TORCIDA E O ESTÁDIO

Conforme já mencionado neste capítulo, um questionário online foi respondido por 362 torcedores do Coritiba. Além das questões já citadas como a maioria masculina, faixa etária, relação de sócios, a frequência com que os participantes costumam frequentar o estádio e os meios de transporte mais utilizados, outras questões abordadas ajudam a identificar o modo como a torcida se apropria do entorno, como se identifica com o estádio e quais os problemas e preocupações mais comuns para aqueles que são os usuários diretos e constantes do local.

Gráfico 3 - Questão 11 do questionário - Satisfação com a estrutura Fonte: adaptado do resultado obtido no Google Forms.

Conforme o gráfico acima demonstra, apenas cerca de um quarto dos participantes da pesquisa dizem estar satisfeitos com a estrutura e manutenção atual do Couto Pereira a ponto de não acreditar que seja necessário algum tipo de grande mudança quanto ao estádio do Coritiba. Outros 43,9% demonstram algum grau de insatisfação e defendem algum tipo de mudança. A maior parcela registrada foi a dos torcedores que se dizem razoavelmente satisfeitos e apoiam alguma medida desde que cautelosa.

Gráfico 4 - Questão 8 do questionário - Identificação e Mudanças Fonte: adaptado do resultado obtido no Google Forms.

Quando perguntados a respeito do grau de identificação com o estádio e o local, além da aceitação às ideias de reconstrução no Alto da Glória ou num novo endereço, mais da metade (53,3%) afirma gostar muito do estádio e apenas aceitar uma reconstrução desde que seja no mesmo local do estádio atual. Apenas 4% manifestou indiferença ao estádio e cerca de um terço diz gostar do estádio, mas aceitar qualquer mudança.

Levando em conta então que a maioria dos torcedores deseja ver o Coritiba habitando o mesmo local, além dos estudos de impactos e relações do estádio com o entorno, visando torná-lo mais atrativo e integrado com a cidade ao redor, faz-se necessário diagnosticar quais fatores influenciam na experiência dos torcedores, quais os problemas da atual configuração do Couto Pereira e como um novo projeto poderia atender melhor às necessidades e desejos da maior parte possível da torcida “coxa-branca”.

Gráfico 5 - Questão 11 do questionário - Satisfação com a estrutura Fonte: adaptado do resultado obtido no Google Forms.

Buscando compreender quais os fatores mais influentes na presença do público nos jogos do Coritiba, a quinta pergunta permitia que os participantes marcassem mais de uma opção. Com isso, as 362 pessoas marcaram 536 respostas, ou seja, os índices apontam o primeiro ou segundo item que mais atrai cada torcedor. Dentre os diversos motivos, alguns apresentam considerável influência e tiveram índices próximos, como o horário da partida, as condições

climáticas e de conforto, a satisfação de momento com o desempenho do time e a existência ou não de companhia.

Entretanto, o fator mais influente para 57,7%, tendo mais votos do que os três outros fatores mais votados somados, é a própria torcida e a “atmosfera” existente antes, durante e após o término das partidas, reforçando a importância que torcedores dão aos estádios como local de expressão, identificação e senso de comunidade, conforme estudado no capítulo 2 desta pesquisa.

Tendo isso em vista, seguindo o objetivo de projetar um estádio com o qual os torcedores se identifiquem e sintam-se representados e pertencentes, diversas perguntas abordaram questões de setorização, liberdade de comportamento, locais e estrutura para confraternizações de pré e pós-jogo, além de avaliar pontos mais específicos a respeito de algumas características do estádio como é hoje.

Conforme já mencionado, há uma relação de identidade e pertencimento não apenas das pessoas com um estádio em si, mas também dos torcedores com o local do estádio no qual costumam ocupar e o modo como eles interagem e se expressam em dias de jogos. Um exemplo disso, citado previamente nesta pesquisa, foi o caso dos torcedores do Manchester United que após sentirem-se insatisfeitos com a situação administrativa e política do clube, decidiram abandonar os jogos após a proibição de que assistissem os jogos em pé e se manifestando como tradicionalmente faziam.

No caso do Coritiba, atualmente, o estádio está dividido em 6 setores para sua torcida e 1 para a visitante. Assim como o setor visitante, o setor Arquibancada do estádio não tem cadeiras, enquanto os outros 5 setores têm 3 tipos de cadeiras diferentes: no setor Mauá, as cadeiras não possuem encosto. Já nos setores Social Inferior e Superior, as cadeiras tem encosto alto e, por fim, nos setores Pro Tork Inferior e Superior, além do encosto alto, os assentos são retráteis. A maior torcida organizada do Coritiba, a Império Alviverde, fica tradicionalmente no setor Arquibancada, onde é costume se assistir aos jogos em pé durante os 90 minutos de partida, diferentemente dos outros setores do estádio.

