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5.4 Análise de como as trocas laterais ocorrem entre os trabalhadores

5.4.3 Análise de como as trocas laterais ocorrem para os motoristas de aplicativo

Ao analisar-se como as trocas laterais ocorrem para os motoristas de aplicativo verificou-se que para dois dos sujeitos entrevistados (E12 e E14) seus ganhos são proporcionais à dedicação concedida à empresa de transporte de passageiros, já para os outros três, seus ganhos não são equânimes, conforme a Figura 17.

Figura 17 - Percepção dos motoristas entre equidade das trocas laterais

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Segundo a perspectiva dos motoristas E12 e E14 seus “ganhos são equitativos” à “dedicação concedida à organização”, o entrevistado E14 ainda salientou que além da remuneração, ainda recebe descontos em academias e faculdades da cidade. Já para os entrevistados E13, E15 e E16 seus “ganhos não são equitativos” ao que oferecem para a empresa de transporte de passageiros, principalmente devido aos “custos com a manutenção” do veículo utilizado para as corridas, bem como às “taxas e impostos” necessários para desempenhar a atividade. Já o motorista E16 destacou que seus “ganhos são menores ao que ele oferece à empresa”, como dedicação e serviço de qualidade. Estes dados ratificam Antunes (2018) quando este afirma que a Uber caracteriza-se como um exemplo emblemático de empresa que se apropria do mais-valia gerado pelo empregado que se incube, sozinho, dos custos com manutenção e limpeza do veículo.

Ainda que três dos entrevistados não considerem que as trocas estabelecidas entre eles e a instituição são equânimes, os indivíduos E12, E14 e E16 relataram que estas, de certa forma, fomentam os seus comprometimentos. O entrevistado E12 declarou que percebe

muitos benefícios ao trabalhar para a empresa de transporte de passageiros e estes benefícios o incentivam a permanecer comprometido com ela.

Ademais, somente um dos sujeitos, o entrevistado E15, salientou que teria ganhos caso deixasse a empresa de transporte de passageiros, pois desta forma, talvez conseguisse um emprego melhor. Já os demais motoristas mencionaram que teriam mais perdas do que ganhos caso fosse necessário desligar-se da organização, revelando, desta forma, o latente Comprometimento de Continuação deste grupo destacado nas pesquisas de Meyer e Allen (1984, 1991), Allen e Meyer (1990), Khan et al. (2016) e Osman et al. (2017).

Acerca da “recolocação no mercado de trabalho”, constatou-se que os motoristas expuseram tanto “percepções positivas” quanto “percepções negativas” em relação ao atual cenário no país (Figura 18).

Figura 18 - Percepção sobre recolocação profissional para motoristas de aplicativo

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Vale salientar que os industriários E12, E14 e E15 afirmaram que encontrariam recolocação no atual mercado de trabalho devido “possuírem experiência em outras áreas”, assim como “consideram-se qualificados” para tal, porém, foram enfáticos em dizer que com a flexibilidade de horário oferecida pela atual empresa seria difícil. Já os motoristas E13 e E16 relataram que, atualmente, “não há ofertas de emprego” e que, desta forma, eles acreditam não encontrar outro trabalho com facilidade. Estes resultados demonstram que, somente dois dos motoristas aqui analisados fazem correlação da sua permanência na empresa com a falta de alternativas de emprego no mercado, associação esta destacada no Comprometimento de Continuação de Meyer e Allen (1984, 1991), Allen e Meyer (1990), Khan et al. (2016) e Osman et al. (2017).

Por fim, quando questionados sobre os “elementos que mais valorizam” em função do trabalho os motoristas citaram: “flexibilidade” de horário, “remuneração”, “amizade”, “corporativismo” e “oportunidade de conhecer pessoas”.

Figura 19- Elementos valorizados pelos motoristas de aplicativo

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Conforme citou o motorista E13, a flexibilidade de horários é um fator considerado de importância pelo indivíduo que se dedica ao trabalho no transporte de passageiros. Já E15 afirmou que participa de um grupo de motoristas no qual existe um grande corporativismo, inclusive quando alguém avaria o carro em alguma colisão, todos os membros desta turma realizam um bingo para ajudar nos custos do conserto. Finalmente, E16 declarou que, primeiramente, ele valoriza o retorno financeiro, mas que a amizade conquistada dentro da corporação também tem grande importância.

Deste modo, foi perceptível que o retorno financeiro e a flexibilidade de horário tiveram destaque na fala dos indivíduos, corroborando com a pesquisa de Heimbecker et al. (2019). É importante destacar que, para Souza (2018), ainda que o vínculo do motorista de aplicativo com a empresa seja de uma aparente autonomia e liberdade, a condição de precarização destes trabalhadores é cada vez mais fortalecida aumentando a condição de fragilidade destes em nome do interesse capitalista.

Diante do exposto, verificou-se que, assim como os servidores públicos e industriários, alguns dos motoristas entrevistados mencionaram que seus ganhos não são equânimes ao que oferecem à organização e que, nem para todos, as trocas estabelecidas estimulam seu comprometimento. Tal resultado nos leva a presumir que a ausência da

equidade entre as trocas laterais estabelecidas interferem no comprometimento do motorista com a empresa.

Diferentemente do que foi percebido entre servidores e industriários, verificou-se que os motoristas identificam, quase que em unanimidade, custos e perdas caso precisem deixar a organização, demonstrando o desenvolvido Comprometimento de Continuação desta categoria. Porém, em contradição a esta informação, alguns relataram que investiriam em outra oportunidade de trabalho, inclusive mencionaram possuir qualificação adequada para tal.

Desta forma, pode-se verificar o evidente Comprometimento de Continuação destes indivíduos para com a organização, tendo em vista que eles não a abandonam devido às perdas que os prejudicariam. Entretanto, presume-se que, devido à precarização do trabalho por eles vivenciada, estes sujeitos se disponham a investir em uma nova carreira em prol de melhores condições de trabalho.

É importante salientar que, assim como os servidores públicos, os motoristas expuseram tanto percepções positivas quanto negativas sobre uma possível recolocação no mercado de trabalho. Resultado este que se diferencia do que foi relatado pelos industriários que mencionaram, em unanimidade, estarem capacitados para um novo emprego, se assim for necessário.

Por fim, é significativo enfatizar que para esta categoria o retorno financeiro e a flexibilidade de horários destacam-se entre o conjunto de valores prezados, corroborando com o estudo de Heimbecker et al. (2019). O que diferencia, desta forma, do sistema de valor percebido entre os servidores públicos (relacionamento, salário, flexibilidade e estabilidade) e entre os industriários (aprendizado, salário, flexibilidade, reconhecimento e clima organizacional).

É importante mencionar que os fatores remuneração e flexibilidade foram relatados pelos três grupos. Entretanto, verificou-se que a valorização pecuniária foi percebida com mais destaque por parte dos industriários e motoristas de aplicativo.