• Nenhum resultado encontrado

Nessa atividade, tinha-se por objetivo investigar a presença e importância de organismos do Reino Fungi em um café da manhã, de forma que os alunos pudessem analisar em quais alimentos existe a presença direta ou indireta dos

fungos. Para isso, os alunos foram estimulados a participar da gincana investigativa sobre os fungos.

Desta forma, foi proposto no refeitório da Escola um delicioso café da manhã com diversidade de alimentos: pães diversos, biscoitos, pizzas, bolos, massa de pão ainda em preparo, champignon; em outra mesa, estruturas variadas de fungos: orelha de pau, cogumelos, “bolor”, “mofo”, alimentos orgânicos em estágio de decomposição. Sob a orientação da professora, os alunos foram divididos em quatro equipes, de acordo com a distribuição de fitas coloridas para que pudessem participar da gincana. Assim, os alunos se dirigiam ao refeitório da escola, para que, por meio dos diferentes órgãos dos sentidos, pudessem perceber os diferentes alimentos e a presença direta e indireta dos fungos, dando início ao desafio investigativo.

Após estimulá-los por meio dos vários sentidos foi proposto aos alunos que resolvesse a situação-problema inicial: Em quais alimentos existe a presença direta ou indireta de fungos? Nesse momento observa-se uma grande inquietude da turma, a resolução da questão problema provocou em cada um o desejo pela descoberta, e os alunos foram tomados por um sentimento de curiosidade.

Sem a curiosidade que nos torna seres em permanente disponibilidade à indagação, seres da pergunta-bem-feita ou mal fundada, não importa-,não haveria a atividade gnosiológica,expressão concreta da nossa possibilidade de conhecer (FREIRE,1995, p. 76).

Assim, acreditando que a construção do conhecimento está diretamente ligada à curiosidade, a motivação, à necessidade da pergunta, à indagação, à inquietação da investigação, devem-se criar condições para que os alunos dialoguem, troque informações, discutam, enfim, sintam-se capazes de buscar respostas para suas dúvidas e reflexões.

Esta atividade foi repetida uma vez em cada turma do sétimo ano (A, B e C) e em todas as aulas, os alunos ficaram impressionados com os inúmeros alimentos em que, direta e indiretamente, encontravam a presença de fungos. Também ocorreram

nessa aula registros escritos de perguntas investigativas propostas, além das questões orais problematizadas.

Transcreveu-se abaixo a condução desta aula.

(1) P: Estou com duas mesas repletas de diferentes materiais, estruturas. Observem as mesas (mostrando duas mesas com diversidade de alimentos contendo fungos), circulem sobre as mesas e tentem falar sobre o que vocês acham que irão estudar?

(2) A1: Sobre frutas podres.

(3) A2: Vamos estudar sobre os cogumelos. Um aluno comentou:

(4) A3: “Que aula mais gostosa”.

(5) P: Sim, vamos estudar sobre cogumelos, mas como uma compreensão um pouco maior... na verdade vamos estudar sobre fungos.O que são fungos?

(6) A4: É só coisas estragadas... doenças.

(7) A5: São seres decompositores, que servem para decompor animais e vegetais. (8) A6: Em dia chuvoso eu vi fungos no quintal da minha casa.

( 9) P: Como vocês sabem o que é fungos?

(10) A1: Nos desenhos da televisão, da Barbie... (risada geral).

(11) P: E qual a relação desses pães aqui presentes com os fungos, comentados por vocês?

(12) A5: A mamãe disse, professora,.. não tenho certeza que para fazer pães utilizam o fermento, que são fungos.

(13) P: Como assim?

(14) A5: Ah, não sei professora direito..sei lá.

(15) A6: A minha tia amassa... a massa e coloca no tabuleiro para pegar bastante sol para massa de pão crescer.

(16) P: Por que a tia do colega faz isso?

Outra aluna tentou explicar:

(17) A7: Se colocar a massa de pão em uma corrente de ar ela não cresce e se colocar ela no sol a massa irá crescer.

(18) P: Então quer dizer que com o calor do sol a massa poderá crescer?Como será que isto ocorre? (19) A4: Deve ser por causa da temperatura que esquenta os fungos?

(20) P: Hum... muito bem.. está quase lá.. Vamos lá gente, agora eu quero saber como vamos resolver o problema. Como a massa do pão cresce, está relacionado somente a temperaturas? (21)A5: Acho que precisa do fermento ?

