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CAPÍTULO III: A BASÍLICA ABACIAL DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO

ANJO PORTADOR DE IMAGEM

3.5. ALTARES LATERAIS DA BASÍLICA ABACIAL

A Basílica apresenta seus altares laterais à esquerda da entrada principal (E), onde se encontram os altares de Santa Gertrudes, São José e Nossa Senhora da Conceição. À direita da entrada (D), se encontram os altares de São João Batista, Santa Ana e São Bento. Do lado esquerdo existeo altar do Sagrado Coração de Jesus que Dom Miguel Kruse construiu em agradecimento ao fato da Igreja e do Mosteiro terem sido poupados durante a Revolução Constitucionalista de 1924, quando “a cidade de São Paulo foi submetida por 29 dias e 29 noites” (VIGNA, 2007, p. 41) por bombardeios.

O tom avermelhado predomina na ornamentação, que pode ser observado em Beuron no trabalho decorativo da Capela da Graça(figuras 65). O lírio,flor muito usada na ornamentação

beuronense, representam a pureza. E também são utilizados em arabescos orgânicos. A lanterna destes altares se assemelhava a do estudo de Lenz para Monte Cassino (figura 12 e 13).

O conjunto visual dos altares laterais é oriental (figura 76 e 77), pois, o nicho em que se encontram as imagens possui uma cobertura neste estilo. Este detalhe, somado à paleta vermelha com detalhes decorativos em dourado, as palmeiras pintadas sob o fundo vermelho e a abóboda azul, com estrelas douradas no teto da nave lateral, tornam o conjunto ornamental um cenário oriental que aponta para os povos antigos do deserto, e também, para os babilônios.

Na região dos altares laterais, na parede oposta ao altar principal e próxima à entrada da Basílica, existem duas pinturas murais, sendo que a da esquerda representa o tema de “Moisés e a Sarça ardente” (figura 78), enquanto que o da direita apresentava o tema do “Sonho de Jacó” (figura79). A “Sarça ardente”, no livro de Êxodos 3-4, narrou a visão que Moisés teve de Deus, no deserto, de uma sarça em chamas que não se consumia pelo fogo. A sarça ardente foi o chamado de Moisés para a vida espiritual. A sarça que arde sem se consumir é um símbolo da virgindade de Maria que se torna mãe de Jesus sem perder a virgindade.O “Sonho de Jacó” foi narrado no Livro de Gênesis 28. Deus visitou Jacó num sonho, dizendo que as

E D

E

Altares laterais da Basílica D- Lado direito

E- Lado esquerdo

141 terras em que ele dormia seriam dele e de seus descendentes. No sonho havia uma escada em que os anjos poderiam subir e descer aos Céus.

Segundo Alessandrini (2006, p. 117-119), a representação da “Sarça Ardente” e do “Sonho de Jacó” foi realizado pelo austríaco Thomaz Scheauchl, que foi quem decorou a Capela do Colégio São Bento, em 1937. A literatura não apontou Scheauchl como um dos autores da Basílica junto com Gresnicht e Frischauf, trata-se de um anacronismo na produção da igreja.

A produção da “Sarça Ardente” e do “Sonho de Jacó”(figura 78 e 79) segue a temática bíblica e se inseria no programa de Gresnicht. Ela se faz presente no fundo da nave lateral próximo a entrada. São duas pinturas discretas e pequenas, se forem comparadas com a magnitude do trabalho pictórico na Basílica, porém possuem seu espaço de diálogo com o público e transmitem sua mensagem de fé. Em 1937, período da pintura de Scheauchl para a Capela do Colégio de São Bento (figuras 80 e 81). Em outros locais de São Paulo, a “Arte Beuronense” floresceu na forma de pinturas murais. Scheauchl produziu estas duas pinturas para a Basílica, a ornamentação da Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Campinas - que foi demolida em 1956 -, a Capela do Colégio de São Bento e a igreja colonial de Nossa Senhora da Penha.

Os dois medalhões de Scheauchl dentro da Basílica se inserem num contexto de produção nitidamente beuronense. Na produção da ornamentação da Basílica, existiu a presença de um monge-artista com vinte anos de treinamento junto a Lenz. Ele produziu uma interpretação madura da “Escola de Arte de Beuron” acompanhado de seu aprendiz, que assim se designava, pois Frischauf não tinha debutado na “Escola de Beuron” e era subordinado a Gresnicht na hierarquia religiosa beneditina. Gresnicht debutou como artista beuronense em Monte Cassino, antes da vinda para o Brasil e era monge de Maredsous, enquanto Frischauf era irmão professo e era considerado por seus pares beuronenses como aprendiz de Gresnicht.

