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SEÇÕES QUE COMPÕEM O LIVRO DIDÁTICO Gramática/

3.3 Análise das resenhas dos Guias dos PNLDs (2005, 2008 e 2011)

A título de complementação das descrições dos LDs feitas na seção anterior, é útil recorrermos agora às resenhas constantes nos Guias dos Livros Didáticos para destacarmos os comentários e as críticas dos avaliadores dos PNLDs de 2005, 2008 e 2011 sobre o trabalho desenvolvido pelos autores de LD a respeito, especificamente, das questões eleitas para este estudo nas coleções em análise.

A partir de agora, discorreremos sobre estes pontos presentes nas resenhas das

Coleções PPL de 2005, 2008 e 2011, respectivamente: (i) as relações entre fala-escrita e

entre oralidade-letramento; (ii) as questões de registro (formal-informal); e (iii) o trabalho com a norma padrão-não padrão.

No Guia do Livro Didático do PNLD de 2005 de Língua Portuguesa não encontramos muitas críticas ou restrições em relação aos pontos eleitos para análise. O único apontamento da resenha é o que está relacionado aos aspectos relativos à oralidade. Dizem os avaliadores:

(...) Os aspectos relativos à oralidade são explorados em todos os volumes, com inúmeras oportunidades de trabalho com a linguagem oral na sala de aula. (...) As orientações levam o aluno a refletir sobre vários

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aspectos da interação oral, incluindo o uso de registros adequados à situação e ao gênero. (Brasil, 2004, Guia do Livro Didático, p.229)

Já, no Guia do Livro Didático do PNLD de 2008 de Língua Portuguesa, observamos uma ampliação na análise dos avaliadores a respeito do tema das dimensões da diversidade e variação linguísticas (os diferentes falares – dialetos – e a variação de registro – formal/informal) presente nessa coleção. Os avaliadores afirmam que a Coleção PPL de 2008 apresenta atividades de “reflexão sobre a língua e suas variações” (Brasil, 2007, p. 69) e que o foco dessas atividades está “nos usos da linguagem e nas relações entre modalidades oral e escrita” e nas “reflexões sobre a variação linguística voltada para o domínio das variedades da língua, entre elas a padrão” (idem, p. 70-71).

Sobre a Coleção PPL (2011) os avaliadores seguem sustentando suas posições de que a autora explora de forma adequada as variedades da língua e de seus registros e as relações entre a oralidade e a escrita (Brasil, 2010, p. 105-106).

Em relação à Coleção IDE (2005), a resenha do Guia do Livro Didático aponta problemas de toda ordem (no eixo da produção de textos escritos e orais e no da gramática). Os avaliadores afirmam não haver explicitação por parte das autoras dessa coleção do dialeto e do registro a ser empregado pelos alunos nas atividades de produção de textos escritos (Brasil, 2004, p. 177). Em relação à oralidade, o panorama é ainda mais complicado, pois, segundo os avaliadores do PNLD de 2005:

Não se exploram as semelhanças e distinções entre fala e escrita, entre as variedades da língua oral, entre os gêneros orais do discurso, além de haver omissão quanto aos traços da língua padrão, relacionados aos gêneros formais/públicos da linguagem oral”. (BRASIL, 2004, p. 178) No que se refere à gramática, a coleção desenvolve um trabalho sobre os conhecimentos linguísticos baseando-se, sobretudo, “na transmissão da nomenclatura gramatical, em geral desvinculada do domínio da língua”. (BRASIL, 2004, p. 178). Afirmam os avaliadores que os exercícios são realizados com base em enunciados isolados e que a aplicação do conhecimento acontece por meio de exercícios de memorização da nomenclatura, em que predominam enunciados como “copie”, “reescreva”, “transforme”, “classifique”, “identifique”; e finalizam dizendo que “não são feitas considerações suficientes sobre o fenômeno da variação linguística para sistematizar o conhecimento sobre ele” (BRASIL, 2004, p. 178-179).

