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Análise da experiência empírica

4.5 O MOV, retorno ao início

4.5.2 Análise da experiência empírica

A experiência empírica com o MOV junto aos trabalhadores do cimento no Valles del Tuy, encontrou diversas dificuldades, mas, por outro lado, obteve diversas conquistas, apesar do contexto político da Venezuela ter influência determinante sobre sua aplicação. O contexto italiano nas décadas de 1960 e 1970, o pós-guerra e a reestruturação produtiva com base no taylorismo diferem diametralmente do atual contexto venezuelano, da Revolução Bolivariana; porém algumas semelhanças em relação à situação dos trabalhadores podem ser identificadas.

Em primeiro lugar, o caráter dos sindicatos, que em ambos momentos encontravam-se desunidos, enfraquecidos e, portanto, deslegitimados; o que motivou os trabalhadores a buscarem outras maneiras de organizar-se em defesa de sua saúde. A incapacidade dos sindicatos de responder aos interesses dos trabalhadores e as condições de exploração intensivas marcam o contexto em ambos os países. De igual maneira, ambos os contextos políticos favorecem um questionamento ao sistema capitalista de produção e exploração do trabalho; ainda que na Venezuela esse questionamento esteja acompanhado de um processo que pretende construir uma nova sociedade em revolução “rumo ao socialismo”, a Itália estava imersa em um movimento de “retorno à fábrica” e as referências que permeiam o debate teórico e a prática da luta dos trabalhadores em ambos os casos parecem aproximar- se de uma postura mais combativa voltada para o trabalhador e para o confronto político. Neste sentido, também encontramos um interesse de intelectuais e estudantes interessados nos processos dentro dos muros das fábricas, comprometidos com a luta dos trabalhadores e com um processo de transformação das condições de trabalho e, até certo ponto, da própria

sociedade.

No entanto, como os próprios trabalhadores do Valles del Tuy indicaram, na Venezuela, o Estado é o promotor e garante dessa proposta de formação e de sua aplicação em diversos centros de trabalho em todo o país, diferente da experiência italiana, onde os sindicatos foram os promotores que massificaram a aplicação do modelo pelo país (RAMAZZINI, 2010, p.15), apesar de não terem sido seus promotores iniciais (LAURELL, 1984). Deste modo, há uma diferença fundamental: o processo na Itália começou com a base dos trabalhadores, estes se organizaram em conselhos, conquistaram o apoio dos sindicatos para sua implementação e o modelo se generalizou conquistando espaços mais amplos de socialização das experiências e de conquistas até chegar à super-estutura, o âmbito das leis e da ciência acadêmica; na Venezuela, o processo se inicia através da alteração à LOPCYMAT e é impulsionado pelo INPSASEL, ou seja, o próprio Estado forma os trabalhadores como DDPs para que eles possam implementar e multiplicar o MOV, à medida que vão conformando seu conselhos. Além disso, no horizonte dos trabalhadores venezuelanos está o controle operário sobre a fábrica como um objetivo tangível, ao qual são convocados pelo próprio Estado; o que difere da experiência italiana. No caso venezuelano, o contexto político intenso ajuda, por uma parte, porque o questionamento à exploração capitalista e a necessidade de superá-la está na ordem no dia, faz parte da realidade cotidiana dos trabalhadores; por outro lado, parece dificultar o processo ao reforçar uma lógica imediatista em relação à luta dentro da fábrica, o panorama político mais amplo tende a concentrar a atenção e os esforços dos trabalhadores fora da fábrica, muitas vezes, como se diz na Venezuela, o urgente atropela o importante. Logo de destacar estas diferenças gerais, no relato acima encontramos muitas das tendências e limitações apontadas pelos estudos acerca do Modelo Operário, como a tendência dos trabalhadores a reivindicações economicistas e à lógica da delegação, por exemplo o caso dos trabalhadores do cimento com os advogados: quando viram a possibilidade de receber um benefício econômico através de um processo legal, deixaram a luta pela saúde para segundo plano e confiaram nos advogados como orientadores da luta. Neste sentido, apenas o compromisso dos trabalhadores com sua própria saúde pode garantir a continuidade e a convicção nos princípios do MOV; ao mesmo tempo, a continuidade tende a construir a convicção também. A luta economicista por benefícios é normalmente o ponto de partida dos trabalhadores; a unidade entre reflexão e ação foi o que transformou estes episódio em experiência de aprendizado. Sem cair em discursos legalistas, reconhecerei que o MOV demonstra ter um avanço em relação ao MOI em uma limitação apontada por Laurell, pois nos espaços de formação se dedicava uma parte dos estudos ao

