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DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS DO ENSINO MÉDIO [Voltar para Sumário]

5.1 Análise dos Dados

Sabemos que o livro didático de português é, com certeza, o norteador das leituras realizadas pelos alunos nas escolas brasileiras. Nesse sentido, convém analisar esses livros com o intuito de averiguar de que forma os gêneros textuais neste caso os textos de divulgação científica são veiculados por eles, se bem trabalhados ou não, uma vez que as práticas leitoras no espaço escolar resultam desse recurso, bem como a forma em que os educandos demonstraram na vida em sociedade. Assim analisaremos como são apresentados e, qual a preocupação dos organizadores no que diz respeito ao processo de leitura e produção de texto e às propostas de exercícios apresentadas nas atividades de pré-leitura, análise, compreensão, interpretação e produção de texto, assim como de pós-texto, visando à instrumentalização do escritor iniciante.

Utilizamos dois livros nesta análise, o primeiro foi dos autores William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, Língua Portuguesa, 3º ano do Ensino médio, do ano de 2010, o livro retrata literatura, produção de texto e gramática, a parte que cabe a esta análise se encontra das páginas 201 a 205 do texto de divulgação científica. De início os autores lançam um texto para leitura, não surgindo nenhum objetivo claro com relação à produção de texto para este gênero.

Fonte: CEREJA, 2010, p 201 e 202.

Outra informação muito relevante é a falta de um glossário no rodapé do texto, pois algumas palavras no decorrer deste artigo são complexas e podem fazer com que o aluno perca o interesse por esse tipo de leitura, tornando a leitura e a produção desse gênero cansativa e sem sentido, pois, todo leitor diante de uma obra a recebe em um momento, uma circunstância, uma forma específica e, mesmo quando não tem consciência disso, o investimento afetivo ou intelectual que ele nela deposita está ligado a este objeto e a esta circunstância. (CHARTIER, 1999).

É fundamental que os autores descrevam as circunstancias do texto, quais os objetivos para a produção e para a leitura. Para Marcuschi (2008), as condições inadequadas das atividades de leitura dos textos em livros didáticos de largo uso são corresponsáveis não só pelas inadequações e deficiências de leitura apontadas por avaliações oficiais, como as do SAEB e do ENEM, como também pelas dificuldades pessoais que, marcam a relação do leitor médio brasileiro com o texto impresso e com a leitura.

Fonte: CEREJA, 2010, p. 203 e 204.

Mais um fato interessante está na interpretação do texto que segue por alguns questionamentos dado pelos autores de forma simples e subjetiva, tendo em vista a reflexão do aluno com relação ao texto, mas como refletir sobre um texto complexo e com palavras de sentido encontrado apenas no dicionário, essa falha na comunicação é muito comum nos LD mais ainda quando se fala do gênero texto de divulgação. Para os autores Borgatto, Bertin e Marchezi, (2006, p. 3) aguçar a imaginação, aflorar emoções, informar, prender a atenção, estimular o espírito crítico, contribuir para sua formação como leitor e produtor de textos é a maior finalidade deste livro (Livro didático de língua portuguesa), sem deixar de lado o prazer do novo e do lúdico.

Como último aspecto, os autores indicam os passos para a produção um texto científico conforme a figura 3 (abaixo), no entanto desde o início desta abordagem o aluno que ler este artigo e não compreender o porquê de escrever ou ler textos desse gênero, não se encaixará dentro da perspectiva que o professor ou o autor querem que ele o faça.

Figura 3: Como produzir e avaliar um texto científico/livro Português e linguagens 3.

Fonte: CEREJA, 2010, p. 205.

Nos excertos acima, vemos grande ênfase na parte da forma do gênero (suas características, linguagem direta, apresentação de uma tese, argumentos que desenvolvam essa tese, etc.) mas, se olharmos pelo viés bakhtiniano enunciativo-discursivo, entenderemos como propõe Rojo (2008) que o gênero não é uma forma pronta e acabada, mais uma enunciação em construção.

No segundo livro analisado, das autoras Abaurres de 2008, o texto de divulgação científica é bastante trabalhado com oito páginas de atividades de leitura e produção de texto. Assim, as autoras iniciam evidenciando ao professor e aluno os objetivos que devem ser alcançados ao final do capítulo, conforme a figura 4 (abaixo).

Figura 4: texto de divulgação científica/livro português contexto, interlocução e sentido.

