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O objetivo dessa atividade foi explorar o conhecimento de maneira geral sobre os fungos, por meio da leitura do livro paradidático “Viagem ao mundo dos micróbios”. Essa aula da sequência proposta possibilitou o desenvolvimento de estratégias para abordar e sistematizar conceitos relevantes ao ensino do tema fungos, como os microrganismos fermentadores, a descoberta dos antibióticos, os micro-organismos parasitas e decompositores entre outras informações.

Na tentativa de promover uma prática de aula que proporcione a investigação e o conhecimento, buscamos desenvolver atividades que estimulassem as percepções, curiosidades, reflexões, leitura e escrita. Dentre as diversas fontes de leituras, o livro paradidático foi o recurso escolhido principalmente por entre outros requisitos, contribuir significativamente para o desenvolvimento do hábito de leitura.

A atividade proposta teve como pergunta problematizadora inicial: O que são micro- organismos fungos? E a leitura do livro paradidático “Viagem ao mundo dos micróbios” veio ao encontro dessa pergunta de forma a promover diversas questões pertinentes.

Figura 04 - Atividade 2, envolvendo a contação de história e leitura do livro paradidático “Viagem ao mundo dos micróbios”

O desafio destas atividades estava em instigar os alunos a se conscientizarem de que existem micro-organismos não só causadores de doença, como a maioria pensava, mas que existem micro-organismos úteis ao homem e ao ambiente em que estes estão inseridos.

De início, os alunos, à sua maneira, responderam às questões propostas, permitindo uma abordagem maior do assunto. Após explorar bastante estas e outras questões pertinentes, foi realizada a leitura do livro com slides de imagens mais evidenciadas no livro paradidático, sempre explorando as imagens e dialogando com os alunos. A seguir a transcrição de uma dessas aulas das turmas do 7ª ano.

Transcreveu-se abaixo a condução desta aula.

(1) P: Bom dia Pessoal. Primeiramente quero parabenizar a gincana de ontem foi ótima. Então vocês gostaram? Vou anunciar a equipe vencedora?

... Muito borbulho em sala, euforia... risos... a professora continua a dialogar com eles sobre a aula anterior.

(2) P: Então quem de vocês realmente gostaram da aula?

... Unânimes em todos levantaram a mão. Alguns comentaram.

(3) A1: Eu falei em casa com a minha família. Achei muito diferente.

(4) A2: Eu também professora. Disse para minha mãe que tinha alimentos podres, tronco de árvores com cogumelos que nunca tinha visto, fizemos à degustação de alimentos que continham fungos. (5) P: E aí... o que sua mãe disse sobre isso que você contou?

(6) A2: Ela ficou espantada, pois assim como eu no início não estava entendendo que podemos comer fungos, quer dizer né... professora que existem fungos que auxiliam na fermentação de alimentos e bebidas... risos...

(7) P: É isso mesmo, minha querida. Você está certíssima ... estou encantada... mas para enriquecer ainda mais nossa aula .Vou contar uma história para vocês do livro paradidático Viagem ao mundo dos micróbios, Samuel Murgel Branco2 ... Foram escaneadas as imagens do livro para vocês melhor visualizarem e entender e principalmente participar da aula. Vamos lá.

Neste momento a professora pergunta quem já ouviu a historia desse livro. Todos responderam que nunca ouviram e nem viram. Então esta começou a contar a historia mas sempre... com pausa... indagando, levantando perguntas, questionamentos para os alunos. Os alunos contavam suas experiências, relacionando a história com sua vida pessoal. Neste momento transcrito, a aula estava relacionado à parte da história que mostrava como surgiu o antibiótico penicilium para combater micro organismos patogênicos. Então, uma aluna indagou:

(8) A3: Professora, o que são micro organismos patogênicos?

(9) P: Alguém comentou na aula de ontem, então quem pode me ajudar? (10) P: Micro-organismos patogênicos são micróbios que causam doenças. (11) A4: Eles ajudam a “curar” a pessoa que está doente.

(12) P: Quando uma pessoa está doente, apresenta um quadro de sintomas causadas por micro- organismos e estes que causam a doenças são os patogênicos. Na maioria das vezes quando vamos ao médico e for examinado o médico receita antibióticos para combater os micro-organismos patogênicos, aumentando a resistência do nosso corpo, neste caso contra as bactérias.

(13) A5: Mas professora você não falou que tem fungos úteis também?

(14) P: Sim meu amigo... existem fungos micro-organismos fermentadores..fabricantes de bebidas como a cerveja, o vinho, as aguardentes... mas que são de outras famílias de fungos, os levedos.

2

BRANCO, Samuel Murgel. Viagem ao mundo dos micróbios. São Paulo: Moderna, 1993(Coleção Polêmica).

(15) A6: Eu não sabia que tem fungos na bebida também?

Muitos alunos também ficaram surpresos com essa informação.

