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ANÁLISE DOS DADOS: ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA

5. OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS: INTERESSES E PERSPECTIVAS SOBRE O

6.2. ANÁLISE DOS DADOS: ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA

A análise dos dados, no que se refere tanto aos textos escritos quanto aos textos falados, se deu por meio da ATD, apresentada por Moraes e Galiazzi (2007). Essa proposta metodológica é realizada por meio de um ciclo de análise auto-organizado, composto de elementos racionalizados, semiplanejados, de onde emergem novas compreensões.

Para iniciar o processo de análise, faz-se necessário a formação de um corpus, constituído de produções textuais, que podem ser tanto documentos já existentes quanto materiais produzidos durante a pesquisa. A partir da seleção do corpus, o ciclo de análise se realiza em três momentos: desmontagem do texto, estabelecimento de relações e captação do novo emergente (MORAES; GALIAZZI, 2007).

Na desmontagem do texto, também denominada fase de unitarização, os textos que compõem o corpus de análise foram analisados minuciosamente e fragmentados em unidades constituintes. Segundo os autores supracitados, as unidades de significado podem ser definidas em função de critérios pragmáticos ou semânticos. Sua definição pode ser a priori ou como categorias emergentes da análise. No caso da presente pesquisa, havia categorias pré-estabelecidas, conforme os objetivos específicos.

O estabelecimento de relações também se denomina ‘categorização’ e envolve a construção de relações entre as unidades, combinando-as e classificando-as, formando conjuntos de elementos próximos, resultando em sistemas de categorias. As categorias podem ser criadas por intermédio de diferentes métodos: dedutivo, indutivo e intuitivo. No caso da presente pesquisa, foi utilizado o método dedutivo, uma vez que as categorias foram criadas a priori, tendo como base o referencial teórico e os objetivos específicos.

Para a pesquisa, o discurso de cada ator social foi retirado dos materiais analisados (textos escritos ou textos falados/transcritos) e inseridos em um único documento. Criou-se,

portanto, um documento para cada ator social analisado. Esses documentos foram estratificados em relação aos macrotemas: a) Porto Pontal/Complexo industrial-portuário; b) Faixa de Infraestrutura/PR-809/PR-412; c) Turismo (perspectivas sobre o turismo; relação com a Faixa de Infraestrutura/PR-412; relação com o complexo industrial-portuário/Porto Pontal); d) Desenvolvimento; e) Participação social no processo; e f) Menção a outros atores sociais. A partir disso, foram criados metatextos relativos a cada ator social e a cada categoria. Após isso, deu-se início à fase do “captar o novo emergente”, que diz respeito à possibilidade, a partir das etapas anteriores, de emersão de uma compreensão renovada do todo, possibilitando a construção de um metatexto, que comunica e valida esse novo emergente. Nessa etapa, é necessário realizar dois procedimentos: a descrição e a interpretação. A primeira diz respeito à descrição das categorias e subcategorias (MORAES; GALIAZZI, 2007). No caso da presente pesquisa, a descrição dos dados foi baseada em quatro categorias, que se evidenciaram como os mais relevantes: a) Posicionamento dos atores sociais em relação ao Porto Pontal/Complexo industrial-portuário; b) Posicionamento dos atores sociais em relação ao novo acesso rodoviário/Faixa de Infraestrutura; c) Posicionamento dos atores sociais em relação ao turismo; e d) Posicionamento dos atores sociais em relação ao desenvolvimento. Esses metatextos não constam na tese, mas foram utilizados como base para a descrição e análise dos dados.

O procedimento de interpretação, por sua vez, tem como objetivo apresentar os novos sentidos e compreensões mais aprofundadas, com base no referencial teórico escolhido, ou mesmo os mais representativos, selecionados a partir das análises (MORAES; GALIAZZI, 2007). Destarte, construiu-se o capítulo de análise dos dados, tendo cinco categorias (de discurso) e, inserida em cada uma, as dimensões dos discursos.

Cabe ressaltar que esta pesquisa se pauta na ideia de que toda leitura de um conjunto de textos já é uma interpretação, e que não existe uma leitura única e objetiva (MORAES; GALIAZZI, 2007). Um mesmo texto pode suscitar uma leitura do manifesto e do explícito, como também do latente e do implícito, embora este dependa de uma interpretação mais exigente.

Além disso, o aprofundamento das leituras, saindo do manifesto e adentrando ao latente, também requer um deslocamento de uma leitura representacional para uma leitura instrumental. Conforme Moraes e Galiazzi (2007, p. 61), “a passagem do representacional ao

instrumental constitui um movimento que vai da procura do ‘o quê?’ para o ‘com que finalidade?’”.

No entanto, essas duas possibilidades de leitura dependem das interpretações que os leitores fazem a partir de seus conhecimentos e teorias, dos discursos em que se inserem, conforme destacam os autores supracitados. Assim, o referencial teórico utilizado na construção da pesquisa, as bases ideológicas, a visão de mundo do pesquisador interfere na constituição do metatexto, uma vez que a interpretação é regida por essa bagagem, que, no caso da presente pesquisa, respalda-se na teoria da ecologia política. Também interferiu para a compreensão dos sentidos latentes a observação em campo, por meio de participação em eventos, leitura de outros materiais que não compõem o corpus, conversas informais com diversos atores sociais que também não foram incorporadas ao corpus, mas que possibilitaram compreensão integrada do conflito socioambiental analisado.

Toda leitura é feita a partir de alguma perspectiva teórica, seja esta consciente ou não. É impossível ver sem teoria; é impossível ler e interpretar sem ela. Diferentes teorias possibilitam os diferentes sentidos de um texto. Como as próprias teorias podem sempre modificar-se, um mesmo texto sempre pode dar origem a novos sentidos (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 15).

Com base nisso, apresenta-se abaixo um diagrama que sintetiza as etapas de análise textual descritiva (FIGURA 2).

FIGURA 2 - ETAPAS ORGANIZAÇÃO DO CORPUS, COM BASE NA ATD

7. ANTECEDENTES DO TEMA: USOS DA ZONA COSTEIRA DO PARANÁ