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AS EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AO ESTÁGIO PEDAGÓGICO

PARTE I – REVISÃO DA LITERATURA

1. O ESTÁGIO PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

1.8. AS EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AO ESTÁGIO PEDAGÓGICO

O estágio pedagógico surge como uma componente fundamental do processo de formação, permitindo aos estagiários a aquisição de saberes relacionados com o como

ensinar e o como agir profissionalmente. Desta transição, de aluno para professor,

emergem expectativas que são, por vezes, bastante ambiciosas, até mesmo desajustadas, surgindo um confronto entre o ideal e o racional. Estas expectativas são tão elevadas que quando confrontados com a realidade ficam um pouco desvanecidos com aquilo que encontram, ou seja, a realidade encontrada no estágio não é aquela para que são prepa- rados durante a formação no ensino superior. Apresenta-se-lhe como uma situação nova, onde “enfrentam” alunos cheios de vivacidade e energia que surpreendem pelo dinamismo que demonstraram e pela dificuldade em dominá-los, pelo menos, discipli- narmente. Por isso, “(…) é muito importante determinar como é que os estagiários vivem a sua experiência de estágio profissional” (Piéron, 1996: 19).

Neste sentido, Carreiro da Costa e colaboradores (1991), efectuaram um estudo que tinha como objectivo a avaliação da formação inicial em ensino da Educação Física, onde chegaram à conclusão que os alunos mais motivados no curso revelavam mais expectativas e preocupações acerca do planeamento das aulas, do clima positivo e da intervenção na escola. Estes resultados inferem, que os alunos estagiários transferem para o estágio pedagógico as suas concepções e expectativas que foram construindo ao longo da sua formação inicial.

Outro aspecto importante diz respeito às representações de sucesso profissional. Neste caso, Placek (1982), num estudo que visava conhecer os factores que influencia- vam as decisões de planeamento dos professores, conclui que as decisões que mais influenciavam o seu planeamento eram as atitudes dos alunos face às situações de aprendizagem. Também Macleod (1988) verificou que os professores apresentavam as aquisições e as características de participação dos alunos como principal indicador de sucesso profissional.

Carreiro da Costa e colaboradores (1992), num estudo que procurava ver quais as representações de sucesso e insucesso profissional em professores de educação física, partindo do pressuposto que, os professores perspectivavam a sua actividade de ensino

em função das representações que formulam dos fenómenos em que estão envolvidos, dos valores que defendem e dos significados que lhe atribuem, verificou que os profes- sores, de Educação Física, apresentam como principais indicadores de sucesso profis- sional: as condições da relação educativa, nomeadamente, a consecução das aprendiza- gens, a participação nas actividades pedagógicas, a promoção da participação dos alu- nos e o desenvolvimento de atitudes – disciplina; as características pessoais do profes- sor, onde se insere a competência na resolução das tarefas profissionais, a satisfação pessoal e ver reconhecido o seu mérito; referem ainda, como factor de sucesso, as rela- ções humanas no seio da escola, principalmente, a relação professor / professor e a rela- ção professor / aluno.

Os indicadores de insucesso profissional encontrados foram os referidos ante- riormente pela negativa. Este mesmo estudo também envolvia alunos estagiários, os quais apresentaram como factores de sucesso profissional a promoção da participação dos alunos nas actividades pedagógicas e a consecução das aprendizagens. E, como sen- timentos de insucesso profissional, os alunos estagiários, referem a falta de empenha- mento dos alunos, a falta de interesse dos alunos pelas actividades e a presença de com- portamentos de indisciplina.

Estes resultados estão assim na linha dos estudos anteriormente referidos e vão ao encontro da ideia de que o ensino é uma actividade específica e complexa, em que a forma como o professor orienta a aprendizagem repercute-se nos efeitos educativos a obter. Por isso, ensinar bem consiste em ser capaz de criar os contextos de aprendiza- gem mais favoráveis e significativos para que todos possam tirar o maior benefício. Desta forma, o sucesso dos alunos nas aprendizagens depende largamente da qualidade do desempenho do professor, ou seja, o sucesso do professor nas actividades propostas depende da qualidade da prestação evidenciada pelos alunos. A acção pedagógica é, assim, o meio privilegiado e elementar para alcançar o sucesso, a realização profissional e pessoal, e, consequentemente, a relação com os alunos é um dos factores mais impor- tantes para a realização/satisfação/sucesso profissional dos professores.

