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Silvio Nunes da Silva Júnior (UNEAL)

Introdução

A experiência de uma simples leitura em voz alta, dramatizada ou não, pode ir além de um simples momento em sala de aula, ou até mesmo num espaço aberto e lotado de pessoas. A leitura em voz alta em uma perspectiva sensorial propicia ao indivíduo um novo olhar para o texto, um gostar diferente, chegando a ser instigante, levando-o a ter um gosto mais apurado para determinar a obra e/ou texto que irá ler.

A leitura em voz alta é uma maneira de incorporar a experiência da leitura literária, de oportunizar um contato efetivo com as obras, ou seja, trata-se de uma experimentação no próprio corpo, mais especificamente, na voz, da palavra do outro, escrita e inscrita na obra. Quando a voz do leitor reverbera o texto, ele adensa aquelas palavras (antes presas ao papel ou à tela ou a outro suporte), tornando-as vibração. (OLIVEIRA, 2010, p. 285).

Como foi citado por Oliveira, após uma simples leitura literária, o leitor não fica totalmente envolvido com o enredo que leu, ou seja, apenas uma rápida leitura não possibilita a abertura de caminhos para o leitor interessar-se por outra obra, sem quaisquer incentivos, nesse caso, o leitor deveria debruçar-se da leitura de diversas obras, diversos enredos e contextos diferentes, para que, com isso, pude-se considerar um leitor literário.

Quando volta-se os olhares para a leitura em voz alta, alternada pela performance, abre-se um novo horizonte para o que até o momento era um processo lento e específico de gosto por determinada prática, transforma-se em uma atividade prazerosa e atrativa para o leitor, pois, essa atividade possibilita que o leitor se solte ao ler e fazer sua performance a partir da leitura de determinado conto, poema, poesia, ou outro gênero qualquer.

Assim, a leitura literária em voz alta atua como uma adestradora de conhecimentos. “Um treinamento adestrador, seja do que for – treinamento do corpo, da voz, do cão ou da leitura –, tem sentido quando se está perseguindo um padrão de excelência qualquer” (SILVA, 1986, p. 56). Dessa forma, vê-se que o autor define esse “adestramento”, como uma preparação que pode contribuir não só para um momento, mas sim, para toda a vida, pois, o chamado “adestramento” vai estar servindo de base para o letramento literário.

O letramento literário é a capacidade de utilização da língua escrita (que influencia a língua oral) nas práticas sociais, utilizando a partir dessas práticas, o texto literário para um embasamento facilitador, pois, a Literatura possui o papel de “[...] tornar o mundo compreensível transformando a sua materialidade em palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas” (COSSON, 2007, p.17). Dito isto, é viável ressaltar que a Literatura não ocupa um papel comum nos estudos da linguagem, tem o dever de proporcionar ao leitor experiências literárias que vista de forma escrita, aprimora o Letramento já existente, apropriando o texto literário na construção das relações de sentido, e no impacto com a relação sensorial.

Tendo em vista a importância da literatura para a formação humanística e intelectual do aluno, viu-se a necessidade de entrelaçar essa concepção com o contexto universitário, pois, é nos primeiros passos no ensino superior que o indivíduo-aluno de letras enfaticamente constitui seu perfil crítico mediante aos aspectos presentes com grande enfoque no texto literário.

Nesse trabalho visa-se analisar as concepções de Graduandos do curso de Licenciatura Plena em Letras: Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas, do Departamento de Letras, do Campus III, da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, após uma experiência de leitura em voz alta, alternada pela performance no contexto universitário, parafraseando as concepções, e aliando-as a teoria do letramento literário através dos resultados obtidos.

Leitura e performance na Literatura

A leitura em seu sentido amplo pode se caracterizar por uma decifração diante de símbolos, letras aleatórias, frases, textos e etc. Mas, o ato de ler é mais que isso, “é estar em sintonia e conectado com o outro, uma vez que o ato de ler sempre pressupõe um autor/enunciador que ao falar/escrever, constrói seu discurso em função de um ouvinte/leitor” (HOPPE & COSTA-HUBES, 2013, p. 2).

Há algum tempo, a leitura vem sendo um meio de ascensão social, por torna-se uma das práticas imprescindíveis para viver na sociedade, deixando então, de ser uma simples atividade de decifrar códigos.

Ler não significa apenas a aquisição de um “instrumento” para a futura obtenção de conhecimentos, mas uma forma de pensamento, um processo de produção do saber, um meio de interação social com o mundo (CASCAVEL, 2007, p. 144).

