• Nenhum resultado encontrado

Aprender ciências envolve a introdução dos alunos a uma forma diferente de pensar sobre o mundo, e explicá-lo é tornar-se socializado, em maior ou menor grau, nas práticas da comunidade científica, e os alunos precisam engajar-se em um processo pessoal de construção do conhecimento e de atribuição de significados para a sua vida.

Sendo assim, foi realizada a investigação do fermento biológico e fermento químico, utilizando o experimento do enchimento da bola de soprar com o fermento. Desta maneira, os alunos tiveram a oportunidade de realizar o experimento, comprovar, analisar, observar, questionar todos os aspectos proporcionados, de maneira a relacionar e comparar o processo de fermentação que ocorre nas bolas de soprar com o crescimento da massa de pão, diferenças entre o fermento químico e biológico, fazendo-se um paralelo de informações e saberes.

Nesta aula, o grande desafio era responder à problematização. Então, ao iniciar a aula, comecei relembrando os questionamentos levantados após a leitura do texto informativo, resgatando dos alunos determinados conteúdos estudados que contribuíram para explicar como ocorre o processo de fermentação dos fungos, promovendo a reflexão das perguntas pertinentes lançadas com a leitura do texto investigativo.

Transcreveu-se abaixo a condução desta aula.

(1) P: Então pessoal, o que vocês acharam do texto? No texto, o que aconteceu com o bolo que Patrícia fez ? E o pão?

(2) A1: Achei que Patrícia esqueceu os ingredientes... confundiu.. (3) P: Como assim?

(4) A2: No pão deveria ter colocado o fermento biológico? E não no bolo?

(5) A3: Isso mesmo... o pão usa fermento biológico que já vimos são fungos....leveduras.

(6) P: Ok.. muito bem.. então o que fez o pão de Patrícia crescer? Foi somente o fermento biológico? (7) A1: Não professora...para fazer o pão temos outros ingredientes.

(8) P: Certo, então ao colocarmos todos os ingredientes corretos..citados por vocês e preparar a massa... o que será que vai ocorrer mais a frente.

(9) A4: A massa vai inchar... crescer...

(10) P: Ótimo ... é nesse ponto que queria chegar...o que será que promove esse crescimento da massa.

(11) A5: Já sabemos que são os fungos micro organismos... mas não sei como... (12) P: Então vamos lá... tem um processo que precisamos entender...

(13) A6: Eu acho que já ouvi falar... os fungos são seres vivos..então devem fazer como nós...

Pausa...

(14) P: Vamos entender isso melhor? O que devem fazer como ”nós”? (15) A7: Se alimentar... comer... respirar..

(16) P: Ok.... o que ocorre é que os fungos são seres microscópicos que realizam o processo de fermentação. Neste caso a fermentação é o processo de transformação dos açúcares. Como exemplo é o da massa do (bolo, pão) onde os fermentos (leveduras) consomem o amido.

(17) A3: Professora, então isso que ocorre com o fermento biológico que é formado por ser vivo e o que ocorre com o fermento químico. (risada na sala).

(18) P: Só para ressaltar O fermento biológico atua consumindo gradativamente os açúcares disponíveis na massa, liberando o gás carbônico aos poucos. Lembrando que a farinha de trigo possui naturalmente açúcares que disponibilizam mais açúcares durante a fermentação.

(19) P: O que vocês acham? Como será que ocorre com a fermentação do fermento químico.

(20) A1: Não sei... talvez o fermento químico tem um processo diferente, já que não é formado por ser vivo.

(21) P: Ok... e que processo seja este? Vamos lá? (22) A1: Ah, deve ser uma reação.

(23) P: Ok, o fermento químico é constituído de uma reação química de bicarbonato de sódio. No fermento químico, as reações ocorrem quando o bicarbonato gera gás carbônico e água, fazendo com que a massa aumente seu volume. Essa reação é auxiliada pelo aumento de temperatura e só cessa quando todo o fermento reage.

(24) A10: E em relação ao tempo, quem é mais rápido para fazer a massa crescer?

(25)P: Ótima questão? Eu pergunto a vocês então? Além dessas diferenças comentadas quem e mais rápido no processo da fermentação?

Em seguida, os alunos foram convidados para, em grupo, dirigirem-se ao laboratório de ciências para prepararem as garrafas contendo bolas de soprar para que fizessem um paralelo de como ocorre esse processo de fermentação. Ao chegarem ao laboratório encontraram, para cada grupo, três garrafas pet, o fermento biológico, o fermento químico, açúcar, sal.

Então, perguntei o que eles poderiam fazer com esse material para comprovar as discussões anteriores propostas. Vários grupos se pronunciaram com ideias, sugestões de como poderiam misturar os ingredientes, tendo em sua maioria chegado a um consenso de que em um dos frascos se colocaria o fermento biológico misturado com açúcar e água.

