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Inexistência de omissão na Lei nº 6.830/80

No documento Execução fiscal (páginas 67-72)

4 ANÁLISE DA SUBSISTÊNCIA OU NÃO DO EFEITO SUSPENSIVO DOS

4.4 EFEITO SUSPENSIVO NAS EXECUÇÕES FISCAIS

4.4.1 Incidência do caput do art 739-A do CPC à Execução Fiscal: posicionamentos

4.4.2.2 Inexistência de omissão na Lei nº 6.830/80

Conforme já explanado no tópico acima, a cobrança da dívida ativa é regulamentada de forma específica pela Lei nº. 6.830/80, que estabelece em seu art. 1º, a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil às execuções fiscais. Porém, ainda que a previsão da suspensão da execução não tenha menção expressa na LEF, esse efeito foi incorporado à norma, diante do sistema existente no ordenamento para o processo de execução fiscal.68

Isto porque, diferentemente do que ocorre com os títulos extrajudiciais, o título cobrado por meio da execução fiscal são constituídos no âmbito da chamada autotutela vinculada, da qual a Administração Pública em um procedimento unilateral, constitui seus próprios títulos, o que por muitas vezes, dificulta a oportunidade do contraditório ao contribuinte, que se realiza plenamente no âmbito judicial, em regra, por via dos embargos.69

Logo, a ausência de manifestação em lei especial, acerca da suspensão concatenada à oposição dos embargos, não necessariamente resulta no entendimento de que a intenção do legislador era no sentido de que a regulamentação fosse feita exclusivamente pelo

67 YARSHELL, Flávio Luiz. Efetividade do processo de execução e remédios com efeito suspensivo. Série

Processo de Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 383-385.

68 PIRES; LIMA, 2008, p. 69-83. 69

LIRA, José Sandro Figueiredo. A suspensividade dos embargos à execução fiscal. DireitoNet, 06 abril 2011. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6244/A-suspensividade-dos-embargos-a-execucao- fiscal>. Acesso em: 22 março 2012.

CPC, porque as sistemáticas envolvidas, e principalmente as formas de constituição dos créditos, são diferentes.70

Ademais, aliado ao fato da LEF prever na sua origem o efeito suspensivo, de acordo com os artigos já mencionados no item anterior, Rodrigues, concluiu que a Lei nº 6.830/80 não pode ser considerada omissa, como atualmente vem sendo, já que os dispositivos analisados em seu contexto remetem à ideia de que a intenção do legislador foi conceder o efeito suspensivo aos embargos à execução fiscal.71

Neste sentido, Machado explica que a atribuição de efeito suspensivo automático aos embargos, justifica-se pelo modo com o qual se forma o título executivo do crédito tributário. Assim, nas execuções para cobrança judicial de dívida consubstanciada em título executivo extrajudicial, regidas pelo Código de Processo Civil, o título executivo em princípio é formado com o consentimento do devedor, enquanto o título executivo do crédito tributário é constituído unilateralmente pelo credor.72

Observa-se que essa corrente é a que encontra maior quantidade de adeptos no plano doutrinário, sendo bastante representativa a conclusão obtida no XXXIII Simpósio Nacional de Direito Tributário 2008, sobre o tema “Execução Fiscal”, realizado no dia 7 de novembro de 2008, na Capital de São Paulo, no sentido de que:

A Lei nº 11.382/2006, que alterou as disposições do Código de Processo Civil sobre execuções de títulos extrajudiciais, é lei geral. Já a Lei nº 6.830/80, que veicula as regras adjetivas da execução fiscal, é lei especial. O art. 2º da LICC impõe a conclusão de que a Lei nº 11.382/2006 não revogou a Lei nº 6.830/80. Os embargos à execução fiscal têm efeito suspensivo, conforme interpretação sistemática da Lei nº 6.830/80, ratificada pela jurisprudência.73

Isso posto, apresentados os motivos pelos quais os doutrinadores confirmam a aplicação do efeito suspensivo aos embargos à execução fiscal, é importante demonstrar algumas decisões jurisprudenciais neste sentido.