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Uma advertência interessante, endereçada aos professores, é realizada na resenha dessa coleção. Segundo os avaliadores, é importante que se complemente o conteúdo sobre as relações entre fala e escrita, sobre a análise da variação e da expressão oral. Um ponto negativo ressaltado é a transmissão de conteúdos gramaticais e, em consequência, a falta de reflexão sobre a língua:

Vale a pena, porém, investir em dois aspectos: em primeiro lugar, as atividades dirigidas ao desenvolvimento da linguagem oral apresentam limitações e demandam complementação por parte do professor, propondo exercícios que envolvam a comparação entre a fala e a escrita, bem como a análise da variação e da expressão oral. (BRASIL, 2004, p. 180)

Em segundo lugar, as atividades sobre os conhecimentos linguísticos estão centradas na transmissão de conteúdos gramaticais. Se o projeto pedagógico da escola considera importante explorar detidamente esses conteúdos, a coleção fornece uma base segura. Mas, às boas propostas apresentadas, é necessário associar a reflexão sobre a língua.

A resenha contida no Guia do Livro Didático do PNLD de 2008 aponta positivamente para o fato de que nessa coleção,

Em muitas oportunidades, são exploradas as diferenças entre oralidade e escrita: por exemplo, com relação a fonemas e grafemas e com relação à concordância em linguagem falada e escrita, a partir de transcrição de uma conversa espontânea. A coleção aborda, ainda, as circunstâncias em que, dependendo do gênero e da situação, a variedade linguística padrão é exigida na oralidade. (Guia do PNLD 2007, p. 129)

Em relação aos conhecimentos gramaticais, dizem os avaliadores que essa coletânea faz “tratamento adequado da variação linguística” (idem). Esse é um aspecto importante porque aponta para mudanças substanciais em relação a esse tema no PNLD de 2008 em comparação com o de 2005.

Já em relação à Coleção IDE (2011), as resenhas apontam para uma ampliação no tratamento das dimensões da VL com o objetivo de capacitar os alunos a “usar a fala em situações informais e formais” e sinalizam para um trabalho com a diversidade linguística que, segundo apontam os avaliadores, está presente no conteúdo do 6º ano, momento em que são apresentadas discussões sobre variedades da língua nas modalidades oral e escrita. (BRASIL, 2010, p. 102-103)

Dando sequência à apresentação de alguns pontos das resenhas dos livros didáticos selecionados para esta pesquisa, traremos a seguir os comentários dos

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avaliadores sobre as Coleções PLI. Sobre essa Coleção (2005), um dos pontos da resenha sintetiza da seguinte forma o trabalho da coleção em relação ao tema desta pesquisa:

Embora os exercícios que tratam da variação linguística não sejam muito enfatizados, algumas considerações sobre a variação de registro (quer dizer, variação da língua de acordo com a situação – os interlocutores, o assunto, por exemplo) podem ser evidenciadas. (BRASIL, 2004, p. 194) No que se refere às relações entre oralidade e escrita, a resenha traz um apontamento importante, o de que a língua falada é priorizada por atividades de leitura em voz alta, discussões e apresentações de trabalho e em momentos de socialização das respostas orais dos exercícios. No entanto, nenhum trabalho mais sistemático é realizado nessa coleção. Os avaliadores afirmam que “os exercícios que exploram as características específicas da fala, assim como as atividades que comparam particularidades desta e da escrita, não são significativos”. (BRASIL, 2004, p. 195, destaque adicionado). Pode-se, a partir dessa avaliação, inferir que não está havendo um trabalho para que, de fato, se configure um estudo dos gêneros textuais orais e, com isso, os gêneros que demandam uma intersecção entre oralidade e escrita, tais como o debate, a mesa-redonda e o seminário, não estão sendo desenvolvidos com a progressão necessária ao longo dos quatro anos finais do ensino fundamental.

Também podemos encontrar na resenha sobre essa Coleção no Guia do Livro Didático do PNLD de 2005 apreciações sobre as orientações do Manual do Professor que, segundo os avaliadores, “são importantes para que os objetivos da coleção sejam alcançados”. Contudo, ressaltam os avaliadores, “os resultados serão melhores se o docente complementar as atividades dirigidas ao estudo da língua falada”. E acrescentam:

Tomar esse modo de expressão como objeto de ensino, analisando relações entre fala e escrita, além dos diferentes gêneros de textos orais, é um instigante desafio para o trabalho do professor. (BRASIL, 2004, p.197) Ainda sobre as orientações apresentadas no Manual do Professor, os avaliadores chamam a atenção para o fato de que “as categorias consagradas pela gramática normativa são aceitas nesta obra, mas essa abordagem não é dogmática”, porque essa coleção acaba apresentando “recursos como a comparação entre o formal e o informal” e mostrando “exemplos das tendências de mudança na língua portuguesa do Brasil em

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relação às regras prescritas pela gramática normativa, fortemente influenciada pela língua portuguesa da Europa” (BRASIL, 2004, p. 194).

