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TRAMITAÇÃO DA AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL

No documento Execução fiscal (páginas 40-44)

O processo de execução regulado pela Lei de Execuções Fiscais, consubstanciado em certidão de dívida ativa é dotado de caráter especial, revestido de procedimento mais célere. Sendo assim, proposta a execução fiscal e devidamente distribuída e autuada no juízo competente, inicia-se o procedimento para a satisfação do crédito da Fazenda Pública.

3.5.1 Propositura

A petição inicial da execução fiscal deverá conter apenas o juiz a quem é dirigida, o pedido e o requerimento para a citação, conforme previsão expressa do art. 6º da LEF.

Art. 6º - A petição inicial indicará apenas: I - o Juiz a quem é dirigida; II - o pedido; e III - o requerimento para a citação.

§ 1º - A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará parte integrante, como se estivesse transcrita.

§ 2º - A petição inicial e a Certidão de Dívida Ativa poderão constituir um único documento, preparado inclusive por processo eletrônico.

§ 3º - A produção de provas pela Fazenda Pública independe de requerimento na petição inicial.

§ 4º - O valor da causa será o da dívida constante da certidão, com os encargos legais.49

Ao comentar tal dispositivo, Wambier50 ensina que a petição inicial não é dirigida ao juiz, mas sim ao juízo, visto que a regra existe em razão da competência; faz-se necessário a individuação tanto da parte ativa, como da passiva; não há necessidade de exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos do pedido, porque a certidão de dívida ativa já é suficiente para demonstrar o lançamento do crédito tributário; o pedido a que alude o inciso II do art. 6º, é um dos meios executórios para atingir a satisfação do débito; o requerimento para a citação do devedor nada difere do modelo padrão, ou seja, aquele já conhecido pelo CPC, sendo possível a citação por edital e por fim, não é necessário na petição inicial requerer a produção de provas, e o valor da causa será aquele representado na certidão de dívida ativa.51

Desta forma, pode-se dizer que a peça inicial da execução fiscal é mais simples do que a comum, sendo imprescindível apenas a referência ao juiz a quem é dirigida, o pedido de

48 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 7. ed. Lumen Juris, 2007, p. 635. 49

BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit.

50 WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007-2008, p. 497-498. 51 PORTO, 2005, p. 87-88.

execução e o requerimento para citação.52 Assim, pode a petição inicial e a certidão de dívida ativa constituírem uma única peça.

Segundo o art. 39 da LEF, a Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos, por isso, a petição inicial é distribuída sem a necessidade de antecipar as despesas processuais.53

3.5.2 Recebimento da petição inicial e demais atos

A ordem de citação é a primeira manifestação do juiz ao receber a execução fiscal, razão pela qual, pode ser considerada como deferimento da inicial. Ademais, almejando a celeridade das execuções fiscais, a LEF estatuiu em seu art. 7º que:

Art. 7º - O despacho do Juiz que deferir a inicial importa em ordem para: I - citação, pelas sucessivas modalidades previstas no artigo 8º;

II - penhora, se não for paga a dívida, nem garantida a execução, por meio de depósito ou fiança;

III - arresto, se o executado não tiver domicílio ou dele se ocultar;

IV - registro da penhora ou do arresto, independentemente do pagamento de custas ou outras despesas, observado o disposto no artigo 14; e

V - avaliação dos bens penhorados ou arrestados.54

Já, no art. 8º da LEF55, são elencadas as hipóteses possíveis de citação: em primeiro lugar vem a citação do executado pelo correio com aviso de recebimento (AR), que é a regra nas execuções fiscais, podendo a Fazenda escolher outra forma.56 A citação far-se-á com prazo de pagamento ou penhora de cinco dias.

Com a propositura da ação, e com o despacho que determina a citação, há a interrupção da prescrição, recomeçando o prazo prescricional novamente, pois o ato

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SANTOS, Ernane Fidélis. Manual de direito processual civil. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 2. v. p. 267.

53 WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007-2008, p. 498. 54 BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit. 55

“Art. 8º - O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou garantir a execução, observadas as seguintes normas: I - a citação será feita pelo correio, com aviso de recepção, se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma; II - a citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereço do executado, ou, se a data for omitida, no aviso de recepção, 10 (dez) dias após a entrega da carta à agência postal; III - se o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da carta à agência postal, a citação será feita por Oficial de Justiça ou por edital; IV - o edital de citação será afixado na sede do Juízo, publicado uma só vez no órgão oficial, gratuitamente, como expediente judiciário, com o prazo de 30 (trinta) dias, e conterá, apenas, a indicação da exeqüente, o nome do devedor e dos corresponsáveis, a quantia devida, a natureza da dívida, a data e o número da inscrição no Registro da Dívida Ativa, o prazo e o endereço da sede do Juízo. § 1º - O executado ausente do País será citado por edital, com prazo de 60 (sessenta) dias. § 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição.” Cf. BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit.

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“Súmula 210 do TFR: Na execução fiscal, não sendo encontrado o devedor, nem bens arrestáveis, é cabível a citação editalícia.” Cf. BRASIL. Tribunal Federal de Recursos. Disponível em

interruptivo é apenas o despacho positivo da petição inicial, conforme dispõe o art. 174, parágrafo único, inciso I do CTN e o art. 8º, § 2º da LEF:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.