conhecimento das leis que regem o trabalho e a saúde e segurança. Não obstante, é importante considerar a limitação apontada por Laurell e Noriega em relação à instrumentalização do saber, que engessa a elaboração de novos conhecimentos, pois na prática dos trabalhadores, encontramos essa possibilidade e há que incorporar mecanismos ao MO para que novos conhecimentos surjam dos trabalhadores. Apesar de enfatizar a importância de novos conhecimentos, é necessário que os trabalhadores se apropriem ao máximo do conhecimento formal para ir além dele e não ficar aquém; pois encontramos que muitas vezes o conhecimento científico e técnico formal é usado contra os trabalhadores no processo de luta, seja com a patronal, seja com as instituições correspondentes ou mesmo com advogados. É necessário que entendam o conhecimento formal também como processo de objetivação da subjetividade de trabalhadores que os precederam. Seria importante discutir como é possível garantir a apropriação crítica do conhecimento formal, da maneira questionadora que a pesquisa participante se propõe.

Também ficou evidente que este saber operário, este conhecimento adquirido na prática cotidiana e a reinvenção desta mesma prática não surgem espontaneamente daqueles que o detém, a apreensão desta subjetividade exige um processo ordenado de sistematização por parte dos próprios sujeitos, pois tampouco se torna evidente para o trabalhador através de um processo de “conversa” ou bate-papo informal. A técnica de escrever sobre as reuniões e aprovar consensualmente uma ata em cada reunião ajuda a desenvolver a capacidade de sintetizar os temas discutidos e acompanhar seu desenvolvimento, isto inclui as respectivas experiências, problemas e potencialidades de cada posto de trabalho.

O problema de alguns trabalhadores se descolarem do processo e se tornarem uma “casta” frente a outros trabalhadores é um tema apontado pelos autores que também se apresenta na experiência do MOV; a socialização do conhecimento por um número cada vez maior de trabalhadores ajuda a evitá-lo, assim como a participação ativa nas decisões; porém, a motivação pela luta por melhoras, apontada como o principal impulso para o processo de participação, também tem forte influência. O fato dos delegados não desfrutarem de benefícios diferenciados, como no caso dos sindicalistas, tende a reduzir a conformação desta casta e do oportunismo, mas observamos que quando adquirem certas conquistas, os trabalhadores tendem a perder parte deste impulso e delegam a luta. Muitas vezes a própria condição de delegado e o conhecimento técnico que detém também de certa forma atribui uma diferenciação entre os trabalhadores, principalmente no caso da FNC, onde foram eleitos alguns trabalhadores para cargos de gerência. Por isso a revocação e a rotatividade dos cargos de delegados é frequentemente reivindicada por organizações mais horizontais, assim como a

figura do vocero, ou porta-voz que deve se submeter ao foro de decisão. Talvez aqui seja relevante considerar para o grupo de trabalhadores o que Fals Borda apontou sobre os trabalhadores na Colômbia e a relação de sua participação com a formação política: “É possível ver como, por meio da educação política, o senso comum dos camponeses gradualmente adquire maior perspicácia e adota uma voz própria.” (FALS BORDA, 1988, p.53). A formação política, como proposta para desvendar as mistificações ao redor do poder e do conhecimento científico, podem contribuir a que os próprios trabalhadores evitem o surgimento desta casta, reivindicando sua “voz própria”.

A continuidade do processo de debate, de acordo a nossa experiência, é um elemento que também tende a contribuir com a compreensão e o compromisso dos trabalhadores com a transformação do processo de produção, pois apesar de conquistas e retrocessos, a constante reflexão sobre os mesmos revela que são momentos de um movimento maior; da mesma maneira que os trabalhadores italianos tiveram conquistas importantes, eventualmente foram perdidas. O encontro com trabalhadores de outras unidades de produção, socializando as experiências para além da especificidade de cada fábrica, também contribui com a compreensão de um movimento maior; assim como o estudo da história e das lutas dos trabalhadores.

