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Análise de Discurso Textualmente Orientada – (ADTO)

3 A ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA (ADC) E DIÁLOGOS EPISTEMOLÓGICOS CRÍTICOS

3.3 A Linguística Sistêmico-Funcional

3.3.8 Análise de Discurso Textualmente Orientada – (ADTO)

A análise de discurso textualmente orientada (ADTO) é uma proposta de compreensão das práticas sociais na concepção dialética do discurso, envolvendo gêneros discursivos e a construção de sentidos nos textos: ações (gêneros), representações (discursos), identificações (estilos) (MAGALHÃES, 2004)

No âmbito da ADC Fairclough desenvolve uma metodologia de análise textual denominada Análise de Discurso Textualmente Orientada – ADTO. como uma abordagem adequada à análise desses processos sociais, significa uma importante contribuição da linguística para o estudo das práticas sociais tais como proposta analítica da Teoria Crítica do Discurso e o estabelecimento com dois fortes campos de estudos: de um lado, a Teoria Social Crítica e a Linguística Sistêmico Funcional (MAGALHÃES, 2004, p.113).

Textos exercem poder, forças sobre as pessoas, ativam cognições, estabilizam campos discursivos ideológicos, desencadeiam comportamentos sociopolíticos e podem também transformar. As mudanças sociais são possíveis no campo social pelos discursos, pelas representações, o problema é que tipo de mudança ocorre (FAIRCLOUGH, 1989 apud MAGALHÃES, 2004).

Portanto, o investimento analítico não é uma questão exclusivamente gramatical, e alcança questões epistemológicas da Linguística, como campo disciplinar em transição diante dos novos debates contemporâneos, que requerem novas teorizações a aberturas como afirma Moita Lopes:

Para ir além da tradição, e para tal, são necessárias teorizações que dialoguem com o mundo contemporâneo, com as práticas sociais que as pessoas vivem como também desenhos de pesquisa que considerem os interesses das pessoas pelas quais o cientista da linguagem fala porque fala e para quem fala, e que retorno a pesquisa poderá trazer para suas vidas e apontar caminhos. (MOITA LOPES, 2006, p. 23).

O discurso médico-paciente é parte de eventos sociais moldados por poderes causais das estruturas sociais e práticas sociais (incluindo ordens do discurso) de um lado, e agentes sociais de outro, bem como de ação e relação social, representação e identificação, que correspondem às categorias de especificidades no nível das práticas sociais. O discurso médico-paciente congrega agentes sociais socialmente restritos e os agentes têm poderes causais, que não são reduzíveis aos poderes das estruturas e práticas sociais. Agentes sociais tecem textos, configuram relações entre elementos de texto. Daí o caráter da relação dialética (ADORNO; HORKHEIMER, 2006) buscar reatualizar a ordem discursiva que se desfaz, ou se dilui, ou refaz-se diante dos poderes e práticas consensuadas pelos agentes do poder – saber (FAIRCLOUGH, 2003).

Para Brandão (2004), o discurso é um dos lugares em que a ideologia se manifesta, isto é, toma forma material, torna-se concreta por meio da língua. Daí a importância de outro elemento fundamental com que a ADC trabalha: o de formação

ideológica. O discurso é o espaço em que saber e poder se articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito que lhe é reconhecido socialmente.

Nos discursos produzidos pelo sujeito, naquilo que foi dito ou foi silenciado, está toda a sua história social, cultural, seu sistema de valores, as relações de interação, intercâmbio e também as relações de oposição, as polêmicas e os antagonismos estabelecidos (BAKHTIN, 2008), enfim, as relações de poder, de dominação, de alianças, de apagamentos.

A Análise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO) é um campo epistemológico abrigado nos estudos críticos do discurso, que respondem metodologicamente para desnaturalizar discursos disfarçados em ideologias, as mais diversas, que incidem em práticas sociais abusivas.

A proposta de Analise Crítica defendida por Fairclough (2003) e Magalhães (2004) incide ao objeto discursivo a perspectiva dialética, “considera a prática e o evento contraditórios e em luta, com uma relação complexa e variável com as estruturas, as quais manifestam apenas uma fixidez temporária, parcial, e contraditória” de acordo com Fairclough (2001, p. 94), alcançando uma ‘perspectiva dialógica’ (BAKHTIN, 2003) com o campo disciplinar das Ciências Sociais, e as teorias críticas do discurso, por serem fecundos escopos de proposições que são discutidas para além da Linguística. E, desse diálogo, é possível prosseguir o debate para o esclarecimento de fenômenos sociais que extrapolam os limites de uma análise puramente linguística.

A prática discursiva manifesta-se em forma linguística, na forma do que refiro como textos, usando “texto” no sentido amplo de (HALLIDAY, 1978) linguagem falada e escrita. A prática social (política e ideológica, etc.) é uma dimensão do evento discursivo, da mesma forma que o texto (FAIRCLOUGH, 2001, p. 99).

Rajagolapn (1998) avança muito mais ao desconstruir os modos cientificistas exclusivos de identificar a validade de dados subjetivos predominantes no ocidente. Sua análise crítica sobre os fundamentos positivistas hegemônicos estão muito bem situados nas leituras de Thomas Kuhn, (Rupturas de paradigmas e A crise da ciência,1978); Nietzsche, (O

desmonte epistemológico e filosófico do ocidente, 1978); Derrida, (para além e a partir do

signo e sua vasta produção ‘desconstrucionista em “Ética da desconstrução”, 2000) e Deleuze (Construir o mundo a partir das possibilidades, 1998). Nossa velha ciência, ao olhar desses nomes, caduca diante da complexidade do humano.

Para Rajagolapan é preciso “trabalhar as instabilidades”, reconceitualizando no devir heraclitiano essa categoria fugida, surpreendente, às vezes imprevisível, que se

reelaboram nas contingências históricas da vida social. A ciência aqui é vista se reorganizando a cada circunstância, reconfigurando-se aberta ao diálogo, aos contatos e suas produções de verdades, verdades nascidas no devir e não produzidas apenas nas relações causais não identificadas nas concepções mecanicistas de ver e criar as verdades, suas racionalidades e suas taxonomias descritivas através “de uma monocultura do saber e do rigor” (SANTOS, 2011, p. 29).

O discurso médico-paciente é parte de eventos sociais moldados por poderes contingenciais das estruturas sociais e práticas sociais (incluindo ordens do discurso) de um lado, e agentes sociais de outro. Ação e relação social, representação e identificação, que correspondem às categorias de especificidades no nível das práticas sociais. O discurso médico-paciente congrega agentes sociais restritos e os agentes têm poderes causais, que não são reduzíveis aos poderes das estruturas e práticas sociais. Agentes sociais tecem textos, configuram relações entre elementos de texto. Daí o caráter da relação dialética, que busca reatualizar a ordem discursiva que se desfaz, ou se dilui, ou refaz-se diante dos poderes e práticas consensuadas pelos agentes do poder – saber (FAIRCLOUGH, 2003). O discurso é o espaço em que saber e poder se articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito que lhe é reconhecido socialmente. Nos discursos produzidos, naquilo que foi dito ou foi silenciado, está toda a história social, cultural, o sistema de valores, as relações de interação, intercâmbio e também as relações de oposição, as polêmicas e os antagonismos estabelecidos (BAKHTIN, 2008), enfim, as relações de poder, de dominação, de alianças, de apagamentos (MAGALHÃES, 2009).