4 ANÁLISE DA SUBSISTÊNCIA OU NÃO DO EFEITO SUSPENSIVO DOS
4.2 ALTERAÇÃO PROMOVIDA PELA LEI Nº 11.382/2006 NO CAPUT DO ART.
Com esta nova sistemática prevista pelo Código de Processo Civil, referente aos embargos à execução, tornaram-se totalmente independentes as ações de execução e os embargos do executado.5 Diante desta reformulação, a execução permanece com seu curso autônomo paralelamente aos embargos, dando-se continuidade a todos os atos executivos até o cumprimento da obrigação, independente de decisão final do processo dos embargos.
Não obstante, os embargos à execução fiscal, como todos os tipos de embargos à execução antes da vigência da lei supramencionada, eram recebidos, de praxe, no efeito suspensivo. Entretanto, com as recentes alterações no Código de Processo Civil, o efeito suspensivo virou exceção à regra.6
Nos dizeres de Machado, os embargos à execução não produzem mais o denominado efeito suspensivo automático no âmbito da execução regulada pelo Código de Processo Civil. Aliás, a atribuição de efeito suspensivo aos embargos passou agora a depender
4 “Art. 739-A. [...] § 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos
quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.” Cf. BRASIL. Lei nº 11.382, de 06 de dezembro de 2006, loc. cit.
5 JUNIOR, Nelson Nery; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado. 10. ed. rev.
atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2008, p. 1081.
6 MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de processo civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo
de decisão do juiz da causa, tendo tal decisão caráter de medida cautelar incidental.7
Com efeito, pode se dizer então, que a suspensão dos embargos agora é a exceção, ocorrendo somente mediante autorização expressa do juiz, após o requerimento da parte embargante, e preenchido os requisitos previstos no parágrafo 1º do artigo 739-A do Código de Processo Civil:
Art. 739-A. Os embargos do executado não terão efeito suspensivo. §1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.8
Nesses termos, o juiz, apreciará a relevância da fundamentação dos embargos e o perigo de danos graves de difícil ou incerta reparação, caso a execução prossiga, assim como dispõe o art. 475-M do CPC.
Art. 475-M: A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação.
§ 1o Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exeqüente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos.
§ 2o Deferido efeito suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos próprios autos e, caso contrário, em autos apartados.
§ 3o A decisão que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo de instrumento, salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá apelação.9
Logo, presentes esses requisitos, cabe ao juiz conceder o efeito suspensivo, caso ausente, cumpre-lhe negá-lo. Trata-se de decisão provisória, que poderá ser modificada a qualquer tempo, a requerimento do exequente, desde que não mais subsistam as razões para a manutenção da suspensão.10
Esta decisão que concede ou nega a suspensão, deve ser fundamentada e será passível de recurso de agravo de instrumento.11 Já, nos casos de rejeição liminar dos embargos, o remédio jurídico a ser utilizado será o recurso de apelação, com a disciplina do artigo 296 do CPC, sendo esta regra a mesma aplicável nos casos de indeferimento da liminar.12
7
MACHADO, Hugo de Brito. Embargos à execução fiscal: prazo para interposição e efeito suspensivo. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, SP, n. 151, p. 54. abr. 2008b.
8 BRASIL. Lei nº 11.382, de 06 de dezembro de 2006, loc. cit. 9 BRASIL. Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, loc. cit.
10
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade, 2008, p. 1082.
11 ASSIS, 2009, p. 505.
Ressalta-se que no caso em tela, é incabível a interposição de agravo retido, pois nos dizeres de Wambier: “seria um absurdo apenas no momento em que o processo de embargos já estivesse em fase de apelação vir a se decidir se a execução deveria ou não ter ficado suspensa no passado.”13
Embora o art. 475-M não disponha sobre a garantia do juízo no caso de interposição dos embargos, razões de ordem sistemática também impõem a sua adoção para a concessão de efeito suspensivo à impugnação. Não obstante a impugnação possa ser apresentada sem a prévia segurança do juízo, a concessão de efeito suspensivo depende, ao menos em princípio, da existência da penhora.
Neste diapasão, em casos excepcionais, pode o juiz, a partir dos direitos fundamentais processuais, dispensar a prévia garantia para conceder efeito suspensivo aos embargos, analisando cada caso específico.14
O exequente poderá requerer o prosseguimento da execução oferecendo caução suficiente e idônea, a ser arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos, destinada a reparar eventual dano que possa ser sofrido pelo executado, e ainda, desde que seja ressarcível no caso de procedência da ação de embargos, conforme prevê o art. 475-M, §1º do CPC, supracitado.15
Cumpre esclarecer, que, caso a garantia do juízo não se refira à totalidade do crédito exequendo, ocorrendo desta forma, a garantia parcial, o remanescente da execução prosseguirá sem qualquer efeito suspensivo e de forma imediata.16
Mesmo quando atribuído efeito suspensivo aos embargos, é possível que se promova a penhora e a avaliação eventualmente ainda não realizadas, conforme exposto no §6º do art. 739-A do CPC.17 Isso quer dizer que, a suspensão da execução propiciada pelos embargos diz respeito apenas aos atos posteriores à penhora e avaliação, que são basicamente os atos da fase expropriatória.18
Diante de todo o exposto, com a incidência das novas regras entabuladas pela Lei nº. 11.382/2006 ao processo de execução, a referida lei teve como objetivo à satisfação do
13 WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007-2008, p. 435.
14 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008. p. 308.
15ASSIS, 2009, p. 505.
16 FIDA; ALBUQUERQUE, 2003, p.134.
17 “Art. 739-A […] §6º. A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de penhora e de
avaliação dos bens.” Cf. BRASIL. Lei nº 11.382, de 06 de dezembro de 2006, loc. cit.
18 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 11. ed. rev., atual. e
credor frente ao devedor, de modo a fazer com que o instrumento processual traga resultados efetivos, sem que haja protelamento da ação, salvo nas hipóteses previstas em lei.