No caso que relatamos acima, os trabalhadores eram parte de uma EPS, o que constitui certas garantias em relação a seus direitos e sua estabilidade, porém este nem sempre é o caso na Venezuela, principalmente nas empresas privadas. É importante ressaltar que os educadores da INPSASEL também encontram dificuldades em exercer suas funções. Mesmo no caso da multinacional Lafarge antes da nacionalização, há casos de trabalhadores perseguidos ou que sofrem represálias, e contra isso a única garantia é a própria organização dos trabalhadores. Em outras experiências e em certa medida nesta também, o MOV contribuiu com a conformação de organizações dos trabalhadores de maneira mais flexível que o sindicato, que depende da estrutura legal; é justamente o apoio sobre a subjetividade dos trabalhadores que permite estas novas formas de organização. No entanto, que o Estado se declare contra o neoliberalismo, impulsione e valorize os trabalhadores como sujeitos protagonistas é, definitivamente, um avanço na defesa de sua saúde, porém corre-se o risco de cair refém na mão de um governo conservador. Susana Martinez Alcántara, em um artigo sobre a contribuição da pesquisa participante ao mundo do trabalho através do Modelo Operário, considera que sua aplicação exige estabilidade trabalhista e liberdade de associação e organização sindical, o que é garantido no caso dos trabalhadores das Empresas de Produção Socialista da Venezuela; mas em relação ao México, essas condições são cada vez mais

escassas devido à nova investida do capital. No entanto, afirma que “os princípios que constituem as vértebras do Modelo Operário, tais como a recuperação da subjetividade ou experiência operária e a não delegação, são potencialmente transformadores, independentemente dos trabalhadores contarem ou não com um centro de trabalho estabelecido e formalizado.” (MARTINEZ ALCÁNTARA, 2007, tradução nossa). Vemos que a aplicação do MOV a outras unidades produtivas, como cooperativas agrícolas e trabalhadores terceirizados, também corrobora essa conclusão.

Outro avanço importante que encontramos na experiência do MOV foi a tentativa de constituir os espaços para teorização do processo nas reuniões entre DDPs de diferentes unidades produtivas e no encontro com outros grupos de pesquisa e organizações comunitárias. Outro avanço que este espaço permite para além das limitações apontadas por Laurell e Noriega, é o resgate constante de processos históricos anteriores, como o próprio MOI, que é impulsionado pelo processo bolivariano em uma perspectiva de construir uma identidade de classe e um acúmulo teórico em relação à saúde no trabalho. A reedição do livro de Ramazzini forma parte deste resgate, como obra clássica e instrumento na luta pela saúde, mas também por sua capacidade de desmistificar as condições como algo imutável e a ciência como algo superior. O risco de instrumentalização e da formação de uma casta está presente com os cursos técnicos oferecidos sob a lógica da medicina ocupacional e se faz mais patente com a entrada dos trabalhadores à universidade. Porém, os conhecimentos acumulados pela ciência formal devem ser apropriados pelos trabalhadores, o problema não são os conhecimentos, mas sua assimilação acrítica e a relação que se estabelece entre os detentores e os não detentores de conhecimento formal. O espaço de reuniões quinzenais se constituía como momento de debate sobre o processo de formação com o Modelo Operário e sua relação com a realidade mais ampla, preservando a condição de igualdade entre os presentes como trabalhadores em luta, mesmo quando estivessem presentes advogados, médicos ou professores universitários; nesse sentido, ter uma forte identidade de classe é uma contribuição com a qual puderam contar os DDPs venezuelanos.

