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PARTE I – REVISÃO DA LITERATURA

3. O STRESSE

3.7. STRESSE E DOENÇA

Admite-se, hoje, que o avanço tecnológico, ao nível das ciências médicas, con- duziu a um aumento na expectativa de vida. Contudo, o comportamento do homem modificou-se, consideravelmente, sobretudo a partir da revolução industrial (Madureira, 1996). Este novo estilo de viver tem afectado consideravelmente a qualidade de vida das pessoas, observando-se uma inversão dos índices de mortalidade por doenças infecto- contagiosas para doenças crónico–degenerativas (Guedes e Guedes, 1995). Em função desta mudança, nos ritmos e hábitos de vida, muitos problemas surgiram, entre as quais se incluem o aumentado do predomínio das doenças degenerativas (Himes, 1988) e das chamadas doenças causadas pelos problemas relacionados com o sedentarismo (Melle- rowicz e Meller, 1979). Este é o resultado, segundo Barata (2005), “das condições de vida e do chamado progresso tecnológico e socio-económico, a população está cada vez mais sedentária. Ou seja, este progresso que deveria constituir uma vantagem para a humanidade está a revelar-se como fonte de doença por estar a ser mal utilizado e abu- sado”.

Todavia, o desenvolvimento do processo de stresse depende tanto da personali- dade do indivíduo quanto do estado de saúde em que este se encontra (equilíbrio orgâ- nico e mental). Por isso, nem todos os indivíduos desenvolvem o mesmo tipo de respos- ta diante dos mesmos estímulos. Estilo de vida, experiências passadas, atitudes, crenças, valores, doenças e predisposição genética são factores importantes no desenvolvimento do processo de stresse. O risco de um estímulo causador de stresse gerar uma doença é aumentado se estiverem associadas exaustão física, psicológica ou factores orgânicos (Bennett, 2002).

É relativamente fácil compreender que, quando estamos sujeitos a um contínuo e intenso stresse, as nossas defesas diminuem, tornando-se esta uma condição, necessária mas não suficiente, para o desenvolvimento de problemas de saúde. Portanto, a doença é o custo que o organismo tem que pagar para se defender contra a exposição continuada a agentes de stresse (Stroebe e Stroebe, 1995). Neste cenário, entende-se o stresse como um conjunto de “mecanismos” potencialmente patogénicos (causadores de doenças).

O conhecimento hoje disponível aponta para uma associação entre o stresse no trabalho e a saúde física e mental, o qual parece influenciar as atitudes individuais rela- tivamente aos colegas, prejudicar o comportamento na sala de aula, bem como, alterar a sua vontade de permanecer ou não na profissão (DeFrank e Stroup, 1989).

Pelo que já ficou expresso anteriormente e como refere Vaz Serra (2002: 299), “o stresse só é prejudicial quando é intenso, repetitivo e prolongado”. Todavia, a grande maioria dos indivíduos pode aguentar situações de stresse durante muito tempo sem consequências desagradáveis, embora sejam “as pessoas com melhores aptidões e recur- sos pessoais e sociais as que estão melhor preparadas para enfrentar circunstâncias aver- sivas” (idem, 2002: 299). Contudo, os indivíduos que estão mais sujeitos ao stresse são precisamente os que estão sujeitos a elevadas exigências psicológicas, não têm capaci- dade de decisão e não dispõem de um adequado suporte social (Lazarus, 1999).

A investigação realizada, nomeadamente a partir dos anos 80, tem procurado relacionar e associar o stresse com o aparecimento de doenças físicas, psíquicas – nomeadamente a depressão e desenvolvimento de hábitos nocivos para a saúde como: hábitos de alimentação irregulares, aumento do consumo de tabaco, de álcool e de dro- gas (Stroebe e Stroebe, 1995; Ogden, 1999; Bennett, 2002; Ribeiro, 2005).

São vários os estudos, nacionais e internacionais, onde os seus autores concluem da relação destas variáveis. Como exemplo, referimos os estudos de: DeFrank e Stroup (1989) que estudaram a relação entre o stresse e saúde, sendo esta medida pelo grau de satisfação profissional, verificando que quando esta descia em função do stresse expe- rienciado, a saúde piorava; Travers e Cooper (1996) num estudo realizdo com professo- res britânicos, com o objectivo de avaliar a saúde mental nos aspectos da “ansiedade injustificada”, “ansiedade somática” e a “depressão”, verificaram que os professores apresentavam níveis significativamente mais altos que a população em geral e que outros grupos profissionais altamente stressados. Em Portugal, Gomes (2003) assinalou como sintomas mais frequentes, numa população de desempregados, as perturbações do sono, o estado de ânimo triste, insatisfação, pessimismo, irritabilidade, hipocondria e crise de choro.

Igualmente, Pereira et al. (2004) num estudo que envolvia 82 estudantes da Uni-

versidade de Coimbra encontraram correlações moderadamente elevadas entre a interfe- rência do stresse e ansiedade em situações de avaliação e o impacto negativo do stresse

no bem-estar (r=0.50; p<0.001). Também Lima (1999) identificou como sintomas mais frequentes de stresse, referidos pelos professores, os seguintes: redução da vida social, irritabilidade, cansaço matinal, desmotivação e insatisfação, tristeza e depressão, falhas de memória e alterações do sono.

Moreira (2004) identificou, num estudo efectuado em 189 bombeiros de várias corporações, que 7,4% apresentava sintomas compatíveis com o quadro clínico de per- turbações de stresse pós – traumático, 57,3% apresentava pelo menos um sintoma intru- sivo, 17,6% apresentava pelo menos três sintomas de evitamento e 32,7% pelo menos dois sintomas de activação, além de uma percentagem considerável, de sujeitos, consu- mir tabaco, bebidas alcoólicas e café em excesso, 30,7%, 29,1% e 19,6% respectiva- mente.

Andrade (2001) num estudo em 50 bancários (20 activos e 30 sedentários), com o

objectivo de verificar como os bancários de um banco estatal em Florianópolis, percebem o seu estilo de vida, a sua aptidão física e capacidade motora, no seu ambiente de trabalho e familiar, a ocorrência e o controle subjectivo do stresse, identificou como principais reac- ções psicossomáticas ao stresse a depressão, as dores de cabeça, agressividade, mau humor, conformismo e insónias.

Identicamente, Selye (1978) refere como consequências do stresse doenças metabólicas, doenças digestivas, doenças cardiovasculares, hipertensão, infecções inflamatórias dos rins, perturbações sexuais, cancro, entre outras.

Além das consequências identificadas por estes estudos, acresce o clima de pres- são e tensão constantes, que afectam cada vez mais indivíduos no mundo moderno, onde o stresse gerado, com repercussões constantes, é apontado como uma das “causas” que aumenta o risco de doença cardiovascular, de acidente vascular cerebral e de morte relacionadas com estas, de cancro, de doenças músculo-esqueléticas, de doenças gas- trointestinais, de acidentes e suicídios (Praça, 1998; Ogden, 1999; Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, 2002ab; Bennett, 2002; Vaz Serra, 2002; Carva- lho, 2004; Filipe, 2004; Grilo, 2004; Lima, 2004; Marcelos, 2004; Mendes, 2004; Perei- ra, 2006).

Muitos destes riscos podem ser diminuídos ou ultrapassados se forem desenca- deadas estratégias de prevenção, de promoção da saúde, bem como realizar uma boa gestão do stresse estimulando as boas práticas neste domínio.