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Análises dos significados (ação) inclui a análise das categorias de funções do discurso (declaração – modo gramatical declarativo)

3 A ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA (ADC) E DIÁLOGOS EPISTEMOLÓGICOS CRÍTICOS

5 REPRESENTAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE MÉDICOS E PARTURIENTES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE E SOFRIMENTO

5.4 Dialética dos significados representacionais

5.5.2 Análises dos significados (ação) inclui a análise das categorias de funções do discurso (declaração – modo gramatical declarativo)

Vejamos a seguir os excertos dos relatos:

Tem dotor. Aqui e em todo o canto né, tem dotor... bom, calmo, e tem dotor nervoso. Deus a livre. Tem aqui um dotor muito, assim... mulher sei não... Ele dá uns carões na gente migo;

Nóis temos que passar puressa dor, não dá como não se vê livre dela e gritar é só pra levar carão mermo, por isso que quando chegar a minha hora eu não quero gritar. Vou aguentar as dor bem calada.

Ele brigou foi muito comigo agora, me chamou até de irresponsável, disse que eu não tinha consciência, do mal que eu fiz porque engravidei;Eu tô muito triste e com muito medo.

5.5.2.1 Análise com base nos significados representacionais

Nesta perspectiva as orações têm três elementos principais: os processos, os participantes e as circunstâncias. Escolhi a seguir a seguinte oração para este exemplo analítico. A oração como representação será apresentada num exemplo a seguir constitui- se das funções Participante, Processo e Circunstância: “Esse parto foi o pior da minha vida, dos quatro que eu tive esse foi o pior.”(destaque do Relato 10).

Quadro - 6: Oração como representação

Fonte: Adaptado pela autora a partir de Halliday (1989).

P1 –“Esse parto foi o pior da minha vida, dos quatro que eu tive esse foi o pior”. “O parto” (participante 1) realiza a ação de afetar a vida (participante 2), sendo que essa ação é localizada no tempo (circunstância). Os processos, participantes e circunstância são elementos que traduzem nossa experiência em linguagem.

P1 – “Esse parto foi o pior da minha vida, dos quatro que eu tive esse foi o pior”. A função do texto: declarativa. Não há qualquer menção a tempo e ao lugar. Nesse trecho há forma de ação (o parto), objetos (filhos) pessoas mãe e filhos) relações sociais (mãe e filhos).

A representação (significado ideacional) sobre o evento parto é marcado por uma regularidade do fenômeno sofrimento, naturalizado e até então inquestionável. No quarto parto, a dor se revela mais saliente - “foi o pior da minha vida” -, que ocorre num nível de abstração a mais concreta possível em sua especificidade.

Enquanto a regularização do sofrimento do parto, dos outros que se submeteu, tem uma regularidade que não é discutida como uma abstração sobre uma série, ou um conjunto de eventos sociais, as mais abstratas/generalizadas estabilizadas e naturalizadas são um fenômeno ontológico(intransitivo) e, na ordem do discurso médico, um fenômeno fisiológico normal chegando a um nível de abstração da mais abstrata possível nas práticas sociais ou estruturas sociais.

Na prática médica, o parto é associado à dor e sofrimento, circulando nas representações dessas parturientes como característica da natureza da mulher, determinada biologicamente a perpetuar a espécie. Essa característica é considerada normal e naturalizada, portanto, reificada.

Segundo Haliday (2004) cada área de significado da semântica ativada é realizada por uma área formal específica do segundo estrato intralinguístico e léxico-gramatical (sistemas de formas ou fraseados), ocorrendo uma semiose do tipo cognitiva.

O Sistema de Transitividade é o mecanismo léxico-gramatical através do qual se constrói a experiência como um mundo feito de processos, participantes e circunstâncias (HALLIDAY, 1994).

O fluxo de acontecimentos que experienciamos é, por assim dizer, retalhado em vários pedaços, e cada um desses pedaços é moldado como uma figura – uma figura de acontecer, de fazer, de sentir, de dizer, de ser ou de ter. Cada figura assenta, pois, num tipo específico de processo, ao qual se associam determinados participantes e que pode eventualmente ser ampliado por circunstâncias Os tipos principais de Processos são: Relacional, Mental e Material. Os tipos secundários de Processos são: Verbal, Comportamental e Existencial (REZENDE, 2012, p. 444).

Assim como o contexto é simultaneamente campo, relações e modo e a semântica é simultaneamente ideacional, interpessoal e textual e a léxico-gramática é simultaneamente transitividade, modo e tema, a oração é simultaneamente representação, interação e mensagem (Textual).

Para Halidday as macrofunções da linguagem atuam simultaneamente em textos ideacional, interpessoal e textual. (A função ideacional da linguagem é sua função de representação da experiência; a função interpessoal refere-se a sua função no processo de interação social; e a função textual refere-se a aspectos semânticos, gramaticais e estruturais dos textos).

Fairclough recontextualiza as macrofunções da LSF, sugerindo três principais tipos de significado no discurso: o significado acional, o significado representacional e o significado identificacional. Daí que a frase de Madalena tem uma ação declaratória obtida a partir de uma narrativa com modalização epistêmica. Age discursivamente no texto. O discurso figura nas representações que são sempre partes de práticas sociais representações do mundo material, de outras práticas sociais, representações reflexivas da prática em questão (discursos usados em dois sentidos, como substantivo abstrato, com o significado de linguagem ou outros tipos de semioses) (FAIRCLOUGH, 2003, p. 26).

O estilo identifica que o modo de utilização da linguagem revela modos particulares de ser – o enquadre do sujeito mulher em identidades sociais referentes à questão do gênero qualificado na ordem discursiva falocêntrica com ser do sofrimento.

Na função ideacional, o discurso contribui para a construção de sistemas de conhecimento e crença (ideologias), por meio da representação do mundo; na função identitária, o discurso contribui para a constituição de autoidentidades e de identidades coletivas; na função relacional, o discurso contribui também para a constituição de relações sociais.

A função textual diz respeito à maneira como as informações são organizadas e relacionadas no texto. Assim, as pessoas fazem escolhas sobre o modelo e a estrutura de suas orações que são também escolhas sobre o significado (e a construção, manutenção ou subversão) de identidades sociais, relações sociais e conhecimento e crença (FAIRCLOUGH, 1992, p. 104). A análise da prática social se dá pelo texto. É através dele que se exploram as estruturas de dominação, as operações de ideologia e as relações sociais.

A seguir, prosseguindo com a análise com base nos significados representacionais, escolhemos o texto de Maria das Dores para uma breve análise da teoria de da representaçao de Atores Sociais, no enquadre analítico proposto por Van Leeuwen (1997).

5.5.3 Representaçao de atores sociais no enquadre analítico proposto por Van Leeuwen