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O apoio do Estado à territorialização industrial-portuário

7. ANTECEDENTES DO TEMA: USOS DA ZONA COSTEIRA DO PARANÁ PÓS-

7.4. NO FINAL DO CAMINHO TINHA UM POÇO: A TERRITORIALIZAÇÃO

7.4.1. O apoio do Estado à territorialização industrial-portuário

Um dos aspectos mais expressivos no contexto da especulação industrial-portuária da região litorânea diz respeito aos instrumentos de planejamento e ordenamento territorial a nível regional (ZEE; PDS) e municipal (PDDI, sistema viário e demais legislações decorrentes).

O histórico do PDDI de Pontal do Paraná data de 1998, quando foi elaborada uma primeira versão, encaminhada à Câmara Municipal de Pontal do Paraná em 2000 (FIGURA 18); porém, não foi votado na ocasião. Nessa versão, consta uma área reservada para o setor portuário e uma zona industrial na entrada da cidade (PONTAL DO PARANÁ, 2015),

conforme pode ser visto na figura abaixo, estando o setor portuário indicado em vermelho, à direita, e a zona industrial em cor-de-rosa, à esquerda.

FIGURA 18 - ZONEAMENTO DE PONTAL DO PARANÁ NO PDDI DE 2000

Fonte: Pontal do Paraná (2015)

Em 2001, a aprovação do Estatuto da Cidade tornou o plano obsoleto, para o qual ocorreu uma atualização, apresentada em 2004 (FIGURA 19). Nessa versão já se fez constar o Setor Especial Portuário (SEP) “caracterizado pelo espaço urbano destinado à instalação das atividades portuárias relacionadas ao embarque de passageiros e cargas não perecíveis, desses excluídos os granéis e líquidos de qualquer natureza” (PONTAL DO PARANÁ, 2004, p. 66), embora abarcasse uma área relativamente menor que a apresentada nas versões seguintes. Ademais, o Setor Especial Industrial (SEI) se localizava em meio à cidade, no balneário Ipanema. Essa versão não foi aprovada na Câmara Municipal de Pontal do Paraná.

FIGURA 19 - ZONEAMENTO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DE PONTAL DO PARANÁ NO PDDI 2004

Além disso, nesse documento, expressou-se a precariedade da PR-412 e recomendou-se um novo sistema viário, que conectasrecomendou-se a PR-407 à Ponta do Poço (PONTAL DO PARANÁ, 2004). Foi proposta a ampliação das vias arteriais do município, no caso a PR-41252, com aumento da faixa de domínio de 20 metros para 50 metros53, implantação de seis pistas de rolamento, ciclovias e área para caminhada de pedestres “compatíveis ao tráfego local e de veraneio. Permitirá a implantação de uma pista para o tráfego pesado, com circulação controlada, para acesso à Zona Portuária” (PONTAL DO PARANÁ, 2004, p. 34).

Em 2007, a Prefeitura de Pontal do Paraná promulgou a Lei Complementar nº 2, a Lei de Zoneamento, uso e ocupação do solo urbano, que não foi aprovada pelo Colit. O zoneamento pode ser observado abaixo, constando a SEP no extremo norte e a SEI na entrada da cidade (FIGURA 20).

FIGURA 20 - ZONEAMENTO DE PONTAL DO PARANÁ DO PDDI DE 2007

Fonte: Pontal do Paraná (2015, não p.)

Em 2014, foi instituída a Lei Complementar nº 009/2014, que dispõe sobre o zoneamento, o uso e a ocupação do solo de Pontal do Paraná e revoga a Lei Complementar nº 002, de 2007 (PONTAL DO PARANÁ, 2014). Assim como a Lei de 2007, essa nova lei também previu uma ZEP. As ZEPs são

52 Via Arterial 1, com implantação e operação regulamentadas pelo Decreto nº 2.809/2008 (PONTAL DO PARANÁ, 2008).

[...] as áreas que por suas características locacionais devem ter usos específicos para utilização dessa infraestrutura, sendo caracterizado pelo espaço destinado às instalações das atividades portuárias, das indústrias afetas ao desenvolvimento dessa atividade, da indústria mecânica pesada naval, todas relacionadas ao embarque e desembarque de cargas, passageiros e de serviços marítimos em alto mar, bem como atividades que lhe são complementares (PONTAL DO PARANÁ, 2014, não p.). Na ocasião da Reunião Ordinária (s. n.) do Colit, em 20 agosto de 2015, durante a qual o PDDI foi apresentado aos conselheiros, a Prefeitura Municipal de Pontal do Paraná mencionou as diferenças entre os planos de 2007 e 2014:

[...] o que tem de diferente do plano de 2007 para o de 2014 é que existem situações de ordem econômicas que forçam discutirmos e liquidarmos este assunto, que é a implantação do Porto Pontal [...] O porto que tanto se fala, é um dos focos de conflito da aprovação do plano, existem os entraves da legislação que dificultam. O que está se fazendo é alterar a legislação para compatibilizar a implantação do porto (PONTAL DO PARANÁ apud COLIT, 2015, não p.54).

Após essa reunião e adequações, o PDDI passou pela apreciação do Colit mais duas vezes, sendo aprovado na 68ª Reunião Ordinária, em 20 de dezembro de 2016, mesmo sob questionamentos por parte de alguns conselheiros. Cabe ressaltar novamente que, nessa versão do PDDI, houve supressão de um setor da zona rural, denominado “Setor Especial do Maciel”, que dizia respeito à Comunidade Tradicional Pesqueira do Maciel (PONTAL DO PARANÁ, 2007), invisibilizando, assim, a existência de dita comunidade.