4.4.2.3 Jurisprudência

70 CAMPOS, Alexandra Santana; CAMPOS, Marcelo. A Lei de Execução Fiscal após as alterações do CPC:

aspectos doutrinários e jurisprudenciais. Revista Tributária e de Finanças Públicas, São Paulo, n. 82, 2008. p.17.

71 RODRIGUES, 2008, p. 85

72 MACHADO, Hugo de Brito. Aplicação subsidiária do CPC às execuções fiscais: prazo para interposição e

efeito suspensivo dos embargos. Direito Tributário em Questão, Revista da FESTD, v. 1. Porto Alegre: FESTD, 2008a, p. 75/86.

73 MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Pesquisas Tributárias, n. 14, São Paulo, Editora Revista dos

Em consonância com o posicionamento apresentado acima, alguns julgados apresentam a possibilidade da execução fiscal ser suspensa quando interpostos embargos, não aplicando desta maneira, a regra contida no art. 739-A do CPC74.

Em um caso como este, o Juiz Federal Leandro Paulsen, norteou a decisão proferida nos Embargos à Execução Fiscal nº. 5002330-24.2010.404.7100/RS, decidindo pela não suspensividade automática prevista no art. 739-A do CPC, esclarecendo que este dispositivo não se aplica aos embargos do devedor de execuções fiscais, bem quanto às execuções contra a Fazenda Pública, visto que são incompatíveis com a sistemática constitucional de pagamento por precatórios, que exige o trânsito em julgado da decisão proferida nos embargos para que se processe a requisição de pagamento ao tribunal competente. Esta comparação visa demonstrar o motivo pelo qual esse efeito não deve ser extinto.75

A primeira turma do Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela não incidência do art. 739-A do CPC, conforme demonstra as ementas a seguir:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS DO DEVEDOR. ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO, DE FORMA AUTOMÁTICA, COM A GARANTIA DO JUÍZO. INAPLICABILIDADE DO ART. 739-A DO CPC. 1. Agravo regimental contra decisão que conheceu do agravo para dar provimento a recurso especial interposto contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, que, com base no art. 739-A do CPC, negou a atribuição de efeito suspensivo aos embargos do devedor, por não verificar risco de lesão grave ou de difícil reparação. 2. A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça tem entendido que o art. 739-A do Código de Processo Civil - CPC não se aplica ao rito das execuções fiscais, por força do princípio da especialidade. Os embargos do devedor opostos contra execução fiscal, garantido o juízo da execução, possuem efeito suspensivo automático. Nesse sentido: REsp 1291923⁄PR, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 07⁄12⁄2011; REsp 1178883⁄MG, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 25⁄10⁄2011. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 126.300/PR, Ministro Benedito Gonçalves, 19 de abril de 2012).76 (grifo nosso)

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. EFEITO SUSPENSIVO. NÃO-INCIDÊNCIA DO ART. 739-A DO CPC. NORMA DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA À LEI 6.830⁄80. INTELIGÊNCIA DE SEU ART. 1º INTERPRETADO EM CONJUNTO COM OS ARTIGOS 18, 19, 24 E 32 DA LEF E 151, DO CTN. 1. Controvérsia que abrange a discussão sobre a aplicabilidade do art. 739-A e § 1º, do CPC, alterados pela Lei 11.382⁄06, às execuções fiscais. 2. A Lei 6.830⁄80 é norma especial em relação ao Código de Processo Civil, de sorte que, em conformidade com as regras gerais de

74 BRASIL. Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, loc. cit.

75 SIQUEIRA; MELLO, 2010, p. 41-42.

76 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental em Recurso Especial n°. 126.300. Relator:

