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5.4 Análise de como as trocas laterais ocorrem entre os trabalhadores

5.4.2 Análise de como as trocas laterais ocorrem para os industriários

Ao analisar-se como as trocas laterais ocorrem para os industriários pesquisados verificou-se que para três dos sujeitos entrevistados (E8, E9 e E11) seus ganhos são proporcionais ao que oferecem para a organização, já para os outros dois indivíduos, seus ganhos não são equivalentes (Figura 14).

Figura 14 - Percepção dos industriários entre a equidade das trocas laterais

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Na visão dos industriários E8, E9 e E11 seus “ganhos são equitativos” à dedicação concedida à organização. Conforme os sujeitos E9 e E11, seus “ganhos são compatíveis com o atual cargo”, bem como E8 citou que o que recebe atualmente da empresa é “compatível com a dedicação” oferecida por ele.

Entretanto, os entrevistados E7 e E10 consideram que seus ganhos “não são equitativos” com a dedicação oferecida à instituição. O trabalhador E7 realça que percebe “distinção entre seu salário e o empenho” dado à instituição, assim como mencionou receber somente reconhecimento verbal pela dedicação concedida, segundo o mesmo

entrevistado: “nem só de parabéns a gente vive”. Do mesmo modo o industriário E10 relatou perceber “ausência de isonomia salarial” entre os funcionários, assim como dedica “muito esforço para obter pouco retorno” da instituição.

Apesar de dois dos entrevistados relatarem que seus ganhos não são equânimes com o empenho dedicado, todos foram unânimes em mencionar que as trocas estabelecidas entre eles e as organizações fomentam, de alguma forma, seus comprometimentos. Conforme o industriário E7: “Independente de qualquer coisa, meu compromisso vem acima de tudo”. Já E8 expôs que, atualmente, a troca estabelecida entre ele e a empresa é suficiente para fomentar seu comprometimento.

Ainda pode-se salientar que, segundo relatado pelos entrevistados E7, E10 e E11, estes teriam mais perdas do que ganhos caso abrissem mão dos benefícios que têm ao trabalhar para suas organizações, o que pode ser exemplificado através da fala do indivíduo E11na qual destaca que atualmente não pode abrir mão do salário que recebe, bem como dos benefícios já adquiridos. Isto posto, para esta parcela dos industriários, percebe-se forte presença da percepção de perda relacionada à demissão, dado este que ratifica os estudos de Meyer e Allen (1984, 1991) e Allen e Meyer (1990).

Porém, os trabalhadores E8 e E9 descreveram reconhecer vantagens caso fosse preciso sair da indústria, como: qualificação e experiência adquirida, conforme exemplificado pela fala do indivíduo E9: “eu acho que teria mais ganhos, porque hoje eu sou um profissional melhor, minha atual empresa me desenvolveu muito pro mercado, hoje eu tô mais calmo, menos ansioso e mais qualificado”.

Acerca da “recolocação no mercado de trabalho”, verificou-se que todos os industriários expuseram exclusivamente “percepções positivas” quanto ao atual cenário no país (Figura 15).

Figura 15 - Percepção sobre recolocação profissional para industriários

Os entrevistados E7 e E8 citaram que encontrariam recolocação profissional por possuírem “capacitação adequada”, assim como “know-how para conseguir outro emprego”, conforme exposto pelo sujeito E8: “Sim, creio que encontraria. Até hoje eu sempre trabalhei nesse setor, e eu creio que eu já tenha um certo know-how do que eu precisaria pra poder trabalhar nessas outras empresas”. Já E9 descreveu “já recebeu outras propostas” de trabalho e que todas as vezes que ficou desempregado não teve dificuldades em arranjar outro emprego.

Por fim, quando indagados sobre os “elementos que mais valorizam” em função do trabalho os industriários citaram: “aprendizado” adquirido, “salário”, “flexibilidade”, “reconhecimento” diante das atividades realizadas, “valorização” do funcionário, “clima organizacional” e “plano de saúde”, de acordo com a Figura 16.

Figura 16 - Elementos valorizados pelos industriários

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

O indivíduo E7 declarou que valoriza bastante a flexibilidade oferecida pela sua empresa, bem como um bom clima organizacional. Já E8 citou prezar pelo conhecimento adquirido dentro da organização e que o salário é consequência do esforço e dedicação ofertados. Além do salário e do conhecimento adquirido, E9 destacou valorizar o plano de saúde que recebe da empresa. O industriário E10 salientou que o reconhecimento e a

valorização do funcionário, no seu ponto de vista, são fatores muito importantes para o trabalhador.

Diante do exposto, pôde-se verificar que, assim como os servidores públicos, para alguns profissionais da indústria seus ganhos não são equivalentes ao que oferece à organização, mas todos os industriários concordaram ao afirmar que as trocas laterais entre eles e a empresa fomentam seu comprometimento com ela. Tal resultado nos leva a inferir que a total equidade entre as trocas laterais estabelecidas não é fator determinante para o comprometimento dos industriários, ou seja, estes se comprometem mesmo que não percebam igualdade entre o que entregam para a organização e o que recebem dela.

Assim como o primeiro grupo estudado, verificou-se que os industriários não identificam somente aspectos negativos e de perda caso precisassem deixar a organização, conforme a noção de Comprometimento de Continuação de Meyer e Allen (1984, 1991), Allen e Meyer (1990), Khan et al. (2016) e Osman et al. (2017), mas também reconhecem elementos positivos como experiência adquirida e qualificação, bem como a oportunidade de colaborar em outras organizações. Isto posto, pode-se deduzir que esta visão é mais intensamente desenvolvida em trabalhadores que percebem passar por processos de qualificação e capacitação continuadamente.

É significativo ressaltar que todos os industriários expuseram percepções positivas sobre uma possível recolocação no mercado de trabalho, como capacitação adequada e know- how para conseguir outro emprego. Resultado este que se diferencia do que foi relatado pelos servidores, tendo em vista que estes últimos expuseram sentimentos positivos e negativos quanto à recolocação.

Por fim, identificou-se que os industriários valorizam bastante o aprendizado adquirido, flexibilidade, clima organizacional, plano de saúde, reconhecimento, assim como, o salário. Desta forma, pode-se inferir que tais fatores são considerados importantes para a permanência dos industriários na organização e que estes dados convergem com os resultados encontrados no grupo de servidores públicos, divergindo somente na sutil diferença identificada na importância dedicada ao ganho pecuniário por parte do grupo aqui analisado. Desta forma, tais elementos confirmam a teoria dos side bets proposta por Becker (1960) na qual as trocas estabelecidas entre o indivíduo e a organização são caracterizadas por decisões conscientes tomadas pelos indivíduos em prol da manutenção de benefícios já adquiridos.