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4. ESTUDOS DE CASO

4.1 A AMSTERDAM ARENA

A ​Amsterdam Arena

​ , casa do Amsterdam Football Club Ajax, construída entre

1993 e 1996, representa não apenas um palco de grandes eventos esportivos na Holanda, mas também um caso de projeto arquitetônico de grande porte no qual, através de estratégias projetuais, resolvem-se questões de mobilidade urbana que beneficiam a cidade, diferentemente de diversos casos de grandes estruturas, como estádios e shoppings, que atuam como grandes barreiras para quem transita por seus entornos.

Segundo Ir. D. G. Mans e J. Rodenburg, no artigo ​The Amsterdam Arena: A Multi-Functional Stadium

​ (2000), o estádio foi concebido com o intuito de que fosse

associado a Amsterdam da mesma forma como o estádio Wembley é associado a Londres e o Camp Nou a Barcelona. No quesito esportivo, o sucesso é evidente para a arena que além de ter sido sede de 5 jogos da Eurocopa 2000 (incluindo uma semifinal), ainda recebeu a final da Liga dos Campeões da Europa 1997/98.

Além disso, no campo da construção civil, deve-se reconhecer um certo grau de pioneirismo no projeto. Conforme o jornalista Ubiratan Leal, editor-chefe do blog esportivo Trivela (UOL), nos 20 anos que antecederam a inauguração da arena, apenas os estádios Olímpico Spiros Louis (Atenas, 1982), Delle Alpi (Turim, 1990) e

San Nicola (Bari, 1990) foram construídos do zero com capacidade superior à 50 mil pessoas na Europa, enquanto que nos 17 anos seguintes, foram 26 casos.

Entre 1983 e 1986, Amsterdam era uma das candidatas à cidade sede dos Jogos Olímpicos de 1992 e tinha como uma das principais bandeiras da candidatura a construção de um novo estádio olímpico.

Como a cidade escolhida foi Barcelona, o projeto foi adiado, até que, em 1990, com a formação de uma nova equipe de construção, voltou a ser desenvolvido e recebeu algumas alterações relevantes como a retirada da pista de atletismo olímpica e aproximação das arquibancadas do gramado.

Tendo o Governo de Amsterdam e a ​Stadion Amsterdam N.V.

​ (empresa

criada para gerenciar a arena)

​ como proprietários, a obra começou a ser construída,

em 1993, pelas companhias de construção Ballast Nedam and Royal BAM Group, tendo como responsáveis pelo projeto o arquiteto Rob Schuurman e a empresa de engenharia Arcadis.

Após 3 anos, no dia 14 de Agosto de 1996, a Amsterdam Arena – primeiro estádio europeu com teto retrátil – foi inaugurada oficialmente pela Rainha Beatrix, com uma partida inaugural entre Ajax e Milan, na qual os italianos venceram por 3 a 0 e o primeiro gol da arena foi marcado pelo montenegrino, Dejan Savicevic.

Enquanto o antigo estádio do AFC Ajax, ​De Meer Stadion

​ , tinha apenas

19.000 lugares, a capacidade atual da Amsterdam Arena é de cerca de 54 mil espectadores, tendo o recorde de público de 52.316 pessoas na partida entre AFC Ajax e Feyenoord, equipe tradicional da cidade de Rotterdam, no dia 23 de Outubro de 2011.

A arena está localizada na região sudeste da cidade de Amsterdam, capital holandesa, a aproximadamente 9 km do centro, trajeto este que leva, segundo o sistema de sugestões de do ​Google Maps, em média, 15 minutos pelas principais vias com trânsito em condições normais. Além disso, há estações de trêm e metrô que levam até as portas do estádio.

Nas proximidades, há grande diversidade de usos, como grandes condomínios residenciais, hotéis, restaurantes, shoppings, clubes, empresas diversas, entre outros.

