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Estádio Major Antônio Couto Pereira: como a reconstrução pode beneficiar o clube, a torcida e a cidade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GEOVANNI MACHADO ESTRADIOTO

ESTÁDIO MAJOR ANTÔNIO COUTO PEREIRA:

COMO A RECONSTRUÇÃO PODE BENEFICIAR O CLUBE, A

TORCIDA E A CIDADE

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2017

(2)

GEOVANNI MACHADO ESTRADIOTO

ESTÁDIO MAJOR ANTÔNIO COUTO PEREIRA:

COMO A RECONSTRUÇÃO PODE BENEFICIAR O CLUBE, A

TORCIDA E A CIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso 1, do curso superior de Arquitetura e Urbanismo do Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo – DEAAU, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Irã Taborda Dudeque

CURITIBA 2017

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TERMO DE APROVAÇÃO

Estadio Couto Pereira como a reconstrução pode beneficiar o clube, a torcida e a cidade.

Por

GEOVANNI MACHADO ESTRADIOTO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 11 de Junho de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

O candidato foi arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. André Turbay PUC - PR

Prof. Isuru Yamamoto UTFPR

Profa. Paulo Rolando Lima UTFPR

Prof. Irã Dudeque (orientador) UTFPR

(4)

DEDICATÓRIA

Com todo carinho, reconhecimento e emoção, este trabalho é dedicado a aqueles que, além dos ensinamentos e carinho, também compartilham diariamente o amor ao futebol e ao Coritiba: meu pai, Antônio Laertes Estradioto; minha mãe, Roseli Machado de Jesus, e meu irmão, Guilherme Toscani.

Gostaria também de dedicá-lo à cidade de Curitiba, ao Coritiba Foot Ball Club, seus torcedores, aos aficionados por futebol, pela arquitetura e também aos que acreditam que a paixão pelo trabalho e o respeito pelas pessoas podem melhorar o mundo de alguma forma.

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela minha vida, saúde e por meus entes queridos.

À instituição, especialmente à coordenação e ao corpo docente que lutam diariamente por um curso cada vez mais qualificado e democrático, apesar das dificuldades.

Ao Coritiba Foot Ball Club, pelo ótimo atendimento e respeito sempre que necessário.

Ao Prof. Irã Taborda Dudeque, não apenas pelo período de orientação, mas por todos os ensinamentos e amizade desde o meu primeiro dia no curso de Arquitetura e Urbanismo.

Aos meus pais e irmão, pelo amor, incentivo, apoio incondicional e companheirismo diário.

A todos meus familiares, em especial aos primos: Bruno, Roberto, Sergio, Lucas e Allan, por tantos momentos de amizade e diversão.

Aos meus melhores amigos de longa data: Gustavo, José Leonardo, Lucas Marino, Carlos Guilherme, Tiago e Felipe, por todos os momentos de amizade, futebol e pelas risadas.

Aos meus tantos outros bons amigos e colegas, que fizeram deste período na universidade um momento de companheirismo, amizade, crescimento, diversão e de tantas memórias, em especial, Bruna, Laura e Marília, por tornarem as madrugadas de TCC muito mais fáceis e divertidas.

À ​University of Salford

​ , por ter me aceitado como aluno intercambista e

proporcionado momentos de crescimento pessoal, acadêmico e profissional. À cidade de Manchester, pelo acolhimento e aprendizado proporcionados. A todos os amigos que fizeram do período 2015/2016, o mais marcante da minha vida, em especial, meus “irmãos de intercâmbio”: Beatriz, Daniela, Eduardo, Gabriel, Luís André, Matheus, Roberto e Samira, Isabella e Gabriela. Tudo isso, graças ao Programa Ciências Sem Fronteiras do Governo Federal, ao qual agradeço imensamente.

(6)

RESUMO

ESTRADIOTO, GEOVANNI M. ​Estádio Major Antônio Couto Pereira: como a reconstrução pode beneficiar o clube, a torcida e a cidade. ​112 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

Este trabalho tem como objetivo analisar como um novo projeto de estádio de futebol pode trazer benefícios ao clube proprietário, aos seus torcedores e também à cidade, tendo como objeto de estudo o estádio Major Antônio Couto Pereira, no bairro Alto da Glória, em Curitiba, Paraná. A proposta final, consiste na abertura do terreno para a cidade ao redor, através da criação de uma praça e proposição de novos usos no terreno. Através de revisão literária, buscou-se compreender a origem e evolução dos estádios e suas relações com os usuários diretos e do entorno. Então, por meio da leitura de dados, realização de questionário e levantamentos de campo, desenvolveu-se um diagnóstico dos principais problemas do atual estádio Couto Pereira e suas relações com torcida e usuários da região. Através do estudo de caso de três estádios, soluções arquitetônicas foram tomadas como referências para embasar a proposição das diretrizes projetuais, sugerindo além do novo estádio e a praça aberta, a criação de um estacionamento amplo no abaixo do estádio, espaços para novos usos comerciais e de serviços, além de outros usos que buscam atender demandas da região, como a instalação de um bicicletário e uma estação de compartilhamento de bicicletas. Tudo isso, visando manter os aspectos identificados como fundamentais para atender às necessidades do clube e sua torcida e cumprindo recomendações de conforto, segurança e sustentabilidade.

(7)

ABSTRACT

ESTRADIOTO, GEOVANNI M. ​Major Antônio Couto Pereira Stadium: how the

reconstruction could bring benefits for the club, the fans and the city. ​112 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

This essay aims to investigate how a new football stadium project could bring benefits for the owner club, its supporters and the city, using as research subject the Major Antônio Couto Pereira Stadium, in Alto da Glória, a neighborhood in Curitiba, Paraná. The final proposal consists in opening the site for the city around it, through the creation of a square and the proposition of new uses of the terrain. Through literature review, it seeks to comprehend the origin and evolution of football stadiums and their relations with the users of the stadium and the surrounding users. Then, by data analysis, questionnaire and field studies, a diagnostic of the main problems of the existing stadium and its relations with fans and surrounding users was developed. Through three case studies, architectural solutions were taken as references to the the architectural project guidelines, suggesting, in addition to the new stadium and the square, the creation of a car park under the stadium, new spaces for commercial and services establishments, besides other uses that aim to attend the region demands, as the installation of bike racks and a bike sharing station. All that seeking to keep the fundamental aspects identified to meet the needs of the club and its fans, always following the recommendations of comfort, safety and sustainability.

(8)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema explicativo da tragédia de Hillsborough……….24

Figura 2 - Diagramas sobre iluminação e cobertura - FIFA………....46

Figura 3 - Localização de Curitiba e do Paraná no Brasil………...50

Figura 4 - Bairro Alto da Glória e Regional Matriz no mapa de Curitiba………..51

Figura 5 - Área de Influência de Estudo……….54

Figura 6 - Zoneamento da área de estudo………55

Figura 7 - Mapa de Gabaritos, Cheios e Vazios………...56

Figura 8 - Mapa de usos na região de 500m………58

Figura 9 - Diagnóstico de Áreas Verdes Públicas da Região de Estudo………..59

Figura 10 - Mapa dos Aspectos Naturais do Terreno………..60

Figura 11 - Mapa Síntese de Trajetos e Fluxos………63

Figura 12 - Transporte Público e Estrutura Cicloviária da Região de Influência…….64