Já de início, as autoras demonstram em qual esfera de comunicação esse texto deve circular e qual a importância da produção do mesmo, a leitura inicial do texto como construir o universo de BRYSON é interessante e chama bastante atenção do leitor e segue de acordo com as necessidades do professor. A Linguagem utilizada pelas autoras desde a atividade de interpretação à atividade de produção de texto é formal e bem simples, elas destacam ainda o uso das linguagens não tão específica de textos científicos e da interlocução explicita, isso possibilita um percepção do sentido do texto pelo aluno, outra informação muito importante e crucial para a formação crítica dos alunos está no fato da autora dar a definição e os usos do texto científico (Figura 5) dando ao aluno a possibilidade de se situar nesse meio repassando ainda o contexto de circulação e os leitores que são atingidos por essas produções (Figura 6 na próxima página).

Figura 5: definições e uso do texto científico/ livro português contexto, interlocução e sentido.

Fonte: ABAURRE, 2008, p. 454 e 455.

A estrutura que compõem a organização segue objetiva sem rodeios e cansaços desnecessários, as imagens utilizadas pela autora são interessantes e visíveis e por si só dão ao leitor a chance de ler o texto a partir da imagem proposta (Figura 6). De acordo com a autora, além do texto científico veiculado pelos Livros didáticos ser interessante à escolha das ilustrações pode dar ao assunto um tom maior de atenção e de compreensão com relação à leitura, assim as ilustrações trazidas no livro foram bem escolhidas e evidenciadas.

Figura 6: Contexto e circulação do texto científico/ livro português contexto, interlocução e sentido.

Fonte: ABAURRE, 2008, p. 456 e 457.

As autoras deste livro também trouxeram boxes e legendas com leituras de cunho informativo ao leitor e que elucidam ao aluno as esferas de divulgação do texto científico e as formas de construção desse gênero mesmo que superficiais são relevantes para o escritor que está iniciando este processo de produção. Assim, para a autora dentro das práticas de letramento os textos, ilustrações, boxes e legendas também traduzem ao leitor uma perspectiva melhor com relação ao que ele está lendo e ao que o professor e o livro didático querem que este produza. Como último recurso, às autoras descrevem algumas orientações aos educandos de como produzir e dicas para a produção do texto de divulgação científica esse aspecto é crucial nesta etapa, mas as autoras tentam em suas explicações simplificar esse processo para o aluno e por mais que seja ainda uma etapa de conhecimento para ele deveria haver mais rigor nas colocações.

Nessa ótica, Rojo (2006, p.72), afirma que deve-se ensinar a interpretação de textos a partir das escolhas de determinados gêneros discursivos e de suas respectivas esferas de atividades, tendo como ponto de chegada os temas e a significação dos enunciados e, dessa forma, esboçar-se uma didática específica para cada um dos projetos autorais. Determinadas esferas tais como a jornalística, política científica, dentre outras, são necessárias ao exercício reflexivo da cidadania; enquanto “outras esferas da cultura, como as artísticas (literária,

musical, teatral, cinematográfica etc.), estas são mais difíceis de acessar para diferentes grupos sociais.

Considerações Finais

O presente artigo partiu de inúmeras inquietações a respeito do letramento escolar e do Gênero de discurso científico, seu emprego nos Livros didáticos de língua portuguesa e sua importância no ensino instituído pelos professores nas escolas. Evidenciamos o gênero e suas as características de leitura e produção textual no livro didático e na sala de aula pelos alunos. Sabendo da importância do gênero na formação crítica e consciente dos educandos comprovada neste artigo e afirmada por muitos estudiosos, a escola os professores deveriam encarar e direcionar seus alunos a este conteúdo e assim possibilitar ao aluno o domínio e apropriação das propriedades formais, composicionais e temáticas do texto de divulgação científica.

Assim as duas obras aqui analisadas de MARCELA ABAURRE & MARIA 2008 e CEREJA & COCHAR MAGALHÃES 2010 são muito bem fundamentadas, no entanto a obra que melhor retrata o gênero discursivo texto de divulgação científica é o Livro Didático da autora Abaurre pela sistematização do tema, pela forma em que foi colocado e explicado o gênero, não deixando lacunas que impossibilitariam a formação de um aluno crítico e consciente, em praticamente todos os aspectos aqui analisados estas fazem um aparato muito contundente no Livro Didático.

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A MULHER, O TRABALHO E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES