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1.3 CAMINHOS METODOLÓGICOS

1.3.4 Análise dos Dados

Para o estudo do material coletado foi utilizada a Análise Textual Discursiva (ATD). A ATD corresponde a uma metodologia de análise de dados e informações de natureza qualitativa, que tem como finalidade produzir novas compreensões sobre fenômenos e discursos, seja partindo de textos existentes, seja produzindo material de análise a partir de entrevistas e observações. (MORAES & GALIAZZI, 2007). O processo de ATD tem fundamentos na fenomenologia e na hermenêutica, conforme explicam Moraes & Galiazzi (2007, p.169), a ATD: “Valoriza os sujeitos em seus modos de expressão dos fenômenos. Centra sua procura em redes coletivas de significados construídos subjetivamente, os quais o pesquisador se desafia a compreender, descrever e interpretar.”

Nesse tipo de análise, o que se pretende é um estudo rigoroso e criterioso das informações, não para testar hipóteses ou para comprová-las, ou refutá-las ao final da pesquisa, mas sim com a intenção de compreender, reconstruir conhecimentos existentes sobre o tema estudado. Ou seja, um estudo que tem a ATD como referencial para a análise dos dados coletados, objetiva: “[...] construir compreensões a partir de um conjunto de textos, analisando-os e expressando a partir dessa investigação alguns dos sentidos e significados que possibilitam ler” (MORAES & GALIAZZI, 2007, p.14).

Moraes e Galiazzi (2007) explicam que a ATD pode ser compreendida como um processo auto-organizado de construção de compreensão em que novos entendimentos emergem a partir de uma sequência recursiva de três componentes: a desconstrução dos textos do corpus, a unitarização; o estabelecimento de relações entre os elementos unitários, a categorização; comunicação das novas compreensões atingidas. O processo da ATD é sintetizado pelos autores, por meio do seguinte esquema (2007, p.41):

Figura 2 – Ciclo da Análise Textual Discursiva.

O corpus é o conjunto de informações coletadas pela pesquisa que, nesse estudo, envolveu: documentos, anotações oriundas de observação direta e entrevistas. Portanto, compõem esse corpus tanto textos produzidos especialmente para a pesquisa (transcrição das entrevistas, anotações das observações) quanto documentos já existentes previamente. A delimitação desse material aconteceu da seguinte maneira: quanto aos textos já existentes previamente, procurou-se selecionar um conjunto capaz de produzir resultados válidos e representativos em relação aos fenômenos investigados, assim trabalhou-se principalmente com as informações presentes no relatório final produzido pelo CAEF, a respeito das suas ações, no processo de implementação da REDE; quanto aos documentos produzidos no próprio processo da pesquisa, os textos foram selecionados de forma intencional, com definição da amplitude do corpus pelo critério de saturação. Entende-se que a saturação é atingida quando a introdução de novas informações na análise já não produz modificações nos resultados.

A partir do processo de delimitação do corpus, pode-se dar início ao ciclo de análise, cujo primeiro passo é a desconstrução e unitarização dos textos. Isso exige uma impregnação aprofundada com os documentos do processo analítico. Dessa desconstrução surgem as unidades de análise, ou unidades de significado ou sentido: “Unitarizar é delimitar e destacar unidades básicas de análise a partir dos materiais pesquisados, envolvendo permanentes interpretações do investigador” (MORAES & GALIAZZI, 2007 p. 171). Essas unidades de análise são identificadas em função de um sentido pertinente aos propósitos da pesquisa.

O segundo momento do ciclo de análise consiste na categorização das unidades anteriormente construídas, aspecto central de uma análise contextual

discursiva. As categorias são constituintes da compreensão que emergem do processo analítico. Nesse sentido, os materiais analisados constituem um conjunto de significantes e o pesquisador atribui a eles significados a partir de seus conhecimentos, intenções e teoria. O esquema a seguir, retirado do livro de Moraes e Galiazzi (2007, p.201), demonstra o que envolve essa organização das ideias, para a o captar das categorias:

Figura 3 – Esquema que demonstra a forma como se dá organização de ideias sobre o tema pesquisado, a partir da metodologia da ATD.

O modo de conceber as teorias em relação à pesquisa e à categorização das informações origina diferentes tipos de categorias. Assim a ATD pode utilizar na construção de novas compreensões diferentes tipos de categorias: categorias a priori, categorias emergentes, ou, ainda, uma terceira alternativa, que constitui um modelo misto dos dois tipos anteriores.

Quando o pesquisador elabora construções antes de realizar a análise propriamente dita dos dados, procurando, a partir da investigação, classificar os materiais textuais nessas construções prévias, este está trabalhando com um modelo de categorias a priori que provêm das teorias em que fundamenta o trabalho e são obtidas por métodos dedutivos. Quando o pesquisador examina os dados do “corpus” com base em seus conhecimentos tácitos ou teorias implícitas, não assumindo conscientemente nenhuma teoria específica a priori, as categorias resultantes da análise são denominadas emergentes, obtidas por método indutivo. Isto é, as categorias emergentes são construção teóricas que o pesquisador elabora a partir do corpus, as quais, de algum modo, tem em si implicadas as teorias

orientadoras do estudo e o próprio conhecimento do pesquisador. E, ainda, há uma terceira alternativa, que constitui um modelo misto de categorias, no qual o pesquisador parte de um conjunto de categorias definido a priori, complementando- se ou reorganizando-se a partir da análise. Independente da forma de produção, o essencial no processo é a compreensão que essas poderão propiciar, a qual deve ser o mais aprofundada possível.

Nesse estudo, trabalhou-se com um modelo misto. A propor o problema de pesquisa, entendeu-se que esse, a priori, exigiria que se trabalhasse com duas categorias: a das políticas e das práticas relacionadas à formação continuada de professores da educação básica. As questões de pesquisa e o roteiro de entrevista foram elaborados a partir desses dois eixos.

Para a análise do material coletado, os seguintes procedimentos foram realizados: leitura acurada dos materiais (relatórios do CAEF, anotações, das observações, transcrição das entrevistas) onde se buscou destacar aspectos relacionados aos propósitos da pesquisa.

No que concerne às entrevistas, foram analisados o conjunto das respostas de cada sujeito, com o objetivo de verificar suas coerências e contradições. Em seguida, foi feita a análise do conjunto das respostas obtidas em cada uma das questões. A partir desse processo, procurou-se identificar diferentes ou semelhantes manifestações dos entrevistados, agrupando-as e, novamente, realizando um procedimento de síntese. Para a sintetização das informações obtidas com as entrevistas, foi organizado um quadro contendo destaques das respostas dos entrevistados, tais manifestações foram relacionadas com aquelas presentes nos demais documentos coletados: anotações das observações diretas e documentos oficiais, como relatórios. Esse quadro foi elaborado tendo como base as questões que nortearam o processo de investigação:

Sujeitos Questões Avaliação da proposta do MEC Modelo de formação adotado e concepções que orientam a proposta do Centro Avaliação que o Centro faz dos resultados trabalho desenvolvido junto aos professores Características importantes que deveriam ser observadas, pelos Centros, dentro dessa proposta da REDE, que venham

a contribuir para o desenvolvimento

profissional e melhoria da

qualidade da prática pedagógica (P.Form./Coord. da área de PEDAGOGIA) (P. Form./ Coord. da área de EDUCAÇÃO FÍSICA) (P. Form. – EDUCAÇÃO FÍSICA) (P. Coord. do Projeto e Form. – ARTES)-

Quadro 1 - Quadro elaborado para a análise das entrevistas.

As categorias que emergiram dessa análise foram agrupadas dentro daquelas categorias construídas a prior: políticas e práticas. Em cada um desses eixos, o referencial teórico, as categorias emergentes e as análises são apresentadas concomitantemente.

Após essa fase, a qual consisti no processo de categorização dos dados, passa-se para o momento de comunicação das novas compreensões. Essa última etapa, isto é, o terceiro momento da ATD, consiste na produção de metatextos com base nos produtos da análise. Essa produção escrita não constitui expressão objetiva do conjunto de um corpus de análise, mas representa construções e interpretações pessoais do pesquisador, tendo sempre como referência uma fidelidade e respeito às informações obtidas com os sujeitos da pesquisa.

Portanto, as compreensões que emergiram do estudo, e que serão apresentadas posteriormente, não consistem na verdade absoluta, mas sim numa das possíveis leituras que podem ser realizadas, a partir das informações obtidas, pois conforme colocam Moraes e Galiazzi (2007, p.132):

Os resultados de qualquer análise sempre apresentam apenas uma visão parcial e incompleta dos fenômenos investigados. Além do mais, os produtos de uma análise dependem dos pressupostos e das teorias em que se insere o pesquisador. Diferentes investigadores podem construir compreensões diferentes do mesmo fenômeno, ainda que examinando o mesmo conjunto de informações.

Ou seja, as discussões e análises que serão apresentadas, trazem as marcas de quem as escreveu, pois quando nos aproximamos de um texto, de um objeto, e procuramos interpretá-lo, fazemos isso com conceitos, compreensões e suposições prévias, não o vemos como se fosse uma “tábula rasa”, além disso, as análises são influenciadas pelas vivências, experiências do pesquisador experimentadas durante a pesquisa, na interação com o objeto, com os sujeitos participantes. O resultado

desse encontro é uma reconstrução dos conhecimentos, teorias e pontos de vista do investigador, na confrontação com os olhares dos sujeitos de pesquisa, o que leva à produção de novos sentidos.

2 O DISCURSO POLÍTICO SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL

2.1 AS MUDANÇAS SOCIAIS E OS NOVOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO: A