Figura 13 - Ameaças e Oportunidades para o Plinth de função Lazer……….66

Figura 14 - Mapa de Estudos de Plinth e Visuais……….68

Figura 15 - Exemplo de Estudo de Fachadas - Rua Amâncio Môro - Lado Oposto..70

Figura 16 - Visuais das Esquinas do Terreno………...72

Figura 17 - Setorização Atual do Couto Pereira………...76

Figura 18 - Localização da Amsterdam Arena………..86

Figura 19 - Vista Aérea Amsterdam Arena………...87

Figura 20 - Acessos ao Transferium e túnel………..88

Figura 21 - Corte Setorial - Amsterdam Arena……….89

Figura 22 - Localização Allianz Parque………..90

Figura 23 - Corte Setorial da Arquibancada do Allianz Parque……….93

Figura 24 - Esquema de Implantação do complexo do Allianz Parque………94

Figura 25 - Localização St. Jakob Park na Basileia……….96

Figura 26 - Implantação e Usos do Terreno St. Jakob Park………...98

Figura 27 - Corte Esquemático - Projeto Original (Antes da Ampliação)...99

Figura 28 - Fachadas Oeste e Leste do Complexo St. Jakob Park………101

Figura 29 - Palavras Chave para as Diretrizes Projetuais………104

Figura 30 - Resumo das Fontes Principais para as Diretrizes Projetuais…………..105

Figura 31 - Mapa Síntese do Entorno Imediato do Terreno……….107

Figura 32 - Exemplo de Sugestões da Torcida no Questionário……….108

Figura 33 - Conceitos………..109

Figura 34 - Partido a partir do Conceito………...110

Figura 35 - Etapas 1 e 2 da evolução do partido………...112

Figura 36 - Etapas 3 e 4 da evolução do partido………...113

Figura 37 - Etapa 5 da evolução do partido………114

Figura 38 - Etapa 6 da evolução do partido………115

Figura 39 - Resumo de Áreas Projetadas Dimensionadas - Programa de Necessidades……….121

Figura 40 - Parâmetros Construtivos do Terreno………...122

Figura 41 - Organograma Básico Geral - Dias de Jogos………..123

Figura 42 - Organograma Básico Geral - Dias sem Jogos………..124

Figura 43 - Diagrama de Circulação dos Jogadores……….125

Figura 44 - Diagrama das Áreas dos Times………126

(9)

-FIFA………...………....127

Figura 46 - Esquema Inicial de Desenvolvimento do Partido………..129

Figura 47 - Esquema da Estrutura Geral……….130

Figura 48 - Usos Complementares………..131

Figura 49 - Implantação e Cobertura………...132

Figura 50 - Planta de Subsolo e Estacionamento………..133

Figura 51 - Corte Longitudinal Completo……….133

Figura 52 - Corte Setorial………...134

Figura 53 - Perspectiva Geral Externa……….135

Figura 54 - Perspectiva Geral Interna 1………..135

Figura 55 - Perspectiva Esquina Mauá e Amâncio Môro……….136

Figura 56 - Sala de Reuniões - Executivo do Coritiba………..136

Figura 57 - Fun Center………...137

Figura 58 - Churrascaria - Visão para a Praça………...137

Figura 59 - Auditório - Interna 1………138

Figura 60 - Auditório - Interna 2………....138

Figura 61 - Estátua Dirceu Kruger………139

Figura 62 - Loja Oficial Coritiba……….139

Figura 63 - Praça - Perspectiva 1……….140

FIgura 64 - Praça - Perspectiva 2……….140

Figura 65 - Módulo Comercial e Portões de Acesso e Saída………..141

Figura 66 - Perspectiva Geral Interna 2………..141

(10)

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Vista aérea do Wembley Stadium, Londres……….27

Fotografia 2 - Logo da marca Adidas nas cadeiras do Old Trafford, Manchester…..29

Fotografia 3 - Imagem aérea do campo de jogo do lado externo da Veltins Arena, do Schalke 04……….………31

Fotografia 4 - O setor chamado de ​Safe Standing ou ​Rail Seatings Area no estádio do Celtic FC………..37

Fotografia 5 - Setor sem cadeiras azuis, onde é permitido ficar em pé, na Arena Grêmio……….38

Fotografia 6 - Vista oposta ao setor de arquibancada com proteções do Signal Iduna Park Stadium………..38

Fotografia 7 - Imagem aérea do extinto Maine Road Stadium e região………...44

Fotografia 8 - Imagem da região do City of Manchester Stadium (ou Etihad Stadium), em 2016………...44

Fotografia 9 - Imagem aérea do antigo estádio Palestra Itália………...91

Fotografia 10 - Imagem aérea do Allianz Parque……….92

Fotografia 11 - Placas de Aço Inox - Fachadas Allianz Parque………...…..95

Fotografia 12 - Antigo e Novo St. Jakob……….97

Fotografia 13 - Fachada Leste do Complexo St. Jakob Park……….99

Fotografia 14 - Fachada Sul do Complexo St. Jakob Park………100

(11)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Questão 6 do Questionário………..61

Gráfico 2 - Questão 7 do Questionário………..62

Gráfico 3 - Questão 11 do questionário - Satisfação com a estrutura………..73

Gráfico 4 - Questão 8 do questionário - Identificação e Mudanças………..73

Gráfico 5 - Questão 11 do questionário - Satisfação com a estrutura………..74

Gráfico 6 - Questão 9 do Questionário - Setorização Estádio………...76

Gráfico 7 - Questão 10 do Questionário - Arquibancadas sem Cadeiras………77

Gráfico 8 - Questão 12 do Questionário - Antecedência………...………….77

Gráfico 9 - Questão 13 do Questionário - Local de pré-jogo………..78

Gráfico 10 - Questão 14 do Questionário - Satisfação com o Entorno……….79

Gráfico 11 - Questão 15 do Questionário - Memorial Coxa………80

Gráfico 12 - Questão 16 do Questionário - Loja Oficial do Coritiba………..80

Gráfico 13 - Questão 17 do Questionário - Estátua e outras homenagens………….81

Gráfico 14 - Questão 18 do Questionário - Nome do Estádio………81

Gráfico 15 - Questão 19 do Questionário - Flexibilidade e Multiuso……….82

(12)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Critérios e Fórmulas para Comparação de Plinth…...………..69 Tabela 2 - Valores Observados de cada lado das ruas para aplicar nas fórmulas.70 Tabela 3 - Comparativa de Resultados Obtidos………..71 Tabela 4 - Síntese dos Estudos de Caso………....103 Tabela 5 - Os 4 Grupos de Áreas - Programa de Necessidades……….117 Tabela 6 - Grupo “Realização de Partidas” - Programa de Necessidades……….118 Tabela 7 - Grupo “Torcida” - Programa de Necessidades……….118 Tabela 8 - Grupo “Coritiba” - Programa de Necessidades………119 Tabela 9 - Grupo “Propostas do Partido” - Programa de Necessidades..………....120

(13)

LISTA DE SIGLAS

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba

PIB Produto Interno Bruto

UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná

IMUSA Independent Manchester United Supporters Association

FIFA Federação Internacional de Futebol - Associação

CBF Confederação Brasileira de Futebol

(14)

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ​14 1.1 PROBLEMA ​15 1.2 HIPÓTESE ​15 1.3 JUSTIFICATIVA ​15 1.4 OBJETIVOS ​16 1.4.1 OBJETIVO GERAL ​17 1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ​17 1.5 METODOLOGIA DE PESQUISA ​17

2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA: ESTÁDIOS DE FUTEBOL ​19

2.1 HISTÓRICO E CENÁRIO ATUAL ​19

2.1.1 ARENA OU ESTÁDIO? ​19

2.1.2 ESTÁDIOS PELO MUNDO AO DECORRER DA HISTÓRIA ​21

2.1.3 AS “NOVAS ARENAS MULTIUSO” ​26

2.2. RELAÇÕES ENTRE ESTÁDIOS, CIDADES E AS PESSOAS ​33

2.2.1 ESTÁDIO E O CONTEXTO URBANO ​33

2.2.2 OS ESTÁDIOS E SEUS USUÁRIOS ​36

2.3. PADRÕES DE QUALIDADE E RECOMENDAÇÕES ​46

3. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ​49

3.1 CURITIBA - PARANÁ - BRASIL ​50

3.2 O BAIRRO ALTO DA GLÓRIA ​52

3.3 O ESTÁDIO, O TERRENO E SUAS RELAÇÕES ​55

3.3.1 OCUPAÇÃO E OS ASPECTOS ECONÔMICOS E NATURAIS ​56

3.3.2 LIGAÇÕES URBANAS E TRANSPORTE ​62

3.4 USUÁRIOS LOCAIS E O ESTÁDIO ​67

3.5 TORCIDA E O ESTÁDIO ​73

4. ESTUDOS DE CASO ​85

4.1 A AMSTERDAM ARENA ​85

4.2 A RECONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO DO PALMEIRAS ​91

4.3 ST. JAKOB PARK - BASILEIA - SUÍÇA ​97

4.4 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE CASO ​103

5. DIRETRIZES PROJETUAIS ​105

5.1 MAPA SÍNTESE, O CONCEITO E O PARTIDO ​106

5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ​117

5.3 ORGANOGRAMAS E FLUXOS GERAIS ​123

6. PROPOSTA ​129

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ​142

REFERÊNCIAS ​144

(15)

1. INTRODUÇÃO

O Estádio Major Antônio Couto Pereira, propriedade do Coritiba Foot Ball Club, está localizado no bairro Alto da Glória, região central de Curitiba, há mais de 70 anos. A estrutura de concreto armado do estádio como se conhece hoje, data dos anos 70 e já foi palco de incontáveis partidas de futebol e outros eventos. Entende-se que um projeto de reconstrução do estádio possa trazer benefícios tanto ao clube e seus torcedores, quanto também para o Alto da Glória e para Curitiba.