(22) P: Na verdade, os fungos ao serem aquecidos passam por uma fase de fermentação..Ou seja, o fermento é um “fermento biológico”, "biológico" indica a presença de seres vivos (nesse caso, micro- organismos). Esses micro-organismos estavam “dormentes” e que foram “acordados” com a água quente (o calor aumenta o seu metabolismo, ou seja crescem e o açúcar é o seu alimento. Assim, como nós precisamos de alimentos os fungos também precisam.

(23) A 8: Professora, não entendi ...como assim os fungos são fermentos biológicos?

... (risada geral).

(24) P: Os fungos são fermentos biológicos. Na verdade são seres vivos que fazem a massa do pão crescer chamados leveduras. Mas o que será isto? Quem pode ajudar o colega?Alguém já ouviu falar sobre o fermento biológico onde pode ser usado? Em quais alimentos?

(25) A6: Eu acho que também pode fazer pizza. (26) A7: São fungos seres vivos?

(27) A 9: E não fazem mal? Como podemos comer isso?

(28) P: Vocês comem todos os dias quando consomem em casa o pão da padaria ou a mamãe faz os pães caseiros e pizzas.

(29) A8: Mas professora como ocorre isso.

(30) P: Vamos ver... Vou entregar para cada grupo uma folha para vocês tentaram discutir e escrever. (31) P: Que outras formas de fungos podemos encontrar olhando para a mesa?

(32) A 10: Cogumelos, lá em casa têm um... é no pé de manga onde se encontram os fungos. (33) P: Parabéns, é isso mesmo.

A professora pegou um tronco de árvore com representante de fungos diversos, chamados “orelha- de-pau”.

(34) P: Quais outros representantes de fungos que vocês acham que podemos encontrar na mesa? Onde estão?

(35) A1: Nas frutas podres, nas cascas de árvores, no pão quando fica estragado. (36) A4: Professora, porque tem fungos de diferentes cores?

(37) P: O que vocês acham? Por que tem fungos de diferentes cores? (38) A6: Sei lá... acho que é assim mesmo.

(39) P: Então?

(40) A4: Talvez nascesse sem cor (risada geral). (41) P: Vamos lá.

(42) P: E então para que serve este outro fermento aqui sobre a mesa? Será que são mesmas coisas? Se não? Onde este outro fermento é utilizado? Qual a diferença?

(43) A5: Esse outro fermento lá em casa utiliza para fazer bolos.

(44) P: Vamos lá gente, agora eu quero saber como resolver este problema? Observando com as lupas que serão oferecidas para cada grupo me respondam à seguinte questão: em quais alimentos existem a presença direta ou indiretamente de fungos?

(45) P: Vocês irão discutir, conversar nos grupos e chegar a uma conclusão em sobre estes alimentos quais estão direta ou indiretamente com a presença de fungos? Entendido? Vocês poderão andar ao redor da mesa, olharem com as lupas, menos colocar as mãos. Vou dar um tempo para cada grupo tentar responder.

Os alunos se dirigiram para, ao redor das mesas com as lupas, melhor observarem. Em seguida, foram para os seus grupos e começaram a conversar entre eles (foram formados quatro equipes na sala).

(46) P: Vou entregar a folha para que possam conversar escrever a possível solução do problema proposto.

(47) P: Ok... OK... vamos lá...o tempo acabou... agora vou ouvir por equipe a suas respostas/conclusões. Vamos começar pela equipe amarela: em quais alimentos existe a presença direta ou indiretamente de fungos?

(48) Equipe Amarela: Professora, nós colocamos nas verduras podres, nos pães, nas massas de pizzas.

(49) P: E a equipe Vermelha?

(50) Equipe Vermelha: Na casca da árvore, no fermento biológico, nas verduras, nas bolinhas da massa do pão e nos pães.

(51) P: Ok... Vamos para a equipe Azul?

(52) Equipe Azul: Colocamos que está em todos os alimentos da mesa? (53) P: Em todos os alimentos desta mesa?

(54) Equipe: Sim.

(55) P: E quanto à equipe branca, o que tem para falar?

(56) Equipe branca: Nos troncos das árvores, frutas podres, pizza, cogumelos brancos, mas eles achavam que o bolo não era... pois na casa de uma aluna a mãe utiliza o pó Royal para o bolo crescer.

(57) P: Muito Bem... estou muito contente com todos...existem vários alimentos que direta ou indiretamente estão presentes nos fungos.

A professora aproveitou esse momento e começou a explicar os conceitos sobre os fungos e principalmente explicar os alimentos que tem a presença direta ou indireta dos fungos. Durante todo o momento os alunos tiveram oportunidade de expor suas opiniões e constatar se estavam corretas ou não as suas e respostas. Como tentativa de solucionar o problema em grupo, de forma oral fizeram- se várias suposições que permitiram contribuir ainda mais com a aula.

