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ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES NOS EMPREENDIMENTOS

Iniciando o processo de análise dos dados, após uma caracterização inicial dos empreendimentos pesquisados, seguindo os objetivos e utilizando a análise textual discursiva, baseado em Roque Moraes (2007), foram criadas duas categorias que nortearão a referente análise. Na primeira categoria, denominada de “Aspectos econômicos dos empreendimentos solidários”, serão apresentados dados referentes ao desenvolvimento econômico do empreendimento, as dificuldades no processo de produção, comercialização, acesso ao crédito, infraestrutura, o rendimento dos associados, entre outros.

Na segunda parte, denominada de Economia Solidária e suas possibilidades, será apresentado o entendimento dos associados sobre este tema, bem como a forma de organização da cooperativa, o trabalho autogestionário, os direitos que existem e que estão sendo construídas as possibilidades que a Economia Solidária proporciona a seus associados através do trabalho desenvolvido e organizado coletivamente, bem como um dos pontos principais que é o trabalho desenvolvido em redes, fator presente nos grupos pesquisados. Por fim, dentro dessa mesma categorização do trabalho coletivo e suas possibilidades, destaca-se o desenvolvimento local e comunitário, que é uma das principais contribuições aos associados, proporcionadas pelos empreendimentos.

Os empreendimentos econômicos e solidários de Porto Alegre e pertencentes a essa pesquisa foram criados recentemente, sendo que um deles foi fundado em

23 de maio de 1996 e o outro mais recente ainda surgiu em 26 de maio de 2003. Esses dados mostram o que os dados nacionais também apresentam em relação ao surgimento dos grupos alternativos de geração de renda em todo o Brasil, onde 10.207 (46,69%) do total de 21.859 surgiram a partir da década de 90 do século XX. Segue também os dados do Estado do Rio Grande do Sul, onde 1.812 (87,45%) dos 2.076 empreendimentos mapeados surgiram nesse mesmo período. Em Porto Alegre, esses números são ainda mais expressivos, pois 98 (84,48%) dos 116 mapeados pela SENAES surgiram após a década de 90 (MTE, 2009f).

As experiências de organizações através de princípios solidários não é fenômeno recente no Brasil, mas se renovou nas últimas décadas do século XX e agora neste princípio do século XXI. Conseguiu-se também uma diversidade nas formas econômicas em que as pessoas, de forma coletiva, produzem e reproduzem meios de vida (CUNHA, 2003). Entre as organizações coletivas e solidárias estão as cooperativas de produção e comercialização, em especial, neste caso, as de confecção.

Os empreendimentos pesquisados, como já supracitados, têm como principal segmento a confecção. Este setor ocupa a 5° colocação, aparecendo em 6,73% (1472) entre os serviços mais desenvolvidos por empreendimentos de Economia Solidária no Brasil, e a 4º colocação com 6,21% (129), no Estado do Rio Grande do Sul. No caso específico de Porto Alegre, lidera os serviços mais realizados por EES, com 22,41% (26), segundo dados do SIES (MTE, 2009f).47

Ao se deparar com esse dado, acredita-se na importância de uma maior aproximação do empreendimento, analisando o porquê desse setor estar presente em grande número, não só em municípios do Sul, mas como em todo o Brasil. A grande presença de mulheres desempregadas, com necessidade de contribuir ou de ser a responsável pela renda familiar, pode ser um dos indicadores da amplitude de empreendimentos que têm a confecção como sua atividade econômica principal. A pouca exigência de qualificação auxilia algumas associadas que já obtêm este mínimo de conhecimento, herdado da própria família, ou em outros casos, através de “muitos programas governamentais e de ONGs, aonde realizam cursos de corte e costura, aumentando o contingente de mulheres que “sabem costurar alguma coisa”,

possibilitando a inserção de muitas mulheres em espaços alternativos de geração de renda.

Como apresentou a presidenta de um dos empreendimentos:

Olha, a gente tem como a nossa questão é confecção, confecção de roupas e a personalização e a serigrafia. Então são duas atividades, e uma está interligada com a outra. Quando nós começamos, nós trabalhávamos também com alimentação. Foi muito difícil, porque comida não tem a ver com, com vestir. As leis são diferentes. Os tributos são diferentes. Quando chegou uma hora que a gente disse vamos fazer o seguinte, vamos tocar a costura e mais adiante a gente retoma essa questão da alimentação, quem sabe num espaço próprio que é o que a gente tá fazendo agora, retomando a alimentação num espaço próprio. Então pra nós, a gente topa tudo que for na área da confecção de tecidos e principais produtos nossos são camisetas, sacolas, uniformes de escola, uniformes de empresa, aí diversifica o quanto puder (EES1).

Nesse empreendimento o grupo tentou unir atividades econômicas para obter um maior rendimento, entretanto, como a presidenta da cooperativa relatou, os dois segmentos, inicialmente, não eram compatíveis. A confecção é a principal atividade desenvolvida nesse grupo, devido às características de suas associadas sócio- fundadoras, que além de estarem desempregadas tinham alguma afinidade com a costura. Entretanto, com o desenvolver do empreendimento, a serigrafia e a personalização das roupas se integrou como atividade complementar da cooperativa. Isso decorreu da necessidade que as cooperativas de confecção têm, uma vez que muitos dos compradores procuram serviços “completos”, ou seja, não apenas de confecção e sim já personalizados através da serigrafia.

O outro grupo pesquisado começou através da facção e desenvolve apenas a confecção de roupas. “A gente faz que é a parte de facção, a gente faz também próprio que são jalecos e kimonos” (EES2).

O surgimento desses empreendimentos, como os demais grupos alternativos de geração de renda no Brasil, não é inédito entre os vários estudos sobre este tema (SINGER, 2002a, 2003 e 2009), (LECHAT, 2006), (GAIGER, 2003, 2004 e 2009) (CATTANI, 2003 e 2009). Entretanto, o que se pode destacar com mais veemência é a superação das dificuldades iniciais para atingir a viabilidade econômica, como é o caso dos empreendimentos pesquisados. Cabe destacar inicialmente que “a maioria dos empreendimentos em seu estágio atual encontra-se às voltas com sua sobrevivência a curto e médio prazos” (GAIGER e ASSEBUR, 2007, p. 509). Como apresentam esses autores, os grupos possuem dificuldades de implantação e

implementação, bem como, de elaborar e desenvolver projetos a longo prazo, desenvolvendo, em vários empreendimentos, apenas atividades ou projetos emergenciais.

Para desenvolver essas atividades, os grupos enfrentaram e ainda enfrentam muitas dificuldades, respondendo assim ao objetivo, que visa analisar a atividade coletiva de produção e comercialização, englobando fatores fundamentais no processo de viabilidade, como será destacado a seguir.

5.4 AS PRINCIPAIS DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS