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5.6 O TRABALHO COLETIVO ATRAVÉS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA E AS

5.6.1 O Trabalho Coletivo

Apresentaremos, mais especificamente a partir desse item, o objetivo de compreender quais as contribuições que os empreendimentos trazem a seus associados através do trabalho coletivo, da Economia Solidária.

A forma com que a Economia Solidária se organiza, tanto em sua gestão, como em sua organização para a produção, comercialização ou troca solidária, possibilita uma maior participação de seus associados em todo o processo, ampliando também a motivação e a responsabilização pelo empreendimento. A solidariedade que está presente nestes espaços ajuda no processo de viabilidade econômica do empreendimento. A autogestão que pode dificultar em alguns casos a sustentabilidade dos EES, ao mesmo tempo possibilita não só uma maior inserção e ou participação dos sujeitos dentro do próprio empreendimento, como também na comunidade em que estão inseridos.

Além deste ponto positivo, pode-se destacar que através da Economia Solidária existe a chance para muitos associados de gerar renda para a subsistência e outras necessidades, como melhorias nas residências, viagens para lazer e visitação a familiares, estudos técnicos para os filhos e até mesmo reservas financeiras. Ampliam-se as chances dos grupos chegarem ou manterem essa

sustentabilidade através da criação de redes e cadeias produtivas e na qualificação em Economia Solidária de seus associados.

O trabalho coletivo, que diferenciadamente está presente na Economia Solidária, é também motivo fundador do grupo EES1, onde as associadas que trabalhavam com confecção nas suas próprias residências precisavam se unir para ter um “poder” maior.

O trabalho organizado e desenvolvido coletivamente é fundamental na caracterização da Economia Solidária, um trabalho que, segundo Icaza (2004), é um espaço de atuação concreto:

[...] tanto para fazer face às necessidades urgentes da população empobrecidas, como para desenvolver novas práticas de solidarismo e cooperação, na perspectiva de construir alternativas nas quais a produção e a economia estejam efetivamente articuladas com as práticas de convivência e solidariedade comunitárias (ICAZA, 2004, p. 49).

A Economia Solidária possui um diferencial que se encontra no termo solidariedade, e por se tratar de uma “nova lógica econômica que não se limita a indicadores quantitativos, mas incorpora igualmente conquistas qualitativas, a Economia Solidária, para poder ser realmente solidária, necessita ser tratada além das fronteiras da técnica” (BARRETO, 2003, p. 88).

Para o EES1, através de sua liderança, afirma que nesse processo da construção de uma alternativa econômica e solidária, os sujeitos que dele participam devem ter consciência de que estão nos empreendimentos. Acreditar na forma de trabalhar das cooperativas, às quais dão mais dignidade para as pessoas, “que você possa estar construindo uma “outra economia”, mesmo tendo um mercado lá fora que lhe proporcione maiores rendimentos. Esse processo foi vivenciado pela cooperativa quando ainda estava dando os primeiros passos enquanto grupo mais organizado, como o grupo, através de sua representação, afirma:

[...] A gente viveu isso no começo da cooperativa. Sabe, foi muito interessante, assim. Na época, quando nós fomos para a incubadora teve uma opção de trabalho, aqui na vila mesmo, sabe, de uma firma que montou um negócio. Pagava muito mais do que a cooperativa podia estar tendo de retiradas, e as pessoas não saíram da cooperativa (EES1).

Para que um empreendimento possa ser viável, os associados que participam desse espaço devem ter responsabilidade pelo empreendimento e acreditar nas

cooperativas de geração de trabalho e renda. Essa responsabilidade passa também pelo entendimento de cada associado sobre o grupo que está inserido.

Nos grupos visitados, várias são as percepções sobre Economia Solidária. “Com a Economia Solidária eu aprendi a ter conhecimentos, eu aprendi a ter convivência com as pessoas que eu não tinha. Eu era anti-social, eu não tinha amigas, eu não conseguia conversar com ninguém. E isso mudou muito” (A2EES1). Essa associada apresenta que a Economia Solidária a ajudou a ter, além de conhecimento, um melhor convívio com as pessoas. Essa mesma associada destaca que após a inserção na cooperativa “a minha vida financeira, em casa, a minha convivência com minha filha, tudo melhorou. É bem da Economia Solidária, que se eu não tivesse aqui, pra mim significa isso” (A2EES1).

