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O ESTÁGIO COMO MEIO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS DE ACTUAÇÃO

PARTE I – REVISÃO DA LITERATURA

1. O ESTÁGIO PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

1.7. O ESTÁGIO COMO MEIO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS DE ACTUAÇÃO

Não podemos falar de formação de professores, de actividades didácticas, de metodologias de ensino, de ensino sem pensar no sucesso pedagógico e na eficácia do

ensino. Sendo assim, falar de ensino, do acto de ensinar, de análise do processo ensino / aprendizagem é falar de sucesso pedagógico, é falar de eficácia pedagógica. Esta depende da concretização dos objectivos do ensino e, fundamentalmente, da preparação, execução e adequação a critérios objectivos e sistemáticos, apoiados numa análise cien- tífica das estratégias educativas e seus efeitos. Como refere Birzea (1982: 9), “se se assegurassem a todos os alunos as condições apropriadas de aprendizagem, o sucesso seria generalizado”, ou seja, os alunos podem desenvolver aprendizagens, de que poten- cialmente são portadores, desde que beneficiem de um ensino adequadamente estrutura- do e orientado. Também nesta linha de pensamento se encontra Postic (1990: 12), quan- do refere “o bom professor é aquele que é capaz de atingir os objectivos educativos específicos, de responder com plasticidade às situações educativas encontradas, tirando partido das experiências vividas”. Podemos assim concluir que o aproveitamento esco- lar é condicionado, em grande parte, pela qualidade do ensino – eficácia, ou seja, pro- porcionar condições que favoreçam o sucesso da aprendizagem onde a capacidade de intervenção pedagógica do professor é um comportamento desejável e imprescindível com o objectivo de proporcionar aos formandos oportunidades de execução nas tarefas a aprender, “do mero transmissor de conhecimentos, o professor transformou-se, também ele, em criador de condições favoráveis ao desenvolvimento dos educandos” (Carreiro da Costa, 1995: 6).

Pelo conhecimento hoje disponível, onde as alterações são frequentes, a evolu- ção constante, a inovação uma necessidade e onde o tempo de vida útil dos conhecimen- tos é cada vez menor, rapidamente verificamos que não é possível a existência de “dogma” pedagógico capaz de justificar um único critério de eficácia na intervenção pedagógica. A investigação realizada sobretudo no modelo “Processo – Produto” em eficácia de ensino do professor, tentou encontrar, por um lado, os factores determinantes nas aprendizagens dos alunos e, por outro, os comportamentos dos professores que se revelam mais eficazes para obter o sucesso na aprendizagem.

Nos trabalhos de investigação em ensino, na linha “Processo – Produto”, (Medley, 1979; Mesquita, 1985; Carreiro da Costa e Onofre, 1988; Carreiro da Costa, 1995; Siedentop, 1998), encontramos um conjunto de princípios/acções como: interven- ção pedagógica (instrução), organização, clima relacional, disciplina, que se encontram relacionados com o sucesso das aprendizagens dos alunos. Sobressai também a ideia

que o comportamento do professor e a forma como actua na sala de aula condiciona a qualidade da participação e a qualidade das aprendizagens dos alunos na aula. Assim, a eficácia destas acções depende da habilidade de quem os utiliza para os ajustar às cir- cunstâncias de cada contexto de intervenção pedagógica (Siedentop, 1998).

Numa sistematização feita por Siedentop (1998), os factores/indicadores que parecem desempenhar um papel fundamental no êxito das aprendizagens são: o tempo potencial de aprendizagem, isto é, o tempo que o aluno passa empenhado na prática de uma tarefa específica; o feedback pedagógico fornecido ao aluno; a existência de um clima positivo na relação pedagógica, ou seja, um ambiente estimulador e de incentivo à aprendizagem constante; e uma organização cuidada das actividades a desenvolver no grupo turma. Por seu lado, Carreiro da Costa (1995) refere que os professores mais efi- cazes revelam a capacidade de gestão do tempo de aula – mais tempo de prática em situações específicas de aprendizagem; são capazes de proporcionar aos alunos uma instrução de grande qualidade científica e técnica (aspectos fundamentais da tarefa a aprender), de fornecer feedbacks focados nos aspectos “críticos” da aprendizagem, bem como de procurar um grande empenhamento cognitivo e motor durante as aulas sem comportamentos desviantes, e ainda, dominar um vasto repertório de técnicas de ensino, sabendo quando e como utilizá-las.

