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5.5 Concepções sobre precarização do trabalho

5.5.2 Precarização do trabalho e industriários

Esta subseção propôs-se a analisar como os industriários pesquisados responderam a questões relativas ao atual contexto de trabalho da sua categoria, bem como a precarização do trabalho é configurada para este grupo. Para Antunes (2018), apesar de haver um falso entendimento de que o proletariado industrial vem se reduzindo em várias partes do mundo, há uma tendência contrária da expansão de novos contingentes de trabalhadores caracterizada por atividades precárias que usurpam os direitos historicamente conquistados por esta classe.

Ante o vigente cenário do mercado de trabalho para a indústria, assim como as atuais leis trabalhistas e as formas de contratação em vigor, quatro dos cinco entrevistados mencionaram que tais fatores não afetam a maneira como o indivíduo se compromete com a organização. Segundo os industriários E7 e E8 são outras relações que influenciam no comprometimento do empregado, como o sujeito dispor-se a entender os objetivos da indústria que trabalha. O resultado verificado entre os industriários coincide com a pesquisa

de Venâncio et al. (2015) na qual afirma que não é possível generalizar conceitos que possam relacionar comprometimento organizacional com contrato de trabalho. Em contrapartida, E11 relatou que, devido às mudanças nas leis trabalhistas, o mau empregador atualmente sente-se à vontade para explorar a mão de obra disponível, levando o indivíduo a submeter-se a um trabalho miserável e com péssimo salário, confirmando assim a pesquisa de Trovão e Araújo (2018), na qual afirma que a reforma trabalhista implementada em 2017 no Brasil não se mostrou capaz de recuperar o mercado de trabalho do país.

Deste modo, para os profissionais da indústria, elementos como salário justo e reconhecimento foram os itens elencados com maior frequência de importância para o comprometimento do empregado; seguidos de aspectos como: ambiente saudável, significado do trabalho, estabilidade, transparência nos negócios, comunicação com os funcionários, respeito e treinamento, conforme o Quadro 18.

Quadro 18 - Fatores importantes para o industriário permanecer comprometido com a organização

FATORES IMPORTANTES PARA O TRABALHADOR

PERMANECER COMPROMETIDO

Industriários

Salário justo (3), reconhecimento (2), ambiente salutar (1), significado do trabalho (1), estabilidade (1), transparência nos

negócios (1), comunicação (1), respeito (1) e treinamento (1).

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

O código “salário justo” demonstra a importância concedida pelo industriário em identificar que seu recebimento financeiro é compatível tanto com o mercado como com seus pares. Já o “reconhecimento” foi considerado a partir dos conteúdos que indicam o valor concedido à admissão de um trabalho bem realizado. Segundo o industriário E11, elementos como um salário digno, reconhecimento e treinamento são condições essenciais para o comprometimento do empregado. “Ambiente saudável” foi elencado como a preocupação investida pela indústria à segurança do empregado, principalmente no que concerne à utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI’s).

Já conforme o entrevistado E7, para que o indivíduo permaneça comprometido com a organização é necessário que ele entenda o “significado do seu trabalho”, fator este que o auxilia a se sentir útil. O código “estabilidade” pôde ser retratado pelo indivíduo E11 ao ser relatado que: “[...] com estabilidade profissional com certeza absoluta aquele

empregado vai se sentir muito comprometido, porque aquele emprego tá trazendo uma situação de vida pra ele e pra família que é o que todo mundo deseja”.

“Transparência nos negócios” se assemelha ao elemento “fair play” mencionado pelos servidores analisados e diz respeito à importância percebida pelo indivíduo de pertencer a um local de trabalho com processos transparentes e confiáveis.

“Boa comunicação”, “respeito” e “treinamento” também foram elencados como fatores importantes para o trabalhador continuar comprometido com a instituição, demonstrando o valor dado pelo industriário ao diálogo, assim como ao respeito entre as partes e ao investimento em qualificação para com a categoria.