Como afirmar que um empreendimento de Economia Solidária é inviável economicamente quando uma das associadas, através de muita emoção quando entrevistada, diz que a Economia Solidária a ajudou na vida financeira, no convívio comunitário, a ter conhecimentos, a criar novas amizades e até em sua relação com a própria filha70? Mesmo sendo encarada algumas vezes como funcional ao capital, pela reprodução da lógica existente e que existe muito na ES, inviabilizando muitas vezes o grupo, essa evolução na qualidade de vida dos associados deveria estar inserida nas avaliações estatísticas de viabilidade dos empreendimentos.

A Economia Solidária:

[...] se diferencia da tradicional já a partir da adoção de uma perspectiva que reconhece que nem tudo pode ou deve ser avaliado em termos mercantis ou quantitativos. Enquanto na Economia Solidária os indicadores são qualitativos que são capazes de avaliar a solidez da sociedade, seu grau de confiança e coesão social ampliando as possibilidades de acompanhamento das ações humanas (WAUTIEZ et al., 2003, p. 177).

Para outra associada, a Economia Solidária é “quando a pessoa tá crescendo, não tá exclusa do mercado, não tá esquecida, não tá excluída socialmente. A gente tá participando ainda, se sente útil também (A1EES1).

Não estar esquecida, o que pode significar para uma pessoa se sentir útil, é outra possibilidade apresentada pelos empreendimentos de Economia Solidária.

70 A associada destaca que teve um melhor relacionamento com a própria filha, devido ao tempo

disponível para ter os necessários cuidados com a mesma, pois quando trabalhava nas indústrias, a associada não obtinha tempo para acompanhar a evolução da sua filha.

Já os associados do EES2 entendem a ES através de uma visão mais crítica. Entendem que a mesma “seria uma inter-relação entre as cooperativas, né, que é uma coisa que não acontece, [...] a própria OCERGS que tava aqui dentro, não, não facilitava o serviço pra gente buscar fora” (A2EES2). Esse associado do grupo EES2 entende que a Economia Solidária deveria ter mais inter-relação entre os grupos e seus apoiadores, que na sua concepção ainda não existe de forma adequada.

Outro associado dessa mesma cooperativa destaca que a Economia Solidária:

[...] Para mim, teria que ser assim, teria que ser todo mundo unido para fazer uma mesma coisa, pra ajudar na vida de cada um [...]. Mas eu não culpo o pessoal, é próprio do sistema isso aí. Se tu não faz para sobreviver, pra ti sobreviver, não adianta [...], por exemplo, nós pensamos num coletivo pra fazer aqui, nós quatro, às vezes aparece um serviço pra fazer que é um “saco”, mas aí pensamos nas pessoas do grupo que precisam mais do que nós. É difícil (A3EES2).

A presença da solidariedade nos empreendimentos é perceptivel, como neste caso, onde o associado acredita que a Economia Solidária é a união entre os grupos e que contribui na vida de cada um, tendo como preocupação central o coletivo.

O EES1 acredita na construção de uma outra economia, através da Economia Solidária, mas com ênfase principalmente na produção e comercialização eticamente justa, primando por produtos que foram confeccionados sem a exploração do trabalhador e da natureza. Porém, destaca esse mesmo grupo que o caminho a ser percorrido ainda é longo, pois os consumidores ainda não têm plena consciência da importância de consumir esses produtos.

[...] Tem tanto pra fazer nessa área, de verdade, Fabio. Eu acho que nós podemos construir uma outra economia, que as pessoas tem uma outra postura no seu consumir, sabe, no seu consumir, eu vou comprar uma roupa que ela seja diferente. Será que eu preciso ter 10 jogos de lençol? Não eu não preciso ter 10 jogos de lençol, posso ter 3, mas eu posso ter dentro da minha casa um produto que seja diferente da lógica que está sendo colocada (EES1).

É importante cativar as pessoas para participarem da Economia Solidária, para que elas comecem a pensar também em criar novos empreendimentos de Economia Solidária, recuperar empresas falidas e que possam contribuir também na ampliação da viabilidade aos empreendimentos através da criação de redes, de cadeias produtivas e solidárias.

O entendimento sobre Economia Solidária de associados/cooperados dessas associações/cooperativas contribuiu para o processo de viabilidade dos grupos e, consequentemente, para com os seus associados. Porém, a organização desses grupos é fundamental neste processo da construção da viabilidade.