Figura 17 - Setorização Atual do Couto Pereira Fonte: elaborada pelo autor

Gráfico 6 - Questão 9 do Questionário - Setorização Estádio Fonte: adaptado do resultado obtido via Google Forms

Conforme o gráfico anterior, mais da metade dos torcedores manifestaram preferência por um modelo de setorização semelhante ao existente no Couto Pereira, ou seja, um estádio setorizado de forma a proporcionar espaços para os diversos tipos de públicos diferentes. Além disso, tratando-se mais especificamente do setor de arquibancadas sem assentos, tema polêmico em alguns projetos recentes no Brasil, mais de 60% dos torcedores se posicionaram a favor da

existência desse tipo de setor, enquanto apenas 17,7% preferem um estádio inteiramente com cadeiras. Resultados esses que devem ser considerados na formulação das diretrizes projetuais.

Gráfico 7 - Questão 10 do Questionário - Arquibancadas sem Cadeiras Fonte: adaptado de resultado obtido via Google Forms

Além de identificar quais os motivos atraem os torcedores e com que tipo de estádio eles mais se identificam, também buscou-se compreender como se dá a rotina em dias de jogos do Coritiba, assunto de importância vital no desenvolvimento da identificação das pessoas com o estádio de seus clubes, como destacado no estudo (capítulo 2) do caso do Manchester City, por Tim Edensor e Steve Millington.

Gráfico 8 - Questão 12 do Questionário - Antecedência Fonte: adaptado de resultado obtido via Google Forms

O resultado a respeito de quanto tempo os torcedores costumam chegar antes do jogo mostra que, assim como os torcedores do Manchester City no antigo Maine Road Stadium, os do Coritiba também valorizam a confraternização de pré-jogo, uma vez que dos 362 participantes, 63,8% declaram chegar com uma hora ou mais de antecedência.

Gráfico 9 - Questão 13 do Questionário - Local de pré-jogo. Fonte: adaptado de resultado obtido via Google Forms

Quanto ao local no qual esses torcedores alegam permanecer enquanto o jogo não se inicia, os dados revelam o maior grupo é o dos que preferem entrar no estádio logo que chegam, porém, a maioria dos torcedores se aglomera em algum ponto do entorno do estádio, sendo a Rua Mauá o local mais utilizado, com 32% dos votos. Além disso, destaca-se que apenas 4,4% dos torcedores passa o tempo em algum ponto dentro do terreno do Couto Pereira que não seja interno do estádio, demonstrando uma possível subutilização da área que poderia acolher mais torcedores e buscar trazer algum retorno ao clube, onde hoje há apenas estacionamento e uma churrascaria.

A 14ª pergunta do questionário avalia justamente isso. Praticamente 62% demonstraram algum nível de insatisfação com o entorno do estádio e que gostariam de um espaço mais adequado no terreno do Couto Pereira, ou seja, há uma considerável parcela de torcedores como potenciais usuários de um local mais amplo e atrativo nos dias de jogos.

Gráfico 10 - Questão 14 do Questionário - Satisfação com o Entorno. Fonte: adaptado de resultado obtido via Google Forms

Atualmente, além do estádio, dos espaços reservados ao funcionamento e administração do clube, o estacionamento e a central de sócios, funcionam como únicos atrativos aos torcedores: a loja oficial do clube, um memorial da história do clube (desativado temporariamente), a central de sócios e a churrascaria Alto da Glória, além do pequeno espaço de convivência onde está localizada a estátua em homenagem a Dirceu Krüger (ex-jogador e ídolo do clube).

Analisando a configuração atual, nota-se um mal aproveitamento do espaço devido a área enorme ocupada pelo estacionamento que, segundo informação do site oficial do Coritiba, atende a até 400 veículos, menos da metade da capacidade do estacionamento do estádio João Américo, casa do Atlético Paranaense. Isto é, além de ocupar a maior parte da área restante do terreno do estádio, o estacionamento não tem uma capacidade adequada para atender a maior parte de sua torcida que, conforme já demonstrado pela pesquisa, costuma utilizar o carro como principal meio de deslocamento aos jogos.

Quando questionados a respeito da estrutura e localização tanto do Memorial Coxa quanto da loja oficial, os resultados variaram. Enquanto apenas 6,3% alegaram nunca terem visitado ou nem mesmo saberem onde se localiza a loja oficial, 37,3% afirmaram o mesmo em respeito ao memorial, que apresentou mais respostas negativas do que a loja, mesmo que a opção mais votada para ambos foi a de que o torcedor gosta da estrutura, ainda que deseje algum tipo de melhoria.