Quando questionados sobre as condições de trabalho nas quais são submetidos, os industriários E7, E8, E9 e E10 foram enfáticos em afirmar que trabalham em ótima estrutura devido o uso adequado dos EPI’s fornecido pela empresa, autonomia no desempenho da tarefa, boas refeições e condições de climatização. Entretanto, E11 destacou que suas condições de trabalho são degradantes. O entrevistado ainda destacou que é muito difícil para o trabalhador offshore ser submetido a uma alimentação insatisfatória e escassez de equipamentos adequados. Este resultado corrobora com a pesquisa de Trovão e Araújo (2018) na qual afirma que o poder das empresas atualmente ganhou significativa força e que, consequentemente, favoreceu a criação de condições claramente desfavoráveis para os indivíduos desempenharem suas atividades.

Isto posto, mesmo que tenham sido identificados elementos de trabalho precarizantes para um dos entrevistados, todos estes relataram que seu emprego proporciona fatores positivos como: aprendizado, satisfação, reconhecimento e dignidade, conforme o Quadro 19.

Quadro 19 - Fatores que o trabalho proporciona para o industriário

O QUE O TRABALHO PROPORCIONA PARA O

TRABALHADOR NO MOMENTO

Industriários Aprendizado (2), satisfação (1), reconhecimento (1) e dignidade (1).

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

O código “aprendizado” foi mencionado por duas vezes pelos industriários e indica a importância de programas de capacitação e apoio ao estudo para estes sujeitos.

“Satisfação” para esta amostra de trabalhador foi mencionado como um importante sentimento desenvolvido a partir do trabalho e retrata o contentamento no trabalho. Já o código “reconhecimento” também foi elencado por este grupo e indica que o empregador percebe o esforço do indivíduo no desempenho da atividade. Por fim, um dos sujeitos (E11) mencionou que atualmente o seu trabalho proporciona “dignidade” e descreve: “Dignidade como ser humano, como pai de família, como filho, como marido, me proporciona condição de agir dentro de uma dignidade, um conforto mínimo”.

Diante do que foi exposto, percebeu-se que, assim como os servidores públicos, os industriários reconhecem que aspectos como salário justo, reconhecimento, ambiente salutar e estabilidade são fatores importantes para o comprometimento do empregado. O que leva a inferir que quanto menos precarizado o trabalho for, mais comprometidos se tornarão seus colaboradores. Ademais, é importante destacar que tanto para este grupo, como para os servidores públicos, os aspectos pecuniários não foram os únicos a receber destaque em relação ao comprometimento do trabalhador. Isto presume que, mesmo diante do cenário de precarização do trabalho identificado no país, o comprometimento também é estimulado através de fatores não monetários oferecidos pela organização como um reconhecimento verbal e um ambiente saudável, por exemplo.

Parte dos entrevistados citou que as formas de contratação e as leis trabalhistas em vigor no país não interferem no comprometimento, porém um dos entrevistados foi enfático ao afirmar que as atuais leis trabalhistas favorecem a exploração do empregado e, consequentemente, influenciam no comprometimento deste. Desta forma, percebeu-se que, em parte, servidores públicos e industriários divergem nesta questão.

Assim como para os servidores pesquisados, verificou-se que, para todos os industriários, o trabalho proporciona consequências positivas como: aprendizado, satisfação, reconhecimento e dignidade.

Ademais, percebeu-se que, para a grande parte dos trabalhadores da indústria as condições de trabalho as quais são submetidos são boas e adequadas. Isto posto, percebeu-se que, neste ponto, servidores públicos e industriários divergiram. Deste modo, pode-se inferir que as empresas privadas nas quais estes últimos trabalham tendem a investir com mais dedicação à adequação das condições de trabalho oferecidas aos sujeitos.

Por fim, verificou-se que elementos relativos à precarização do trabalho foram identificados com maior ênfase por parte do entrevistado que trabalha em regime de offshore. Tal fator corrobora com o estudo de Alvarez et al. (2007) no qual cita que a flexibilização das

relações de trabalho no setor offshore encontrou condições favoráveis para se difundir e reproduzir a tendência à precarização verificada em outros setores produtivos.