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Os dados quantitativos apresentados foram obtidos a partir dos registros nas planilhas de prestação de contas pelas gestoras municipais e cedidas pelo Ceprosom. Com o intuito de ter acesso a dados mais consolidados do desenrolar da política, a análise se deu mais especificamente sobre os últimos seis meses do projeto, de junho a novembro de 2016. Com base nesse momento, foi possível observar quais foram os produtores que conseguiram atingir a cota ao final do PAA e quais não conseguiram, o que balizou a entrevista coletiva, em termos de dificuldades para ter uma produção diversificada.

Ao final do caminho do alimento, esse levantamento também se mostrou útil para nortear a conversa no grupo focal com as famílias, tentar trazer os alimentos produzidos mais recentemente à conversa e assim rememorar um pouco do que ocorreu na política pública. Pois, diferentemente da maneira com a qual o campo aconteceu com as gestoras, com esses dois outros eixos (Produção e Distribuição) a coleta de dados foi posterior ao término do “Cestas Verdes”.

Para a apresentação dos gráficos a seguir, foram separados os alimentos entre frutas, raízes e legumes (o que incluiu a mandioca), verduras (todas as folhas produzidas) e leguminosas, sendo essa última sem produção

no acampamento, apesar de constar na lista dos alimentos previamente acordada no projeto.

Gráfico 1 – Frutas mais produzidas nos últimos seis meses/kg.

Como podemos observar acima, entre as frutas mais produzidas nos últimos seis meses, bananas nanica e da terra despontam. Ao longo dos outros meses, outras frutas apareceram, como limão e abacate. A própria lista proposta contemplava certa gama de variedades de frutas, no entanto, aos olhos das famílias não pareceu suficiente. O anseio maior das pessoas ouvidas nos grupos focais era de oferecer mais frutas.

As frutas são alimentos que costumam dar mais trabalho para cultivar, precisam de um planejamento, pois demoram mais até o ponto de venda e dão perdas por conta de insetos e concorrência com outros animais quando se tem uma produção sem veneno, como no acampamento.

Aqui, enquanto dado preliminar de análise do campo, podemos afirmar que as duas pontas não conseguiram um diálogo melhor a respeito da lógica de oferta e demanda. No capítulo a seguir, veremos para a gestão como foi muito novo trabalhar nesses moldes, com inúmeros desafios ao longo do PAA, por isso também a dificuldade de ajudar a alinhar a produção com a demanda das famílias. Por isso também esta pesquisa se apresenta como uma análise da política pública, para que essas questões possam vir à tona com a importância que merecem.

Gráfico 2 – Raízes e legumes mais produzidos nos últimos seis meses/kg.

Gráfico 3 – Verduras mais produzidas nos últimos seis meses/kg.

O trabalho agrícola como um todo preconiza um cuidado diário e de muita atenção com a produção, não somente com relação ao pomar. Se

observarmos as raízes e legumes que foram mais produzidos nos últimos seis meses no gráfico acima, podemos ver que a raiz de mandioca era o alimento mais produzido, disparado, bem como ao longo de todo o projeto.

Alguns agricultores não residem no acampamento, moram no centro de Limeira, ou mesmo em outras cidades da região. Isso não deslegitima, contudo, sua identidade rural e o vínculo que estabeleceram com o quinhão de terra que lhes pertence no acampamento. Assim, para viver ainda se faz necessário outros tipos de trabalho, outro arranjo na vida que transborda os limites daquela terra. Dadas às condições do acampamento, sem energia elétrica instalada e sem água encanada, é compreensível o esforço que fazem para produzir o que produzem, mesmo que a venda ainda seja insuficiente para que vivam apenas disso. No entanto, ficam prejudicados, de certa forma, a horta, o pomar e as “Cestas Verdes” por consequência. A presença marcante da mandioca está na hipótese de que é uma raiz de fácil manuseio e pouca manutenção, ao contrário das frutas, como já dito.

Já as verduras e as folhagens verdes, tiveram destaque a chicória e a couve, com um pico considerável em agosto de mais de uma tonelada de chicória apenas. No inverno, especificamente para as verduras, o plantio fica mais fácil porque não tem tantos insetos para danificar as folhas, e caso não tenha nenhum frio extremo, a produção não sente tanto e é possível ter um bom retorno.

A respeito dos agricultores, alguns números que pudemos observar é que dos 53 cooperados que participaram do projeto e tinham seu nome na lista de prestação de contas, apenas 36 apresentaram ao final do projeto um saldo maior que R$4000, ou seja, mais da metade dos agricultores não conseguiu vender metade da cota. Entre esses, cinco produtores permaneceram com o saldo inicial de R$8000. E apenas 17 agricultores tinham ao final o saldo menor que R$4000,00, ou seja, conseguiram vender metade ou mais do valor da cota para os dois anos de projeto. Como apontamos acima, a vida desses trabalhadores e trabalhadoras rurais não está concentrada apenas no acampamento. Por infortúnio, como pude ouvir, ainda não conseguem viver apenas do trabalho com a terra e o esforço para ganhar o sustento fica difuso

em outras atividades. Essa pode ser uma das hipóteses explicativas para o baixo alcance das cotas por parte dos cooperados.

A análise descritiva desses dados quantitativos foi importante para elencar alguns agricultores para conversar a respeito da experiência deles no PAA em Limeira, conforme veremos a seguir. No entanto, apesar de ter sido pensada a amostra com o intuito de ouvir vozes com diferentes experiências (homens e mulheres; produtores que atingiram e produtores que não atingiram a cota), essa parte da coleta de dados acabou acontecendo de outra forma.