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A INTENCIONALIDADE DE UMA POLÍTICA PÚBLICA PARA A ECONOMIA

A Economia Solidária, para Cunha (2003), possui duas direções, uma sendo econômica, enquanto atividades econômicas para garantir seus meios de vida e de sua família, entretanto há a questão política, que são as organizações coletivas onde prevalecem às práticas democráticas, cooperativas e autogestionárias entre os associados e de extrema importância para que a Economia Solidária se concretize.

Mas a organização política que cerca a Economia Solidária ainda merece atenção, pois Economia Solidária é um segmento que ainda não possui um espaço considerado adequado dentro das políticas do Estado, porém aos poucos está mudando essa realidade, principalmente após um governo de esquerda assumir em 2001.

O governo “Lula” “tornou a Economia Solidária integrante da agenda pública brasileira”, sobretudo ao criar no Ministério do Trabalho e Emprego a Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, que busca dar visibilidade aos empreendimentos de Economia Solidária no Brasil (GOERCK, 2006a), buscando assim a geração de renda para os desempregados e trabalhadores pobres das periferias das cidades e das zonas rurais (BARBOSA, 2007, p. 193). E esta objetiva qualificar os sujeitos envolvidos com a implementação de políticas públicas25, facilitar o intercâmbio de experiências e reflexões, contribuir para a organização dos trabalhadores em autogestão para a geração de trabalho e renda. Estas conquistas foram obtidas por intermédio do movimento de Economia Solidária no Brasil (MTE, 2009).

A SENAES colabora com a missão do Ministério do Trabalho e Emprego fomentando e apoiando os Empreendimentos Econômicos Solidários por meio de ações diretas ou por meio de cooperação e convênios com outros

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Política Pública se constitui pelo “[...] conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia de direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda em diversas áreas. Expressa a transformação daquilo que é do âmbito privado em ações coletivas no espaço público”. Disponível em: <wikipedia.org/wiki/política_publica>.

órgãos governamentais (federais, estaduais e municipais) e com organizações da sociedade civil que atuam com a Economia Solidária (MTE, 2009c).

As políticas de fomento à Economia Solidária foram discutidas e apresentadas na I Conferência Nacional de Economia Solidária, onde foram consideradas: as diversidades dos sujeitos e protagonistas deste tipo de economia, como, por exemplo, a diversidade de suas organizações, o reconhecimento e fortalecimento da organização social dos trabalhadores e, principalmente, a promoção da redistribuição de renda, bens, recursos, permitindo o acesso aos direitos sociais, promovendo o desenvolvimento sustentável e solidário (MTE, 2006, p. 13).

Essa secretaria passou a ser um caminho aberto para a imersão de novos empreendimentos e para o fortalecimento dos já existentes, passou também a ser uma possibilidade concreta de apoio aos empreendimentos de geração de trabalho e renda, ou seja, uma de suas principais possibilidades.

Para que a Economia Solidária tenha eficácia e atinja seus objetivos, que são: gerar trabalho e renda amenizando o desemprego e a miséria, se faz necessário que se tenha políticas públicas que venham ao encontro dessa alternativa econômica, fortalecendo os empreendimentos, para que os associados possam prover a sua renda, ter os direitos, resistir à exclusão social e visar o seu desenvolvimento.

A Economia Solidária, enquanto estratégia de desenvolvimento, exige responsabilidade e cumprimento, por parte dos Estados Nacionais da garantia e defesa dos direitos universais dos cidadãos que as políticas neoliberais pretendem eliminar. Ela preconiza um Estado democraticamente ativo, empoderado, a partir da própria sociedade e colocado ao serviço desta; transparente e fidedigno, capaz de orquestrar a diversidade que a constitui e de zelar pela justiça social e pela realização dos direitos e das responsabilidades cidadãs de cada um (MTE, 2006, p. 7).

A SENAES, desde 2004, vem implantando e implementando o Programa Economia Solidária em Desenvolvimento com a finalidade de promover o fortalecimento e de divulgar a Economia Solidária mediante políticas integradas, visando o desenvolvimento por meio da geração de trabalho e renda com inclusão social.

Esse programa “marcou a introdução de políticas públicas específicas para a Economia Solidária em âmbito nacional”. Essas novas relações no mundo do trabalho demandam do poder público novas políticas públicas que não só a de apoio

ao trabalho assalariado. Foram demandas do movimento da Economia Solidária que proporcionaram que o governo contribuísse através de políticas como a inclusão, a proteção e o fomento dos empreendimentos de iniciativa solidária (MTE, 2009d).

