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Origem do efeito suspensivo nas execuções fiscais

No documento Execução fiscal (páginas 64-67)

4 ANÁLISE DA SUBSISTÊNCIA OU NÃO DO EFEITO SUSPENSIVO DOS

4.4 EFEITO SUSPENSIVO NAS EXECUÇÕES FISCAIS

4.4.1 Incidência do caput do art 739-A do CPC à Execução Fiscal: posicionamentos

4.4.2.1 Origem do efeito suspensivo nas execuções fiscais

O processo de execução fiscal possui regramento próprio, sendo regido pela Lei de Execução Fiscal. A referida lei não alberga dispositivo a dizer expressamente que os embargos produzem efeito suspensivo.

Não obstante o art. 1º da LEF dispor sobre a aplicação subsidiária ao CPC, atenta- se ao fato de que não há subsidiariedade no tocante ao efeito dos embargos à execução, porque a aplicação do efeito suspensivo, antes da vigência da Lei nº. 11.382/2006, não era decorrente da aplicação da redação antiga do art. 739, parágrafo 1º do CPC51, mas sim da sistemática própria da execução fiscal.52

No entanto, em uma leitura sistemática de seus artigos 18, 19, 24, inciso I e art. 32, § 2º, resta esclarecido à ocorrência desse importante efeito dos embargos.53 Os referidos dispositivos estabelecem:

Art. 18. Caso não sejam oferecidos os embargos a Fazenda Pública manifestar-se-á sobre a garantia da execução.

Art. 19. Não sendo embargada a execução ou sendo rejeitados os embargos, no caso de garantia prestada por terceiro, será este intimado, sobre pena de contra ele prosseguir a execução, para, no prazo de 15 (quinze) dias:

I – remir o bem, se a garantia for real; ou

II – pagar o valor da dívida, juros e multa de mora e demais encargos, indicados na Certidão da Dívida Ativa, pelos quais se obrigou, se a garantia for fidejussória. [...]

Art. 24. A Fazenda Pública poderá adjudicar os bens penhorados:

I – antes do leilão, pelo preço da avaliação, se a execução não for embargada ou se rejeitados os embargos.

[...] Art. 32. [...]

§ 2º. Após o trânsito em julgado da decisão, o depósito, monetariamente atualizado, será devolvido ao depositante ou entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do Juízo competente.54

50 BRASIL. Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, loc. cit.

51 “Art. 739 - O juiz rejeitará liminarmente os embargos:[...] § 1º Os embargos serão sempre recebidos com

efeito suspensivo.” Cf. BRASIL. Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, loc. cit.

52

SIQUEIRA, Édison Freitas de; MELLO, Marco Aurélio Mendes de Farias. Do efeito suspensivo dos embargos à execução fiscal: e a necessidade do fiel emprego dos institutos, expressões e vocábulos no direito tributário . Porto Alegre: Imprensa Livre, 2010, p. 45.

53 MACHADO, Hugo de Brito. Aplicação Subsidiária do CPC às Execuções

Fiscais: Prazo para interposição e efeito suspensivo dos embargos. p. 6. Disponível em:

<http://www.oab.org.br/editora/revista/users/revista/1222959450174218181901.pdf >. Acesso em: 12 abr 2012.

Seguindo o raciocínio dos artigos supracitados, desde que interpostos embargos à execução fiscal, a manifestação do exeqüente, sobre a garantia ofertada, fica sobrestada, indicando que o processo executivo embargado é conduzido a um plano secundário em relação aos embargos, em caráter dependente e, conseqüentemente, de suspensão, ou seja, oferecidos os embargos, o processo de execução fiscal deve ficar suspenso.55

Consoante isso, ocorrendo à garantia da execução por terceiro, com a consequente oposição de embargos à execução, já ocasionaria na suspensão da execução fiscal. No tocante à adjudicação dos bens, o ato de satisfação pela Fazenda Pública sobre os bens penhorados somente pode acontecer se a execução não for objeto de embargos ou se estes forem rejeitados, condicionando-se à hipótese de rejeição dos embargos à execução, por força de existir efeito suspensivo atribuído, aos mesmos, pela Lei n.º 6.830/80. 56

Ademais, a suspensão da execução fiscal deve ser deduzida, além dos arts. 18 e 19 da LEF, mas também no sentido de que os embargos devem ser julgados antes da execução forçada, pois visam, justamente, à frustração de cobrança forçada e da aplicação subsidiária do art. 739-A do CPC, que regula o efeito dos embargos do devedor.57

Quando da menção da garantia prestada mediante depósito, conduz à constatação de que a sistemática prevista na Lei n.º 6.830/80 admite, com naturalidade, a atribuição automática de efeito suspensivo.