(16) P: Na verdade, os fungos da família levedos transformam o açúcar ou a farinha em álcool. Se for açúcar de cana, forma a aguardente, a cachaça, se for de uva, dá o vinho, se for açúcar de cevada, forma a cerveja..e assim por diante.

(17) P: Mas será que vocês realmente entenderam? Gostaria de saber e o álcool usado no automóvel tem participação de fungos?

(18) A7: Sei lá professora... acho que vem do petróleo. (19) P: Petróleo? O que vem a ser petróleo?

(20) A4: Algo que dá muito dinheiro... meu pai trabalha na empreiteira da Portocel que presta serviço para Petrobrás e trabalha com isso...

(21) P: Pessoal voltando aqui... petróleo é um recurso natural, atualmente a principal fonte de energia, servindo também como base para fabricação dos mais variados produtos, dentre os quais podemos destacar o óleo diesel, gasolina e até mesmo as embalagens plásticas que utilizamos em nossas casas.

(22) A: Professora ... o álcool vem da cana de açúcar.

(23) P: E então considerando o que o colega falou e quanto a pergunta que fiz... será que o álcool usado no automóvel tem participação de fungos?

(24) A4: Acho que sim... pelo que nós estamos estudando.

(25) P: É isso mesmo os levedos transformam o açúcar de cana em álcool. Sendo assim, o álcool vem da cana de açúcar com a ajuda da fermentação dos fungos.

Assim... a aula continuou, sempre dialogando, oportunizando as falas, comentários, reflexões. Neste momento alguns alunos comentaram sobre suas experiências com medicamentos antibióticos.

(26)A8: Eu estava tomando antibiótico em casa, mas não estava mais fazendo efeito e aí tive que ir para o hospital para tomar na veia.

(27) A9: Professora, eu acho que tomei isso que você está falando no hospital quando fiquei internado por muitos dias.

(28) P: Muito bem... que bom que vocês estão entendendo e relacionando o que estamos ouvindo e vendo na história do livro com a vida de vocês.

Após continuar com a leitura do livro paradidático, por final se questionou qual parte, ou quais momentos da história de que mais gostaram. Uns comentaram que foi a parte dos antibióticos, outros da fermentação, outros sobre a parte que fala dos micro-organismos que cuidam dos jardins, as considerados decompositores.

Já no término da aula, foram entregues folhas para cada aluno para que produzissem uma história em quadrinho sobre a aula que tiveram ou mesmo fazer a reescrita da historia uma viagem ao mundo dos micróbios a ser entregue na próxima aula.

A partir da transcrição da aula e utilizando as tabelas 1 e 2 procurou-se categorizar a atuação docente e discente da aula 2.

Tabela 1 - Atuação do docente na condução das atividades propostas

Intervenções Falas retiradas da aula transcrita

Instigou (1), (2), (17), (23)

Questionou ou solicitou melhor explicação (3), (5), (9) Parafraseou a respostas (7), (10) Contrapôs (19) Organizou a ideia e recapitulou (12), (25)

Deu ênfase a fala e as ideias (14), (16)

Concluiu (21), (28)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Tabela 2 - Atuação discente

Ações Falas retiradas da aula transcrita

Levantam hipóteses ou apresentam

propostas de intervenção

(3), (8), (13)

Expõem ideias (4), (6), (15), (17)

Respondem à questão proposta (11), (18)

Expõem um dado relembrado (21), (27)

Explicam utilizando conceitos (20), (22)

Fazem associações (24), (26)

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Pela tabela percebeu-se que as intervenções mais frequentes da professora foram instigar e questionar. As falas da professora, classificadas na (tabela 1), contabilizaram um total de ( 16 ) e as dos alunos (15 ), na (tabela 2), caracterizando uma interação/dialógica. O intuito da aula foi mediar às concepções dos alunos de forma a associar o conteúdo com cotidiano deles, promovendo questionamentos, reflexões espontâneas, de maneira a propiciar uma participação conjunta de todos. Observou-se nas falas (18, 19, 20) que os alunos também começaram a fazer associações com exemplos do seu cotidiano, reforçando uma aula interativa / dialógica.

Observando a tabela 2, percebe-se que as ações que mais aparecem entre os alunos foram expor ideias utilizando conceitos. Porém, na intervenção docente, tabela 1 predominou perguntas realizadas pelo professor no intuito de instigar do aluno, de modo que este confronte suas ideias cotidianas com o saber cientifico,

promovendo assim, em alguns momentos, a transposição do discurso dialógico para o discurso de autoridade.

As interações estabelecidas em sua maioria nesta atividade foram do tipo I-R-F-R-F- R porque a professor passa a interagir com os próprios alunos ao promover os questionamentos como por exemplo, quando os alunos são provocados se o “álcool” tem participação de fungos. Apesar do uso de alguns termos científicos, a prevalência da percepção, intuição, espontaneidade para resolver os problemas ainda são muito grande. Na discussão com toda a classe, a professora fez uso de uma abordagem comunicativa que passou de interativa/dialógica para interativa/autoridade.

