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Redes Solidárias e Cadeias Produtivas na Economia Solidária

5.6 O TRABALHO COLETIVO ATRAVÉS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA E AS

5.6.4 Redes Solidárias e Cadeias Produtivas na Economia Solidária

Para atingir e manter a viabilidade, sempre destacando a viabilidade no sentido de manter o empreendimento e ainda gerar um excedente para os associados, muitos dos empreendimentos procuram novas alternativas de produção e comercialização, como foi o caso do EES1.

A presidenta do EES1 apresenta: “Que legal que a gente conseguiu construir até aqui, mas pra nós nunca foi parado assim e dizer, bom agora deu, vamos manter só o que temos. Acho que a vida é isso, assim, cada vez temos novos desafios”. Esse desafio foi ampliado com a vinda da Justa Trama, cita essa mesma associada. Essa frase que foi apresentada com orgulho pela presidenta da cooperativa EES1 onde o empreendimento está cheio de novas esperanças, passada a fase de dificuldades diversas, o grupo ampliou as possibilidades de manter a sua viabilidade. A Rede Justa Trama consiste na marca na cadeia ecológica do algodão solidário, onde participam trabalhadores (as) organizados(as) que são pertencentes a empreendimentos de Economia Solidária. São homens e mulheres que são agricultores, fiadores, tecedores, coletores e beneficiadores de sementes até as costureiras, ou seja, vai do plantio até a colheita, do plantio até a roupa. Essa rede contribui também na preservação do meio ambiente, na eliminação do atravessador, tendo uma produção direta, contribuindo na distribuição justa da renda e no desenvolvimento sustentável (JUSTA TRAMA, 2009).

O empreendimento EES1 faz parte do elo final desta cadeia produtiva que começa no norte do país se estendendo até o sul, estando presente em Tauá, no Ceará, em Pará de Minas, em Minas Gerais, em Porto Velho, no Estado de Roraima, em Santo André, em São Paulo, em Itajaí, em Santa Catarina, chegando nesse empreendimento em Porto Alegre que faz a confecção final das roupas e outros produtos desenvolvidos através do algodão ecológico.

[...] se a gente conseguir viabilizar a Cooperativa, a gente pode mais que isso, vamos juntar com outros e a gente tem todo o processo de uma produção, assim, os agricultores plantando algodão de forma orgânica, você ter um pessoal fazendo fio, uma cooperativa fazendo fio, uma cooperativa fazendo tecido, outras cooperativas confeccionando, outras fazendo botões que é a questão da cooperativa 174, assim, comercializando um produto bom pro corpo, pro meio ambiente e acho que cada vez mais a gente vai estar buscando mais (EES1).

“Estar buscando mais” através dessa cadeia produtiva solidária possibilitou uma maior viabilidade para esse empreendimento e, consequentemente, seus associados tendo vantagens, sendo beneficiados nessa nova forma de produção, além de reunir um grande número de pessoas que trabalham de forma solidária para encontrar alternativas de subsistência, têm nessa rede uma forma de organizar, produzir e consumir de forma ética e justa.

Uma cadeia produtiva é uma forma de produção, comercialização e consumo, contribuindo também para uma ampliação de produtos que são produzidos pelos empreendimentos de Economia Solidária (MTE, 2009f).

Isso inclui um processo que parte da matéria-prima, passa pelo uso de máquinas e equipamentos, pela incorporação de produtos intermediários, até o produto final, que é distribuído por uma vasta rede de comercialização. São estes os elos que formam, de maneira geral, uma cadeia produtiva. [...] As cadeias produtivas envolvem ao longo do processo (da produção ao consumo) a formação de redes de cooperação, essenciais para a Economia Solidária. Podem-se reconhecer cadeias produtivas locais ou regionais a partir de aspectos como: existência na região de atividades produtivas com características comuns e existência de infraestrutura tecnológica significativa, ou seja, centros de capacitação profissional, de pesquisa, etc. (por exemplo, as incubadoras). Além disso, é preciso haver a relação entre os agentes produtores e os agentes institucionais locais, consolidando uma coesão positiva (MTE, 2009f, p. 33).

Essas cadeias produtivas que “compõe todas as etapas realizadas para elaborar, distribuir e comercializar um bem ou serviço até seu consumo final” (MANCE, 2003, p. 26) ajudou a dar viabilidade a longo prazo para a cooperativa EES1, como apresenta a própria presidenta. “a gente construiu a Justa Trama, porque é outro corte, é outro viés, sabe, que vai ajudar a dar viabilidade a longo prazo à cooperativa”.

A SENAES apresenta em seu documento de Base da Conferência Nacional de Economia Solidária de 2006, que as pequenas comunidades isoladas têm mais

74 Por motivos éticos não será citado o nome da cooperativa que é referenciada pela entrevistada.

dificuldades em alcançar níveis de produtividade que lhes permitam competir com os mercados regionais, internacionais e até mesmo mundiais. Por isso, destaca-se que para progredirem, os grupos precisam juntar-se com outras comunidades ou arranjos produtivos através das cadeias produtivas. Essas cadeias produtivas devem ser remodeladas de forma solidária e em rede, exigindo a certificação de todos os integrantes para que respeitem os critérios éticos e ambientais (MANCE, 2003, p. 13).

Essas cadeias produtivas, que reorganizadas de forma solidária [...] “ampliam os benefícios sociais dos empreendimentos, em função da distribuição da riqueza que operam, visando sustentar o consumo nas próprias redes” (MANCE, 2003, p. 26), destacando ainda que “em uma rede, as organizações de consumo, comércio, produção e serviço mantêm-se em permanente conexão em fluxos materiais (produtos, insumos, etc.) de informação e de valor, que circulam através da rede“ (MANCE, 2003, p. 220).

Nas redes solidárias destaca-se a importância de experiências coletivas de crédito estarem presentes, disponibilizando microcrédito75 para os grupos de Economia Solidária, ampliado as formas de superação das dificuldades na obtenção de crédito, como já destacado.

As redes podem não só ser em nível nacional, como também podem fortalecer a comunidade local, formando cadeias ou redes nos próprios bairros que estão inseridas, redes regionais que possam ser fortalecidas, como também acontece com o EES1.

O empreendimento EES1, após se inserir na cadeia produtiva Justa Trama, segundo suas associadas, ajudou não só na ampliação de trabalho e renda, bem como, na participação em espaços de discussão, de novos cursos de qualificação, ampliando também a participação política. “Os empreendimentos têm que ser fortalecidos, quando eles conseguem se fortalecer economicamente eles também se fortalecem politicamente”.

Com essa inserção política dos associados pode-se construir “uma outra economia”, segundo a presidente do EES1, “e aí eu acho que você faz uma outra economia, sabe, esse cativar das pessoas, elas começarem a entender, começarem

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“O termo microcrédito designa empréstimos de pequeno valor concedidos a grupos de pessoas solidárias, ou a tomadores de empréstimos individuais, por instituições que podem se organizações não-governamentais, bancos ou programas públicos” (SERVET, 2009, p. 243).

a pensar, nós temos futuro pensando assim, nós vamos criar empreendimentos de Economia Solidária”.

Através da Justa Trama e outras entidades é que o grupo obteve formação que ajudou na constituição e qualificação do grupo. O grupo EES2 também proporcionou momentos de formação a seus associados, ajudando, assim, na solidificação desses grupos.