A pintura na porta de entrada da Capela do Colégio de São Bento e a área interna da Capela (figuras 81 e 82) possuem uma forte inspiração beuronense, um diálogo próximo a “Escola de Arte”, porém, não existem estudos que comprovem ser uma produção de Beuron. Justificando este argumento: Scheauchl não aparece nas literaturas sobre o tema e não era citado pelo estudioso de Beuron, Krins. O uso da paleta escolhida não apresentava proximidade com obras remanescentes de Beuron, bem como a composição cromática do conjunto da obra. A Teoria de Lenz não foi observada nesta produção, existe apenas a simetria, que em alguns momentos se fez presente. Não houve o uso dos cânones lenzianos, e

142 nem se percebe uma tradução técnica desua Teoria. Desta forma, a Capela do Colégio possui “inspiração beuronense”.

O mesmo ocorreu na Igreja de Nossa Senhora da Penha (figuras 82 e 83)executado por Scheauchl. A imagem de “Nossa Senhora entronada com o Menino Jesus” não tem similaridade com o cânone lenziano (figuras 35 e 36).A obra beuronense usava a paleta saturada e os tons pastel eram escassos: as cores tinham relevância na Teoria de Lenz, bem como na Arte Antiga. As obras de Scheauchl possuem uma inspiração beuronense que se mistura com as pinturas parietais do Romantismo Alemão e asigrejasbarrocas do sul da Alemanha. No entanto, não guardam as questões da Teoria Estética de Lenz e nem o artista possuía uma maturidade e vivência em Arte Beuronense, que lhe permitisse uma tradução da Teoria Lenziana, da qual o pintor poderia fazer uso da liberdade artística para expressar sua técnica numa interpretação do cânone.

Uma questão importante na produção beuronense era que, por se tratar de monges beneditinos, a temática da produção era ligada ao seu olhar para a religião e a Bíblia. A Teoria Estética de Lenz que foi usada na “Escola de Arte de Beuron” possuía este universo temático e de criação artística, que tornava a Arte Beuronense única por estas características de produção, e também a relação mestre-aprendiz, que no caso de São Paulo esteve presente na produção da Basílica. A Igreja de Nossa Senhora da Penha era diocesana e não beneditina, assim como a Igreja de São Geraldo das Perdizes.

A Igreja de São Geraldo das Perdizes foi pintada pelo paulista Salvador Ligabue (1905- 1982) que executou outras pinturas sacras em igrejas da capital. Em 1937, Ligabue trabalhou na ornamentação da Igreja de São Geraldo das Perdizes (figuras 84 e 85). O pintor desenvolveu pinturas murais de inspiração beuronense para a Diocese de São Paulo. As pinturas evocam a Capela do Santíssimo Sacramento que se localiza dentro da Basílica de São Bento (figuras 94 e 96). Estas pinturas foram realizadas por Dom Adelbert. Os anjos de Ligabue (figura 84) e o tema dos “Discípulos de Emaús” (figura 85) são uma intepretação do trabalho da Basílica.

Estes trabalhos aconteceram quinze anos após o término da Basílica. Mais do que justificar a linhagem destas produções com as aproximações e distanciamentos de Beuron, é importante verificar a recepção positiva que a Arte Beuronense teve na cidade de São Paulo. Do mesmo modo, é fundamental entender que este modelo artístico reverberou em outros locais fora da comunidade beneditina. A recepção da produção visual da Basílica de Nossa Senhora da Assunção possuiu aceitação positiva na comunidade paulistana gerando traduções das imagens da Basílica Beneditina.

144 Figura 76 – Vista dos altares laterais

Fonte: YANG, K. Fotografia colorida, 30 out. 2015.Acervo da autora. Figura 77 – Altar de São Bento

145 Figura 78 – Pintura mural: “A sarça ardente”

Fonte: VIGNA (2007, p.42). Fotografia colorida [s.d.] Figura 79 - Pintura mural: “O sonho de Jacó”

146 Figura 80 – Altar da Capela do Colégio de São Bento

Fonte: MOSTEIRO DE SÃO PAULO. Fotografia colorida, [s.d.].Acervo do Mosteiro de São Paulo, SP. Disponível em: <https://www.facebook.com/mosteirosp/photos>. Acesso em: 09 jun. 2016.

Figura 81 – Capela do Colégio de São Bento

Fonte: MOSTEIRO DE SÃO PAULO. Fotografia colorida, [s.d.].Acervo do Mosteiro de São Paulo, SP. Disponível em: <https://www.facebook.com/mosteirosp/photos>. Acesso em: 09 jun. 2016.

147 Figura 82 – Nossa Senhora Entronada e o Menino Jesus

Fonte: Yang., K. Fotografia colorida, 25 nov. 2015. Acervo da autora. Figura 83 - Natividade

148 Figura 84 – Anjo de inspiração beuronense

Fonte: Yang, K. Fotografia colorida, 30 set. 2015. Acervo da autora. Figura 85 – Os Discípulos de Emaús – inspiração beuronense

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