Para estar em sintonia com tudo o que acontece, o indivíduo que possui a prática de ler, está apto a saber se comportar, interagir e conviver no meio, possibilitando uma interação social mais produtiva. De acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica pode-se destacar que:

O leitor constrói e não apenas recebe um significado global para o texto: ele procura pistas formais, formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento linguístico e na sua vivência sociocultural, seu conhecimento de mundo. (BRASIL, 2006, p.26)

Partindo do princípio da leitura literária, percebe-se que esse tipo de leitura não se engaja no que foi citado acima, pois, o que norteia a leitura literária é o gosto do leito, ou seja, o prazer que o mesmo terá ao ler determinado texto. Isto possui influência em grande escala da concepção de Coutinho, que diz que.

A elaboração de histórias literárias adquire uma outra dimensão, que amplia significamente a sua esfera. Agora, a matéria que constituía a história oficial, no caso da literatura representada pelo cânone, não é mais a única fonte de interesse, e a investigação histórica está menos interessada em registrar a ocorrência de certos fatos ou eventos do que determinar o significado que tiveram para um determinado grupo ou sociedade (COUTINHO, 2003 p. 140).

Dito isto, vê-se que desde a elaboração das obras literárias, o principal foco não é a ascensão social que possa atribuir ao indivíduo que ler, mas sim, atrair o leitor para uma leitura agradável que possibilitará ao leitor, uma rica aquisição de conhecimento, onde, às vezes, nem o próprio percebe.

O Letramento Literário caracteriza-se pela utilização do texto literário nas práticas discursivas e de escrita. Adaptando as estratégias de leitura e relação de sentidos para o aprimoramento de um Letramento já existente.

Faz parte do plural de Letramentos, mas, não é caracterizado com grandes semelhanças com os outros tipos de letramento. Em sala de aula, o Letramento Literário do aluno é constituído a partir da iniciativa do professor, mas precisamente o professor de Língua Portuguesa.

O papel desse professor é basicamente apresentar e fazer com que o texto literário faça parte da rotina e da trajetória escolar do aluno, essa iniciativa serve de grande aliada para essa construção.

A iniciativa que parte do professor deve ser adotada pelo aluno, pois, o letramento literário não se detém apenas à capacidade de ler o texto literário, mas, também, saber identificar os gêneros literários e saber não apenas ler, mas apreciar e gostar do texto literário como um todo.

O letramento literário seria visto, então, como estado ou condição de quem não apenas é capaz de ler texto em verso e prosa, mas dele se apropriar efetivamente por meio da experiência estética; saindo da condição de mero expectador para a de leitor literário. (SILVA & SILVEIRA, 2013, p. 96)

A apropriação efetiva dita por Silva e Silveira está interligada a capacidade de interpretar o gênero literário como foi citado anteriormente. Volto a destacar a importância do papel do professor na construção desse Letramento, visto o que, “O que os fazem falar são os mecanismos de interpretação que usamos, e grande parte deles são aprendidos na escola”. (COSSON, 2007, p. 26)

Nesse contexto, apresento mais uma concepção de Rildo Cosson, onde o mesmo apresenta o Letramento Literário como um tipo de Letramento a ser construído no âmbito escolar.

“[...] devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização.” (COSSON, 2009, p. 23)

Diante do que afirma Cosson, que é dever da escola ser o âmbito do primeiro contato do indivíduo leitor com o texto literário, tomo a iniciativa de expandir essa concepção para

com a relação aluno-família, pois não só a escola contribui para a formação intelectual do aluno, ou seja, o aluno deve ter o discernimento de aprimorar o seu Letramento Literário em casa. Daí volta-se a tratar da escola como mediadora, onde o aluno irá contar com o professor e as obras literárias presentes naquele âmbito.

Pretendo abordar nos tópicos seguintes o papel do professor de Língua Portuguesa, como também, a realidade do ensino de Língua Portuguesa, onde se engaja a literatura, enfatizando também o atual ensino de Literatura que serve como principal aliado na construção do Letramento Literário.

Discussão

No intuito de destacar as concepções dos graduandos em Letras acerca da experiência de leitura literária com a performance no âmbito universitário, optou-se por expor os resultados em forma de trechos retirados do material coletado em forma de dissertações produzidas pelos graduandos. Assim, a cada questionamento apresentado, utilizaremos as seguintes referencias para apontar o contribuinte: Al 1, Al 2, Al 3.

Ao questionar se os contribuintes já haviam tido contato com a performance em sala de aula, obteve-se as seguintes como os mais relevantes trechos dissertativos.

Nunca tinha tido contato com a performance nem dentro nem fora da escola ou universidade, achei estranho quando fui informado sobre, foi nesse momento que tive a curiosidade de ver e participar da experiência. (Al 1)

“Quanto aluna do ensino básico, nunca tive experiência com a performance em literatura, até mesmo com a literatura em geral, isso enriquece bastante a nossa prática como alunos de letras na universidade”. (Al 2)

“Ao iniciar o curso, já vinha ansiosa para estudar literatura, pois até iniciar o curso nunca havia estudado a partir de textos literários, tão quanto recitar, estou adorando as experiências de leitura em voz alta e performática”. (Al 3)

Já ao questionar se os graduandos sentiam uma necessidade de ter um contato mais direto, ou seja, mais forte com a leitura literária, assim coletamos as seguintes respostas.