A proposta consiste em um novo estádio que, respeitando opiniões e desejos da torcida, aproveite melhor seu terreno aproximando as arquibancadas do gramado e que apresente padrões de conforto, segurança, sustentabilidade e modernidade que: melhorem a experiência dos torcedores; atraia novos usos e eventos, gerando mais renda ao clube; garanta ao Coritiba e seus torcedores um longo período de sustentabilidade; e, por fim, mas não menos importante, que busque soluções arquitetônicas capazes de melhorar a qualidade de vida dos moradores da região e que dê a Curitiba um novo projeto referência nos conceitos de sustentabilidade e inteligência.

Para isso, visando atingir os objetivos descritos a seguir, fez-se um estudo aprofundado da história e de conceitos chaves para compreensão de o que são e como se desenvolveram os estádios de futebol, assunto desta pesquisa.

Depois, buscou-se compreender, através da leitura e sobreposição de dados e mapas, como o Couto Pereira se relaciona com a região e quais são tanto os eventuais problemas gerados pelo estádio, quanto problemas ou carências gerais do entorno que um possível novo estádio poderia resolver ou amenizar. Além disso, buscou-se identificar as necessidades e vontades dos torcedores e do clube.

Após, então, ter diagnosticado esses elementos, realizou-se o estudo de caso de três estádios (a Amsterdam Arena, na Holanda, o St. Jakob Park, na Suíça e o Allianz Parque, em São Paulo) e como seus projetos apresentam soluções arquitetônicas que podem servir para solucionar alguns dos problemas identificados, constituindo as principais referências projetuais a serem seguidas.

(16)

conceitos, do partido arquitetônico e do programa de necessidades a serem seguidos no projeto a ser desenvolvido baseado nesta pesquisa, durante a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso 2.

1.1 PROBLEMA

Estádios de futebol são estruturas de grande porte e impacto. Como, então, um projeto de reconstrução do Estádio Major Antônio Couto Pereira poderia beneficiar não apenas o clube e seus torcedores, mas também o Alto da Glória e a cidade de Curitiba?

1.2 HIPÓTESE

Através de um novo projeto arquitetônico e paisagístico, pode-se propor uma estrutura flexível e inteligente que proporcione novos usos, melhore as condições dos já existentes no local e ainda atenda necessidades da região do entorno.

1.3 JUSTIFICATIVA

Notícias sobre um possível novo estádio do Coritiba Foot Ball Club são cada vez mais frequentes nos principais meios de comunicação local. Desde a divulgação das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, o assunto tornou-se pauta em todos os grandes clubes do Brasil. Desde então, muitos tiveram seus estádios completamente reformados ou até mesmo mudaram-se para novas arenas em outro local das cidades.

No caso do Coritiba, apesar dos inúmeros projetos – tanto de reformas, quanto reconstrução total – e maquetes divulgadas, obras quanto ao seu maior patrimônio limitaram-se à uma ampliação do antigo setor Mauá, em 2013, elevando a capacidade do estádio para 40.502 pessoas. Apesar disso, as diferentes diretorias, desde então, sempre explicitaram o desejo e necessidade do clube em realizar um projeto mais ambicioso, uma vez que o atual estádio – construído em 1958 – apresenta custos de manutenção estrutural cada vez mais altos.

(17)

O estádio Major Antônio Couto Pereira, além de sua importância histórica para o Coritiba e seus torcedores, já sediou diversos eventos com grandes públicos em Curitiba, como shows internacionais e a visita do Papa João Paulo II, 1980, com 80.000 pessoas presentes. Além de eventos, o local acomoda um museu e uma loja oficial do Coritiba, uma central de atendimento ao torcedor e a churrascaria Alto da Glória, contando com um estacionamento aberto com apenas 400 vagas para atender toda essa demanda.

Sendo um marco do Bairro Alto da Glória, o “gigante de concreto armado” viu o entorno se desenvolver. Onde antes havia apenas grandes propriedades residenciais e uma igreja, surgiram muitos prédios residenciais, bares e outros estabelecimentos que dão vida aos arredores mesmo quando não é dia de evento no local. Por isso, mesmo quando não utilizado, o Couto Pereira pode representar, como elemento arquitetônico imponente demais para seu terreno, uma barreira às pessoas que precisam circular por suas grades e portões em seus caminhos diários. A construção de um estádio de futebol, ou uma arena multiuso, portanto, afeta não apenas seus usuários diretos, mas também moradores, trabalhadores e quem quer que precise transitar pelo local. Tendo isso em vista, além de questões referentes à influência do projeto na identidade do clube e da torcida, divulgação da marca, atratividade aos torcedores e até questões mais subjetivas como os problemas de elitização e padronização de comportamento nos estádios, o projeto de um novo estádio torna-se objeto de estudo relevante não apenas na esfera da arquitetura e paisagismo, como também no urbanístico.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 OBJETIVO GERAL

Diagnosticar os problemas da atual configuração do estádio e sua relação com o entorno, para então projetar uma estrutura capaz de acomodar não apenas as funções de um estádio de futebol, mas também espaços e usos que beneficiem o clube, os torcedores e os usuários da região do Bairro Alto da Glória.

(18)

1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. Estudar a história e desenvolvimento da tipologia dos estádios de futebol, bem como os atuais padrões de qualidade e segurança recomendados.

II. Analisar o terreno e a relação do atual estádio com o entorno, diagnosticando eventuais problemas tanto de funcionalidade quanto para as pessoas que transitam e utilizam a região.

III. Explorar referências de estádios que contenham diversidade de usos e boa relação com o entorno.

IV. Compreender como o torcedor se apropria do entorno em dias de jogo, como se identifica com o estádio e quais suas necessidades e opiniões sobre um novo estádio.

V. Conceber diretrizes projetuais que orientem o desenvolvimento do projeto arquitetônico de forma a buscar resolver ou amenizar os problemas diagnosticados.

1.5 METODOLOGIA DE PESQUISA

- EXPLORATÓRIA: Levantamento bibliográfico com intuito de melhor compreender o processo histórico e cenário atual a respeito dos estádios de futebol e relação de estruturas deste porte com seu entorno.

- DESCRITIVA: Diagnóstico de problemas e potenciais do terreno, da região e do estádio através de realização de questionários com usuários e dados do local.

- ANALÍTICA: Através dos resultados obtidos nas pesquisas e levantamentos técnicos do terreno.

(19)

2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA: ESTÁDIOS DE FUTEBOL

2.1 HISTÓRICO E CENÁRIO ATUAL 2.1.1 ARENA OU ESTÁDIO?

Quando se trata do tema em questão, há certa dúvida quanto a possíveis diferenças entre os termos “estádio” e “arena”. Não é difícil encontrar matérias ou artigos que apresentem ambas palavras para se referir a mesma obra. Por isso, a fim de poupar os leitores de tal confusão, este subcapítulo inicial define o modo como os termos são empregados ao decorrer da pesquisa.

A palavra “estádio” é uma derivação do termo grego ​stadion

​ , primeiramente

empregado como uma unidade de medida equivalente a, aproximadamente, 176 metros (600 pés) e que correspondia à distância percorrida em provas de corrida a pé. Logo, ​stadion passou a nomear tanto o esporte quanto à estrutura construída para sediar essas competições (KRATZMÜLLER, 2010).