Este sucesso que o aluno estagiário procura conseguir, tem tendência a despontar momentos difíceis, com elevada ansiedade e stresse. Estas dificuldades surgem devido a factores vários que vão desde a organização à avaliação dos alunos estagiários.

1.8.1. Os obstáculos desta etapa

O estágio emerge como um meio privilegiado para a concretização de uma maior articulação entre a experiência de trabalho e a formação teórica veiculada no con- texto superior (Caíres e Almeida, 2000). Surge como um momento de preparação, reve- lando-se, ao mesmo tempo, como um momento difícil devido aos múltiplos problemas que ocorrem. São exemplos, a precária organização, a indefinição das funções das insti- tuições de formação na profissionalização dos alunos, o desajustado acompanhamento e a deficiente articulação entre o mundo do trabalho e o ensino superior (Canário, 1997 e 2001; Afonso, 2001; Roldão, 2001; Estrela et al., 2002; Francisco e Pereira, 2002). Constituem-se, ainda, como sérios problemas/desafios, o quotidiano escolar, a comple- xidade da sala de aula caracterizada por uma multidimensionalidade, simultaneidade, imprevisibilidade, imediaticidade de acontecimentos e complexas actividades interacti- vas, cuja dinâmica deriva de múltiplas variáveis em interacção, ora entre professores e alunos, ora entre professores, ou ainda, entre professores e outros elementos da comuni- dade educativa, na qual se incluem os familiares dos educandos (Diniz de Castro, 2001).

Aos problemas enumerados acresce que o estágio é visto como o “parente pobre” de todas as disciplinas porque alguns docentes, do ensino superior, não lhe reco- nhece importância, quer devido ao baixo número de horas disponibilizado para acompa- nhamento dos alunos, quer devido ao baixo prestigio que lhe é conferido (Alarcão, 1996). É ainda de referir que esta etapa é acompanhada, normalmente, por um grande número de dificuldades, entre elas: dificuldades de ligação entre a teoria e a prática – adaptação dos conteúdos à realidade da prática de ensino (Amaral et al., 1996; Seco, 2002); a focalização dos estágios num conjunto limitado de competências técnicas (Amaral et al., 1996; Barroso, 1997); supervisão inadequada, insuficiente, inexistente ou ainda a falta de preparação dos supervisores (Vieira, 1993; Pierón, 1996; Ryan et al., 1996; Silva, 1997; Francisco, 2001); a conciliação entre as experiências de sala de aula e o programa educacional (Machado, 1996; Ryan et al., 1996); a fraca sintonia entre a instituição de formação e a escola onde se realiza o estágio (Caíres e Almeida, 1997; Canário, 1997; 2001).

A relevância que este período tem, quer pelo seu significado ou pelo que poderá contribuir no desenvolvimento pessoal e profissional, quer pelas consequências negati- vas que esta experiência pode trazer (Machado, 1996; Caíres e Almeida, 2000; Francis- co e Pereira, 2002), devem ser acauteladas medidas preventivas por se tratar de “um período de vulnerabilidade aumentada” (Caíres e Almeida, 2000: 223) e que se indevi- damente acompanhado, orientado e organizado, poderá ter implicações negativas na forma como, os futuros professores, irão encarar a profissão escolhida (Machado, 1996). Neste sentido, factores como tipo de acompanhamento, orientação, duração, avaliação, articulação das diferentes disciplinas do curso, deverão ser devidamente ponderadas, pois podem contribuir significativamente para a diminuição do “alto grau de ansiedade e stresse” (Francisco, 2001: 42) que esta fase do percurso arrasta consigo.

Assim, para uma melhor transição e adaptação à nova realidade é proporcionado nesta fase de iniciação, estágio pedagógico, um apoio/ajuda de outros professores, nomeadamente, o supervisor da instituição superior e um orientador / cooperante da escola.