Em outro frasco, também usariam o fermento químico com açúcar e água. Outros grupos sugeriram colocar no terceiro frasco todos os ingredientes. Contudo, um dos grupos me chamou a atenção ao indagar:

(26) A7: Por que professora, temos que colocar o açúcar e não sal?

(27)P: Eu não sei, vocês é que estão me dizendo que farão com açúcar?O que os outros grupos acham? Porque colocar açúcar e não sal?

(28) A3:É porque o açúcar vai dar mais certo do que o sal?

(29) P: Não respondeu aqui a questão meu amigo... O que queremos saber é por que a maioria dos grupos optou por colocar açúcar e não sal?

(30) A12: Acredito que o açúcar, como conversamos, é o alimento do fermento biológico.

A ideia do aluno em questionar sobre o açúcar e o sal me levou a redirecionar a condução da atividade de modo a atender o que estava sendo dúvida para tal aluno, pois testar as ideias que surgem podem possibilitar uma compreensão maior do estudo que está sendo realizado.

É importante ressaltar que a forma de colocar o fermento biológico no frasco ficou a critério do grupo, não sendo direcionado por mim o como proceder. Foi neste momento que percebi que um grupo de alunos resolveu pegar uma folha de papel e fazer um funil para que o fermento fosse colocado no gargalo do recipiente com menor perda de material. Logo, em seguida este procedimento foi imitado por outros.

Para a experimentação, foi solicitado que os alunos fossem ágeis ao tampar a garrafa com balão, pois teriam uma grande surpresa. Sendo assim, após as discussões, ficou decidido que a terceira garrafa ficaria livre para que o grupo escolhesse quais materiais presentes na bancada utilizaria e para que observassem também o que ocorreria. Em grande parte, ficaram curiosos sobre o seguinte detalhe: se colocassem sal, também ocorreria o mesmo processo? Então de forma unânime, optou-se por colocar no gargalo da garrafa sal, fermento biológico e água, para observarem e verificar o que ocorreria. Após vários questionamentos e discussões, os alunos, em seguida foram convidados a propor exemplos de como isso ocorre em casa, e que tipos de situações.

A partir da transcrição da aula, e utilizando as tabelas 1 e 2, procurou-se categorizar a atuação docente e discente da aula

Tabela 1 - Atuação do docente na condução das atividades propostas

Intervenções Falas retiradas da aula transcrita

Instigou (1), (12), (25)

Questionou ou solicitou melhor explicação (3), (19), (27) Parafraseou a respostas (16) Contrapôs (10), (14), (29) Organizou a ideia e recapitulou (8), (23)

Deu ênfase a fala e as ideias (5)

Concluiu (18)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Tabela 2 - Atuação discente

Ações Falas retiradas da aula transcrita

Levantam hipóteses ou apresentam

propostas de intervenção

(7), (20), (24), (26)

Expõem ideias (2), (9), (22)

Respondem à questão proposta (4), (11)

Expõem um dado relembrado (5), (28), (30)

Explicam utilizando conceitos (13)

Fazem associações (15), (17)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

A partir da análise, percebe-se que a professora discutiu os resultados experimentais com os alunos agindo de forma interativo/autoridade, onde o professor na maioria das vezes conduziu as aulas a fim de se chegar ao ponto comum de entendimento. Também ocorreu um progresso de concepção de conceitos, referindo-se as ideias

do cotidiano que os alunos apresentavam no inicio da sequência e às ideias científicas construídas ao longo da sequência.

Os resultados mostram também que a atividade quatro possibilitou uma constante interação dialógica entre os alunos e a professora. As falas da professora (tabela 1), contabilizaram um total de (14) e as dos alunos (15), na (tabela 2). Em algumas falas é possível identificar que a professora interage com o aluno, estabelecendo um padrão I-R-F, como no caso das falas (9, 20, 21, 22) em que se busca mais detalhes da questão, e em outros momentos ocorre I-R-F-R-F estabelecendo uma cadeia de interações reforçando e caracterizando uma abordagem interativo/autoridade.

Observa-se que as interações I-R-F-R-F, requer que a intervenção da professora possibilite desenvolver a estória científica da atividade, revendo os resultados dos experimentos realizados pelos alunos como proposto nessa aula.

Na tabela 1 percebe-se que as ações que mais apareceram em relação atuação do professor foi de instigar, questionar ou propor melhor resposta e contrapor as ideias dos alunos, enquanto que na atuação discente, predominou levantamentos de hipóteses e proposta de intervenção. A análise apontam ainda que a atuação dos alunos mostra que nesta aula estes tiveram uma postura independente, autonomia em relação ao professor. A ideia do aluno na fala (26) em questionar sobre o açúcar e o sal fez com que a professora tivesse uma postura de redirecionar a condução da atividade para testar a hipótese lançada pelo aluno, reafirmando uma postura da professora interativo/autoridade com o objetivo de se chegar ao ponto de vista específico por meio do diálogo.