Também em 2016 foi aprovado o ZEE do litoral do Paraná, instituído pelo Decreto Estadual nº 4.996/2016 (PARANÁ, 2016). O documento, coordenado pela extinta Sema e pelo ITCG, objetiva orientar a distribuição espacial das atividades econômicas, levando em consideração a importância ecológica do meio, bem como as limitações e potencialidades dos ecossistemas, subsidiando assim as políticas públicas do Estado para a região (CUNICO, 2016). O ZEE define as zonas conforme as características ou “vocações” de cada espaço definido. Em Pontal do Paraná, estão presentes a Zona Urbana (ZU), a ZDD, a Zona de Expansão para Unidades de Conservação de Proteção Integral (ZEPI) e a Zona Protegida por Legislação Ambiental Específica (ZPL) (CUNICO, 2016).

Com foco especial na ZDD, ressalta-se que ela corresponde à “faixa de terras marginais aos eixos viários principais recobertos de forma descontinua por mata atlântica de restinga parcialmente degradada pela intervenção humana, com tendência potencial para expansão urbana, portuária e industrial” (CUNICO, 2016, p. 315). Verifica-se que a Ponta do

Poço está inserida da ZDD (FIGURA 21), inclusive o território tradicional pesqueiro da Comunidade do Maciel, como bem destaca Cunha (2018).

FIGURA 21 - PARTE DO ZONEAMENTO DO LITORAL DO PARANÁ (ZEE)

Fonte: Cunico (2016, p. 305)

A ZDD equivale à ZEP, no PDDI de Pontal do Paraná. Essa área foi reajustada durante a elaboração do ZEE, ou seja, no início dos estudos do zoneamento, a área correspondente ao ZDD era menor, tendo sido expandida até a entrega do documento.

Cabe mencionar ainda que o ZEE indica o congestionamento nos fluxos de veículos, principalmente nas vias de acesso e interligações ao longo da costa, como a PR-407 e PR-412 (FIGURA 22), e que essas vias, ao receberem a sobrecarga, terminam cumprindo a função de vias arteriais.

FIGURA 22 - IMAGENS DA PR-412 E SEUS USUÁRIOS

O zoneamento aponta, assim, como uma das restrições da região a conectividade territorial por precárias vias terrestres e marítimas, prejudicando o trânsito da população local e dos visitantes, recomendando a ampliação e implantação de um Sistema Rodoviário Estadual Local (CUNICO, 2016).

O Art. 34, do Decreto Estadual nº 4.996/2016, impõe que os planos diretores dos municípios da região submetidos à aprovação do Colit deveriam ser reformulados orientando-se pelas diretrizes e recomendações apreorientando-sentadas no ZEE (PARANÁ, 2016). Assim, em 2017, foi aprovado o PDDI de Pontal do Paraná (PARANÁ, 2017), com o zoneamento apresentado na figura abaixo, sendo a zona cinza a ZEP.

FIGURA 23 - ZONEAMENTO DE PONTAL DO PARANÁ NO PDDI DE 2017

Fonte: Pontal do Paraná (2017, não p.)

Somado a isso, durante a elaboração do ZEE, em 2011, foram elencadas outras infraestruturas previstas ou necessárias. Por conta dessa demanda e para ser construído concomitantemente ao ZEE, foi promulgado o Decreto Estadual nº 2.647/2011, que dispõe sobre elaboração e desenvolvimento do Plano Estratégico para o Desenvolvimento Territorial Sustentável do Litoral do Paraná55. O decreto considerava o “potencial econômico promissor,

55 Atualmente denominado PDS Litoral, é desenvolvido por um consórcio, com financiamento do Banco Mundial.

capaz de gerar níveis elevados de emprego e renda para a sua população e para todos os paranaenses, a partir das atividades de turismo, de transportes e logística, da indústria e do comércio [...]” (PARANÁ, 2011, não p.). Ademais, considerava ainda que

[...] as instalações portuárias são equipamentos essenciais para a inserção da economia paranaense e brasileira nos fluxos globais de comércio, e estão sendo pressionadas pela crescente demanda de transporte marítimo, impondo a urgente necessidade de modernização e expansão;

as vantagens locacionais da Região do Litoral do Paraná como um atrativo para investidores interessados na implantação de indústrias e serviços de apoio à exploração petrolífera da camada do Pré Sal.

Destaca-se que, além desses setores específicos, não há menção a nenhum outro, nem mesmo ao setor do turismo. Apenas adiciona-se a legislação pertinente à regulação do uso do solo e da terra. Há uma ênfase na modernização da região por meio da expansão industrial-portuária.

A iniciativa de elaboração do plano foi “praticamente emergencial”, por conta da especulação industrial-portuária, voltada, em especial, para a exploração do Pré-Sal. Também contribuíram para tal apressamento as particularidades dos terrenos e a função portuária já estabelecida em Paranaguá e Antonina. Por outro lado, não havia documentos e estudos que subsidiassem o planejamento para que esse uso ocorresse de forma ordenada (COLIT, 201156). Dessa forma, o plano deveria ser elaborado concomitantemente ao ZEE.

Como destacado anteriormente, um levantamento prévio constatou diversas obras demandadas para Pontal do Paraná, entre ferrovia, canal de macrodrenagem, construção de dutos de transporte de gás, de interceptores e dutos de saneamento e de linhas de transmissão de energia elétrica (PARANÁ, 2011b). Assim, passou-se a planejar um conjunto de obras de infraestrutura para Pontal do Paraná, que viria a ser denominada de Faixa de Infraestrutura, sendo uma rodovia (PR-809) o componente mais acionado na arena do conflito.