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OS PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO E SEUS PRINCIPAIS ATORES

O cooperativismo, que é uma das principais bases da Economia Solidária, através de seus princípios, surgiu na Europa. O cooperativismo apareceu entre os séculos XVIII e XIX, devido à precariedade das relações e das condições de trabalho que os detentores dos meios de produção da época impuseram aos trabalhadores (GOERCK, 2006a).

Como apresenta Pinho (2004, p. 136), o cooperativismo “pode ser focalizado como doutrina, teoria, sistema, movimento ou simplesmente técnica de administração de cooperativas”. Cooperativas15 podem ser entendidas como: “uma empresa de serviço cujo fim imediato é o atendimento às necessidades econômicas de seus usuários que a criam com seu próprio esforço e risco (PINHO, 2004, p. 124). Enquanto doutrina, o cooperativismo surgiu em oposição à conseqüências do liberalismo econômico, principalmente na Inglaterra e na França. O cooperativismo, inspirado em Owen e seus discípulos, busca uma organização social mais justa e equitativa (PINHO, 2004).

15 Esse assunto será retomado com mais detalhes na sequência, onde será abordado juntamente

Sempre que se falar em cooperativismo deve-se falar em Robert Owen, que viveu entre 1771 e 1888, um dos principais, se não o principal responsável pelo desenvolvimento da ideologia cooperativista. Este artesão fez várias inovações numa fábrica de fiação, transformando a sua fábrica em colônia16. No entanto, suas mudanças não deram certo por uma série de motivos e foram perdendo mercado até que foi afastado pelos sócios que estavam insatisfeitos (PINHO, 2004).

Este começo de dificuldades que Owen obteve foi por sua luta em favor, principalmente, dos operários, sendo que, como apresenta Pinho (2004), ele defendia que deveriam ser distribuídas as sobras das riquezas nas sociedades humanas, exaltava, também, a educação e uma reforma social. Ele combatia o lucro e a concorrência, pois os considerava responsáveis pela deturpação do meio social. Sua glória foi promover a associação cooperativa e a procura pela eliminação do lucro. Owen teve relevante influência nos Pioneiros de Rochdale.

Aos poucos foram se constituindo grupos que seguiam princípios cooperativistas, sendo que a Cooperativa Pioneira de Rochdale foi o grande marco simbólico deste tipo de organização. Essa cooperativa surgiu em 1843, através de uma greve que trabalhadores realizaram reivindicando melhores salários e melhores condições de trabalho. Porém o resultado foi a demissão de dez funcionários (OLIVEIRA, 1984), sendo assim, os tecelões de Rochdale procuraram novas alternativas para a sua sobrevivência (PINHO, 2004).

Frente a isso, os precursores do cooperativismo prospectaram uma sociedade mais justa e solidária, onde sua organização e a sistematização do trabalho teriam princípios divergentes do modo capitalista de produção (GOERCK, 2006a).

Os sete princípios17 do cooperativismo18 são de extrema importância para o entendimento do funcionamento dos empreendimentos solidários atuais, e são os seguintes:

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“Nessa colônia Owen fez com que muitos trabalhadores que antes eram viciados, provenientes de meios heterogêneos, tornassem-se homens dignos, reduzindo jornadas de trabalho, oferecendo amparo aos idosos e educação às crianças” (PINHO, 2004, p. 253).

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“[...] Esses princípios foram instituídos no movimento cooperativista internacional em 1938 no Congresso Aliança Cooperativa Internacional”, que inicialmente consolidou a entrada e a saída de cooperados, a gestão democrática, a limitação da remuneração do capital e a distribuição das sobras de forma equivalente (FRANTZ apud LEMES, 2008, p. 54). Outros princípios como a intercooperação, a neutralidade política - social e religiosa, a educação, a capacitação e informação de seu quadro social, salienta Goerck (2006a), foram adicionados logo após o primeiro congresso (LEMES, 2008, p. 54).

18 Site com dados sobre o cooperativismo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/

1. Adesão livre e voluntária - Cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a usarem seus serviços e dispostas a aceitarem as responsabilidades de sócios, sem discriminação social, racial, política ou religiosa e de gênero.

2. Controle democrático pelos sócios - As cooperativas são organizações democráticas controladas por seus sócios, os quais participam ativamente no estabelecimento de suas políticas e na tomada de decisões. Homens e mulheres, eleitos como representantes, são responsáveis para com os sócios. Nas cooperativas singulares os sócios tem igualdade na votação (um sócio um voto); as cooperativas de outros graus são também organizadas de maneira democrática.

3. Participação econômica dos sócios - Os sócios contribuem de forma equitativa e controlam democraticamente o capital de suas cooperativas. Parte desse capital é propriedade comum das cooperativas. Usualmente os sócios recebem juros limitados (se houver algum) sobre o capital, como condição de sociedade. Os sócios destinam as sobras aos seguintes propósitos: desenvolvimento das cooperativas, possibilitando a formação de reservas, parte dessa podendo ser indivisível; retorno aos sócios na proporção de suas transações com as cooperativas e apoio a outras atividades que forem aprovadas pelo sócio.

