganha.

Na capital paraense a venda de açaí é realizada em grande volume na feira do açaí (localizada nas proximidades do Ver-o-Peso) e no porto do açaí (localizado na Estrada Nova).

Na região nordeste do Estado e no chamado Baixo Tocantins, foram identificados os seguintes locais de comercialização:

Município de Abaetetuba = recebe a produção via barco das áreas do Furo Gentil,

Campopema, Maracapucu e Fátima.

Município de Barcarena = recebe a produção via barco e caminhão das áreas de Trambioca,

Ilha das Onças, Tapuá, Cafezal e Arapari.

Município de Cametá = recebe a produção via barco das áreas de Joroca Grande, Cacoal,

Paruru, Juba, Ilha Grande e Mendaruçu.

Município de Igarapé-Miri = recebe a produção via barco das áreas de Cagi, Salento,

Murutipucu, Mauiata e Açaí.

A Vila de Carapajó é estratégica para o escoamento da produção de açaí em função do acesso terrestre através da PA 151, distante aproximadamente 4 horas da capital paraense, conforme a Figura 17.

FIGURA 17 - Mapa de localização da Vila de Carapajó

Fonte: Google Maps

Na entressafra, a indústria processadora de polpa de açaí realiza não apenas transações nas feiras de açaí localizadas nos municípios paraenses, mas também em outros estados, como o Amazonas, Amapá e o Maranhão, face à escassez do produto. Conforme já apontado, as

empresas processadoras necessitam buscar fornecedores adicionais para cumprir acordos comerciais com seus clientes de outros estados da federação e do exterior. As empresas procuram reduzir a sazonalidade da produção de polpa e ter estoques disponíveis.

Observou-se que as unidades de processamento localizadas mais próximas da produção encontram-se em vantagem em relação às mais distantes, dada a alta perecibilidade do fruto.

As variações nos preços do açaí pagos aos produtores ocorrem em função, principalmente, da oferta local e da distância do mercado consumidor. As associações, cooperativas e empresas de processamento possuem maior poder de mercado do que os produtores, exercendo forte influência na formação do preço (CORRÊA, 2010). Na safra, o preço de "abertura", o primeiro preço do dia, é sempre o último praticado no dia anterior, com a chegada de barcos carregados de frutos esse preço pode começar a cair, dado o aumento da oferta. Já na entressafra, o preço do fruto sobe consideravelmente, face à escassez do fruto, podendo aumentar até 100%.

Na Figura 14 apresenta-se o fluxo entre a indústria, distribuidores e mercado interno e externo. A indústria de processamento do fruto açaí, na sua grande maioria dentro do Pará, tem como produto final a polpa de açaí, poucos são os casos de indústrias que diversificam a produção em cremes, sorvetes, mix, etc.

FIGURA 18 – Fluxo entre a indústria, distribuidores e mercados interno e externo

Fonte: Dados da pesquisa

A polpa é destinada tanto para o mercado interno como para o mercado externo. Segundo dados do IDESP e SEDAP, 60% da produção é destinada para o mercado interno e 40% para o exterior. Essas transações são feitas entre as empresas processadoras e

distribuidores do fruto. Esses últimos são empresas atacadistas localizadas nos diversos estados do Brasil e trandings exportadoras.

Em estágio posterior da cadeia produtiva, a polpa de açaí passa por um segundo estágio de processamento em outras agroindústrias, em lanchonetes, supermercados, etc.. Até chegar ao consumidor final.