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As atividades desenvolvidas, ligadas à realização de um trabalho laboratorial de investigação, organização do conhecimento, são de extrema importância, para que o aluno entre numa dinâmica de aprendizagem estimulada pela sua curiosidade em relação ao ambiente em que está inserido e, principalmente, pelo desenvolvimento de seus questionamentos, levando a uma solução de problemas tanto na sua vida escolar como na sua vida enquanto cidadão.

Nessa atividade proposta, os alunos foram desafiados, de maneira que, inicialmente, após a análise, observação e comparação, eles pudessem responder inicialmente a quais características dos organismos apresentados permitem classificá-los como fungos?

Dessa maneira, ao se propor esta experimentação, a intenção era proporcionar uma participação ativa, de descobertas e novas produções de conhecimentos. Esta atividade foi repetida também uma vez em cada turma do sétimo ano (A, B e C) e, em todas as aulas, os alunos ficaram impressionados, pois estava sobre a bancada do laboratório grande parte dos diversos fungos utilizados na primeira aula.

Sendo assim, em pequenos grupos, os alunos receberam uma folha contendo uma planilha com a classificação dos fungos em três grupos. Para propiciar os manuseios dos elementos expostos, todos colocaram luvas e máscaras.

Ao se fazer esse processo de observação sobre os elementos colocados na bancada do laboratório de ciências, para que se levantassem hipóteses e opiniões sobre o que estavam vendo, foi proporcionado pelo professor um ambiente de indagações para melhor promover a integração dos saberes diversos com os saberes científicos.

A atividade de experimentação, aqui proposta, consiste em que os alunos, em pequenos grupos, se locomovam ao redor da bancada do laboratório, visualizem alguns representantes de fungos e, após as discussões realizadas nos grupos, possam realizar as discussões necessárias, e, em seguida, fazer os registros que

podem ser escritos, ou em formas de desenhos, de maneira que agrupem os elementos da bancada em cada grupo de acordo com as características compreendidas e estudadas por eles. Também ocorreram nessa aula registros escritos de perguntas investigativas propostas, além das questões orais problematizadas.

Transcreveu-se abaixo a condução desta aula.

(1) P: Bom-Dia Pessoal. E então, está tudo bem com vocês? Parece que estão ansiosos, alegres... rs... aconteceu alguma coisa que não estou sabendo...mais risos..

(2) A1: Ah... professora é que já sabemos que vamos para o laboratório . (3) P: Como assim? Eu não falei nada ainda?

Risos na sala toda... Mais risos e brincadeiras...

(4) P: Ei... calma... porque tantos risos... E até agora não entendi como ficaram sabendo sobre o laboratório?

(5) A2: É que vimos você descendo com as outras turmas para lá... mais risos... e achamos que nós vamos descer também (descer referência ao laboratório).

(6) P: OK... Ok... vamos lá então.

Neste momento, a professora orientou como seriam as formas dos procedimentos a serem executados, e aqui ocorre a transcrição de uma das aulas no laboratório com o objetivo de classificar os fungos.

(7) P: Bom, pessoal, vamos iniciar neste primeiro momento, todos com luvas e máscaras, em pequenos grupos que foram distribuídos, circular pela bancada do laboratório, e procurar identificar semelhanças e diferenças entre os fungos aqui representados e quais os possíveis grupos que vocês classificariam de acordo com nossos estudos.

Pausa para eles circularem e se comunicarem em pequenos grupos. Foi distribuída uma folha em que logo após as discussões coletivas, os alunos iriam, em pequenos grupos, escrever ou desenhar os representantes de cada grupo de acordo com sua classificação estudada anteriormente.

(8) P: E aí, estes cogumelos todos têm os mesmos aspectos, tamanhos? Qual a relação dessa embalagem de fermento biológico aqui com os fungos? O que mais você estão vendo?

(9) A3: Professora, este cogumelo é mais escuro do que esse.

(10) A1: E olha, esse pão parece que tem uma “nuvenzinha” branca sobre ele. (11) P: Nuvem branca? Como assim?

(12) A4: Não é nuvem branca, é de algodão... risos... (13) P: Mas será que é mesmo de algodão?