A partir da análise dos aludidos dispositivos, pode se dizer que não conferido o efeito suspensivo aos embargos, tão logo seja ajuizada a execução, proceder-se-á em regra, à penhora e à arrematação dos bens sem permitir que ocorra o exercício do contraditório por meio do devido processo legal. Logo, estar-se-á permitindo a expropriação do direito à propriedade, sem decisão judicial definitiva.58

Ao comentar estes dispositivos, Machado assevera:

A Lei 6.830/80 não alberga dispositivo a dizer expressamente que os embargos produzem efeito suspensivo. Entretanto, em seus artigos 18, 19, 24 e 32, § 2º, deixa bastante clara a ocorrência desse importante efeito dos embargos, o que nos autoriza dizer que no âmbito da execução fiscal a interposição de embargos do executado produz efeito suspensivo automático.59

Este também é o entendimento de Rodrigues: 55 CAIS, 2009, p. 533. 55 PACHECO, 2009, p. 567. 56 CAIS, 2009, p. 533. 56 PACHECO, 2009, p. 567

57 SILVA, Américo Luís Martins da. A execução da dívida ativa da fazenda pública. 2. ed. rev. atual. e ampl.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 566.

58 SIQUEIRA; MELLO, 2010, p. 35. 59 MACHADO, 2008a, p. 54.

A Lei é expressa em fixar regra pela qual a execução só terá prosseguimento se: (1) não for embargada; ou (2) se os embargos forem rejeitados. A partir da Lei 6.830/80 é possível construir norma pela qual a oposição de embargos, que não sejam rejeitados, é causa da suspensão do processo de execução.60

Ainda, Azevedo e Mitre posicionam-se:

Perseguindo na análise da Lei de Execuções Fiscais, importante ressaltar que seu artigo 21 possui notória incompatibilidade com a aplicação do artigo 739- A do CPC. Isso porque, caso os embargos, em regra, não tivessem efeito suspensivo, não haveria sentido algum em um dispositivo na LEF que tratasse de alienação antecipada de bens. Dessa forma, ou se entende que o artigo 739-A do Código de Processo Civil teria derrogado o artigo 21 da Lei de Execuções Fiscais ou se conclui que os embargos à execução fiscal, por sua simples interposição, suspendem o andamento do feito executivo.61

Neste âmbito, a falta de um artigo expresso na Lei n°. 6.830/80 não impede a concessão do efeito suspensivo às execuções fiscais, através da oposição de embargos, tendo em vista que jamais houve qualquer questionamento sobre a ausência de norma explícita, quer na LEF, quer no diploma processual.62

Ainda, estando a certidão de dívida ativa inserida no inciso VII do art. 585 do CPC63, é viável a conciliação das normas deste código concomitantemente à LEF, desde que as normas do processo de execução contra o devedor solvente, não ultrapassem, na execução fiscal, do limite de acessório e assegure a imprescindível segurança jurídica.64

Dito isto, verifica-se que a partir da inserção do art. 739-A no Código de Processo Civil65, a suspensividade passou a ser atributo inerente e inafastável dos embargos à execução fiscal, o qual não pode ser suprimido nem mesmo por expressa disposição de lei, hipótese em que acarretaria ofensa ao sistema do Código Tributário Nacional, como também, ofensa ao direito fundamental de propriedade, e do contraditório e da ampla defesa. Com efeito, é inadmissível que o sujeito passivo seja imediatamente privado de seus bens em razão da suposta dívida que não reconheceu e que nem sequer foi declarada pelo juiz em processo contraditório e regular.66

Aliás, a celeridade processual, mesmo sendo um princípio constitucional, não pode servir como justificativa para deixar de lado outros princípios de vital importância, como

60

RODRIGUES, 2008, p. 84.

61 AZEVEDO, Henrique Machado Rodrigues de; MITRE, Felipe Lobato de Carvalho. A impossibilidade da

chamada aplicação subsidiária do artigo 739-A do código de processo civil às execuções fiscais. Revista Dialética de Direito Tributário. São Paulo, n. 160, p. 35-42, jan. 2009. p. 39.

62

PIRES, Henrique da Costa; LIMA, Alyne Machado Silvério de. A subsistência do efeito suspensivo nos embargos à execução fiscal. Revista Dialética de Direito Tributário. São Paulo, n. 155, p. 69-83, ago. 2008. p. 74.

63 BRASIL. Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, loc. cit.

64

CAIS, 2009, p. 567.

65 BRASIL. Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, loc. cit.

o princípio do contraditório e do devido processo legal. Neste mesmo sentido, é o ensinamento de Yarshell:

Garantias como as do contraditório e do devido processo legal (CF, art. 5º, LV e LIV) são pilares do estado Democrático e, a pretexto de se resolver o problema da morosidade (certo que gravíssimo), não se pode simplesmente criar outro (igualmente sério). Assim, tornar a prestação da justiça mais célere com o comprometimento das apontadas garantias constitucionais seria mais ou menos o mesmo que se pretender curar uma dor de cabeça pelo método da decapitação[...].67

No entanto, de acordo com essa corrente doutrinária, é a partir da interpretação dos dispositivos da própria Lei de Execução Fiscal que se pode constatar que os embargos terão o condão de suspender os atos do processo, juntamente com a análise de não haver omissão no que diz respeito aos efeitos em que deverão ser recebidos os embargos à execução fiscal, assunto este, que será demonstrado no tópico a seguir.

No documento Execução fiscal (páginas 64-67)