Benedito Gonçalves, Brasília, DF,19 de abril de 2012. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=1140032&sReg=201103112293&sData=20 120425&formato=HTML>. Acesso em: 22 mar. 2012.

interpretação, havendo qualquer conflito ou antinomia entre ambas, prevalece a norma especial. Justamente em razão da especialidade de uma norma (LEF) em relação à outra (CPC), é que aquela dispõe expressamente, em seu artigo 1º, que admitirá a aplicação desta apenas de forma subsidiária aos procedimentos executivos fiscais, de sorte que as regras do Código de Processo Civil serão utilizadas nas execuções fiscais apenas nas hipóteses em que a solução não possa decorrer da interpretação e aplicação da norma especial. 3. O regime da lei de execução fiscal difere da execução de títulos extrajudiciais, pois regula o procedimento executivo de débitos inscritos na dívida ativa, ou seja, constantes de títulos constituídos de forma unilateral. 4. A interpretação dos artigos 18, 19, 24, inciso I, e 32, § 2º, da LEF leva à conclusão de que o efeito suspensivo dos embargos à execução fiscal decorre da sua apresentação. Isso porque tais dispositivos legais prevêm a realização de procedimentos tendentes à satisfação do crédito (manifestação sobre a garantia, remissão, pagamento, adjudicação, conversão de depósito em renda) apenas após o julgamento dos embargos ou nas hipóteses em que estes não sejam oferecidos, evidenciando a suspensão do prosseguimento da execução até o julgamento final dos embargos. 5. Ainda a evidenciar o regime diferenciado da execução fiscal e o efeito suspensivo inerente aos embargos que se lhe opõem, está o § 1º do artigo 16 da Lei 6.830⁄80, segundo o qual "não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução", o que denota a incompatibilidade com as inovações do CPC quanto ao efeito suspensivo dos embargos à execução. 6. Recurso especial provido. (Recurso Especial nº 1.291.923/PR, Ministro Benedito Gonçalves, 1º de dezembro de 2011).77 (grifo nosso)

Nesta mesma linha de raciocínio, os Tribunais Regionais Federais e os Tribunais de Justiça assim tem decidido:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. EFEITO SUSPENSIVO AUTOMÁTICO. INAPLICABILIDADE DO ART. 739-A DO CPC.

I - A Lei n. 6.830/80 determina a aplicação subsidiária do CPC (art. 1º, in fine) sendo clara a sua opção pela suspensividade dos embargos, conforme se extrai da exegese dos artigos 19, caput, e 21 da referida lei. II - O artigo 9º da Lei Nº 6.830/80 faculta ao executado o oferecimento de bens em garantia da execução pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos constantes da Certidão de Dívida Ativa. Assim, apresentada garantia idônea do débito pelo valor integral de sua exigência, verdadeira condição de admissibilidade dos embargos, não há sentido em se prosseguir nos atos executórios, donde a suspensão da ação de cobrança é conseqüência lógica da oposição dos embargos do executado. III - Agravo de instrumento provido. (TRF3, AI, 35917/SP, 2008.03.00.035917-5, Desemb. Federal Alda Basto, 23/07/2009, 4ª turma).78 (grifo nosso)

Agravo de Instrumento contra decisão que indeferiu pedido de efeito suspensivo a embargos contra execução fiscal. Execução garantida por bem penhorado na execução fiscal. Evidência do dano irreparável ou de difícil reparação com o prosseguimento da execução, em razão da possibilidade de alienação do bem dado em garantia, antes do julgamento dos embargos. Inaplicabilidade ao caso da regra contida no art. 739-A do CPC. Precedente. Suspensão da execução fiscal até o

77

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n°. 1.291.923. Relator: Benedito Gonçalves, Brasília, DF, 01 de dezembro de 2011. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink=ATC&sSeq=19259372&sReg=201001547 641&sData=20111207&sTipo=5&formato=HTML >. Acesso em: 17 maio 2012.

