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PARTE I – REVISÃO DA LITERATURA

3. O STRESSE

3.6. EFEITOS DO STRESSE NO INDIVÍDUO

3.6.3. Alterações comportamentais e emocionais

As alterações comportamentais estão relacionadas com o tipo de stresse a que o indivíduo esteve sujeito – eustresse e distresse. Na primeira o indivíduo manifesta uma optimização do seu funcionamento adaptativo face aos factores stressores, enquanto na segunda há uma má adaptação a estes mesmos factores. Assim, podemos dizer que os efeitos do stresse no comportamento humano variam na relação das circunstâncias aver- sivas com os recursos que o indivíduo tem para lidar com elas. Quanto mais intenso e prolongado for o stresse mais notórias são as alterações que induz no comportamento das pessoas (Vaz Serra, 2002).

Estas alterações afectam, sobretudo, o desempenho e rendimento das pessoas (quanto mais intenso for o stresse menor e pior o desempenho pessoal), em virtude da desorganização cognitiva que se instala e, consequentemente, dificuldade na tomada de decisões. Esta consequência pode conduzir os indivíduos a dois tipos de comportamen- tos: comportamento agressivo ou passivo.

O comportamento agressivo pode-se manifestar de formas diversas como impul-

sividade, exaltação, teimosia, pronto a envolver-se em discussões, em que as respostas dadas são desproporcionadas e desajustadas em relação aos acontecimentos e, muitas

vezes, irrelevantes para a resolução dos mesmos. No comportamento passivo deixa arrastar os acontecimentos, isola-se, tem dificuldade em tomar decisões, evitando, desta forma, o confronto com os mesmos (Beck e Emercy, 1985, citados por Vaz Serra, 2002).

Um estudo efectuado por Faria e colaboradores (1989) mostrou que os indiví- duos mais vulneráveis ao stresse tendem a tornar-se irritadiços, a passear muitas horas a pensar nos acontecimentos aumentando o impacto da sua ocorrência através do “masti- gar” das situações, isolam-se dos outros, ficam apáticos e pouco eficientes, limitando-se a procurar estratégias que apenas têm como finalidade lidar com as emoções negativas que os invadem.

É frequente, em virtude da sua irritabilidade e menor capacidade de tolerância, gerarem mal-estar, conflitos e atritos na família e nas interacções com os outros “quer no meio social quer no ambiente de trabalho” (Vaz Serra, 2002: 262).

Também é usual, estes indivíduos, apresentarem transtornos do sono queixando- se de sono insuficiente, não retemperador do desgaste do dia (Caires, 2001; Vaz Serra, 2002). Este facto repercute-se no seu rendimento, passando as tarefas ou actividade a ser executadas de uma forma mais demorada, penosa e com maior número de erros.

Outra das causas que pode contribuir para a alteração de comportamentos é o stresse relacionado com o trabalho, sendo apresentadas como causas mais comuns a falta de segurança no emprego, controlo sobre o trabalho, sobrecarga de trabalho e, no caso dos professores, a hiper responsabilização das falhas do sistema educativo (Agên- cia Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, 2002ab; Mota-Cardoso et al., 2002; Vaz Serra, 2002). Este tipo de stresse afecta mais de 28% dos trabalhadores da União Europeia e é apontado como uma das causas de mais de 50% do absentismo no trabalho (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, 2002a).

Vários autores referem-se a este tipo de stresse como estando associado ao aumento: do consumo de tabaco, bebidas alcoólicas, café, abusos na alimentação, mas- tigar pastilhas elásticas compulsivamente, recurso a drogas ilícitas nas alturas de maior tensão emocional e dificuldade em terminar os trabalhos (Conway et al., 1981; Gatchel

et al., 1989; Bishop, 1994; Lester et al., 1994; Ramos, 2001; Mota-Cardoso et al., 2002;

Vaz Serra, 2002). Entre os estudantes é frequente ouvir falar da utilização de “speed” para aumentar a capacidade de trabalho e dar resposta às exigências que o ensino coloca

aos alunos – trabalhos e frequências a realizar em determinados períodos, muito curtos, do ano escolar nomeadamente no final de semestre.

Assim, todas estas reacções comportamentais podem vir a desencadear altera- ções emocionais.

Para compreendermos melhor o significado do seu papel propomo-nos entender emoção, como foi definida por Levenson (1994, citado por Vaz Serra, 2002: 227), um “fenómeno psicofisiológico de curta duração que apresenta modos eficientes de adapta- ção ás exigências colocadas pelo meio”. Neste sentido, a sua importância e repercussão revela-se a três níveis: psicológico, fisiológico e social.

A nível psicológico revelam um papel importante na relação com o stresse na

medida em que alteram a atenção, memória, pensamento, percepção e capacidade de concentração, bem como a hierarquia do comportamento a executar numa resposta ao agente stressor; a nível fisiológico são responsáveis pelas rápidas e diferentes respostas biológicas (ex. expressão facial, tónus muscular, voz) do sistema nervoso central, do sistema nervoso vegetativo e respostas hormonais (ex. adrenalina, noradrenalina, insuli- na) de modo a armar a defesa do organismo para dar uma resposta eficaz ao stressor; finalmente, a nível social apresentam um papel importante na motivação humana influenciando a personalidade, as relações sociais, o empenhamento pessoal e profissio- nal, entre outras.

É de salientar, contudo, que são as situações indutoras de stresse que desenca- deiam as emoções e estas revelam o modo como o indivíduo está a avaliar os aconteci- mentos que estão a acontecer e o comportamento que vai ter.

Estas reacções psicofisiológicas são, em quantidade e intensidade, dependentes das avaliações subjectivas de cada pessoa sendo geradas em função das relações, parti- culares, que cada um estabelece com o meio ambiente.

Assim, as emoções surgem como a consequência do significado subjectivo que cada indivíduo equaciona da situação/acontecimento que vivência (Larazus, 1999; Vaz Serra, 2002). Ou seja, uma dada emoção predispõe o indivíduo a pensar e a agir de determinada maneira porque cada emoção revela um significado próprio (Lazarus, 1999).

Este ciclo, a que se está a fazer referência, pode ser delineado como o represen- tado na Ilustração 6.

Ilustração 6. Avaliação das emoções e tendência da acção (Vaz Serra, 2002)

Esta ilustração sintetiza a “ligação entre o antecedente (situação) e o consequen- te (estratégia de acção escolhida) fazendo compreender que o consequente depende do filtro intermediário (indivíduo), que desenvolve determinado estado emocional a partir do processo de avaliação” (Vaz Serra, 2002: 233).

Contudo, de acordo com Lazarus (1999), as emoções que podem surgir em situa- ção de stresse avaliadas como dano, ameaça ou desafia correspondem, usualmente, a dois tipos: emoções negativas (surgem quando um indivíduo se sente ameaçado pela sociedade em que vive por aquilo que ele é ou representa, etc.) como cólera, inveja, ciúme, ansiedade, medo, culpabilidade, tristeza, vergonha; e emoções positivas (surgem ligadas a situações de desafio em que o indivíduo obtém sucesso) como alívio, esperan- ça, felicidade, orgulho, gratidão, entre outras.

Podemos concluir que o stresse representa, assim grande custo, quer em termos de sofrimento humano, quer em termos de prejuízo no rendimento económico (baixa produção, absentismo, falta de motivação, maior risco de acidentes, entre outros), além de poder vir a ter graves repercussões em termos de saúde mental e física dos trabalha- dores. Indivíduo Antecedente Consequente Situação Avaliação Emoção Estratégia de acção