5 CONCLUSÃO

Quais contribuições podemos extrair do MOV para uma educação libertadora? Primeiro, há que entender o que há de universal e específico sobre esta experiência. Vimos que o desenvolvimento do trabalho no capitalismo se evidencia também na história e desenvolvimento da Venezuela e, de fato, hoje constitui uma atividade humana muito mais homogênea que antes; o trabalho reveste um caráter mais universal no mundo globalizado. A exploração do trabalho no neoliberalismo e sua patogenicidade são condições comuns aos trabalhadores hoje, assim como sua incapacidade de decidir sobre o processo de produção. O que há de específico na experiência venezuelana é o processo de transformação social impulsionado pela Revolução Bolivariana, que promove o questionamento ao capitalismo e reivindica sua transformação. Além disso, resgata a história de lutas do povo latino-americano e coloca o sujeito-trabalhador como protagonista deste processo. O Estado como garante da formação, com a estabilidade e o impulso à luta pela defesa da saúde também é específico a esta experiência, porém o MOV como produtor de conhecimento independe desta especificidade.

Como vimos ao analisar a categoria trabalho, à medida que o capitalismo avança no mundo e se torna sistema universal, menos se produz para satisfação imediata, mais se produz pensando em vender; o trabalho concreto tende a ceder espaço ao trabalho abstrato; a produção de valores-de-uso está submetida à produção de valores-de-troca; ainda que para vender, o produto precise satisfazer necessidades, a necessidade não é o objetivo de sua elaboração, mas o lucro; portanto são criados produtos mais descartáveis e novas necessidades; menos importa o que se produz, o mais importante é produzir mais-valia. Da mesma maneira, o trabalho morto, pretérito, cristalizado nos meios de produção tende a dominar o trabalho vivo como fator dinâmico, principalmente no neoliberalismo; as três fases da revolução industrial na substituição do homem pela máquina são os marcos históricos do avanço do trabalho morto sobre o vivo, assim como o taylorismo e o fordismo; a paralisação forçada da PDVSA em 2002-2003 na Venezuela é um exemplo claro deste domínio. Com o aumento da composição orgânica, ou seja, com maior emprego da máquina na produção, a produtividade tende a crescer e o tempo necessário para a produção de mercadorias em geral tende a diminuir; o trabalho necessário tende a um mínimo dentro da jornada para que o capitalista possa se apropriar ao máximo do trabalho excedente; mas sem trabalho necessário, não há trabalho excedente, portanto, o capital nunca poderá abrir mão do trabalho gratuito que recebeu; concentra todo o trabalho excedente possível em suas mãos e aquele do qual não pode se apropriar é supérfluo, vira trabalho de trabalhador indigente, aumenta a informalidade e todo tipo de precarização. Por mais que o capital dependa do trabalho produtivo, dentro deste mesmo mecanismo de concentração, o trabalho produtivo tende a minguar em relação ao trabalho improdutivo, o que implica mais pessoas dedicadas a serviços; muitos trabalhadores disponíveis para o setor público, como no caso do Estado de Bem estar social; mais trabalhadores informais e mais gasto suntuoso por parte de quem acumula – parece contraditório,

mas quanto mais produtividade, menos trabalho produtivo. Na contradição entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, o primeiro polo tende a dominar o segundo, sendo cada vez mais empregado pelo capital e cada vez mais determinante para a produção; o trabalho manual não é aniquilado – o esforço físico dos trabalhadores do petróleo, do qual se deriva o plástico, que por sua vez compõe a carcaça do computador no qual o trabalho criativo libera suas “virtualidades”, ou o corpo do professor que utiliza tecnologias modernas para dar aula a 40 alunos por vez – ele continua a existir e o trabalho intelectual depende dele; porém, na produção social, o polo dinâmico desta contradição é constituído pelo trabalho intelectual, que domina seu antagonista ao planejar a produção, prescrever tarefas, analisar dados, seduzir pela propaganda, criar uma ideologia, etc. O trabalho complexo, portanto, domina o simples, a capacidade de articular diferentes conhecimentos e desenvolver a ciência se faz necessária para a exploração e para a luta contra a mesma; ainda que sua aplicação tenda a simplificar cada vez mais a atividade do trabalho vivo, ao remover este da produção imediata, sua relevância tende a se reduzir. A massificação da educação evidencia, em parte, a necessidade dos trabalhadores desempenharem atividades mais complexas, “resolver problemas”, deter mais conhecimento, saber operar diversas máquinas, ser polivalente.