78

BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Agravo de Instrumento n°. 2008.03.00.035917-5. Relator: Alda Bastos, São Paulo, SP, 23 de julho de 2009. Disponível em:

julgamento dos embargos. Agravo provido. (TRF5, Agravo de Instrumento: AGTR 95858 RN 0023600-59.2009.4.05.0000, Desemb. Federal Lazaro Guimarães, 06/04/10, 4 Turma).79

AGRAVO INTERNO. Execução fiscal. Interlocutória que recebeu os embargos e suspendeu a execução, uma vez garantido o Juízo. As normas da Lei de Execuções Fiscais não foram revogadas pelas modificações introduzidas no Código de Processo Civil, em decorrência do princípio da especialidade. Precedentes do STJ. Procedimentos tendentes à satisfação do crédito que somente se iniciam após o julgamento dos embargos. Efeito suspensivo que decorre da oposição destes, a teor do disposto no art. 16, § 1º, da Lei nº 6.830/80. Recurso a que se nega provimento. (Agravo de Instrumento n. 0066610-62.2011.8.19.0000, Desemb. Jesse Torres, 25/01/2012 – Segunda Câmara Cível, TJ/RJ ) 80 (grifo nosso)

Embargos à execução fiscal - Decisão que recebe os embargos à execução e não concede o efeito suspensivo - Inaplicabilidade do art. 739-A do CPC - Suspensão dos embargos à execução fiscal em virtude da leitura sistemática dos dispositivos da LEF - Recurso provido. (TJSP, Agravo de Instrumento: AI 368411420118260000 SP 0036841-14.2011.8.26.0000, Camargo Aranha Filho, 15/09/11, 18º Câmara de Direito Público). 81 (grifo nosso)

Por fim, é de suma importância mencionar que o STF não pacificou o assunto em questão, tendo em vista a inexistência de repercussão geral sobre o tema, conforme pode-se observar:

EXECUÇÃO FISCAL. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS DO DEVEDOR. APLICAÇÃO DO ART. 739-A DO CPC. APLICAÇÃO DOS EFEITOS DA AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL TENDO EM VISTA TRATAR-SE DE DIVERGÊNCIA SOLUCIONÁVEL PELA

APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO FEDERAL. INEXISTÊNCIA DE

REPERCUSSÃO GERAL. (RE 626468 RG, Relator (a): Min. Ellen Gracie, julgado em 09/09/2010, dje-224 divulg 22-11-2010 public 23-11-2010 ement vol-02436-02 pp-00375 )82

Apresentadas estão as correntes doutrinárias e jurisprudenciais que divergem quanto à aplicação ou não do efeito suspensivo dos embargos à execução fiscal. Assim, considerando que o Código de Processo Civil é lei geral e a Lei de Execução Fiscal é lei

79 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Agravo de Instrumento n°. 95858. Relator: Lázaro

Guimarães. Recife, PE, 06 abr 2010. Disponível em:

<http://www.trf5.jus.br/archive/2010/04/200905000236001_20100415.pdf >. Acesso em: 17 maio 2012.

80

RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento n°. 0066610-62.2011.8.19.0000. Rio de Janeiro, RJ, 25 de janeiro de 2012. Disponível em:

<http://srv85.tjrj.jus.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=000322A16587DD78030 664834E26F7F93B90A1C40319553A>. Acesso em: 17 maio 2012.

81

SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento n°. 368411420118260000. Relator: Camargo Aranha Filho, São Paulo, SP, 15 de setembro de 2011. Disponível em:

<https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=5418531&vlCaptcha=NThXk>. Acesso em: 17 maio 2012.

82

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Especial n°. 626468. Relatora: Ellen Gracie, Brasília, DF, 09 de setembro de 2010. Disponível em:

específica, havendo entre eles um conflito de normas, busca-se resolvê-lo através da antinomia, questão que será brevemente apresentada a seguir.

No documento Execução fiscal (páginas 67-72)