Sobre a Coleção PLI (2008), os avaliadores chamam a atenção para o fato de que os autores propõem “regras da variedade padrão” na seção “Para escrever com adequação” (BRASIL, 2007, p. 146). Esse aspecto, particularmente, merece destaque porque na coleção anterior, conforme indicamos acima, os avaliadores apontaram negativamente para o fato de que a Coleção não tratava de forma adequada a variação linguística.

Além disso, os avaliadores do PNLD de 2008 também ressaltaram que as relações entre oralidade e escrita nessa coleção não foram trabalhadas de forma sistemática e que não havia no Manual do Professor orientações mais específicas para o tratamento dessas questões, ficando a cargo dos professores os encaminhamentos para um trabalho mais consistente, sobretudo com a língua falada.

Entre outros aspectos, o trabalho com a oralidade e a escrita também é criticado na resenha do Guia do Livro Didático do PNLD de 2008 de Língua Portuguesa, que traz a seguinte afirmação:

A análise comparativa das modalidades oral e escrita da língua, a compreensão de textos orais e um trabalho mais consistente com textos literários vão requerer do professor o desenvolvimento de atividades complementares. (BRASIL, 2007, p. 148)

O trabalho com a VL na Coleção PLI (2011), segundo os avaliadores, acontece de forma circunstanciada apenas no volume dedicado ao 6º ano do ensino fundamental e são trabalhados conceitos como língua padrão, norma culta, registro, gíria e marcadores conversacionais, o que evidencia uma relativa mudança na postura sociolinguística dos autores em relação ao tratamento do tema, mas não uma ampliação ou um aprofundamento sobre essa questão.

No que tange ao trabalho com a oralidade, fica evidenciado na resenha do Guia do Livro Didático do PNLD de 2011 que poucos gêneros orais de instâncias públicas são explorados, e que, segundo advertem os avaliadores, as atividades apresentadas nessa coleção:

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oferecem pouca orientação no plano da construção, ou da preparação, para a produção de cada gênero, embora apresentem instruções sobre a variedade linguística a ser empregada, regras de conduta, postura, entonação (BRASIL, 2010, p. 115).

A resenha da Coleção LNO (2005) apresenta sérias críticas direcionadas especificamente às atividades de produção de textos escritos, uma vez que os autores dessa coleção apresentam “exercícios descontextualizados, insuficientes para a ampliação dos conhecimentos sobre a língua em uso”. O trabalho com a produção de textos orais, por sua vez, também “merece reparos”, conforme dizem os próprios avaliadores, porque a modalidade oral não é trabalhada de forma sistemática como objeto de estudo e, por isso, “muito pouco se trabalha com as especificidades da linguagem oral, em comparação à linguagem escrita ou em relação a suas variedades” (BRASIL, 2004, p. 100).

Outra crítica é feita em relação ao Manual do Professor. Os avaliadores revelam que as propostas apresentadas no livro do aluno nem sempre conseguem realizar plenamente os princípios definidos no manual (BRASIL, 2004, p. 100). Neste caso, fica configurada a discrepância entre as teorias enunciadas no MP e o que se propõe como atividades que estimulem os alunos a ampliar o emprego da língua em situações orais e escritas diferenciadas.

Já na resenha de 2008, os avaliadores apresentam uma crítica positiva em relação ao tratamento da VL e afirmam que a proposta apresentada pelos autores é coerente com os postulados sobre o tratamento desse tema, porque evita preconceito “em relação aos registros populares ou às falas em contextos familiares e informais ou regionais” (BRASIL, 2007, p. 118).

Nesse sentido, é importante destacar que as resenhas dos Guias do Livro Didático reverberaram positivamente na reflexão por parte dos autores dos LDs sobre os pontos fracos indicados nas obras, o que acaba gerando impacto sobre os conteúdos propostos, na medida em que os influenciam a reelaborarem, ampliarem e redimensionarem as propostas apresentadas, na tentativa de contemplar o que os avaliadores apontaram no “Quadro Esquemático” de cada coleção analisada nos últimos PNLDs.