Mas, se entendermos que o processo ensino / aprendizagem ocorre num processo de actividade comunicativa de instrução e feedback, em que o professor e os alunos interagem numa troca interpessoal, então, o êxito do seu ensino depende da combinação que se estabelece entre a intenção e a acção, com base na gestão de um conjunto de decisões que ambos podem assumir no decurso do referido processo.

Revela-se, desta forma, o ensino como uma tarefa exigente, que implica a reso- lução e gestão de muitos problemas, em que o professor, na sua tarefa de facilitador da aprendizagem, é capaz, com a sua experiência quotidiana, de construir e ensinar diferen- tes soluções para aumentar a qualidade das ajudas a prestar às aprendizagens dos seus alunos, bem como de avaliar os efeitos de cada uma delas.

Assim, o sucesso do seu ensino resulta: da forma como o professor apresenta as actividades de aprendizagem ao aluno, da forma como ajuda durante o tempo em que estão envolvidos nas actividades e, finalmente, da forma como avalia a maneira como realizaram as actividades.

Ao acompanhamento sistemático das aprendizagens devemos juntar a capacida- de de interpretação da acção pedagógica porque, através dela, o professor revela a capa- cidade de tomar a decisão certa, no momento certo, e de acordo com as circunstâncias e necessidades manifestadas pelos alunos. Esta capacidade de interpretação da acção pedagógica não é mais que uma reflexão na acção que nos permite que, para além de conhecermos o “quê?” e o “como?”, compreendermos o “como?” e o “porquê?” do pro- cesso de ensino / aprendizagem.

Em todo este percurso, do processo ensino/aprendizagem, em que o professor actua como facilitador da aprendizagem, que decorre desde o período de instrução, pas- sando pelo de organização, prática e feedback, revela-se importante a linguagem utili- zada na sala de aula/ginásio, bem como a necessidade da máxima clareza das instruções, aos alunos, para execução das tarefas propostas.

A clareza das instruções e do discurso dos professores é fundamental para um processo de ensino/aprendizagem eficaz, na medida em que, se esta informação for sufi- cientemente clara para os alunos, as possibilidades de sucesso na construção do seu conhecimento serão maiores. Por isso, os professores, na persecução de um ensino efi- caz, devem prestar atenção à forma como é comunicada a informação aos alunos e ao

conteúdo da informação a transmitir, ou seja, o aluno deve conhecer claramente porque

é que vai realizar a tarefa, como é que a vai fazer e os aspectos (componentes críticas do exercício) em que deverá concentrar a sua atenção. Desta forma, o professor eficaz será aquele que sabe o que ensina e o faz com clareza, explicando, demonstrando, utilizando formas de ensinar diversificadas de acordo com a matéria, os alunos, os recursos, as circunstâncias em que o ensino decorre e que estimula o aluno à acção e à reflexão críti- ca. A partir do momento em que se perseguem os objectivos da aprendizagem, o papel do professor na ajuda aos alunos para conseguirem aprender revela-se muito importante, sendo confirmado pelos estudos referidos.

De salientar, no entanto, que apesar dos múltiplos ganhos resultantes do estágio – que o extenso rol anteriormente apresentado ilustra – há que ter em conta que cada futuro professor encara a sua formação com uma expectativa que resulta da sua percep- ção, do seu interesse, motivações e aspirações sobre a sua futura actividade profissional. Estas são o “resultado da relação entre o sujeito e as suas circunstâncias de vida” (Jesus, 1996: 21).