Com relação aos aspectos epistemológicos, observamos que as estratégias de ensino aqui vivenciadas preconizaram possibilitar aos alunos a construção de conhecimentos científicos segundo os pressupostos educativos de ensino. Percebe- se que a prática utilizada permeou um ensino investigativo a partir da realidade dos alunos. Outro diferencial apresentado e interessante foi à verificação da construção de conceitos científicos. Pois nesse momento da atividade os alunos já conseguiam usar a linguagem da ciência para explicar hipóteses, como na fala (22) que o aluno

utiliza termo cientifico para responder sobre o processo de fermentação biológica dos fungos.

Acreditamos que a construção do conhecimento está diretamente ligada à curiosidade, à necessidade da pergunta, da indagação, da inquietação, pois “[...] o papel do educador é desafiar a curiosidade ingênua do educando, para, com ele, partejar a criticidade” (FREIRE, 1995, p.79).

Sendo assim, há indícios de que, quando os alunos passam a entender leveduras como um processo de reação e transformação, eles começam a associar os fungos com menos intensidade de prejuízos à saúde. Um dos desafios impostos ao professor é tentar relacionar os conceitos à realidade do aluno, dando significado e importância ao assunto estudado de maneira a entender o educador não mais como detentor do conhecimento, e sim como mediador nos processos de formação e desenvolvimento dos saberes prévios dos estudantes, conforme premissas dos PCNs.

Nesta fase de estruturação, organização do conhecimento, percebeu-se que os alunos apresentaram muito interesse e curiosidades. Para ilustrar as concepções que surgiram durante a execução da experimentação investigativa, destacam-se abaixo os argumentos dos alunos extraídos da turma e que complementam a análise.

Quadro 7 - Recorte de fala dos alunos sobre a aula fermentação química e biológica Aluno 20: Olhem... olhem... a nossa bola cresceu mais rápido

Aluno 5: Por que o meu não cresceu?

Aluno 16: O frasco com sal não aconteceu nada.

Aluno 8: Professora..professora..olha a bancada do laboratório o pó Royal que caiu do frasco está dando borbulhas... fermentação.

Aluno 15: Que interessante... a nossa bola está cada vez maior... . É a fermentação. Reação que comentamos.

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Como observado no quadro anterior, a fala do aluno (15), este afirma que a bola, “bexiga” de ar está cada vez maior, devido a fermentação, ao processo de reação que estudaram, provando a percepção do conhecimento científico inserida nessa

fala. Este momento é de suma importância para a proposta deste trabalho, pois os objetivos da atividade que foram de incentivar a autonomia, criatividade, e a inter- relação teoria e prática a partir do diálogo, a construção do conhecimento, percebem-se que estavam sendo contemplados. Também observou-se que na fala (8), o aluno já consegue associar as bolhas que caiu do frasco com o processo de fermentação.

Assim, é necessário oportunizar aos alunos uma leitura de mundo mais abrangente, promovendo diálogo entre o que já sabiam e o que precisavam saber, valorizando a escola e o seu papel de destaque na busca do conhecimento, “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História” (FREIRE, 1996, p.154).

Também, nesta aula falaram-se as diferenças do fermento biológico para o fermento químico e suas implicações no processo de fermentação, que acabam produzindo compostos gasosos. Esses gases expandem a massa dos pães e bolos e dão origem a pequenos buracos, tornando-as macias.

Demonstrou-se, também que a diferença entre os fermentos químico e biológico está em sua composição: o químico é constituído de bicarbonato de sódio (NaHCO3) e o biológico apresenta um fungo do tipo levedura. Sendo assim, no fermento químico, as reações de decomposição ocorrem quando o bicarbonato gera gás carbônico e água, fazendo com que a massa aumente seu volume. Essa reação é auxiliada pelo aumento de temperatura e só cessa quando todo o fermento reage.

É preciso lembrar que muitos alunos ficaram maravilhados em ver o colorido das bolas de soprar cheias devido à fermentação do pó Royal e chegaram, a comentar que iriam fazer novamente a atividade em casa, como relatas abaixo nas falas( 12) e (5). Percebeu-se que a aula alcançou os objetivos propostos e que estes estavam muito contentes com as novas descobertas.

Aluno 12: Que maravilha....as bolas estão ficando cheias. Aluno 5: Que legal vou fazer em casa também.

Figura 9 - Atividade 6 “Investigação do processo de fermentação”

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

8.7 ANÁLISE DA ATIVIDADE 7: ESPAÇO NÃO FORMAL: VISITA À