Sendo assim, hoje mais que em outros momentos históricos, o fator subjetivo cobra vigência e o conhecimento acumulado pela humanidade se torna chave essencial para a transformação social. Neste aspecto, o MOV pode contribuir como método de pesquisa-ação que organiza a sistematização do conhecimento imediato e intuitivo do trabalhador para convertê-lo em ciência popular – seja na identificação dos riscos à saúde no processo de trabalho, na apropriação do conhecimento técnico, no questionamento deste mesmo conhecimento, ou seja, na possibilidade de ultrapassar os limites do debate sobre saúde para alcançar o questionamento de um sistema que condena à doença aqueles que produzem toda riqueza social. É o auto-reconhecimento do trabalhador como sujeito social, vinculado ao questionamento do processo produtivo em um sentido mais amplo, que faz do MOV uma ferramenta de transformação social; no entanto, sem uma classe trabalhadora disposta a empreender luta, o Modelo Operário ou qualquer outra proposta se torna uma ferramenta estéril. Ainda que seja em locais de trabalho sem organizações combativas ou promovido pelos sindicatos, e ainda que a correlação de forças política não esteja a favor da luta pela saúde, o MOV oferece a possibilidade de uma verdadeira educação libertadora. Ao desenvolver coletivamente o conhecimento sobre o processo de produção, revela-se o caráter social dos problemas que afetam a saúde e é possível identificar a relação entre o trabalho e a doença. À medida que o trabalhador, ainda em uma lógica economicista, se organiza para transformar a situação do trabalho e eliminar as condições insalubres; ao estudar os riscos e fatores que afetam a saúde e buscar suas causas, se encontra com sua própria exploração, pois a impossibilidade de eliminá-los não é devido a questões técnicas ou biológicas; mas sim políticas, sociais e econômicas. Torna-se necessário descobrir a lógica por trás das decisões, das técnicas, da própria ciência aplicada como ferramenta, o que necessariamente traz à luz sua exploração. Ao revelar a lógica por trás da estrutura produtiva, não

como indivíduo que se enfrenta a uma máquina, mas como sujeito social, sua condição de trabalhador se evidencia. O MOV promove o questionamento mais profundo sobre as bases da sociedade também porque ao reafirmar-se como ser humano e negar-se como mercadoria – “a saúde não se vende” – o sujeito-pesquisador encontra no trabalho a negação de sua humanidade. O direito de estudar suas condições de trabalho e decidir sobre suas ações desmistifica a superioridade do conhecimento técnico e a luta se vê potencializada por esse processo de pesquisa contínua vinculada à realidade concreta. Ao dominar a ciência formal ou erudita, descobrirá que no capitalismo a ciência o domina.

Apropriando-se do conhecimento formal para aplicá-lo ao processo de produção, é capaz inclusive de fazer com que surjam novos conhecimentos onde a ciência não é capaz de explicar a realidade. Essa é uma contribuição especialmente importante no contexto atual do neoliberalismo, no qual a ciência se converteu em força produtiva determinante e a subjetividade do trabalhador em alvo do capital. Os fatores reunidos no grupo quatro, por exemplo, podem se desenvolver com a aplicação contínua e sistematizada dessa metodologia, são doenças como estresse, depressão e ansiedade que se converteram em problemas de saúde pública, mas seu vínculo com o processo de produção não interessa e nem pode ser classificado e medido pela medicina ocupacional sob seus paradigmas atuais.

Conhecer a realidade concreta e desmistificá-la é de grande importância em um momento em que a indústria cultural, através dos meios de comunicação massivos, criam uma realidade fantasiosa, na qual o trabalhador não importa; enquanto as condições de vida e trabalho pioram, o capital se enriquece e a complexa estrutura da sociedade não permite deduzir da mera aparência esta exploração. O domínio do trabalho intelectual faz com que a formação de trabalhadores seja ainda mais necessária fora da lógica tecnicista e da formação de mão de obra, como pretenderam os trabalhadores italianos na década de 1970. É no encontro do saber erudito, através de técnicos e intelectuais que apoiam [e não conduzem] a formação, com o questionamento dos trabalhadores que surge sua força para enfrentar a realidade. A correlação de forças tem preponderância, como vimos