(14) A5: Claro que isso deve ser fungos. Pois tudo aqui são fungos. Olha, professora, esse pão mofado, a massa de pão crua, os cogumelos, o fermento, as folhas, os tocos de árvores, a casca de banana, esse mamão.

(15) A6: Esse mamão está fedorento?

(16) P: Será que este mamão, como você diz, fedorento, neste estágio em que se encontra, só serve para exalar o mau cheiro.

(17) A6: Não, professora ... o mamão está em processo de decomposição que como você disse torna adubo para o solo.

(18) P: Ok. Muito bem.

Um aluno questiona por que os cogumelos têm cores diferentes.

(19) A7: Professora, por que existem uns cogumelos branquinhos, outros mais escuros e outros mais vermelhos?

(20) P: É isso que gostaria de saber? Será que tem a ver com os grupos a qual pertencem? Silêncio.

(21) A2: Eu acho que sim. Quando nós estudamos os animais tinha isso de parentesco, de local. (22) P: Muito bem...

(23) A8: Eu adorei aquele cogumelo vermelho grudado no tronco. (24) P: O nome vulgar desse cogumelo é orelha de pau.

Muitos alunos falavam ao mesmo tempo. Queria me mostrar o que estavam observando, comentar certos casos ocorridos com eles relacionados ao fungo.

(25) A9: Por que os chapéus dos cogumelos são diferentes? Uns estão para cima e outros com a aba para baixo.

(26) A7: Olha este daqui... muito estranho.

(27) P: Às vezes, dependendo da espécie, o chapéu assume um formato de funil, pontiagudo para baixo cones como se fossem um guarda-chuva, outros apresentam um formato de chapéu amplo com as abas voltadas para cima, na maioria dos casos, sua região central possui uma depressão, com um rachado.

(28) A10: Olha esse aqui... já vi um destes perto da minha casa.

Um aluno comentou que no caminho, ao ir para a escola, observou uns juntos no pasto.

(29) P: Isso mesmo, geralmente eles ficam muito próximos, juntos em colônias (grupos), devido à “sementinhas”, os esporos que se dispersam na reprodução em locais úmidos.

(30) A10: Professora, eu observei também que possuem diversos tamanhos.

Neste momento, a aluna pega dois cogumelos diferentes nos aspectos externos e mostra para toda a turma.

(31) P: E então, pessoal, conseguirem entender.

(32) P: A colega falou que tudo que está aqui na bancada do laboratório são fungos? Será mesmo? (33) A7: Acredito que sim.

(34) A11: Só se for essa flor branca? (o aluno estava se referindo ao cogumelo champignon). (35) P: Flor branca? Eu não estou vendo flor branca? Concordam pessoal?

Um coro de alunos responde que sim.

(36) P: E então, se não é flor branca o que pode ser isso? Alguém já viu? Pode me dizer o que é? (a

professora aponta para o cogumelo champignon).

(37) A12: Professora, minha mãe me disse uma vez que na casa onde ela trabalha tem esses cogumelos... e ela utiliza para fazer comida.

(38) P: Pois então não é flor. Isso, na verdade, como a colega, falou é um alimento. E sim é um grupo de fungos úteis utilizados na alimentação. Assim como vimos nas imagens dos slides que tem queijo roquefort e gorgonzola que possuem uma camadinha de bolor verde por cima, que também são fungos.

(39) P13: Aquele verdinho sobre o queijo é um penicillio, um grupo de fungos úteis. (40) A9: Há...eu não gosto disso não.Dá para ver essas coisas verdes.

Risos da turma toda.

(41) A6: Professora, por que tem esses cogumelos nos troncos de árvores.

(42) P: Os cogumelos não têm o verde das folhas (clorofila) e precisam utilizar o alimento que já foi produzido por alguma planta verde. Por isso, encontra-se em tocos de árvores, nas folhas e em gravetos em decomposição ou mesmo nos solos muito ricos. Dessa forma, obtêm o alimento de que precisam.

(43) P: No início da aula, um colega de vocês falou sobre nuvens de algodão sobre esse pão? Será que isso é nuvem de algodão mesmo?

(44) A14: Agora entendemos que não professora.... são os fungos.

(43) P: Então, legal, né? É um estágio de decomposição que os fungos passam ora com manchas brancas ora com manchas mais escuras, esverdeadas. Assim como nessa folha de couve tem fungos parasitas, manchas, igual aqueles que muitas vezes atacam as folhas de café, causando a “ferrugem do café”.