Sobre as questões epistemológicas, observamos que a leitura do livro paradidático, proporcionou, entre outros conhecimentos, a compreensão de que existem micro- organismos diversos e, em especial, que os fungos são micro-organismos que exercem várias funções. Na aula transcrita, falou-se da fermentação de alimentos e bebidas, reciclagem dos nutrientes na natureza, como historicamente foram úteis na descoberta dos antibióticos (penicilina) pelo homem, e a existência de alguns fungos patogênicos, porém não a maioria deles, entre outros saberes.

De forma a colaborar na construção e na ligação entre o concreto e a representação que se faz sobre os micro-organismo fungos, a leitura do livro, de forma investigativa proporcionou aos alunos utilizar certas representações que faziam de saberes prévios em conhecimentos mais específicos. Foi uma aula em que percebe-se a participação e a interação dos alunos, portanto, é imprescindível o contato com o real e a interação, como fonte de enriquecimento (...)simultaneamente, vivemos, experimentamos, aprendemos e conhecemos, o que nos leva a compreender que o processo de aprendizagem é sempre integrado, amplo, multidimensional e muito mais rico do que se supunha até agora (MORAES, 2002).

Vale ressaltar que, após a análise dos registros escritos da história em quadrinhos, verificou-se, no registro da releitura do livro paradidático, que a construção do conhecimento foi bastante significativa. Porém, o que levou à comprovação de que a leitura do livro paradidático teve uma influência positiva foi o fato de se encontrar em

constantes registros da reescrita da historia em quadrinho que os fungos são responsáveis pelos alimentos como pães e pizzas, conforme seguem no recorte apresentado abaixo:

Quadro 04 - Recorte de falas dos alunos na reescrita da história em quadrinhos ... Olá, Carolina, sou o senhor fungo, quer conhecer o meu mundo?

... O que são fungos? (perguntou Carolina na história).

... Minha família de fungos é responsável por fazer pães e pizzas. ... Quem é você ? (pergunta Carolina).

... Você é mofo?

... Eu não sou mofo ... sou da família dos fungos.

Fonte: Elaborado pela própria autora, 2013.

Assim, observou-se também nessas falas dos registros escritos da produção dos alunos que após os diálogos realizados com a contação da história, algumas concepções que os alunos tinham sobre fungos foram desfeitas, apresentando novos saberes condizentes com o conhecimento cientifico como registrado nas falas da historia, porém em muitas falas ainda prevaleceram os conhecimentos do cotidiano.

Figura 05 - Reescrita do livro paradidático “Viagem ao mundo dos micro-organismos” por meio da elaboração de uma história em quadrinhos

A prática de leitura aqui evidenciada permeou a estimulação de saberes de forma espontânea, participativa, interativa, levando os alunos a novos saberes, com a interação sendo de fundamental importância na construção do conhecimento. A atividade realizada acima permitiu trabalhar a elaboração verbal e escrita, desenvolvendo a argumentação dos alunos e de sua redação, competências hoje requisitadas, para que o aluno, ao longo de sua vida, demonstre o domínio da norma culta da língua e do uso da linguagem científica, saiba aplicar conceitos para a compreensão de fenômenos naturais, selecionar e organizar informações para enfrentar situações-problemas e organizar informações e conhecimentos disponíveis em situações concretas para a construção de argumentos consistentes (CARVALHO et al., 2004).

Sendo assim, percebe-se que o livro paradidático “Viagem ao mundo dos micróbios” foi muito esclarecedor e permitiu aos alunos terem uma ampla compreensão da presença dos micro-organismos no ambiente em que estes estão inseridos e também contribuir para aquisição de novos conhecimentos.

Em meio à explicação dos fenômenos ocorridos na leitura, nas três turmas, foi possível extrapolar o ensino para outras situações ligadas ao cotidiano dos alunos. Na aula transcrita, falou-se dos antibióticos, fermentação de bebidas, alimentos, abordaram-se os seres micro-organismos fungos úteis e causadores de doenças.

Percebemos na atividade da reescrita da história que a maioria dos alunos das três turmas utilizou o mesmo nome da personagem principal do livro que é “Carolina”. Analisando os escritos, percebe-se que as palavras que mais foram abordadas na reescrita da história foram: senhor fungo, micro-organismos, pães e pizzas, senhor antibiótico, mofo, decompositores, Carolina, higiene, alimentos e queijos. Muitos também reescreveram a historia abordando sobre as leveduras de cerveja, dando enfoque que não sabiam da presença de leveduras na fermentação alcoólica e relacionaram os fatos particulares das consequências de ingerir bebidas alcoólicas.