A arqueologista austríaca, Bettina Kratzmüller, destaca que, no início, as provas de corrida a pé e equestres (em algumas cidades que não possuíam o

hippodromo

​ ) se davam no espaço da ágora grega, porém, a falta de espaço físico

adequado aos espectadores e a crescente importância dos eventos nas cidades (​polis

​ ) exigiram a construção de uma estrutura mais imponente que desse mais

comodidade e notabilidade ao público e aos que se exibissem nos eventos. Esta estrutura, chamada de ​stadion

​ , era construída, geralmente, em locais

estreitos em que a própria topografia permitisse um posicionamento elevado do público nas laterais paralelas à pista de competição. Utilizando, na maioria dos casos, uma estrutura de pedras (KRATZMÜLLER, 2010).

Quando os romanos conquistaram a Grécia, o ​stadion sofreu grandes mudanças. O desenvolvimento de tecnologias de construção, como a utilização do

opus caementicium - conhecido por “concreto romano”-, permitiu avanços estruturais que levaram à construção de arquibancadas multinível e melhores áreas de

(20)

circulação e escoamento das massas. Este método construtivo, já era utilizado nos anfiteatros e circos romanos (KRATZMÜLLER, 2010).

Com o passar do tempo, além de adaptarem alguns dos antigos exemplares de ​stadion gregos, fechando as laterais mais estreitas, os romanos passaram a transferir as atividades esportivas para construções maiores em forma de anfiteatro, do termo ​anphiteatrum

​ , que consistia (conforme o próprio termo indica) numa

estrutura de teatro (​teatrum

) duplo (​anfi) que circundava o local de apresentações ao

centro (KRATZMÜLLER, 2010).

Como estas construções apresentavam problemas de irregularidade nos pisos centrais onde realizavam-se as competições esportivas, os romanos passaram a cobrir as tábuas do piso com areia, do latim ​“arena”

​ . Fato este que levou ao

surgimento do termo “arena” para nomear esse tipo de estrutura (BRASIL, Ministério do Esporte. 2011).

Apesar de na antiguidade haver tal distinção clara entre os termos “arena” e “estádio”, hoje, há grande variação na interpretação de como pode-se empregar cada um.

Até a chegada das chamadas “novas arenas modernas” (anos 90), era comum utilizar “estádio” para as estruturas maiores e mais abertas em que se realizava o futebol, enquanto “arena” estava relacionado às estruturas mais fechadas e menores em que se realizavam esportes ​indoor como basquete, vôlei e outros.

A partir dos anos 90, o termo “arena” passou a ser usado com uma conotação diferente, ligada a ideia de um espaço multiuso, onde podem ser realizados diversos tipos de eventos (esportivos ou não) que não futebolísticos, como afirma a empresa Odebretch Properties, em resposta ao questionamento feito pela jornalista Morris Kachani, da Folha de São Paulo (2014). Essa nota da empresa esclarece ainda que, em casos como o do Maracanã, que atualmente é palco de shows e outros eventos além do futebol, mantém-se o nome de estádio por questões de tradição e história.

Tendo tudo isso em vista, ao decorrer do texto desta pesquisa, utiliza-se os termos “estádio” e “arena” de acordo com a conveniência de momento. Para tratar-se de questões históricas da tipologia, o termo varia de acordo com o contexto histórico, enquanto que para citar casos atuais, respeita-se o nome tradicional

(21)

(comercial) mais comum a cada caso, mesmo que não hajam diferenças relevantes tanto estruturais como de usos, por exemplo: Estádio do Maracanã; Allianz Arena; Amsterdam Arena; Estádio Olímpico de Roma; etc.

2.1.2 ESTÁDIOS PELO MUNDO AO DECORRER DA HISTÓRIA

Desde a antiguidade, tanto na sociedade grega quanto na romana, estádios e arenas são palcos não apenas de meros eventos esportivos e entretenimento, mas também locais nos quais se realizam atos políticos - tanto por parte de representantes quanto por parte do público- e que revelam aspectos sociológicos de comunidades através do modo como elas se comportam e se relacionam nesses espaços. Por isso, não se pode compreender o estádio apenas como estrutura arquitetônica sem analisar suas relações com as cidades, os usuários e seus contextos históricos.

Os estádios gregos, além de utilizados para realização das provas de corrida, eram local de relação entre o povo e pessoas de elevado status político. Anúncios e celebrações eram realizadas no ​stadion

​ , além de votações nas quais poderiam

participar os membros da sociedade reconhecidos como cidadãos (variando de acordo com as leis de cada cidade-estado), tornando a presença nas arquibancadas um ato de reconhecimento próprio e alheio de status e diferenciação (KRATZMÜLLER, 2010).

Para os romanos, apesar de não ter funções tão importantes quanto votações e anúncios, as arenas também tinham papel relevante na política. No artigo ​“Show

yourself to the people!”

, presente no livro ​Stadium Worlds: Football, Space and the

Built Environment (editado por Sybille Frank e Silke Steets)(2010), Kratzmüller cita duas expressões que confirmam esta importância: ​panem et circenses (a política de pão e circo) e ​da te popule, committe ludis (“mostre-se ao povo, surja nos jogos”,

ideia de que os representantes políticos deviam se fazer presentes nos jogos).

A primeira, demonstra uma característica dos estádios que se mantém até os dias de hoje: há uma noção de separação (barreira) entre o mundo externo ao estádio e o interno. Ao entrar na arena para assistir às sangrentas batalhas de gladiadores, competições de bigas, e outros esportes da época, o povo romano

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esquecia os problemas cotidianos e sentiam-se parte de uma excitante massa de pessoas. Com isso, somando ao fato de haver alimento para a população, a política do “pão e circo” dava sensação de satisfação ao povo e tranquilidade e controle ao governo.

A segunda expressão, um lema político, ilustra a ideia de que se fazer presente nas arquibancadas, representava tanto uma proximidade do político com o povo, quanto a afirmação da importância da plateia. Kratzmüller traz referências que comprovam tanto o sucesso desta política quanto suas complicações: as platéias não apenas aclamavam seus representantes por meio de palmas e gritos, mas também demonstravam seu descontentamento através de vaias e gritos de reprovação, sentindo-se protegidos pelo anonimato da multidão.

Com a queda do Império Romano, chegou ao fim esse período de reconhecimento dos estádios como estrutura arquitetônica de destaque e importância para as sociedades greco-romanas, que então, caíram no esquecimento por séculos, aparecendo novamente apenas no fim do século XVIII, com a construção de uma arena multifuncional em Champ de Mars, Paris, no ano de 1790, reconhecida como primeiro estádio moderno e tendo capacidade para algo estimado entre 400 e 600 mil pessoas (VERSPOHL ​apud

​ FRANK, S; STEETS, S. 2010).

Desde então, durante os séculos XIX e XX, os estádios voltaram a ter reconhecimento e destaque nos cenários urbanos. Alguns construídos para abrigar diversos tipos de atividades diferentes (corridas automobilísticas, provas de atletismo, etc), enquanto outros com finalidade exclusiva para esportes com futebol, rugby, futebol americano, baseball, etc.

Ao invés das pedras, concreto romano e areia, os materiais empregados na construção variam entre madeira (proibidos atualmente), concreto armado, alvenaria, aço, vidro, polímeros sintéticos, gramas naturais e sintéticas, etc.

Quanto às formas, variam muito entre os ovais e redondos (nos quais é comum a presença de pistas de atletismo ao redor do campo) e estádios retangulares, que costumam ter as arquibancadas mais próximas ao gramado. Além disso, a presença de coberturas foi se tornando cada vez mais comum.

Ao fim do século XX, os estádios ao redor do mundo atingiram seu auge no quesito de grandiosidade: A nível mundial, o maior estádio é o Estádio Primeiro de

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Maio Rungrado, inaugurado em 1989, na Coréia do Norte, tendo mais de 60m de altura e capacidade total de 150 mil pessoas; já no Brasil, o maior estádio é o Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã), no Rio de Janeiro, com capacidade atual de quase 80 mil pessoas, apesar de já ter registrado o maior público da história do futebol mundial, durante a final da Copa do Mundo de 1950, na qual 200 mil pessoas atenderam à partida entre Brasil e Uruguai, apesar da capacidade permitida ser de 150 mil espectadores, na época (FRANK, S; STEETS, S. 2010).

