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Ambiguidade nas atribuições da política do SUAS

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

IV. Estratégias de Enfrentamento

5.3 Fatores de risco para o trabalhador do CREAS

5.3.3 Ambiguidade nas atribuições da política do SUAS

De acordo com estudo realizado por Antezana (2013), não se tem muita clareza acerca dos papéis e responsabilidades das políticas assistenciais e dos órgãos que compõem a rede socioassistencial:

[...] o desalinhamento acerca do entendimento sobre o papel de cada política ocorre tanto por parte do CRAS quanto por parte dos CREAS e, ampliando os conceitos, por parte de outros equipamentos públicos. (ANTEZANA, 2013, p 153).

A autora afirma que há confusão de atuação mesmo dentro da política de assistência, entre os níveis de serviço dos CRAS e CREAS, que apresentam dificuldade em definir seu âmbito de atuação, ou seja, determinar em que momento termina a prevenção e quando se inicia o trabalho de proteção.

O conceito da rede de serviços e dos próprios profissionais sobre as atribuições da Assistência Social apresenta-se também como um fator de risco para o trabalhador, que, por falta de conhecimento e clareza sobre a sua fronteira de atuação, pode se ver sobrecarregado e incapaz de atender as demandas da família.

[...] foi tirada muita especificidade de cada área, então há uma confusão do papel do psicólogo e do assistente social, acho que o psicólogo fica com muitas tarefas que não são da sua área de atuação, muitas tarefas no cotidiano relacionadas às intervenções com a família, mas que não se remetem a sua área de atuação, e são muitas vezes gerais, ou até coisas da rotina, mas que acabam interferindo no seu tempo de trabalho com as famílias. (P5)

De acordo com Bronzo (2009), concepções distintas sobre a demanda a ser atendida conduzem a diferentes respostas quanto às políticas e estratégias de intervenção a serem desenvolvidas. Dessa maneira, conforme sugere Antezana (2013), é comum na área de Assistência Social a falta de um instrumento que avalie as condições de vulnerabilidade e risco das famílias, fato que torna o diagnóstico uma atividade extremamente subjetiva, e que depende, na maioria das vezes, da experiência e sensibilidade do profissional.

No município em que este estudo se desenvolveu, a adequação do serviço de atendimento à violência conforme as prerrogativas do SUAS ainda se fez presente na

transição de um modelo de atendimento ora influenciado pelo olhar da Saúde (na prevenção, identificação e agravos da violência) para um outro que concebe essa demanda como resultado de uma expressão social, com raiz histórica na desigualdade de classe e suas determinações, na perspectiva da garantia de direitos e cidadania dos indivíduos

Essa mudança de ótica trouxe impactos para o modo como se aborda o tema da violência, ao discutir as responsabilidades das demais políticas públicas e da sociedade civil no enfrentamento da questão. Se anteriormente a família era acompanhada por uma equipe composta por profissionais das mais diversas áreas, os quais procuravam realizar o atendimento integral da vítima no que diz respeito ao acompanhamento de todas as dimensões envolvidas no caso (vulnerabilidade socioeconômica, riscos à saúde física e psicológica, queda no rendimento escolar, etc.), agora, ela encontra na Assistência Social parte da atenção que precisará para superar o problema. Ou seja, supõe-se que as demais áreas e setores da sociedade reconheçam a sua parcela de contribuição para com o indivíduo em condição de vulnerabilidade e, assim, também criem estratégias de acolhimento para que seus direitos sejam atendidos. No entanto, não se trata ainda de uma concepção comum a todos os profissionais que compõem o serviço, como pode ser observado no relato abaixo:

[...] acho que isso está sendo passado pra gente... Que o psicólogo vai ter que fazer mais a área social mesmo, vai poder fazer trabalhos em grupo específicos da Psicologia? Possivelmente sim, mas o trabalho vai ser muito mais geral. Esse trabalho que a gente fazia, relacionado ao sofrimento, ao indivíduo, a família, a trabalhar as questões intrapsíquicas, emocionais; esse trabalho mais específico não vai ter muito espaço. (P5)

Assim, a equipe de profissionais redefine seu modo de atuação, e a tarefa de articular e garantir o acesso do cidadão às demais políticas públicas passaria a ter um lugar de destaque nesse trabalho.

Embora se amplie o olhar sobre o fenômeno, isso aumenta a importância de se ter claro o campo de atuação, sob o risco de assumir como tarefa exclusiva da Assistência Social a obrigação de responder a toda situação de exclusão, vulnerabilidade e desigualdade social.

Sobre isso, os órgãos de classe profissional da Psicologia e Serviço Social defendem – amparados na Política da Assistência Social – que muitas dessas demandas apresentadas por famílias em situação de vulnerabilidade deveriam ser atendidas pelo conjunto das demais políticas sociais, a começar – como alguns sugerem - pela política econômica, com geração e distribuição de renda (CFP/CFESS, 2007).

Para o profissional da Psicologia que ainda se vê na construção do seu escopo de trabalho nessa área, a forma de tratar a Assistência Social como exclusivamente responsável por todas as questões de ordem social pode levá-lo à construção de uma imagem equivocada sobre as competências da Política da Assistência Social, conforme se observa no relato:

[...] eu sempre achei difícil... [...], porque a assistência é a terra de ninguém e de todo mundo ao mesmo tempo, em termos conceituais, termos profissionais; porque ela não tem especificidade. (P6)

Pelo exposto, constata-se ambiguidade e ou equívocos relacionados às atribuições do que devem levar a termo a efetividade do trabalho no CREAS.