(44) P: Este cogumelo aqui pode pertencer ao mesmo grupo do pão com bolor?

(45) A7: Não, professora. Nós vimos naquela aula de slides que os cogumelos são divididos em grupos e esse cogumelo pertence a grupo diferente do pão mofado.

(46) P: Muito Bem... Então vamos lembrar as principais características de cada grupo? Quem pode me ajudar?

Algumas mãos se levantaram para responder.

(47) A2: Eu posso. Os cogumelos comestíveis também têm os venenosos, as ferrugem da folha que nós estudamos no caso, da couve e do café.

(48) A17: Professora, aquele ali grudado na árvore “orelha de pau”.

(49) P: Muito bem... é isso mesmo, esse grupo que tem cogumelos-ferrugem, que vocês falaram são chamados de basidiomicetos como já vimos e representam um dos maiores grupos dos fungos. (50) P: E o que mais nós sabemos? E quanto a esses alimentos como pão velho com bolor, as frutas e verduras e esses liquens aqui. Em qual grupo podemos classificar.

Pausa. Entre eles começaram a conversar e discutir.

(52) A3: Achamos que é o zigomicetos... alguma coisa assim... risos geral.(falou uma aluna após

conversar com seu grupo).

(53) P: Muito bem pessoal..Zigomicetos, estão certos. (54) A11: Falta esse aqui o fermento biológico?

(55) P: Então quando estudamos em qual classificação nós colocamos o fermento juntamente com o amigo da Carolina na história do livro.

(56) A6: Esse fermento são leveduras, então é do grupo... ascomicetos e incluem o Penicillio que é o amigo da Carolina na história.

(57) P: Perfeito... estou muito contente com vocês. Agora, vocês irão responder às questões propostas na folha em grupos. Vamos lá?

Ao que os alunos se encaminharam para cada qual no seu grupo de responder às questões e alguns comentavam.

(58) A6: A aula, assim, é bem melhor... (59) A3: Aula boa... passa rápido...

(60) A16: Essas aulas de ciências são legais.

(61) A9: Achei muito bacana usar máscaras e luvas...

Momentos de discussões em grupo e escrita na folha.

A partir da transcrição da aula, e utilizando-se as tabelas 1 e 2, procurou-se categorizar a atuação docente e discente.

Tabela 1 - Atuação do docente na condução das atividades propostas

Intervenções Falas retiradas da aula transcrita

Instigou (1), (7), (8), (18), (43), (46), (50), (55), (57)

Questionou ou solicitou melhor explicação (3), (4), (6), (13), (16), (44), (53) Parafraseou a respostas (36) Contrapôs (11), (20), (35) Organizou a ideia e recapitulou (24), (27), (38), (43), (49)

Deu ênfase a fala e as ideias (22), (31), (32)

Concluiu (29), (39), (42)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Tabela 2 - Atuação discente

Ações Falas retiradas da aula transcrita

Levantam hipóteses ou apresentam

propostas de intervenção

Expõem ideias (15), (33), (46), (48), (58), (59), (60)

Respondem à questão proposta (9), (14), (33), (45)

Expõem um dado relembrado (5), (30), (52), (61)

Explicam utilizando conceitos (17), (47), (56)

Fazem associações (12), (21), (28), (37)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Pela tabela, percebeu-se que as intervenções mais frequentes da professora foram instigar e questionar. As falas da professora, classificadas na (tabela 1), contabilizaram um total de (32) e as dos alunos (30), na (tabela 2), caracterizando uma interação/dialógica. Observou-se na fala (56) que os alunos também começaram a expor conceitos científicos mais amplos.

Na intervenção docente (tabela 1), predominaram perguntas realizadas pelo professor no intuito de instigar do aluno, de modo que este chegasse ao saber científico, promovendo, assim, em alguns momentos, a transposição do discurso dialógico para o discurso de autoridade. Em relação à tabela 2, percebe-se que as ações que mais apareceram entre os alunos foram expor ideias utilizando conceitos. As interações estabelecidas em sua maioria nesta atividade foram do tipo I-R-F-R-F- R porque a professora passa a interagir com os próprios alunos ao promover os questionamentos, prevalecendo já o uso de termos científicos, tendo, na discussão com toda a classe, uma abordagem interativa/dialógica alternando para uma abordagem interativa/autoridade.