Um ponto interessante quanto à implantação da arena é que esta se dá sobre um trecho da ​Burgemeester Stramanweg

​ , via que faz a ligação da área a leste do

estádio com um trevo rodoviário que conecta rodovias que podem levar ao centro de Amsterdam, ao norte, ou a cidades das outras regiões da Holanda. Para evitar a necessidade de desvios, o estádio foi projetado “sobre” esta rua, como será detalhado a seguir.

Figura 18 - Localização da Amsterdam Arena Fonte: adaptada de Google Maps

Cobrindo uma área próxima de 40.000 m² (valor próximo do terreno de estudo desta pesquisa), além dos 50 mil lugares para público geral, a arena conta com: áreas VIP, acomodações e espaços específicos para as equipes envolvidas nas partidas; instalações particulares do AFC Ajax; galerias públicas que dão acesso aos setores da arquibancada e são acessadas por 10 escadarias; escritórios e salas administrativas; áreas de imprensa; restaurantes e lanchonetes; 550 vagas especiais de estacionamento para uso restrito dos clubes ou empresas que realizam

eventos; cobertura total com teto retrátil composto por duas partes de 120x35m cada, necessitando de menos de meia hora para fechar ou abrir completamente; e, por fim, os dois pontos diferenciais deste projeto que justificaram a escolha como referência para esta pesquisa: o ​transferium

e o túnel de 170m de comprimento que

leva a ​Burgemeester Stramanweg

​ (MANS e RODENBURG, 2000).

O ​transferium

​ consiste num local de estacionamento e “transição de modais”.

Contando com 2000 vagas de estacionamento, essa estrutura permite que quem chega a Amsterdam de carro, deixe seu veículo pelo tempo que precisar (mediante pagamento proporcional) para utilizar algum dos sistemas de transporte público que chegam às portas do complexo (ônibus, metrô e trêm). Incentivando, desta forma, que hajam menos veículos particulares rodando pelo centro da cidade.

O acesso é possível por ambos os sentidos da ​Burgemeester Stramanweg

​ ,

através de pistas laterais que se iniciam pouco antes do início do túnel que atravessa todo o complexo.

Figura 19 - Vista Aérea Amsterdam Arena Fonte: adaptada de Google Maps.

Figura 20 - Acessos ao ​Transferium

e túnel

Fonte: adaptada de Google Maps

Para tornar possível a coexistência de tais usos neste complexo, a solução dada pelo arquiteto holandês, Rob Schuurman, foi a de trabalhar em diferentes níveis de elevação entre eles. Todos os usos relativos à parte esportiva (ou de eventos) foram elevados, projetados a partir do nível 2, deixando os níveis 0 e 1 livres para execução do túnel e do ​transferium

Figura 21 - Corte Setorial - Amsterdam Arena

Fonte: adaptada de ​“The Amsterdam Arena: A Multifunctional Stadium”.

Somando a infraestrutura presente no entorno com a configuração em níveis e a criação do ​transferium

​ , mesmo durante quaisquer eventos no local, a arena

possibilita que haja diversos tipos de benefícios para usuários e para a cidade: aqueles que atendem a um evento no local, tem a possibilidade de desembarcar nas portas do estádio tanto por meios de transporte públicos quanto particulares; motoristas que necessitam cruzar a área, pela ​Burgemeester Stramanweg

​ , podem

fazê-lo de forma direta, sem desvios; e moradores de outras áreas e turistas podem deixar seus veículos e fazer uso do sistema público, sem aumentar o fluxo de automóveis particulares nas outras áreas da cidade.

O resultado deste projeto, demonstra que mesmo megaestruturas como o complexo da Amsterdam Arena, podem ser realizados de forma a minimizar ou solucionar problemas urbanos, sem ter de abrir mão do conforto dos usuários identificados como público alvo principal, como os torcedores e o clube, neste caso. É este tipo de resultado, que espera-se obter com o projeto consequente desta pesquisa.