O programa tem vários objetivos, como apresenta o Ministério do Trabalho e Emprego em seu site oficial, entre eles: fortalecer e difundir empreendimentos autogestionários, apoiar materialmente as entidades que fomentam e apoiam estes grupos, articular as cadeias produtivas, ampliando não só a produção como a distribuição e do consumo dos produtos eticamente corretos, promover a produção de conhecimentos e de tecnologias e abrir espaço para a sociedade civil para a construção de novas políticas, entre outros.

Esse programa que o governo está implementando, tem um significado diferenciado dos programas de emprego e renda que já existiam, como o Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER), programa esse que recebeu via instituições financeiras federais recursos do Fundo de Amparo ao Traballhador (FAT) ou do Programa de Expansão e Melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador (PROEMPREGO) (BARBOSA, 2006).

A Economia Solidária que vem sendo apoiada pelo governo atual, afirmando o que Singer (1999, p. 63) apresenta que “É dever do Estado a promoção de um processo público de inclusão social, sustentando e treinando os desempregados, financiando e assistindo as diversas maneiras a pequenas empresas ou comunidades”.

A iniciativa do governo é de extrema importância, onde mesmo o Estado “está arquitetado para promover o desenvolvimento capitalista, e todos os seus instrumentos e mecanismos” (GUIMARÃES e SCHWENGBER, 2004, p. 84) estão cada vez mais recebendo apoio das políticas governamentais ou de organizações não-governamentais (GOERCK, 2006a).

Entre as entidades da sociedade civil preocupadas em fomentar a Economia Solidária destaca-se a Agência do Desenvolvimento Solidário (ADS), que implementou o sistema ECOSOL26.

Além desse sistema existem outras instituições que são apoiadoras, como a Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão Acionária

26 O Sistema Nacional de Cooperativas de

Economia e Crédito Solidário “é um sistema de apoio a cooperativas de crédito solidário, como uma forma de promover o fortalecimento da Economia Solidária e do desenvolvimento sustentável”. Disponível em: <www.ecosol.com.br/>. Acesso em: 28 abr. 2009.

(ANTEAG), igrejas, CÁRITAS27, UNITRABALHO28, universidades, principalmente através das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP).

As Incubadoras Universitárias Tecnológicas e Sociais vêm se destacando no apoio à Economia Solidária (GOERCK, 2006b). As Incubadoras Sociais (IS), ou Incubadoras de empreendimentos de Economia Solidária, foram criadas para o assessoramento dos empreendimentos, que foram formados pelos sujeitos que sofrem com as manifestações da questão social. A assessoria prestada por estas instituições contribui para o planejamento das atividades, elaboração de projetos, capacitação dos cooperados na contabilidade, entre várias outras formas.

A Incubadora Social de comunidade tem como finalidade o fortalecimento local de comunidades, municípios e cidades, através da formação de empreendedores e da geração de empreendimentos com uso de tecnologia social [...], criando um ambiente que beneficia toda comunidade em diversos aspectos, principalmente na qualidade de vida, cidadania e visão de mundo (INSTITUTO GÊNISES, 2008, p. 1).

Essas Incubadoras foram criadas após resultados positivos que foram obtidos pelo Movimento da Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e pela Vida – ACCMV, onde foi criada uma cooperativa popular pelos moradores da região da Maré, no Rio de Janeiro, sendo que essa foi uma das protagonistas do surgimento das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (GAIVIZZO, 2006, p. 43).

A Incubadora de Economia Solidária [...] atua no sentido de promover cidadania, trabalho e inclusão social, baseada nos princípios e valores da cooperação, autogestão, solidariedade, valorização do trabalhador e desenvolvimento sustentável na região (LECHAT, 2006, p. 5).

Essas Incubadoras que apoiam empreendimentos, redes, entre outras modalidades (MTE, 2009e), possuem três etapas para a Incubação desses empreendimentos, que são a pré-Incubação, a Incubação e a pós-Incubação.

Essas Incubadoras Sociais estão proporcionando um apoio significativo aos empreendimentos solidários, mesmo atingindo ainda um número pequeno de empreendimentos, mas é uma ação em busca da cidadania desses associados/cooperados que passou a contar com o conhecimento científico

27 Órgão Ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 28 A UNITRABALHO,

que foi criada em 1995, “objetiva desenvolver novos conhecimentos a partir do binômio teoria-prática e de caráter empreendedor e associativo das cooperativas, para incluir na sociedade os segmentos sociais de baixo poder aquisitivo, orientando-os para a criação e a autogestão de seu próprio negócio” (PINHO, 2004, p. 30).

produzido em universidades e contando em sua equipe multidisciplinar com o profissional Assistente Social29.