“É fato que precisávamos de um contato direto com a literatura, e quando foi apresentado o cunho performático percebemos que a partir daquele momento a literatura já fazia parte da nossa vida” (Al 1)

“Sempre tive a necessidade de contatar com a literatura, sempre tive uma preparação voltada para a gramática normativa, e as experiências com literatura já faziam parte de minhas expectativas para a universidade” (Al 2)

“Já apreciava a literatura, mas não de maneira tão fugaz como atualmente, constato que me apaixonei pelo texto literário, o qual sempre está presente em minha vida, e com as experiências de performance, utilizo-as dentro e fora do âmbito escolar”. (Al 3)

Por fim, os foi questionado se a experiência com a performance contribuiu de alguma forma para que o texto literário estivesse mais presente em suas vidas, criando assim, um novo “gostar pela literatura”, obtivemos o seguinte resultado.

“A experiência de leitura em voz alta me possibilitou um contato mais direto com a literatura que até então nunca tive, hoje, com essa estratégia tenho mais facilidade para memorizar textos literários e posteriormente recitá-los” (Al 1)

“Ao tratar da experiência de performance nas aulas de literatura, vejo que foi a partir desse contato que comecei a ver a literatura com outros olhos, pois quando não tinha tido essas experiências jamais imaginaria que um dia me apaixonaria por textos literários”. (Al 2)

“A performance contribuiu significativamente no meu ponto de vista ao ver a literatura e seus gêneros, onde até então não eram presentes em minha vida, assim, posso constatar que gosto de literatura que a mesma contribui para o meu conhecimento e para a minha formação humanística” (Al 3)

Diante disso, foi possível constatar que ao entrarem no âmbito universitário, os alunos têm uma necessidade a qual foi causada pela falta de contato com a literatura no ensino

básico, assim, a iniciativa do professor, como também do pesquisador, é imprescindível para suprir essa necessidade.

Considerações finais

Mediante tudo o que foi mencionado no decorrer deste trabalho, foi possível atribuir às seguintes considerações finais.

Ao trabalhar com a performance aplicada ao ensino de literatura no âmbito universitário, vê-se que isso supre de maneira significativa a carência de trabalho com literatura que os alunos têm ao saírem do ensino básico e adentrarem no superior.

Assim como o conceito de letramento literário envolve as habilidades de escrita de textos literários, é viável destacar que para uma escrita de qualidade, necessita-se de leitura, nesse caso, a leitura literária, pois, o indivíduo que não tem o costume de fazer a leitura desses textos devem ser estimulados o quanto antes, e a performance em literatura vem como grande aliada nesse estímulo.

No decorrer da análise dos questionamentos pode-se ver o próprio reconhecimento dos graduandos acerca do que foi abordado. Percebe-se que a grande maioria admite que nunca teve um contato tão direto com o texto literário, assim, mostram que as experiências de leitura expressiva foram e sempre serão grandes influências para estimular novos e futuros leitores literários.

Referências

CASCAVEL. Secretaria Municipal de Educação. Currículo para rede Pública Municipal de

Ensino de Cascavel: ensino fundamental - anos iniciais. Cascavel, PR: SEMED, 2007.

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2007.

_______. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

COUTINHO, Eduardo de Faria. Remapeando América Latina: para uma nova cartografia literária do continente. II Colóquio sul de literatura comparada e encontro ABRALIC, Porto Alegre, jul/ago, 2003.

DCE - Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná. Curitiba: SEED,

HOPPE, Marcia Cristina; COSTA-HÜBES, T da C. Concepções de leitura na Educação Básica e a sua relação com a Prova Brasil. In: XI Jornada do HISTEDBR, 2013, Cascavel. Anais da XI Jornada do HISTEDBR. Cascavel - PR: Edunioeste, 2013.

KEFALÁS OLIVEIRA, Eliana. Leitura, voz e performance no ensino de literatura. Signotica (UFG), v. 22, p. 277-307, 2010.

SILVA, A. M. O. C; SILVEIRA, M. I. M. Letramento Literário na escola: desafios e

possibilidades na formação de leitores. Revista Eletrônica de Educação de Alagoas, Maceió, v.01, n. 1, p. 92-101, 2013.

SILVA, Lilian Lopes Martins da. A escolarização do leitor: a didática da destruição da leitura. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.

ESCRITA MULTIMODAL: UMA PROPOSTA DE