(58) P: Muito bem, então deu certo né, eu apresentei um problema e cada grupo a sua maneira de forma criativa, atuante, participativa, encontraram respostas para solucionar. Parabéns!

Em um dado momento, os alunos perguntaram sobre as cascas de árvores, formação de manchas. E uma aluna disse:

(59) A11: Meus pais disseram que os cogumelos são casas de cobras?

Este momento, outra aluna colocou como é diferente a vida na cidade onde ela mora e a chácara em

que seu avô vive afastado dali, e onde, segundo ela, é mais fresco, e assim, continuaram os questionamentos. Logo após o sinal bateu ... Tchau, pessoal!

A partir da transcrição da aula, e utilizando-se as tabelas 1 e 2, procurou-se categorizar a atuação docente e discente.

Tabela 1 - Atuação do docente na condução das atividades propostas

Intervenções Falas retiradas da aula transcrita

Instigou

(criando problema e introduzindo termos)

(1), (11), (31),(34), (41), (47), (49), (51)

Questionou ou solicitou melhor explicação

(5), (9), (37), (42), (53)

Parafraseou a respostas (22), (46), (58)

Contrapôs (13), (16), (30), (39), (44)

Organizou ou recapitulou (20), (24), (45)

Deu ênfase a fala e as ideias (18), (33)

Concluiu (28), (57)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Tabela 2 - Atuação discente

Ações Falas retiradas da aula transcrita

Levantam hipóteses ou apresentam

propostas de intervenção

(2 ),(6), (7), (26), (27), (29), (36), (40), (50), (52), (55)

Expõem ideias (3 ), (4), (8), (10), (21), (23), (27)

Respondem a questão proposta (19), ( 32), (38), (48)

Expõem um dado relembrado (12), (14)

Explicam utilizando conceitos (17)

Fazem associações (15), (35), (43), (56), (59)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Esses resultados da tabela mostram que a atividade 1 possibilitou uma constante interação dialógica entre os alunos e a professora. Vários pontos de vista foram ouvidos e confrontados. As falas da professora (tabela 1), contabilizaram um total de

(28) e as dos alunos (30), na (tabela 2). Como a professora e os alunos exploram ideias, formularam perguntas e oferecem, consideram e trabalham diferentes pontos de vista, a abordagem comunicativa do discurso foi caracterizada principalmente como interativa / dialógica. Em algumas falas é possível identificar que a professora explica e sintetiza o conteúdo a partir dos conhecimentos dos alunos (22, 24 e 55) o que caracteriza uma abordagem interativa / autoritária.

Observa-se que as interações são principalmente do tipo I-R-F-R-F onde há um constante feedback (-F-) da professora, solicitando uma elaboração adicional de forma que o aluno desenvolva melhor o seu ponto de vista, o que resulta numa cadeia de interações.

Observando a tabela 2 percebe-se que as ações que mais apareceram entre os discentes foram levantar hipóteses e expor ideias, enquanto que na intervenção docente, predominou os questionamentos através de perguntas. Esses resultados apontam que a atuação dos alunos se mostra dependente da postura discursiva do professor.

Figura 03 - Atividade 1 - Café da Manhã “Ualá Levedura”

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Com relação aos aspectos epistemológicos, observamos que quanto mais o exercício da curiosidade espontânea se intensificou por meio dos questionamentos da professora, mais o conhecimento epistemológico foi promovendo a capacidade de conjecturar, comparar, analisar, admitindo o surgimento de hipóteses, até chegar à explicação de conceito estudado. No início da atividade ficou claro que os alunos

faziam uma representação limitada do grupo dos fungos como sendo apenas “cogumelos” e que este grupo é principalmente, no entender deles causadores de doenças. Essas representações resultam de um conhecimento acumulado de informações desenvolvidas pelo senso comum, transmitido pela sociedade ao longo do tempo e por eles aqui entendidas, em forma de registros, na folha da gincana como mostra o quadro abaixo.

Quadro 3 - Recorte de respostas de alunos para explicar questão 2 da atividade 1

Questão 2: Como o grupo explica o apodrecimento dos frutos na mesa? Grupo 5: “O tempo passou e as frutas apodreceram “

Grupo7: “Que os fungos sugam os nutrientes das folhas e verduras ajudando a apodrecer”.

Grupo 6: “Simplesmente as frutas apodrecem”.