O Serviço Social no processo de assessoramento dos empreendimentos solidários nas Incubadoras Sociais tem como proposições atender às demandas (prioridades) da Incubadora, conciliando-as com o trabalho profissional, fortalecendo os grupos autogestionários, bem como a autonomia dos trabalhadores, enquanto coletivo, articulando e encaminhando os trabalhadores às políticas públicas nos seus respectivos municípios. O Serviço Social pode contribuir também na promoção à participação dos trabalhadores visando a autogestão dos empreendimentos coletivos que é de extrema importância para estes, proporcionar o processo de conscientização dos associados, por meio de reflexões acerca da realidade vivenciada pelos trabalhadores [...], contribuir referentemente ao esclarecimento sobre os princípios do cooperativismo. Pode-se, também, incentivar a qualificação profissional e a participação dos associados junto a fóruns, imprescindíveis para apreender a amplitude da importância das atividades coletivas dos empreendimentos, nas feiras de representação da Economia Solidária, promover a consciência popular e ecológica, como, por exemplo, o trabalho dos catadores de materiais recicláveis (GOERCK, 2006a).

Essas são as múltiplas formas de contribuição que o profissional Assistente Social pode oferecer para o processo de assessoramento dos empreendimentos através das Incubadoras Sociais, ou Incubadoras de empreendimentos de Economia Solidária. Essa contribuição pode se desenvolver fora dos espaços acadêmicos, nos mais diferentes espaços de atuação do Assistente Social, seja em órgãos públicos ou não.

Existindo a materialização destes objetivos pelo Serviço Social, ele poderá dar sua contribuição ao processo de autogestão de experiências coletivas, visando a descentralização das decisões, obtendo uma maior autonomia diante dos seus processos de trabalho (GOERCK, 2006a), ou seja, todo esse trabalho que pode ser desenvolvido pelos Assistentes Sociais contribui para a efetivação de uma das principais bandeiras da Economia Solidária que é a autogestão, bem como os

29 A idéia das incubadoras foi essencialmente utilizar os recursos humanos e o conhecimento técnico-

científico que as universidades têm de forma acumulada, podendo assim auxiliar esses trabalhadores que estão em situação de exclusão social (GAIVIZZO, 2006, p. 44).

espaços de cidadania30 para esses sujeitos pertencentes aos grupos econômicos e solidários.

Alguns objetivos norteiam e contribuem para desenvolver o trabalho do Assistente Social em relação aos empreendimentos de Economia Solidária, destacam-se:

[...] apoiar a inserção social dos trabalhadores e de seus familiares em ações em empreendimentos de economia popular e solidária, [...] fortalecer os vínculos solidários, a participação e o estabelecimento de relações democráticas entre os trabalhadores, [...] legitimar e dar visibilidade às experiências de Economia Popular e Solidária, desencadear reflexões sobre os princípios do cooperativismo e suas possíveis operacionalizações, colaborar com a população usuária e com o planejamento de suas ações, desenvolver estratégias que colaborem para o relacionamento interpessoal dos trabalhadores, promover a acolhida dos trabalhadores e de seus familiares, desenvolver a orientação e apoio sócio-familiar, desenvolver a articulação do seu trabalho juntamente com profissionais de outras áreas, prospectando a intervenção do Serviço Social de forma interdisciplinar, proporcionar articulação com a política de assistência social, de trabalho e desenvolvimento econômico, bem como da geração de trabalho e renda (GOERCK, 2006a, p. 50).

Fomentando estas organizações coletivas, o Assistente Social poderá contribuir para que não ocorra a naturalização da questão social, como destaca Iamamoto (2004), além de proporcionar formas de ampliação dos espaços da sociedade civil nas discussões, na construção democrática, sempre lutando pelos direitos da população.

Trabalhando com esses empreendimentos, a profissão se afirma como uma atividade “voltada à defesa dos direitos e das conquistas acumuladas ao longo da história da luta dos trabalhadores no país, e estar comprometida com a radical democratização da vida social no horizonte da emancipação humana” (IAMAMOTO, 2004).

Esse profissional pode contribuir com o que a SENAES apresentou em seu documento final da 1° Conferência Nacional de Economia Solidária em 2006, onde almeja a possibilidade de contrução de uma globalização solidária, estreitando as relações de integrantes da Economia Solidária em diversos continentes e sua

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“A cidadania entendida como a capacidade de todos os indivíduos [...] de se apropriarem dos bens socialmente produzidos, de atualizarem as potencialidades de realização humana, abertos pela vida social em cada contexto historicamente determinado” (IAMAMOTO, 2004, p. 21), ou seja, ter acesso aos bens que são produzidos por toda a sociedade de forma igualitária, bem como ter acesso aos direitos sociais, civis e políticos.

articulação com diversos movimentos sociais e políticos, afirmando uma outra concepção de desenvolvimento.

Este processo de incubação, que abrange um grupo ainda pequeno, contribui com os grupos, no entanto os limites que lhe são impostos são muitos.

3.4 OS EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E ALGUMAS