4. Autonomia e independência - As cooperativas são organizações autônomas para ajuda mútua controladas por seus membros. Entretanto, em acordo operacional com outras entidades, inclusive governamentais, ou recebendo capital de origem externa, elas devem fazê-lo em termos que preservem o seu controle democrático pelos sócios e mantenham sua autonomia.

5. Educação, treinamento e informação - As cooperativas proporcionam educação e treinamento para os sócios, dirigentes eleitos, administradores e funcionários, de modo a contribuir efetivamente para o seu desenvolvimento. Eles deverão informar o público em geral, particularmente os jovens e os líderes formadores de opinião, sobre a natureza e os benefícios da cooperação.

6. Cooperação entre cooperativas - As cooperativas atendem seus sócios mais efetivamente e fortalecem o movimento cooperativo, trabalhando juntas através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais.

7. Preocupação com a comunidade - As cooperativas trabalham pelo desenvolvimento sustentável19 de suas comunidades, através de políticas aprovadas por seus membros.

Esses princípios norteadores dos grupos cooperativos contribuíram de forma significativa para a história do cooperativismo, nos mais diversos países em que esse tipo alternativo de organização se encontra. São princípios que ordenam a intensão de participação dos associados, e sempre tendo a solidariedade presente em todas as ações desenvolvidas pelos determinados grupos. Esses princípios,

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“Desenvolvimento Sustentável, segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas, é um conjunto de processos e atitudes que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades”. Disponível em:

mesmo se originando em épocas anteriores, se reapresentaram com extrema intensidade na atualidade.

Como apresenta Frantz (2006), temas como cooperativismo e solidariedade não são novos, mesmo tendo peculiaridades e características próprias da época atual. “São temas marcados pela longevidade do tempo humano, mas que atravessam os séculos, impulsionados pela capacidade dos homens em não renunciar aos sonhos e à esperança de uma vida melhor” (FRANTZ, 2006, p. 15), e para alavancar o trabalho solidário, cooperado, como uma nova forma de reconstruir laços tão combatidos pelo sistema vigente.

No caso brasileiro, há registros de sua existência desde o ano de 1610, com as primeiras fundações jesuíticas no Estado do Rio Grande do Sul. A sua existência, inicialmente no país, teve influência cultural e política européia, procurando atender aos interesses dos países colonizadores. Os protagonistas do cooperativismo tiveram como motivo para sua imersão as manifestações da questão social que sofriam na época, principalmente devido às duas primeiras grandes Revoluções Industriais (GOERCK, 2006a).

As transformações industriais da época motivaram a organização para superar as refrações da questão social, que se aprofundavam significativamente nesse período. Muito após o período de organização, que proporcionou o surgimento das cooperativas, no Rio Grande do Sul essas experiências tiveram um crescimento importante, entre os anos de 1940 e 1970, em especial as cooperativas agrícolas e de crédito, como nos apresenta Lechat (2006):

Com o incentivo do Governo para transformar estas cooperativas em propagandistas da “revolução verde”, elas foram tomando feições empresariais, ficando cada vez mais na mão de grandes e médios empresários. A partir dos anos 80, sob a influência da Comissão Pastoral da Terra, da EMATER, de várias ONGs e da formação do MST, formaram-se miríades de associações nos assentamentos de reforma agrária e entre pequenos produtores rurais familiares (LECHAT, 2006, p. 147-148).

Frente ao grande número de pessoas que sofrem com as refrações da questão social, em destaque os desempregados, os pobres e excluídos socialmente, reaparece o trabalho coletivo como fonte alternativa de geração de trabalho e renda no qual o cooperativismo está presente. A Economia Solidária reaparece na sociedade, no Brasil, principalmente em meados da década de 90 do século XX, como uma forma diferenciada de geração de trabalho e renda.

Esta forma reapareceu em conseqüência da crise do capital, do desemprego ocasionado por fatores já descritos anteriormente, e traz em suas bases o cooperativismo que surgiu “diante da precariedade das condições e das relações de trabalho, bem como da exploração dos trabalhadores pelos detentores dos meios de produção, existente entre os séculos XVIII e XIX na Europa”. A partir daí é que emergiu esse novo modo de organizar chamado de cooperativismo (GOERCK, 2006a, p. 9).

As formas de organização denominadas cooperativistas20, que seguem os seus princípios, são centrais para os empreendimentos de Economia Solidária, termo que apareceu como alternativa ao desemprego, em especial no Brasil, a partir da década de 90 do século XX, e que será abordada na sequência.

Segundo os pesquisadores e os adeptos à causa da Economia Solidária, ela não se resume ao cooperativismo, mas esse é a sua forma principal, pois tem fundamentos éticos de organização e uma tradição histórica. Nesta perspectiva, a Economia Solidária vai além, portanto do cooperativismo, abrangendo outras formas de organização econômica, mas com a mesma orientação igualitária e democrática (SOUZA, 2003, p. 38).

A Economia Solidária está entre as formas encontradas por esses atores inseridos no cooperativismo, de geração de trabalho e renda. No entanto, a Economia Solidária existe paralelamente ou conjuntamente com outras denominações.

3.2 A ECONOMIA SOLIDÁRIA FRENTE ÀS FORMAS ALTERNATIVAS DE