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Assim, ao ler e analisar os recortes dos registros produzidos pelos alunos, como mostrado no quadro acima, em relação à resposta da questão, percebeu-se que estes não pensaram em que termos são “necessários para que o apodrecimento ocorra”, como proposto pela questão dois da gincana, embora, quase que todos sabiam que era necessária a umidade para que isso ocorresse. Apenas, os alunos se referiam os exemplos comuns do cotidiano como na fala (6) “simplesmente as frutas apodrecem”. Percebe-se que as respostas iniciais dos alunos estavam ligadas ao conhecimento cotidiano.

O mesmo ocorreu com a fala do grupo (5) registrada no quadro, onde este grupo de alunos considera que somente o tempo é responsável pelo apodrecimento dos frutos não existindo nenhum outro fator ou fatores que possam contribuir, acelerar o processo de decomposição dos alimentos.

Logo após a valorização dos conhecimentos prévios de cada aluno, para entender em quais os alimentos, direta ou indiretamente são encontrados os fungos, os alunos tiveram que entender novos saberes, como o conceito de fungos, micro-

organismos, decompositores, patogênicos, fermentação, reprodução, entre outros conhecimentos que foram surgindo, e assim nesse confronto de conhecimentos prévios e científicos os alunos foram se apropriando de conceitos científicos de forma contextualizada.

Conforme cita, Carvalho (2007, p. 20):

Em cada uma de nossas aulas, se quisermos realmente que nossos alunos aprendam o que ensinamos, temos de criar um ambiente intelectualmente ativo que os envolva, organizando grupos corporativos e facilitando o intercâmbio entre eles. A função do professor será a de sistematizar os conhecimentos gerados, não no sentido de “dar a resposta final”, mas de assumir o papel de crítico da comunidade científica. Assim, quando os alunos apresentam soluções incorretas, o professor deve argumentar com novas ideias e contra-exemplos.

Em todas as três turmas A, B e C, os alunos responderam em grande parte ao problema proposto de diferentes maneiras, sendo registradas em falas, o que permitiu perceber que existem várias respostas para uma questão e que, quando os estudantes são estimulados, ocorrem várias soluções e respostas criativas. Importante também ressaltar, que a atividade proposta contribuiu para o desenvolvimento de algumas explicações sobre os fungos com base nas particularidades de informações e conhecimentos que os alunos possuíam.

Nesse caso, ao aplicar esta prática pedagógica com intuito investigativo, foi oportunizada, também, a participação dos alunos dentro de uma abordagem de iniciação científica nas aulas, de forma a estabelecer relação entre os saberes cotidianos e científicos, e fazer conexões com outros saberes, considerando os aspectos relacionados à Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA).

Um episódio que registra concepções dos alunos sobre CTSA foi quando um aluno explicou de que maneira sua mãe consegue fazer a fermentação dos pães em casa utilizando as leveduras.

Percebemos nesta fala que a mãe do aluno pode estar utilizando um conhecimento cotidiano, do senso comum, para explicar a fermentação do pão, que também é considerado importante, válido, uma vez que a mãe está tendo um entendimento, uma impressão a seu ver dessa ação do sol favorecendo o crescimento da massa do pão.

Porém, observou-se que este aluno, já faz uma associação do mecanismo utilizado pela mãe, com uma transposição do conhecimento do senso comum para o conhecimento científico, pois ficou significativo para o aluno que a massa do pão cresce por estar relacionado à influência de temperatura, comprovando uma compreensão com criticidade.

Entendemos que o domínio da ciência não é privilégio de especialistas, mas um instrumento para o exercício pleno da cidadania. Esta questão nos remete a uma formação científica que permite ao cidadão participar das tomadas de decisões em assuntos que se relacionam à ciência e tecnologia (CACHAPUZ, et al., 2005).

Corroborando estas ideias, Chassot (2003) aponta que a alfabetização científica ocorrerá quando o ensino de ciência contribuir para a compreensão de conhecimentos, procedimentos e valores, que permitam aos estudantes perceber utilização, limites e consequências da aplicação da ciência no dia a dia.

A atividade 1 foi proposta com o intuito de gerar uma discussão inicial, e promover a problematização geral do tema Reino Fungi. Considerando a intensa interação dialógica, a motivação observada, os apontamentos da relação conteúdo x cotidiano realizados pelos alunos acreditamos que os objetivos da primeira atividade foram atingidos. Para Delizoicov et al. (2009, p. 131), o professor pode aprofundar a compreensão de seus alunos sobre a natureza do conhecimento científico, iniciando pelo resgate e problematização da concepção que possuem.

8.2 ANÁLISE DA ATIVIDADE 2: CONTAÇÃO DE HISTÓRIA: "VIAGEM AO MUNDO