Além de ter sido o berço do futebol, a Inglaterra é também o centro inicial de grandes mudanças na arquitetura dos estádios de futebol. Muito disso, deve-se a algumas tragédias ocorridas não apenas em estádios britânicos, mas também em outros países europeus, envolvendo torcedores ingleses.

Situados, geralmente, em meio a bairros residenciais de classe média-baixa, muito ligados às populações de trabalhadores da era pós-industrial, os estádios ingleses costumavam ser exclusivamente para futebol (alguns também para rugby). As arquibancadas eram construídas em madeira ou em concreto e eram muito próximas ao campo de jogo, tendo a separação feita por alambrados.

Estruturas precárias e mal conservadas, poucos pontos de acesso e escoamento das massas, além de estádios implantados em áreas inapropriadas. Somando isso à problemas de comportamento do público e planejamento das operações de segurança, ocorreram consequências fatais e devastadoras para muitas pessoas, marcos trágicos na história do futebol e mudanças radicais no modo como a comunidade europeia, principalmente inglesa, via a questão da construção e manutenção dos estádios de futebol.

Em 1985, ocorreram duas graves tragédias que viriam a gerar mudanças: o incêndio no estádio do Bradford City, Inglaterra; e o desastre de Heysel, na Bélgica.

No primeiro caso, ocorrido no dia 11 de Maio de 1985, diversos fatores culminaram na morte de 56 pessoas e deixaram mais de 250 feridos. A arquibancada principal era feita de tábuas de madeira e não haviam “espelhos” entre os pisos da arquibancada, deixando um espaço para que lixo caísse entre os degraus e se acumulasse debaixo da estrutura. Alguns relatórios de segurança apontaram o problema, que, no entanto, não foi resolvido. Durante o intervalo da partida entre Bradford City e Lincoln City, um cigarro ainda aceso caiu entre as

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tábuas de madeira, sobre o lixo, iniciando um incêndio. Em poucos minutos, o fogo atingiu toda a arquibancada principal e, por não haver saídas de segurança suficientes, muitos torcedores foram encurralados entre o alambrado e o fogo, gerando então mais de 300 vítimas, entre mortos e feridos (KING, 2010).

Apenas algumas semanas depois, no dia 29 de Maio de 1985, na partida entre Liverpool FC (Inglaterra) e Juventus FC (Itália) valendo título da Taça dos Campeões da Europa, mais uma tragédia manchou a história do esporte e dos estádios. Apesar da preocupação das autoridades com possíveis casos de

hooliganismo

e confronto entre as torcidas, a proximidade entre o setor exclusivo da

torcida britânica e um setor misto, mas de maioria italiana, levou a provocação e exaltação por parte das torcidas. Uma grade e alguns policiais não foram capazes de conter os hooligans ingleses, que invadiram a área neutra agredindo os italianos. Sentindo-se acuados, torcedores presentes no setor neutro começaram a tentar fugir das agressões, acumulando-se numa parede de concreto na outra extremidade do setor. Devido à frágil estrutura, a parede cedeu, levando dezenas de torcedores a caírem. Ao todo, foram contabilizados mais de 600 feridos e 39 mortos (32 italianos, 4 belgas, 2 franceses e 1 norte-irlandês). Apesar do ocorrido, a partida foi realizada e terminou com vitória da Juventus por 1 a 0. Como consequência das ações hooligans, todos os clubes ingleses foram banidos de competições européias por um período de cinco anos (BBC News, 2015).

De acordo com Anthony King, professor de sociologia na Universidade de Exeter, 1985 mudou o modo a Europa tratava a estrutura de seus estádios. Segundo ele, a FIFA (Federação Internacional de Futebol - Associação) passou a cobrar mudanças por parte das federações nacionais e clubes, porém, o estopim para tais grandes mudanças veio apenas em 1989, com a tragédia de Hillsborough, em Sheffield, na Inglaterra.

Era numa tarde de 15 de Abril (1989) em que a partida válida pela semifinal da ​FA Cup seria disputada entre Liverpool FC e Nottingham Forest FC, no Hillsborough Stadium. A entrada dos torcedores do Liverpool no estádio era realizada lentamente através de torniquetes na área Lepping Lane. Faltando meia hora para o pontapé inicial acontecer, menos de 5 mil torcedores haviam entrado, restando ainda 5.700 pessoas.

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O comando de segurança responsável pela partida, decidiu que não era necessário adiar o início, porém, como haviam pessoas sendo esmagadas pela multidão nos torniquetes, autorizou a abertura do portão 3, que dava acesso direto da área externa aos túneis estreitos que levavam aos setores 3 e 4 da arquibancada norte, que combinados, possuíam capacidade máxima de 2.200 pessoas.

A multidão que entrava rapidamente pelo portão 3, não sendo orientada e não identificando seus devidos setores, devido à sinalização precária, passou a superlotar os setores 3 e 4, fazendo com que torcedores que já estavam lá fossem pressionados contra o alambrado de segurança atrás do gol e uns contra os outros. Foi apenas com alguns minutos de jogo que percebeu-se a dimensão do problema, quando uma grade cedeu e pessoas desesperadas passaram a escalar as outras e tentar ajudar seus companheiros a fazer o mesmo. O resultado dessa tragédia foi de 96 mortes por pisoteamento ou asfixia causada pela pressão nas grades (BBC

News, 2016).

Figura 1 - Esquema Explicativo da Tragédia de Hillsborough Fonte: BBC News.

O desastre de Hillsborough fez com que Margaret Thatcher, primeira ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990, além de setores importantes da sociedade britânica exigissem mudanças severas e urgentes. Para isso, Lord Peter Taylor, Chefe de Justiça, foi designado para conduzir investigações a respeito do incidente e um relatório. Tal relatório, conhecido como ​Taylor Report

​ , trouxe uma profunda

análise dos estádios ingleses e novas regras a serem cumpridas, como, por exemplo, a extinção dos alambrados e das arquibancadas em que se era permitido

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assistir às partidas em pé, tornando assim obrigatória a conversão de todos os estádios do Reino Unido para ​all-seater stands

​ (arquibancadas com assentos onde

torcedores deve-se assistir aos jogos sentados)(KING, 2010).

Vários outros incidentes envolvendo estruturas precárias ocorreram ao longo dos anos 80 e 90. Devido a estas tragédias, tanto por problemas estruturais quanto hooliganismo, principalmente as citadas neste capítulo, instituições como a FIFA e o governo britânico criaram exigências e meios de fiscalização para garantir segurança e comodidade nos grande estádios europeus. Além dessas questões, surgiu uma onda global de transformação dos estádios e dos eventos esportivos em atrativos comerciais e midiáticos que trouxeram novos conceitos para as chamadas “arenas modernas”, conforme será tratado no próximo subcapítulo.

2.1.3 AS “NOVAS ARENAS MULTIUSO”

Visando atender às demandas de segurança e conforto, os estádios europeus passaram por grandes transformações a partir dos últimos anos do século XX e início do século XXI. Em 1990, o estádio San Siro (ou Giuseppe Meazza), em Milão, foi reconstruído segundo exigências da FIFA para sediar a Copa do Mundo da Itália, impressionando por sua estrutura monumental de concreto com cobertura treliçada (KING, 2010).

Além do exemplo italiano, diversos outros grandes palcos foram consideravelmente, ou totalmente, reformados, como o Old Trafford, casa do Manchester United, que após as adaptações ao relatório de Taylor teve sua capacidade reduzida para 44 mil espectadores, mas foi ampliado e renovado, possibilitando que mais de 75 mil pessoas pudessem assistir aos jogos do time sentados.