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Em relação à Coleção INT (2011), os avaliadores não trazem nenhum apontamento detalhado em relação ao trabalho com as dimensões da VL. No entanto, afirmam que uma das capacidades desenvolvidas pelos autores dessa coletânea é a sistematização dos “fenômenos linguísticos observados, considerando as relações morfológicas, morfossintáticas, semânticas, textuais e a variação linguística” (BRASIL, 2010, p.74).

Por fim, discorreremos sobre as avaliações das Coleções PPT (2005 e 2008) e da

Coleção RAD (2011). Os avaliadores criticam o fato de que a Coleção PPT (2005)

estimula o estudo da gramática, partindo do argumento de que “o pequeno domínio das variáveis linguísticas pode resultar em exclusão social” (BRASIL, 2004, p. 210).

Para se atingir o objetivo de realizar uma “ampla aprendizagem do uso da língua – um aspecto da cidadania bem formada” (BRASIL, 2004, p. 210), os avaliadores afirmam que “a coleção considera imprescindíveis tanto a compreensão dos mecanismos de funcionamento da língua quanto o conhecimento da norma culta” (idem, p. 211). Portanto, concluem os avaliadores em relação a esse tópico, “seguindo a lógica da argumentação, para a excelência da capacidade de articulação do pensamento, deverá haver o inevitável estudo da gramática”, no entanto, “a questão dos dialetos e registros recebe poucos cuidados” (BRASIL, 2004, p. 211- 212). Além disso, dizem os avaliadores:

Os gêneros orais não são caracterizados, e traços comuns e distintos das duas modalidades de utilização da linguagem (oral e escrita) não recebem a atenção explícita. Há apenas, em certos momentos, algum comentário vago e genérico sobre elas (BRASIL, 2004, p. 213).

Outro aspecto criticado pelos avaliadores em relação a essa coleção é o estudo da gramática que, segundo a resenha, é “privilegiado, acentuando o formal, a atividade metalinguística, a formalização de tópicos gramaticais, o realce a aspectos convencionais da escrita” (BRASIL, 2004, p. 213).

A crítica à abordagem dos conhecimentos linguísticos ainda prevalece em relação à coleção PPT (2008). Dizem os avaliadores que “a abordagem dos conhecimentos linguísticos é predominantemente transmissiva e centrada em conteúdos gramaticais” (BRASIL, 2007, p. 81) e que, em relação ao trabalho com os usos da língua falada em

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sala de aula, poucos são os gêneros orais focalizados e pouco também é o trabalho sobre as relações entre fala/escrita.

No entanto, duas páginas à frente, os avaliadores defendem que “as propostas relativas à linguagem oral (...) proporcionam algumas situações de uso social da fala em graus diferentes de formalidade” (BRASIL, 2007, p. 83) para, em seguida, afirmarem que a coleção “dá pouco destaque à variação linguística” (BRASIL, 2007, p. 83).

Ao final da resenha, os avaliadores dessa coleção recomendam aos professores a “complementação do trabalho com a oralidade”, porque como eles mesmos argumentam:

a variedade de textos sobre um mesmo tema e as propostas de projeto favorecem a elaboração de atividades que explorem os gêneros orais públicos, as semelhanças e as diferenças entre fala e escrita e o investimento na reflexão sobre os usos da língua, sobretudo quanto à variação linguística (BRASIL, 2007, p. 84).

Nessa resenha, os avaliadores chamam a atenção para o pouco trabalho com os gêneros orais, cujas propostas se dão por meio de projetos de ensino desenvolvidos sob a responsabilidade do professor, que se vê incumbido, per si, de ampliar as discussões sobre aspectos que a própria Coleção não contempla em suas propostas.

Já em relação à Coleção RAD (2011), os avaliadores acenam positivamente para o fato de que, entre outros aspectos, os conteúdos trabalhados no eixo dos conhecimentos linguísticos estão relacionados às dimensões da VL, a saber, o estudo sobre os níveis de linguagem, os registros formal e informal, os níveis de fala, a linguagem coloquial no texto escrito. No entanto, ponderam os avaliadores, embora os conceitos sejam apresentados de forma funcional e equilibrada, estão vinculados, ainda, à utilização da nomenclatura tradicional. E advertem para que os professores em sala de aula atenuem “a grande carga de conteúdo gramatical e o uso intensivo de terminologia” (BRASIL, 2010, p. 128).

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