Parágrafo único. A prescrição se interrompe:

I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal.57

Art. 8º - O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou garantir a execução, observadas as seguintes normas:

[...]

§ 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição.58

Contudo, se a Fazenda Pública, depois de ingressar com ação de execução fiscal, deixar parado o feito, ou seja, permanecendo inerte, sem manifestar qualquer impulso processual, a contar da data em que ocorreu o último, passa a correr o prazo prescricional, denominado de prescrição intercorrente, que nada mais é do que a prescrição dentro do processo. Com efeito, decorridos cinco anos e sem qualquer impulso da Fazenda Pública, ocorre esta prescrição.59

Outro aspecto importante em relação à prescrição está no art. 40 da LEF: “o juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrado bens sobre os quais possa recair a penhora, e nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.”60 Sendo assim, após um ano de paralisação do processo de execução fiscal, o juiz ordenará o arquivamento dos autos, mas a qualquer tempo a execução poderá ser reativada, desde que se localize o devedor ou se encontrem bens a penhorar.61

Voltando acerca da fase inicial do executivo fiscal, Cais afirma que:

No sistema da Lei 6.830/80 o devedor é citado para pagar ou garantir a execução fiscal no prazo de cinco dias (arts. 8.º e 9.º), podendo oferecer embargos. Caso não pague ou garanta a execução nesse prazo, a penhora feita por Oficial de Justiça recai em seus bens, exceto os absolutamente impenhoráveis.62

Assim, o réu na execução fiscal é citado para pagar a dívida ou garantir a execução. Caso ele não queira cumprir a determinação judicial, poderá defender-se através da propositura de embargos à execução, ou por meio das ações elencadas no art. 38 da LEF63:

Art. 38. A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta Lei, salvo as hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida

57

BRASIL. Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966, loc. cit.

58 BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit. 59 ICHIHARA, 2006, p. 323-324.

60 BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit. 61

THEODORO JÚNIOR, 2005. p. 567.

62 CAIS, 2009, p. 565.

do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos.

Parágrafo Único - A propositura, pelo contribuinte, da ação prevista neste artigo importa em renúncia ao poder de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso acaso interposto.64

Segundo os ditames do artigo supracitado, só é admissível a discussão em juízo, sobre a dívida ativa da Fazenda Pública, mediante a oposição da ação de embargos, após seguro o juízo. Ainda, a lei põe a salvo, as hipóteses do mandado de segurança nos casos em que há ofensa a direito líquido e certo por ato ilegal ou abusivo de autoridade e também, no que diz respeito a ação de repetição de indébito e a ação anulatória do ato declaratório da dívida, esta precedida do depósito preparatório de valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido de multa de mora e demais encargos.65

Ademais, o art. 9º, § 6º da LEF66, disciplina acerca do pagamento, podendo ser total, sendo aquele que engloba todas as parcelas (principal, juros, atualização monetária, multas, custas processuais e honorários advocatícios) ou parcial, quando o devedor pretende discutir só algumas parcelas.

Todavia, se o executado optar por garantir o juízo, poderá efetuar o depósito em dinheiro, oferecer fiança bancária, nomear bens à penhora, observada a ordem do artigo 11 da LEF. Poderá ainda, indicar à penhora bens oferecidos por terceiros, desde que aceitos pela Fazenda Pública, conforme os ditames do art. 9º, incisos I a IV da LEF.67

O art. 11 da LEF estabelece a seguinte ordem para penhora: dinheiro, título da dívida pública, bem como título de crédito, que tenham cotação em bolsa; pedras e metais preciosos; imóveis; navios e aeronaves; veículos; móveis e semoventes; e, direitos e ações. Pode, em casos especiais, como por exemplo, na falta dos bens elencados acima, a penhora recair sobre estabelecimento comercial, industrial ou agrícola e, ainda, plantações ou edifícios em construção, conforme os ditames do § 1º do art. 11 da LEF.68

Nesse norte, aceita a nomeação, ou realizado o ato de penhora pelo oficial de justiça, será lavrado o ato de penhora, que constará o valor da avaliação dos bens penhorados. Salienta-se que em qualquer fase do processo, poderá ser deferido pelo juiz a substituição dos

64 BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit.

65 PACHECO. José da Silva. Comentários á lei de execução fiscal: lei n. 6.830, de 22-9-1980. 12. ed. São

Paulo: Saraiva, 2009, p. 331-332.

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BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit.

67 “Art. 9º. Em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos indicados na

Certidão de Dívida Ativa, o executado poderá: I - efetuar depósito em dinheiro, à ordem do Juízo em estabelecimento oficial de crédito, que assegure atualização monetária; II - oferecer fiança bancária; III - nomear bens à penhora, observada a ordem do artigo 11; ou IV - indicar à penhora bens oferecidos por terceiros e aceitos pela Fazenda Pública.” Cf. BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, loc. cit.

bens penhorados por outros, independentemente da ordem enumerada no artigo 11 da LEF, e também, poderá ocorrer o reforço da penhora.

Em relação ao procedimento atinente aos atos expropriatórios dos bens penhorados, mediante hasta pública, destaca-se que a Fazenda Pública dispõe, ainda, da possibilidade de adjudicação, nos termos do artigo 24 da mesma lei69, visando à satisfação de seu crédito.

Feitas estas considerações acerca do procedimento da execução fiscal, no tópico a seguir será tratada a matéria referente à defesa do executado.

No documento Execução fiscal (páginas 40-44)