Apesar de não ser o maior estádio moderno, deve-se destacar o pioneirismo do estádio do Ajax AFC, a Amsterdam Arena, inaugurado em 1996, na capital holandesa. Conforme o jornalista Ubiratan Leal, em matéria publicada no blog Trivela.UOL, o estádio foi apenas o quarto a ser construído do zero para mais de 50 mil pessoas, na Europa, e, ao contrário dos três antecessores - Olímpico Spirou

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Louis (Atenas, 1982), Delle Alpi (Turim, 1990) e San Nicola (Bari, 1990)-, não necessitou, até hoje, de grandes reformas, nem foi demolido, muito menos tornou-se um exemplo de “elefante branco”, destinos dos três estádios citados, respectivamente.

O sucesso da Amsterdam Arena (do arquiteto holandês, Rob Schuurman) deve-se tanto pelas inovações estruturais, sendo o primeiro estádio de futebol com teto retrátil do mundo (MANS e RODENBURG, 2000), quanto pelas diversas possibilidades de usos não apenas no espaço do campo e das arquibancadas, mas também debaixo do gramado, através de estratégias projetuais que serão analisadas mais adiante, como estudo de caso.

Anthony King aponta que três características podem distinguir os novos estádios europeus do século XXI dos antigos estádios do século XX: assentos, coberturas e vidro.

Como já mencionado anteriormente, a introdução dos assentos nas arquibancadas europeias se deu, principalmente, no Reino Unido, onde todos os estádios tiveram de abolir setores para se assistir em pé. Tal adaptação exigiu grandes quantias de investimento por parte dos clubes e instituições que administravam estádios públicos, porém, também apresentou a possibilidade de um aumento de receita: os ingressos tiveram seus valores ajustados em, em média, 102% entre os clubes ingleses, com destaque para o Manchester United que elevou em 240% (KING, 2010).

Consequentemente à instalação de assentos e inflação nos ingressos, percebeu-se uma oportunidade de negócio. Além do maior conforto das cadeiras, com o fim da aparência hostil dos alambrados e das campanhas anti-hooligans no país, os estádios passaram a ser locais mais atrativos para novos tipos de públicos: mulheres, grupos étnicos e sociais (não apenas homens britânicos classe média e baixa) e crianças deixaram de enxergar os campos de futebol como sinônimo de hostilidade e desconforto. King conclui, então, que ocorreu uma transformação social: ​“The result is that the football ground is no longer the domain of the male members of the urban working class. It is becoming the arena of the new post-Fordist family”

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Estruturalmente, assentos individuais ocupam mais espaço do que o necessário para torcedores sentados diretamente sobre o concreto. Isso levou à redução de capacidade de muitos estádios e, logo, à necessidade de ampliação das arquibancadas. Além disso, criou-se um problema de conforto em dias com tempo desfavorável. Conforme King aponta, assistir a uma partida em pé, na chuva ou neve, é desagradável, mas sentado, torna-se insuportável (2010). A solução foi a construção de novas e imponentes coberturas.

No lugar das estruturas cinzas e pesadas de ferro, surgiram as estruturas leves, translúcidas e coloridas de aço, titânio, vidro, e outros materiais. Apareceram também, em muitos casos, coberturas “soltas” do edifício principal, dando visibilidade, facilitando ventilação, além de, em muitos casos, fazer parte de uma espécie de “casca” que não apenas cobre as arquibancadas, mas também envolve as fachadas do estádio. Para King, essa mudança vai além de uma questão arquitetônica visual e de conforto, mas também simboliza uma aliança entre o futebol e o capital financeiro global (fenômeno abordado no próximo tópico).

Fotografia 1 - Vista aérea do Wembley Stadium, Londres Fonte: Site Oficial do Wembley

Disponível em: <http://www.wembleystadium.com/TheStadium>

Apesar de os custos dessas superestruturas serem enormes, a viabilidade financeira surgiu, nos anos 90, com mudanças no sistema de direitos de imagem e

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transmissão que levaram milhões de libras a mais para os cofres dos clubes, fenômeno este que vem se repetindo a cada nova temporada do futebol europeu. Enquanto em 1986, os direitos da Premier League (Inglaterra) giravam em torno de 1,5 milhões de libras, as transmissões televisivas das temporadas 2010-13 valeram em torno de 1 bilhão e 800 milhões de libras (KING, 2010).

Grandes estádios passaram a ser marcos de uma nova era e algumas obras evidenciam isso: o Wembley Stadium (maior estádio inglês, inaugurado em 2007, em Londres), por Norman Foster; e os estádios Allianz Arena (Munique, 2005) e “Ninho do Pássaro” (Pequim, 2008) pelos arquitetos Jaques Herzog e Pierre de Meuron. Nesses casos, os arquitetos pós-modernos criaram projetos de mega estádios que rejeitavam o funcionalismo racional dos modernos e traziam inovações como, por exemplo, o uso de vidro na fachada e a cobertura sustentada por um arco gigante do Wembley (KING, 2010).

Segundo King, a utilização do vidro nas fachadas dava aos estádios uma linguagem semelhante aos dos grandes arranha céus corporativos americanos, além de tornar possível que pessoas no entorno do edifício observassem aqueles do lado de dentro, seja transitando entre os corredores ou confraternizando nos setores atrás da arquibancada (como no caso da East Stand do Old Trafford). Essa característica, além do uso de luzes coloridas na fachada (Allianz Arena) ou na iluminação dramática do monumental arco do Wembley, transformaram as relações entre estádio e entorno.

Conforme já mencionado, King afirma que os novos estádios marcaram uma forte relação entre futebol e o fluxo global de capital. Como exemplo claro desta relação, ele cita, mais uma vez, o caso do Old Trafford que traduz, até hoje, essa relação entre clube, proprietários (família Glazer) e investidores nos diversos tipos de publicidade no estádio, como por exemplo as logos e nomes de empresas “desenhadas” pelo contraste entre cadeiras brancas e vermelhas (foi o caso da Vodafone e Nike, até os anos 2000, e da Adidas atualmente).

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Fotografia 2 - Logo da marca Adidas nas cadeiras do Old Trafford, Manchester. Fonte: Acervo pessoal (2016).

Além dos fatores identificados por King (inflação nos ingressos, novos públicos alvos, aumento nos direitos de imagem e transmissão e aumento das publicidades no estádio), o arquiteto e teórico de arte e história, Michael Zinganel, analisa outros pontos dessa relação entre estádio e capital financeiro.

Segundo Zinganel, a construção de estádios passou a impulsionar ainda mais as economias locais. Tanto no aspecto mais imediato do entorno, na relação com comércios próximos, quanto num cenário que pode ir da escala regional à internacional, através da divulgação intensa do nome e imagem das cidades via mídia, tornando até mesmo clubes de “segundo nível” potenciais geradores de benefícios diretos ou indiretos, materiais ou imateriais, para as comunidades. Tal efeito faz com que os pesados investimentos, públicos e privados, na construção e manutenção de estádios, sejam devidamente compensados na maioria dos casos.

Esse retorno financeiro aos investidores, que jamais seria possível apenas pela venda de ingressos e planos de sócios (apesar da inflação), ocorre de várias formas, através de: patrocínios do clube e dos torneios; venda dos ​naming rights (geralmente dos estádios, como a Allianz Arena, mas também há casos de clubes com nomes de multinacionais como a Red Bull - RB Leipzig, New York Red Bull, Red Bull Salzburg, etc); arrendamento de camarotes e áreas VIP; direitos televisivos, merchandising e outros (ZINGANEL, 2010).

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A despeito da boa variedade de fontes de renda, há um problema comum à maioria delas: a dependência de uma contínua e crescente exposição na mídia. Por isso, tendo em vista que, mesmo durante os momentos de calendário apertado, os times costumam jogar, no máximo, duas vezes por semana, começou uma pressão pela busca de novas atividades que ajudassem a reduzir esses períodos ociosos dos estádios, que são sinônimos de prejuízo. A solução encontrada foi a flexibilização e adaptação dos estádios para receber tanto outros eventos esportivos, quanto quaisquer outros tipos de entretenimento possíveis, trazendo então o conceito das “arenas multiuso” (ZINGANEL, 2010).

Os estádios já não podiam mais depender exclusivamente das partidas de futebol. Eventos de arquitetura efêmera passaram acontecer no mesmo espaço em que antes apenas jogadores costumavam se apresentar, o que levou a alguns novos problemas logísticos e estruturais a serem resolvidos.