Gráfico 11 - Questão 15 do Questionário - Memorial Coxa Fonte: adaptado de resultado obtido via Google Forms

Gráfico 12 - Questão 16 do Questionário - Loja Oficial do Coritiba. Fonte: adaptado de resultado obtido via Google Forms.

O único ponto ativo, no momento, dedicado à história do clube, dos mais de 40 mil metros quadrados do terreno, é um pequeno espaço logo na entrada por um dos acessos pela rua Amâncio Môro, onde está localizada a estátua em homenagem a Dirceu Krüger, inaugurada no início de 2016 por iniciativa da própria torcida, que arrecadou doações e encaminhou o projeto ao clube.

Visando aproveitar melhor o local para também promover a imagem e valorizar a história do Coritiba, proprietário do terreno, uma das diretrizes projetuais poderia ser alguma medida que desse mais destaque à estátua e a possíveis futuras iniciativas como essa. Tal possibilidade recebeu forte aprovação dos participantes

do questionário aplicado à torcida. Expressivos 73,5% do total afirmam apoiar esse tipo de homenagem e gostariam que o estádio tivesse um local mais atrativo para tal.

Gráfico 13 - Questão 17 do Questionário - Estátua e outras homenagens. Fonte: adaptado de resultados obtidos via Google Forms.

Ainda sobre esse assunto, a 18ª pergunta foi a respeito do nome do estádio que, em 1977, trocou o nome de estádio Belfort Duarte para Major Antônio Couto Pereira, em homenagem ao responsável pela aquisição do terreno onde se localiza o estádio desde 1932. Sobre uma possível nova mudança de nome, em caso de reconstrução ou novo local, 71% votaram de forma contrária.

Gráfico 14 - Questão 18 do Questionário - Nome do Estádio. Fonte: adaptado de resultados obtidos via Google Forms.

Por fim, as últimas duas perguntas aos torcedores tiveram um foco voltado à questões de estrutura de um possível novo estádio.

Gráfico 15 - Questão 19 do Questionário - Flexibilidade e Multiuso Fonte: adaptado de resultados obtidos via Google Forms

Conforme pode-se observar no gráfico acima, apenas 4,4% dos torcedores não apoiam a flexibilização do Couto Pereira para usos e fins que não apenas as partidas de futebol. Assim como já mencionado a respeito das novas arenas multiuso, o Coritiba tem buscado atrair outros eventos para seu estádio, tendo tido sucesso em setembro deste ano com o show da banda americana Maroon 5, que atraiu mais de 40 mil pessoas, sendo quase 20 mil pessoas de outros estados, segundo informações da organização do evento (TRIBUNA, 2017).

Esses números refletem como o estádio possui um potencial atrativo grande em caso de outros eventos. A localização privilegiada do estádio somada a infraestrutura da região trazem ao Coritiba uma possibilidade de aumentar suas receitas, desde que saiba aproveitar seu estádio, atentando às questões de conflito de calendário, preocupação essa demonstrada por mais de 70% dos participantes.

Visando atrair outros eventos, um novo estádio deve atentar às necessidades adicionais de outros tipos de públicos, dentre elas a questão do conforto, fator

indicado por 14,6% dos torcedores (questão 5) como determinante na decisão de ir ou não ao estádio.

Gráfico 16 - Questão 20 do Questionário - Cobertura Fonte: adaptado de resultados obtidos via Google Forms.

Neste quesito, de acordo com o que foi analisado no capítulo 2 desta pesquisa, a cobertura é elemento chave. Enquanto na sua atual configuração o Couto Pereira apresenta cobertura apenas dos setores Pro Tork e Sociais, mais de 28 mil lugares do estádio (somatório dos demais setores) não tem uma cobertura apropriada, fato este que a maioria dos torcedores deseja que seja resolvido num estádio novo e 10,2% acreditam ser indispensável, apoiando até mesmo a instalação de um teto retrátil.

Tendo em vista que esta pesquisa busca demonstrar como um novo projeto arquitetônico pode beneficiar mutuamente tanto a região ao redor e torcedores, quanto o clube, deve-se atentar ao fato de que os custos deste tipo de obra são extremamente elevados. Elementos como teto retrátil, apesar dos benefícios, acarretam também num aumento de despesas considerável, além de acréscimos no valor final da obra que, segundo a própria diretoria, o Coritiba não tem condições financeiras para bancar.

O principal encarregado do clube na busca por investidores parceiros na construção de uma nova praça esportiva, Alceni Guerra, chegou a exigir que todos os projetos de estádios apresentados ao clube contassem com teto retrátil, porém,

visando tornar os projetos mais viáveis e atrativos a futuros investidores, tal exigência já foi retirada em decisões tomadas pelo Conselho Deliberativo do clube (TRIBUNA, 2017).