Sobre as questões epistemológicas, observamos que a experimentação proporcionou, entre outros conhecimentos, um maior entendimento da classificação dos grupos dos fungos com suas características principais e seus representantes de cada grupo. Trata-se também de uma oportunidade para que os alunos façam comparações que coloquem em evidência similaridades e diferenças do grupo a ser estudado, sensibilizando-se diante das diversidades de representantes que estão inseridos em seu dia a dia.

Para os alunos, ficou perceptível que a atividade era prazerosa e tinha um caráter lúdico, pois eles manipularam, tocaram, observaram, utilizaram lupas e luvas. Na verdade, foi uma aula muito participativa e divertida, em que eles, bastante curiosos, riam muito, principalmente por usar as luvas e as lupas.

Segundo Freire (1996, p.32), é tarefa da prática educativa, atuante, promover o desenvolvimento da curiosidade. Para ele,

A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta, faz parte integrante do fenômeno vital.

Os alunos saíram do laboratório de ciências dizendo que adoraram a aula (59), provando mais uma vez a importância de haver aulas práticas investigativas de forma a ajudar a quebrar a rotina na sala de aula. Este momento permitiu identificar a atividade experimental investigativa como uma estratégia didática que auxilia na compreensão dos conhecimentos teóricos, em que os alunos, diante de observações e procedimentos, chegam à aprendizagem. Entende-se que, a partir de um trabalho de observação, explorando as diferentes percepções, os alunos construirão a ligação entre o concreto e a sua representação e tornar-se-ão capazes de utilizar essas noções em outras representações a serem feitas. Fica evidenciada também a oportunidade de se organizar uma classificação de fungos baseada em critérios concretos, perceptíveis a olho nu e de caráter científico, proporcionando uma autonomia em termos dos saberes diversos a serem adquiridos.

Evidenciar experimentalmente a presença de fungos em diversos ambientes do cotidiano deles não foi tão fácil, pois muitos alunos só conseguiam entender o grupo dos fungos (como sendo parasitas e cogumelos); isso ficou evidenciado quando foram analisadas as respostas dos trabalhos de grupo apresentados.

Depois de realizarem todos os estudos e as atividades proporcionadas e ao serem analisados em todas as turmas, os registros, verificou-se que, “[...] ao se permitir proporcionar atividades investigativas”, possibilitou-se para os alunos uma aprendizagem mais duradoura. A priori, os alunos construíram novos conceitos dada

a diversidade das situações apresentadas. Como defende Freire (1996), o registro também pode ser um instrumento pedagógico, que auxilia o processo de aprendizagem do aluno.

Na fase dos registros escritos dos resultados, depararam-se com uma folha em que, meio de registros escritos ou desenhos, deveriam classificar os elementos da bancada nos grupos dos fungos. A questão relatada abaixo teve a intenção de identificar se os alunos conseguiram extrapolar os conceitos obtidos, justificando as suas escolhas. Alguns exemplos de respostas são apresentados a seguir, quando os alunos, em grupo, identificaram e classificaram os fungos.

Quadro 5 - Recorte das falas dos alunos sobre a aula “identificando e observando os Fungos”

Grupo 1: “O fermento químico sobre a bancada do laboratório não pode ser classificado nesta tabela, porque é químico diferente do fermento biológico’’.

Grupo 2: “Os basidiomicetos são representados por vários tipos de cogumelos, por isso colocamos os cogumelos nesse grupo’’.

Grupo 3: “No grupo dos ascomicetos colocamos as leveduras do fermento biológico e os mofos das folhas, frutas podres que estão aqui no laboratório, pois entendemos que todos os mofos pertencem a esse grupo e alguns são seres microscópicos”.

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Como observado no quadro anterior, na fala do grupo (3), os alunos afirmam com segurança que classificaram o fermento biológico, folhas, frutas podres como sendo ascomicetos, provando a percepção do conhecimento científico inserida nessa fala. Na proposta deste trabalho, que foi de incentivar a autonomia, criatividade, ampliação da construção do conhecimento científico, percebe-se que estavam sendo contemplados.

Figura 7 - Atividade 4 “Identificando os Fungos”

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.