Um exemplo de inovação e boa adaptação às novas necessidades dos estádios de futebol foi a Veltins-Arena (também conhecida por Auf Schalke Arena), do Schalke 04, construída em Gelsenkirchen (Alemanha), no ano de 2001. Além de ser o primeiro estádio alemão construído inteiramente com dinheiro privado, a obra apresentou elementos que solucionaram os problemas mencionados anteriormente.

O projeto do arquiteto alemão, Hubert Petschnigg, soube resolver bem problemas relacionados ao teto retrátil e gramado, enfrentados na Amsterdam Arena. Devido ao gigante e complexo teto retrátil de 560 toneladas que abriga os 61.000 espectadores, o gramado do estádio alemão não teria condições adequadas de iluminação solar e ventilação. Então, debaixo do campo de jogo, há uma estrutura de trilhos que é capaz de deslizar o gramado inteiro por debaixo da arquibancada sul até que todo ele fique totalmente exposto ao sol numa área externa ao estádio (ZINGANEL, 2010).

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Fotografia 3 - Imagem aérea do campo de jogo do lado externo da Veltins Arena, do Schalke 04.

Fonte: Architectism. Disponível em:

<http://architectism.com/shalke-04s-wonderful-stadium-veltins-arena/>

Além disso, Zinganel destaca que a Veltins-Arena conta com o maior cubo de telas LED até então já visto em estádios de futebol, pendurado na estrutura da cobertura sobre o centro do gramado, elemento que possibilita tanto exibição de estatísticas de jogo, quanto replays, propagandas e até mesmo imagens ao vivo de torcedores presentes no estádio, criando um novo atrativo. Outro fator de orgulho da arena é a capacidade de organizar até três megaeventos em até 96 horas, como grandes concertos musicais, edições de ​supercross rally

e até a tradicional

Oktoberfest

​ .

Todas essas constantes mudanças visam trazer benefícios financeiros aos clubes, que já não são mais apenas instituições esportivas, mas sim grandes marcas em constante relação com o mercado global, buscando cada vez mais exposição nos diversos tipos de mídias. Como mostram os trabalhos de King e Zinganel, as mudanças na arquitetura dos estádios tem refletido esse ritmo intenso de inovação na busca de capital e adaptação às novas possibilidades de mercado.

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Analisando a obra dos dois autores citados neste subcapítulo, fica evidente que essa relação entre as mudanças estruturais e as econômicas no futebol é uma via de mão dupla. Enquanto algumas mudanças estruturais abrem portas para oportunidades não antes existentes, também ocorrem adaptações e inovações arquitetônicas motivadas por objetivos econômicos.

Para compreender melhor se há e quais são as consequências dessas mudanças para as cidades e as pessoas, o próximo capítulo analisa possíveis relações entre os estádios de futebol, as cidades e as comunidades locais.

2.2. RELAÇÕES ENTRE ESTÁDIOS, CIDADES E AS PESSOAS 2.2.1 ESTÁDIO E O CONTEXTO URBANO

Estádios de futebol costumam ser grandes estruturas com terrenos de escala, geralmente, muito grande para o padrão dos lotes urbanos, que podem ser analisados segundo dois conceitos desenvolvidos por Kevin Lynch, em sua obra “A Imagem da Cidade”.

Desconsiderando, por ora, o cenário típico de dias de jogos ou eventos nos quais multidões de pessoas se deslocam e se concentram ao redor e dentro do estádio durante horas, façamos a leitura dos estádios enquanto elemento físico que compõe a paisagem urbana.

Primeiramente, podemos talvez classificar os estádios de futebol segundo a definição de “marcos” de Kevin Lynch. Segundo ele, os marcos são elementos arquitetônicos singulares que se destacam pelo contraste com as demais edificações do entorno e podem ser facilmente vistos de vários pontos. Além disso, podem ser de diversas escalas e tornam-se referências para o observador, mesmo que este não entre no edifício, constituindo parte fundamental na legibilidade da imagem da cidade.

O segundo conceito definido por Lynch e que podemos associar, com cuidado, aos estádios é o de “barreira” (ou limite). Apesar de Lynch definir barreiras como elementos de separação lineares entre regiões da cidade, podemos fazer uma releitura desse conceito na escala do pedestre, mantendo a definição de Lynch de

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que barreiras são visualmente proeminentes e configuram quebras na continuidade linear e não apresentam permeabilidade à circulação.

Esse tipo de leitura do estádio como elemento urbano de destaque traz a importância de estudar o modo como os projetos arquitetônicos podem diagnosticar e prever problemas, para, então, buscar solucioná-los (ou, ao menos, amenizá-los) na relação com os usuários da região que não usufruem diretamente dos usos do edifício, porém convivem com este em seus caminhos diários.

Regularmente, estádios de futebol realizam jogos e eventos que atraem grandes públicos que apresentam diferentes costumes e tradições nessas datas. Tratando apenas da partida de futebol, podemos dividir esses eventos em três momentos: antes (pré-jogo), durante e depois dos jogos (pós-jogo).

Enquanto alguns torcedores costumam chegar em cima da hora, indo diretamente para os portões de acesso ao seu setor do estádio, muitos já estão nos arredores horas antes da partida, seja confraternizando, preparando materiais (bandeiras, faixas, instrumentos de percussão, etc), ensaiando cantos, protestando, preparando a recepção ao ônibus dos jogadores ou apenas discutindo futebol e outros assuntos enquanto consomem bebidas e lanches tantos nos bares, quanto dos vendedores ambulantes que oferecem seus produtos no local.

Devido aos diferentes ritos de “pré-jogo” e “pós-jogo”, é extremamente comum a existência de muitos bares e lanchonetes próximos ao local das partidas, além dos estacionamentos particulares que lucram muito com a demanda de automóveis particulares que a maioria dos estádios, principalmente no Brasil, não consegue comportar em seus terrenos. Com isso, a importância dos estádios para a economia local é muito grande e em muitos casos configura até certa dependência destes comerciantes com o estádio.

Prova dessa relação pode ser encontrada no artigo ​“Going to the Match: The Transformation of the match-day routine at Manchester City FC”

dos britânicos Tim

Edensor e Steve Millington (2010). Neste trabalho, os autores trazem relatos de torcedores do Manchester City sobre o sentimento nostálgico e também de tristeza ao lembrar dos pubs, bares e lanchonetes que durante anos fizeram parte das suas rotinas em dias de jogos, mas que fecharam as portas após a mudança do clube

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para uma região isolada e sem proximidade com qualquer comunidade que possibilite a existência de uma rotina de jogo.

Outro fator apontado por Edensor e Millington que prova a importância dos estádios para o contexto urbano é, justamente, o motivo que levou o clube a se mudar: o projeto de regeneração urbana de Manchester, que buscava, desde o fim da década de 80, mudar a imagem de cidade cinza, industrial e “nortista”, pela de uma cidade mais cosmopolita e sofisticada.

Parte do plano da cidade era regenerar a região leste através da construção de um complexo esportivo chamado ​“Sports City”,

​ tendo como elemento central a

construção de um estádio para 48.000 pessoas. Para justificar tal investimento, Manchester usou o estádio como sede dos jogos da ​Commonwealth Games ​2002

e

a transferência deste para o Manchester City, de modo a evitar que a obra se tornasse um “elefante branco” (termo utilizado para definir obras de grande investimento mas sem utilidade e retorno permanente que o justifique).

Segundo Edensor e Millington, o resultado para o entorno do projeto foi um grande processo de gentrificação e novos investimentos para o desenvolvimento da região, enquanto a área do extinto Maine Road tomou um caráter apenas residencial, perdendo muitos pubs e comércios, mas ganhando uma escola infantil no lugar do estádio, trazendo algum tipo de compensação.

Essa importância dos estádios de futebol para os meio urbanos é tema de estudo de muitas pesquisas, em especial por parte de pesquisadores europeus. O inglês John Bale, em seu artigo “​Sport, Space and the City”

(1993,​apudEDENSOR,

T; MILLINGTON, S. 2010), afirma que os estádios, a partir do final do século XX, passaram a ser edifícios de grande relevância e elementos que atuam como força motriz no desenvolvimento urbano.

Seguindo esse mesmo pensamento, no já citado livro ​Stadium Worlds:

Football, Space and the Built Environment

​ , Frank e Steets citam a alemã Kristin

Feireiss que afirma que os estádios de hoje são comparáveis aos museus dos anos 80, tendo se tornado um item indispensável para qualquer cidade que tenha respeito próprio.

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2.2.2 OS ESTÁDIOS E SEUS USUÁRIOS

Conforme demonstrado no capítulo anterior, desde a antiguidade, estádios e arenas foram palcos de manifestações políticas e sociais, tanto nas votações e anúncios políticos da Grécia Antiga, como sendo ferramentas na política de “pão e circo” dos romanos. Além disso, são agentes no desenvolvimento urbano e auxiliam no reconhecimento de identidade das cidades e suas comunidades, conforme analisado no tópico anterior a este capítulo.

Essa importância dos estádios, da antiguidade aos dias atuais, sempre esteve relacionada a um elemento básico de sua existência: a presença de grandes públicos nas arquibancadas.

Então, a fim de compreender melhor o que atrai e como se comportam esses públicos, usuários dos estádios modernos, devemos ir além da simples questão da busca por entretenimento, analisando como os torcedores dos times de futebol se relacionam com a arquitetura, local e história de seus estádios, como estabelecem rotinas, noções de pertencimento, raízes culturais, identidade, senso de comunidade, entre outros fatores.

Segundo Bettina Kratzmüller, os primeiros registros da existência de torcidas de clubes específicos e não apenas espectadores neutros vem da Roma Antiga, quando após a separação dos corredores de bigas em grupos com nomes de cores (semelhante a ideia de clubes esportivos), iniciou-se um processo de divisão do público quanto aos seus competidores favoritos. De acordo com Kratzmüller, os Verdes e os Azuis tornaram-se os clubes mais fortes e, como consequência disso, a competitividade esportiva teve como reflexo a rivalidade entre as torcidas.

Como resultado dessa rivalidade, autoridades decidiram alocar os torcedores de cada grupo em locais separados e opostos dos estádios e arenas, visando amenizar possíveis hostilidades e atos de violência. No entanto, a divisão demonstrou ter um efeito contrário, acirrando ainda mais os ânimos, gerando

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conflitos, invasões do setor rival e “pichações” com mensagens negativas para o time rival (KRAZMÜLLER, 2010).

Já nos estádios modernos, outras mudanças na organização e arquitetura demonstraram ter efeito sobre o comportamento dos públicos. Conforme relatado por Anthony King, nos anos 90, tanto a FIFA quanto o governo britânico passaram a controlar e regulamentar a configuração dos estádios visando obter maior controle das massas e segurança durante os jogos.

A obrigatoriedade das cadeiras em todos os estádios ingleses, além dos reflexos financeiros e sociais, refletiu também no modo como o público se manifestava. Segundo King, baseando-se em observações e em algumas ideias de Foucault, as cadeiras de plástico tiveram um efeito disciplinador e de controle sobre a plateia.

Ao invés da extrema proximidade e contato físico entre os torcedores, as cadeiras sutilmente levam o indivíduo a um certo isolamento do restante da “massa”. Somando isso à instalação de câmeras e obrigatoriedade de se assistir às partidas sentado, gerou-se a sensação de se estar sendo observado e controlado, mesmo que se esteja em meio a uma grande massa de pessoas. Tal fenômeno, apesar dos resultados positivos quanto à redução de violência nos estádios europeus, cria um certo paradoxo no qual os estádios, além de serem locais de liberdade por permitir comportamentos não aceitos pela sociedade no cotidiano, também tornaram-se locais nos quais há sensação de vigilância e controle (KING, 2010).

A falta de liberdade para assistir às partidas, do modo que o torcedor julga melhor, levou à revolta de muitos torcedores e é motivação de muitos protestos ao redor do mundo. Alguns exemplos interessantes disso são os casos recentes do Celtic e de alguns clubes brasileiros.

O Celtic FC é um clube escocês, portando parte do Reino Unido, que conseguiu autorização para criar novamente um setor destinado ao que não desejam assistir jogos sentados. Através da instalação de corrimãos, o setor evita tanto riscos de queda em momentos de euforia quanto a superlotação. Segundo matéria da ESPN, diversos clubes ingleses já planejam seguir o exemplo e pressionam as autoridades por uma liberação legal. Um exemplo desse movimento é o Liverpool FC que realizou uma pesquisa com sua torcida e constatou que 88%

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(dos mais de 18 mil participantes) aprovam a volta desse tipo de setor (ESPN.COM.BR, 2017).

Fotografia 4 - O setor chamado de ​Safe Standing

​ ​ ou ​Rail Seatings Area no estádio do

Celtic FC.

Fonte: SHP. Disponível em:

<https://www.shponline.co.uk/safe-standing-coming-premier-league/>

No Brasil, após o fim da Copa do Mundo, alguns clubes retiraram as cadeiras de suas arenas, criando setores especiais para suas torcidas organizadas atrás de algum dos gols. Este foi o caso da Arena Grêmio, Arena Corinthians e Arena da Baixada (estádio do Atlético Paranaense).

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Fotografia 5 - Setor sem cadeiras azuis, onde é permitido ficar em pé, na Arena Grêmio.

Fonte: Eduardo Moura / Globo Esporte

<http://globoesporte.globo.com/rs/futebol/campeonato-gaucho/noticia/2015/04/gremio -abre-venda-de-ingressos-para-jogo-da-volta-contra-o-juventude.html>

Fotografia 6 - Vista oposta ao setor de arquibancada com proteções do Signal Iduna Park Stadium.

Fonte:<https://hellovacation.wordpress.com/2015/09/01/day-trip-borussia-dortmund-signal-iduna-park-stadium-tour/>

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Ao ler, escutar ou assistir reportagens e matérias a respeito de futebol, é certo que em boa parte delas alguém se depare com os termos “casa” e “visitante”. Essas palavras, além de definirem qual time é o “dono” do terreno e será apoiado pela comunidade local contra uma minoria de “estrangeiros”, também demonstra um sentimento, na maioria dos casos, de pertencimento e relação afetiva dos torcedores para com o local em que seu clube está estabelecido. Mas afinal, que fatores levam torcedores a sentirem-se em casa? A arquitetura? O local? As memórias?

Dois estudos de caso, presentes no livro ​Stadium Worlds: Football, Space

and the Built Environment

​ , trazem casos opostos sobre esse mesmo assunto,

coincidentemente, entre clubes da mesma cidade. No primeiro, o artigo ​Going to the Match: The Transformation of the Match-day Routine at Manchester City FC (já

mencionado anteriormente), Edensor e Millington trazem diversas consequências da mudança do Manchester City para um estádio moderno em outra área da cidade. Já no segundo, Adam Brown traz o caso em que torcedores do Manchester United optam por buscar uma nova casa, devido a diversas mudanças no seu tradicional estádio Old Trafford.

Em ambos trabalhos citados, os autores utilizam os termos “topofilia” e “topofobia” para definir a relação dos torcedores com as “casas” de seus clubes. Aquela remete a um sentimento positivo, de afeto e pertencimento para com algum lugar, enquanto esta traz o sentido oposto, o de rejeição, medo e desconforto das pessoas com relação a um lugar estranho a elas.

No caso do Manchester City, Edensor e Millington demonstram um cenário de existência mútua entre os sentimentos de nostalgia, insatisfação, alienação e compreensão. Este último devido à necessidade do clube de ter um estádio moderno que possibilite a adaptação e crescimento enquanto marca forte na competição esportiva e de mercado internacional. Enquanto o lado negativo consiste num cenário de difícil criação de raízes e rotinas dos torcedores em dias de jogos.

Como a maioria dos clubes ingleses, a origem do Manchester City está muito relacionada à comunidade que se desenvolveu ao redor do seu campo. O estádio Maine Road, localizado na região centro-sul da cidade, num bairro pós era industrial residencial de trabalhadores de classe média-baixa, foi durante 80 anos o local para

Referências

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